Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano novo. Ano velho.

Uma parte dos blogs dedica-se á tarefa do ¨ maldizer ¨, servindo de aviso á população, para que não escorreguem na casca de banana dos mal intencionados, afirmando o que as pessoas devem, ou não, fazer de suas vidas.
Cuidado com a informação tendenciosa, que leva o leitor a ser seduzido, o encaminhando para a forca.
Fique atento àquilo que pretendem oferecer-lhe, pois pode estar a ser manipulado.
Tudo parece funcionar por decreto, avisos aos incautos e ignorantes, que necessitam dos sábios para saberem dirigir suas vidas.
Se é de louvar o aviso á navegação, e, em muitos casos é necessário, na sua grande maioria parece alimentar um Eu crítico e julgador, que não deixa os outros, nem o próprio indivíduo viver em paz.
O curioso é que esses blogs têm bastante audiência, e sobretudo comentários, que fez despertar a minha atenção.
Pensei eu, afinal as pessoas, pelo menos uma grande parte, adoram ser avisadas dos supostos perigos que correm ao ler uma simples notícia, ou, ao entrarem num site considerado como impróprio.
No entanto, o que parece estar implícito é o despertar do julgamento, que a maioria parece tanto adorar, dado que enquanto o articulista faz o alerta, logo emerge o pensamento, de que alguém nos quer fazer mal, ou, que algo de ruim nos possa vir a acontecer.
Epá ! cuidado, que nos querem manipular.
Sentem-se incomodados, vão de encontro aquilo que os incomoda, só para lerem o que já sabem, cuja intenção, embora inconsciente, será esbanjar a energia acumulada, despejando alguma raiva, evidenciando o seu instinto de negação.
Em resumo, não são capazes de serem indiferentes.
Se a cidade fica agitada e barulhenta, a poluição sonora deveria ser combatida e proibida.
Vem os fins de semana, ruas quase desertas, afirmam que a cidade está tranquila demais, é uma pasmaceira.
O que elas não conseguem é serem indiferentes á sua própria interioridade, que ora reclama por tranquilidade, e quando ela parece existir, já não a querem mais.
Essas pessoas deveriam ter o comando da natureza, para mandar chover quando entendessem, e fazer aparecer o sol quando julgassem necessário, mas graças ao bom Senhor, tal poder não lhes é concedido.
Mas ao desejarem ser Deus na terra, mais parecem o diabo, porque impacientes, eternos reclamantes, despejam suas línguas venenosas em tudo quanto é gente, na intenção de um dia terem um mundo á sua medida.
Claro, que é só uma ilusão criada nas suas cabeças, que os parecem entreter até ao dia da morte, em que levam uma vida inteira a tentar torcer, o que lhes parece torto, sem nunca endireitarem coisa alguma.
Ora digam lá, se não é um caso de impotência, contra a qual se revoltam.
Transformar o mundo parece ser o desejo de uma boa parte das pessoas, que em vez de serem ativos interiormente, e seguirem seu próprio, que dá descanso á alma, levam uma vida a lutar contra os outros.
Guerreiros, afirmam uns. Teimosos, dizem outros.
Para eles vou pedir a Deus nesta passagem de ano, um mundo á sua medida.
Mas para que Deus possa tirar as medidas para ajustar o fato ao corpo, só mesmo depois de morto.
Ai ! Ano novo, que continuas a ser velho.
Um abraço

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Fragilidade Depressiva

A força da palavra repetida centenas, ou milhares de vezes de uma forma generalizada, abrangente, faz parecer aquilo que não é, misturando tudo no mesmo saco, em que acreditamos tratar-se do mesmo, quando na realidade são coisas diferentes.
Se estamos tristes falamos em depressão.
Se de mau humor está depressivo.
Qualquer oscilação de humor é considerada depressão.
Poderá de fato, tal forma de pensar ser uma coisa boa para a indústria farmacêutica, que vende do simples calmante até aos mais poderosos medicamentos. que colocam o sujeito num estado de inércia tal, que não sabe bem se está no meio dos vivos, ou dos mortos.
Mas certamente não será para o indivíduo, que se enche de tóxicos ao primeiro sinal de tristeza, julgando que o dia de amanhã vai ser muito pior que hoje, que o pode impedir de trabalhar. e ter uma vida normal.
O sujeito sente-se doente, quando afinal não tem doença nenhuma, apenas um transtorno pontual causado por uma contrariedade qualquer, que tem alguma dificuldade em dissolver.
Por outro lado, é uma boa justificativa, porque está com depressão, tem desculpa para não seguir em frente. e ficar acomodado.
Tal como a mulher que está sempre com dores de cabeça, na altura de aturar o macho na cama, com os seus apetites sexuais, arranja sempre um motivo para fugir à punição, que é o desejo do outro.
È preciso começarmos a entender que existem vários graus de intensidade de insatisfação, que pode ser momentânea. ou prolongar-se no tempo.

São esses dois fatores, intensidade e tempo de duração, que vai definir a dependência em relação a um determinado estado.

O estado depressivo caracteriza-se por uma certa quantidade de insatisfação, que se prolonga de forma ininterrupta durante várias semanas, em que a tendência do sujeito é não ter ânimo para movimentar-se, percebendo-se uma certa quietude. ou movimentos lentos em relação ao habitual, acompanhado de uma verbalização de incapacidade. e uma tristeza profunda.

Excluindo este caso, tomar medicamentos para atenuar a dor e sofrimento, é fabricar doentes em série, quando na realidade são sadios, dado que se trata de uma forma de sentir, e de manifestação do corpo face a uma contrariedade.
È através do sentir, dor e sofrimento, que nasce um impulso interior no indivíduo que o pode conduzir à superação das dificuldades.

Quando essa dor e sofrimento, torna-se insuportável, e tende a permanecer por algumas semanas, então podemos considerar que o indivíduo não superou as suas dificuldades. precisa de ajuda analítica, e de um medicamento para o tranquilizar.
Ao retirar a dor e sofrimento, devido a um impacto de algo exterior que contraria o sistema biológico e psíquico, e que por isso o corpo reage, somos tentados a perder a noção da nossa relação com as coisas, e o mundo que nos rodeia.
O sintoma desaparece, mas as dificuldades continuam
O resultado é adiar uma decisão, ou pelo menos a tentativa de solução de algo que aflige o sujeito, que tende a prolongar-se no tempo, cujas consequências não sabemos.

Devemos perceber, que a dor e sofrimento, é uma forma do corpo sinalizar algo estranho, impulsionando o sujeito a procurar uma solução, ou a promover mecanismos de defesa contra aquilo que o está a agredir.

Esta é uma condição genética, que o corpo através da tomada de sentido na relação com as coisas tende a desenvolver, como formas de defesa e de relação, para que não seja afetado.
Ao não percebermos isso, e recorrendo ao medicamento ao primeiro sinal de tristeza, dor e sofrimento, o indivíduo está a anular um dos princípios básicos do corpo genético, o que o enfraquece perante o meio exterior, a vida.
A pergunta que parece pertinente fazer, é se na realidade o sujeito recorre à medicamentação ao primeiro sinal de tristeza, porque na sua formação familiar já o fizeram fraco, ou se na realidade o que o perturba tem assim tamanha gravidade.
Sabemos que sentimos, devido à tomada de um sentido anterior.
Mas quem nos faz sentir, e a forma de sentir é em primeiro lugar a mãe, que após o nascimento da criança que fomos um dia, cuidou com amor e nos deu os primeiros objetos, criou ilusões, e provocou desilusões.
Certamente o indivíduo não toma o medicamento, ao sentir-se suficientemente forte para resolver uma contrariedade, o que nos leva a pensar, que não é só uma questão de moda social, ou uma agressão do meio envolvente, mas antes tem sua origem anterior.
Nota-se claramente, que o indivíduo apresenta uma certa debilidade para lidar com as situações que lhe são oferecidas no dia a dia, para as quais não parece ter uma resposta que o possa satisfazer.

È o sinal evidente, que a sua formação familiar está desfasada da realidade, de onde emerge um poder narcisista exagerado, que tende a provocar algum transtorno, por impossibilidade de adaptação.

Podemos admitir que devido à formação da criança, que a tornam frágil, ela não apresenta condições de suportar, nem sequer superar as dificuldades que lhe são presentes durante o percurso da vida.
Nessas condições, e por via disso, o estado depressivo tende a emergir como condição natural, proveniente de um desfasamento, entre formação e realidade, em que parece existir uma clivagem cada vez mais profunda entre elas.
Se assim entendermos, não nos custa admitir que aumentem cada vez mais os indivíduos propensos a um estado depressivo, dado que no seio da família é promovido o idealismo, que são formas exclusivistas e discriminatórias de estar em sociedade.
Nos apresentamos por isso cada vez mais frágeis e sensíveis.
E quando falamos em meio envolvente, sociedade, na tentativa de explicar o fenómeno, parece que nos esquecemos que ela é o produto de muitas individualidades, e que é sempre no plano individual que tudo tem sua origem.
Não parece que seja um fenómeno que tenha a sua origem em exclusivo nas sensações produzidas por uma mãe sedutora, e até perversa por vezes, mas sobretudo devido à ausência do peso da figura do pai, entendido como a lei, em que o seu lado masculino é submisso á figura feminina.
As dúvidas, se é que existiam, começam a dissipar-se quanto ao poder feminino, tanto no seio familiar, quanto na sociedade, criando uma ruptura com o equilíbrio na relação com o companheiro, e na formação dos filhos.
Se o papel central no seio familiar cabe ao feminino, a criação de sucessivas rupturas com o companheiro, apresenta como consequência o abandono do lar por parte deste, ou a submissão ao poder feminino.
Assim, a identificação da criança é promovida quase em exclusivo, tendo em conta a figura materna.
As sensações que ficam da proteção, carinhos excessivos, idealismo, que é uma condição estética de perceber o mundo, é proveniente de uma submissão da figura paterna ao poder feminino.
O poder masculino é um mito, como sempre o foi ao longo da história, em que na maioria das vezes o seu poder é ofuscado, em face do desejo de possuir o objeto de desejo e de prazer, que é a mulher.
Só que os fenómenos sociais, económicos e políticos, fogem a essa visão familiar acerca do mundo exterior, dado que se relacionam e interagem diversos corpos, com formas de pensar e agir divergentes, em que a ideia do poder emerge como condição natural.
È o poder, a pressão que é exercida sobre o individual, em que este julga ter algum poder sobre os acontecimentos, que conduz o indivíduo ao estado depressivo, ou á violência.

A força de um poder interior narcisista exagerado, que o indivíduo percebe não ter poder algum para contrariar as forças sociais que se revelam no exterior, que transmite a sensação de impotência, parece ser responsável pelo o estado depressivo.

O poder esmagador do coletivo face ao individual, quanto mais acentuado, maior a sensação de impotência, e fragilidade.

Quanto maior for o poder interior narcisista do indivíduo, mais evidente será o embate com forças exteriores que o tentam contrariar, que, por não poder superar, emerge a sensação de frustração face á realidade.
Desse modo não podemos perceber com clareza qual a causa que leva o sujeito a tomar medicamentos ao primeiro sinal de tristeza, nem apontar com alguma exatidão de onde provém essa ideia, contudo, o que sabemos é que o processo do sujeito começa com a sua infância, que o faz singular, e é fundamental para que possa movimentar-se na vida.
Afirmar que a sociedade está deprimida, tumultuosa, sendo um lugar perigoso para se viver, onde acontece de tudo um pouco, de forma mais ou menos exagerada, pode ser uma boa desculpa, mas não justifica por si só, o estado depressivo no plano individual.
Evidencia-se através da reclamação, porque a culpa parece ser sempre dos outros, a tentativa de fugir á discussão acerca do tipo de formação seguida no seio familiar.
Esta fuga por si mesma, é reveladora de um recusa, derivada de um poder interior exagerado, que confere aos pais a certeza dos seus procedimentos, que mostram mais tarde seus frutos, talvez bonitos por fora, mas pouco sadios, e frágeis no seu interior.
Em análise, o analista é levado a entender o confronto entre a interioridade do sujeito, e a luta que este promove com o mundo exterior a si mesmo, que origina o distúrbio, em que o poder de adaptação a condições adversas é quase inexistente.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A arte de argumentar

Argumento, segundo o dicionário é o raciocínio com o qual o sujeito chega a uma conclusão.
Existe uma conclusão, que o sujeito tenta definir, pelo que é chamado a argumentar.
Será através da associação de imagens e idéias, que os argumentos emergem, como condição de tornar-se compreendido e compreensível, ou seja, apresentar uma lógica.
Somos levados a considerar, que sem a imagem primeva, e a idéia acerca dela, não pode existir pensamento, mas apenas memória.
Como é garantida a idéia acerca de determinada imagem ?
Uma foto mostrada pela primeira vez, ou, que se mostra ao indivíduo, cujos objetos, e cenário são desconhecidos, será simplesmente uma foto, sem qualquer significado.
Perguntamos a quem nos mostra a foto:
- Quem são as pessoas que ali estão representadas, ou, os objetos que nela se encontram, e onde foi tirada.
Podemos perceber isso na postura da criança em relação á mãe, e desta em relação a ela, em que aquela é receptora de estímulos exteriores, sendo a mãe a emissora desses estímulos dirigidos á criança.
Mas a imagem mãe / pai, ou de outra pessoa qualquer, também é constituída sem que exista a absoluta necessidade de recorrer á fala, á linguagem.
Desta feita, percebemos na postura, a contribuição válida para um processo formativo da criança, que passa pelo gestual, pela intensidade das manifestações dos corpos em presença, tal como, a agressividade exagerada, gerando a agressão e a violência, em que o aprendizado não tem voz que a sustente inicialmente.

Ao não compreendido das palavras, a criança tenta perceber nos gestos dos outros o que se passa á sua volta, ficando atenta ás expressões, e ás atitudes, tomando sentido delas, as memorizando.

Desse modo nos é dado a perceber, que a imitação é a primeira forma de aprendizado, e que a tomada de sentido é processada através de uma relação com outros corpos á sua volta.

Esse aprendizado processa-se por transferência de energia.

Aquela mãe, sem perceber bem o que fazer, e por tanto bater de frente com a filha, me questionou, se não seria melhor somente uma análise de quinze em quinze dias, dado, que desse modo não ficaria sufocada com tanta agressividade da filha.
A filha está na faculdade, e tem sua vida profissional numa outra cidade, e só se desloca a casa dos pais para vir á análise.
Apesar da filha ter 25 anos, nota-se claramente a intromissão por parte da mãe nos seus assuntos, o que demonstra o poder por um lado, e a submissão por outro.
Em face do histórico familiar, que aponta de forma clara, para um poder esmagador da figura feminina em relação ao pai, sendo este submisso, mas ao mesmo tempo facilitador dos desejos da filha, desautorizando a mãe, fiz-lhe notar o seguinte :

- O empurrar para fora do seio familiar um jovem, mesmo que a sua idade corresponda á fase adulta, como é o caso, contra sua vontade, encerra alguns perigos, que eu gostaria que a senhora analisasse comigo.

Primeiro, se o jovem ainda não se encontra pronto para voar, pelo menos assim julga, o que lhe faltará ?
Não será decerto a senhora que pode responder a esta pergunta, mas sim a sua filha.
Tudo o que disser poderá não corresponder ao sentido da sua própria filha, que será muito provável, que também esteja confusa , devido á emergência de diversos sentimentos, que não sabe bem elaborar.

Se formos corpos capazes de entender as coisas deste modo, não nos custa admitir, que apenas existem argumentos, na ânsia de justificar atitudes, e nada mais.

A segunda questão que proponho é a seguinte :

A sua filha não só bebeu de si os ensinamentos, como também do pai, pelo que se encontra dentro dela a mãe poderosa e o pai submisso, que tantas vezes transgrediu uma ordem dada pela senhora.

Significa que ela deixa-se seduzir por um homem submisso, ou pelo menos assim o julga, do qual presume que possa obter o chocolate, que a mãe lhe negou.
Esta postura está marcada no sistema psíquico de sua filha, devido ao comportamento do pai, repetido centenas vezes, enquanto criança, em que nos é dado a perceber de forma clara, o processo de indução / induzido, que uma vez incorporado, passou a atuar no próprio corpo da criança, de forma instintiva.
Mas uma vez desenganada, desiludida, ou simplesmente contrariada, porque um desejo que pretende realizar é negado por aquele homem submisso, recorre á outra arma disponível, que aprendeu com sua mãe como último recurso, a intolerância, a prepotência, como um poder que julga possuir.
A evidência de um pai sedutor, transgredindo ás ordens da mãe, a conduziu, porque seduzida, ao caminho da transgressão, perversão, que de forma intrínseca julgava a mãe como sendo a má da fita.

Parece que temos dois caminhos em paralelo, o poder e a sedução, como forma de obter os objetos de satisfação, e de desejo.

Mas devemos ter em atenção, que foram os pais que possibilitaram á filha essa agressividade de que tanto a senhora reclama, chegando ao ponto de alguma violência física contra o irmão e o próprio pai, embora sem consequências de maior.
A experimentação de forças físicas percebe-se contra aquela força, que aparentemente parece não ter poder algum, ou menos poder.

Agora tente perceber o que poderá acontecer se a empurrar para fora de portas ?
Quando essa energia acumulada não apresentar condição alguma de ficar represada, ou ser dissolvida, tende a aflorar, e a pergunta que faço é a seguinte:

- Não existindo a família, como, e onde vai, ou pode, descarregar essa energia ?
- No meio social decerto.

A questão que fica por saber, será como, de que forma, e com quem tal explosão vai dar-se.




Poderá acontecer, que aquilo que julgou ser um alívio para si, na decorrência de sua atitude, de ter a sua filha longe do seu convívio, possa ser motivo de maior tristeza e angústia posteriormente, em face das confusões em que ela eventualmente possa entretanto envolver-se.

Sabemos bem, que perante a dificuldade de gerir as coisas, fugimos, ou, as rejeitamos, porém neste caso, a mãe não estava a dar-se conta, que estaria a rejeitar a filha.
Nota breve - Ela fora rejeitada na infância pela mãe.

Ficou paralisada, olhar estranho, como se estivesse á procura de um argumento, que não conseguia encontrar, e ficou disposta a ouvir o que tinha para dizer.

Adivinhe o que ela vai fazer de seguida ?

Queiramos ou não, o seio familiar, por muito ruim que seja, funciona sempre como porto de abrigo.
Em face dessa rejeição, não será que ela tende a arranjar um porto de abrigo substitutivo fora de portas ?
Se ela está mal, tem conflitos, que ainda não consegue gerir, será obvio que os tenta transferir para a pessoa, que escolheu, e entendeu ser o seu porto de abrigo.
E aqui reside o perigo da sua atitude.
Tudo que está acontecer, será muito provável que possa acontecer de novo, muito embora com outras pessoas, de cujo caráter nada sabemos.

O amor que lhe é devido, passa fundamentalmente pelo o tratamento, ou seja, pela análise.

No decurso da análise, vai percebendo como voar, adquirindo mais saber acerca de si, e do mundo que a rodeia, não precisando de ser empurrada, iniciando a sua partida em devido tempo, de livre, e espontânea vontade.
O gozo está nesse movimento de libertação, percebendo a capacidade própria em voar, e seguir seu caminho.
O falso gozo percebe-se através da sua incapacidade, que só goza no outro, e com o outro, por não conseguir ainda voar.
É essa revolta que transporta no peito, embora de forma inconsciente, de não conseguir voar sozinha, que fabrica a energia, que tende a projetar em quem ama.
Se arranjar um novo amor, a cena vai repetir-se, alimentando o seu transtorno.

Mas ela deve ver que .....
Apenas argumentos para justificar atitudes, mas que não soluciona coisa alguma.
O que parece ser urgente e necessário, encontra-se no poder da análise, que a possa levar a desatar o nó dessa trama ( de ) formativa da infância.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Hora de reflexão

De bem com Deus.
De mal com os homens.

Para sairmos de uma situação difícil, ou desagradável, justificamos.
Como não nos enquadramos em determinado cenário, arranjamos uma designação na tentativa de justificar nossa escolha.
Entra em cena a dialética, a argumentação, e outras questões laterais para justificar uma atitude.
Crente em Deus. Ateu. Agnóstico, e por aí vai, que no fundo corresponde a um lugar onde cada indivíduo deseja ser visto, sabe-se lá porquê.
A diversidade de Igrejas alastram por esse mundo fora, sendo Deus único, as opiniões dos homens parecem divergir cada vez mais.
Deus passa a ter várias moradas, e o podemos encontrar em qualquer templo, o que significa, que a existência de várias Igrejas não impede o indivíduo de encontrar-se com Deus.

A conclusão a que chego é a seguinte:

-O homem continua de bem com Deus, mas cada vez mais distante do seu semelhante, em que a formação de grupos, o coloca na horda primitiva, que não na humanização, o que contraria as leis de Deus.

Que sejamos todos abençoados pela luz que nos possa iluminar, porque só assim podemos um dia sair das trevas.

Um Bom Ano de 2011

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Beijar na boca

Beijar na boca

Desperta sentimentos, e como zona erógena provoca uma excitação sexual.
Ela se apressa a dizer, que mais nada existiu para além de beijar na boca, alertando para a separação que parece fazer entre o beijo e o sexo.
Como podemos interpretar suas palavras ?
O dar parte do corpo, não é o mesmo que dar-se na totalidade, entenda-se penetração.
A definição do que é dado a um corpo periférico e á sua intimidade.
A mente tece artifícios para justificar os atos do indivíduo, que nem ele próprio, chamado a explicar, sabe muito bem como definir.
Parece existir a nítida separação entre zonas periféricas de contacto, boca, seios, coxas, embora possa despertar a tesão, e uma interioridade, intimidade, que a penetração sugere.
É o dar-se superficialmente sentindo ondas sucessivas de prazer, que não sei bem se podemos considerar como satisfação, como aceitação daquele, através do qual nos servimos, cuja finalidade será a auto satisfação.
É a masturbação através de um corpo alheio, que pode levar ao orgasmo, sem que possa surgir outras consequências, cuja intenção decerto não será a união.
Se o vibrador pode substituir o corpo do parceiro, qualquer parceiro pode muito bem fazer as vezes do vibrador.
Porque existe a opção por um, ou por outro, a podemos encontrar nos mais diversos motivos.
Mas então o que podemos perceber como união ?
O estar unido é conviver com um outro, que advém de uma razão, que é desejo de estar e permanecer nesse estar, que é desejado, cujos motivos podem ser de diversa ordem.

Podemos distinguir um desejo de estar com o outro, partilhando momentos de uma vida em comum, e um desejo de estar em fugazes momentos com um outro, porque nos dá um prazer acrescido.

O que nos ocorre de imediato é porque não conseguimos obter satisfação e prazer através da mesma pessoa, pelo menos a tempo inteiro, o que seria bastante para nos trazer felizes e contentes.
Será que alguns escolhem o parceiro / a, sem que sejam levados em conta aspectos sexuais, mas sim outros valores que não estes ?
Será que a vida em comum tende a desvalorizar o exercício da sexualidade, como um dos fatores fundamentais para manter uma relação ?
Ou, tudo isso parece ser irrelevante perante desejos ocultos, que não sabemos bem definir, mas que acabam por criar obstáculos á nossa maneira de estar na vida ?
Perguntas que tendem a ficar sem resposta.

Quando definimos uma relação estável, o que na realidade pretendemos dizer com isso ?
Talvez aquela que tende a permanecer para além dos solavancos da vida, como sendo a relação que dará seus frutos, e alguma estabilidade emocional ao indivíduo.




Funciona como se fosse o porto de abrigo, em substituição do pai e da mãe, que embora ainda vivos, já não conseguem satisfazer em plenitude, nem são mais fonte de satisfação e prazer como o foram antes.
A procura num outro dessa proteção parece unir o que antes estaria separado, que obviamente é promovido na totalidade.
Façamos então de novo a pergunta.
Será que em alguns momentos queremos o prazer, e em outros sentir a satisfação através de uma união estável ?
Não estará desse modo um pouco definida essa apetência espontânea pelo adultério, por exemplo, em que o segredo tende a manter a união estável ?

Contudo não será difícil perceber a existência de dois desejos.

· O de manter-se unida a um companheiro, que é a sua satisfação ( proteção e aconchego).
· E o de sentir prazer acrescido, que essa união parece não ser capaz de oferecer.

Não é contra isso, que homens e mulheres, lutam constantemente pela sua vida fora, recusando as cantadas, recalcando desejos ?

Muitas das vezes quem ganha é o desejo em sentir prazer que, sabe-se lá porquê, não lhe é permitido na união.
A hipocrisia nos faz falar em contrário, mas nos enganamos quando sentimos que um piropo nos faz elevar o ânimo em viver.
Aquelas palavras sedutoras podem ser apenas os preliminares de uma possível relação, em que pode muito bem acabar ali, como terminar na cama se o outro insistir.

O comando do ser humano encontra-se no olhar e no som, nas palavras sedutoras, nos gritinhos e trovões, que desencadeiam uma energia, de que ás vezes nem o próprio consegue dar conta.

Eu sei, que não devo ter relações sexuais fora da união, nem beijar na boca sequer, combato isso, mas perante a insistência e o objeto não consigo resistir, confessa ela.

Mulher atormentada pelo o medo da descoberta, sente a dor e sofrimento no corpo por reprimir seus desejos, e o relaxamento quando os satisfaz.

O que devo fazer para que essas relações não aconteçam ?

A essa pergunta não sei responder, nem o desejo fazer, mas decerto em breve encontrará uma resposta que a possa satisfazer, disse eu.
È por demais evidente, que emerge de suas palavras, uma necessidade, um desejo em manter a união, da qual surgiu um fruto já próximo da adolescência, que é pertença de ambos.

Ao mesmo tempo existe uma vontade não expressa nas palavras, mas inscrita no corpo, que reclama para si mais prazer.



Gosta de ser seduzida, mas numa primeira fase recusa corresponder ás insinuações eróticas, sendo a fuga a uma possível intimidade, que não deseja.
Podemos perceber a fuga a uma intimidade, entenda-se relação sexual, mas deixa-se cada vez mais envolver pela sedução.

É notória a excitação que os telefonemas despertam nela, cujos desabafos vão no sentido de desculpar sua postura, colocando o ênfase na insistência do outro em telefonar, como se fosse impotente perante suas investidas, o que não corresponde á verdade.

Não nos custa admitir a luta interna de algumas formas instintivas, que tende a escapar ao princípio de racionalidade.

Se assim considerarmos, podemos perceber que as suas atitudes estão dependentes de formas circunstanciais, que em determinado momento podem satisfazer os seus mais íntimos interesses, em que a fragmentação é provocada, emergindo de forma clara a diferenciação entre os desejos instintivos, e formas socialmente aceites.

A luta interna entre o Id e o superego, não tem um vencedor antecipado, e em determinadas circunstancias tanto pode impor-se um, quanto o outro, que não depende de causas exteriores, mas antes de um sentido interior mais exaltado, que tende a sobrepor-se ao outro.

Como tentar explicar a diversidade de atitudes no ser humano, a não ser através de seus desejos, que podem ser verbalizados, mas que se impõem através dos sentidos do próprio corpo, que já percebemos, que alguns podem estar ocultos, cujas imagens podem estar perdidas no tempo, mas das quais o corpo tomou sentido, e continuam a fazer-se sentir.

Se as imagens estão perdidas no baú da memória, talvez porque a elas sucederam-se milhares de outras, o ser humano parece perder o rasto da imagem primeva que originou o sentido, que foi incorporado, que perante imagens novas que lhe são presentes, não consegue perceber suas próprias atitudes.

Não reconhece em si o sentido de uma nova postura, mas parece reconhecer mediante o social que suas atitudes são contrárias ao estabelecido, o que implica a emergência de um sentimento de culpa, e de um medo, que possa a partir da descoberta, colocar em causa a sua união, que ainda corresponde ao seu princípio de satisfação ( proteção e aconchego ).

Afinal o corpo que pensa, embora possa pensar, não parece, em muitas circunstancias, alterar a postura do indivíduo, em que desse confronto, entre um corpo que pensa e aquele que sente, emerge um conflito, que tende a alterar o metabolismo, misturando-se sentimentos, desejos e não desejos, que confere a idéia ao indivíduo que se encontra á deriva.

Deixo-me envolver pela sedução, sinto tesão, mas perante a aproximação do indivíduo sedutor, que seduz, existe a tendência para recusar a sua intimidade, que por vezes não consigo manter.


Perante tal cenário, a forma que se nos apresenta de imediato, e que aparentemente parece ser a solução, seria a proibição de manter contacto com os objetos exteriores, que a possa levar a cair de novo na armadilha.


A repressão pode impedir a ação, mas não consegue eliminar o sentido do corpo, que perante uma possibilidade circunstancial, é levado a fazer o que afirma não desejar.

Desejo e não desejo. Quero e não quero, afirma ela.

Uma vontade manifestada através do corpo, e uma vontade expressa proveniente de uma lei social, que são corrompidas a todo o momento, garante-lhe a sensação de ser uma fora da lei, dado que ambos os sentidos estão inclusos

Essa corrupção, ora num sentido, ora no outro, provoca uma sensação de esvaziamento em virtude da indecisão, em que aquilo que é julgado como sendo o mal, não consegue ser parado praticando o bem, dado que está investida de ambos.

A resultante será o acréscimo da ansiedade, que tanto parece ser processada através de um sentimento de culpa, como por um desejo, que é exaltado através da sedução, dada a existência de uma possibilidade de transgressão.
Parece ser o instinto de negação embutido através de uma ordem social, que a instiga a fazer o contrário, negando aquilo que alguém lhe possa negar.

A poderosa uma vez seduzida, entende ser poderosa o bastante para levar o outro a tentá-la seduzir, transmitindo-lhe a sensação de domínio, o que nos leva a considerar um poder narcisista elevado.

Temos um dado novo, a sedução, como forma exigida para que o desejo seja evidenciado em si.
O que equivale a dizer que sem a dedução, não consegue ter energia para viver, em que a sua auto satisfação depende de um outro que a possa seduzir.
A poderosa afinal é fraca, dado que não consegue ser feliz por si mesma.

Somos a considerar por isso uma fragmentação originada por uma vontade manifestada e uma outra, que é expressa, que está para além do bem e do mal, e que apenas parece posicionar-se na visibilidade das consequências que possam surgir.

Que consequências serão essas ?

O medo de ser vista como adúltera, que a coloca no aspecto social, como uma qualquer, que pode por via disso, deixar eventualmente de ser amada por seu filho, e a restante família, deixando entender que o amor do marido é secundário, ou pelo menos coisa menos importante, desde que mantenha o quadro familiar estabelecido socialmente.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Fazer amor

Todos falam de amor, cada um do seu jeito, mas fazer amor, sáo poucos aqueles que fazem acontecer.
Hoje trago aqui um texto da nossa amiga Eloisa, que demonstra que fazer amor brincando, brincando / amando, sendo altruista, garante a felicidade de quem ama, e pode amar.

Segunda-feira, 6 de dezembro de 2010O que é Arteterapia
A Arte “em” e “como” terapia
O uso da arte como recurso expressivo remonta aos tempos primordiais, quando os hieróglifos, os rituais e as mímicas representavam formas de comunicação do homem com o mundo interno e externo. A Arteterapia, prática que propõe a utilização de recursos artísticos como ferramentas de um processo terapêutico, surgiu de forma sistematizada em 1941 nos EUA. Apresenta-se como um novo modelo investigativo da psique humana que vem crescendo e ganhando espaço na área de saúde e desenvolvimento humano. A partir do estímulo ao potencial criativo inerente a todo indivíduo, e do resgate da “criança adormecida” e do lúdico em nossas vidas, surgem novas formas de expressão dos questionamentos íntimos, das angústias, dores e medos.
Partilhando da visão poética de Boechat (apud URRUTIGARAY, 2003), um dos propósitos da Arteterapia é a libertação das mãos, criativas e criadoras, aprisionadas no ocidente em função de uma cultura cerebral, industrial e tecnológica. Qual a última vez que você desenhou, colou, pintou ou brincou com barro? A Arteterapia se predispõe a resgatar a liberdade criativa das mãos e recuperar atividades esquecidas ao longo da nossa formação.
Através do desenho, pintura, colagem, modelagem, poesia, contos, dança, teatro etc, e da reflexão em torno do que é produzido, os conflitos internos passam a ganhar forma, sendo configurados, confrontados e integrados, agora de forma consciente. Como bem nos lembrou Toquinho numa de suas canções (“Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel, num instante imagino...”), o contato com tintas, cores, barro, música, dentre outros materiais de trabalho, desperta no cliente estímulos sensoriais que favorecem o aparecimento de imagens carregadas de significados subjetivos. Alguns desses estímulos nos remetem a lembranças e memórias afetivas, nos fazendo entrar em contato com a nossa história e com nossos sentimentos mais profundos. Essas imagens, emoções e conteúdos emergentes são então discutidos e analisados, possibilitando uma melhor elaboração por parte do indivíduo. A materialização de imagens simbólicas permite o confronto e a conseqüente atribuição de significado às informações oriundas de níveis mais profundos e desconhecidos da psique. Transformando materiais, possibilita-se uma transformação no nível psíquico. Criando formas e corporificando símbolos, o indivíduo se recria, reconstruindo a sua relação consigo mesmo e com o mundo.
Você pode estar se dizendo: “Mas eu não sei nem pegar num pincel e desenho da mesma forma desde os meus 10 anos!!!”. Nenhum problema quanto a isso! Habilidades técnicas nos são bem menos preciosas que a predisposição a entregar-se na jornada do desvelar a si mesmo. Fundamental para nós é a expressão do subjetivo, o diálogo interno e a desmistificação de conteúdos e símbolos inconscientes que tendem a nos assustar ou paralisar. A arte aqui é entendida como meio de expressão e não cabe abordar questões de ordem acadêmica ou plástica. O valor simbólico da produção artística, na visão da Arteterapia, precede o seu valor estético.
Esse novo modelo terapêutico vem encontrando receptividade e espaço em diversas áreas de atuação: hospitalar, escolar, clínica, organizacional, comunitária, ONG, CAPS, dentre outras. Apesar de essa prática ter se expandido inicialmente na área de saúde mental, a sua utilização não se restringe a um público específico. Todos, não importa a idade, podem se favorecer com o despertar de potencialidades, o acesso às imagens do inconsciente e a possibilidade de ressignificar as experiências vividas, benefícios básicos da prática da Arteterapia. Trata-se de um convite ao autoconhecimento através de um caminho lúdico, criativo e prazeroso. Além disso, muitas vezes, torna-se mais fácil pintar uma angústia ou um trauma que falar sobre eles...

“Se cada dia cai, dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência.”
(Pablo Neruda)
Sinta-se convidado, enquanto indivíduo em ação, a “pescar” sua “luz caída” através desse universo de cores, símbolos e descobertas, permitindo que a claridade revelada pelas suas próprias mãos possa trazer um sentido ainda maior à sua história de vida.
blog - arteinfantil-elartes.blogspot.com

texto de :Carla Maciel é psicóloga (UFBA), psicoterapeuta junguiana (IJBA)) e especialista em Arteterapia pela Universidade Denis Diderot Paris VII – França. Atualmente é professora, supervisora e coordenadora da Pós-Graduação em Arteterapia Junguiana do Instituto Junguiano da Bahia.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Formação do inconsciente psíquico

Ao referir o inconsciente psíquico, parece que existe um desejo de tornar conhecido um outro inconsciente, o que não corresponde ás minhas intenções, cuja ênfase que lhe é dada, tem por finalidade admitir que a sua existência depende exclusivamente de uma relação física e química, que lhe é conferida pelo o impacto gerado entre os corpos.

O prefixo (in) indicia algo que está dentro, que se posiciona na interioridade de um corpo, que foi incorporado mediante um movimento de energia, de fora para dentro, através do qual um sentido tomou seu lugar.
Ao tomar sentido de determinado sentido, o corpo o reconhece como seu, admitindo desse modo que faz parte do corpo, pelo que não existe a necessidade de o reconhecer de novo.

O que passa a ser reconhecido como diferente será qualquer outro, que não faz parte de um determinado corpo.
Devemos perguntar, se, ao ser constituído, o inconsciente passa a fazer parte de uma dinâmica psíquica ?
Esta será uma, entre tantas dúvidas, que nos assaltam acerca da função, e organização ideativa do psiquismo, que devemos a nós mesmos uma explicação, daquilo que pode ser entendido por dinâmica psíquica.

Em primeiro lugar, um elemento por si mesmo não dará lugar a uma dinâmica, pois ele carece de outros para que tal seja possível.
Se assim entendermos, percebemos que será a diversidade, a relação e interação, que dará lugar a determinada dinâmica, e pode ser designado por sistema complexo.

Dinâmica psíquica será então uma sistematização complexa de um diversidade de elementos, a partir da qual tende a emergir uma síntese como resultante.

A evolução processa-se a partir de um elemento, que em si mesmo já é um complexo, mas que entendemos como unidade / corpo, algo inteiro, mas não completo, que depende do mundo exterior, da relação e interação com outros elementos, para que possa sobreviver.
Manter-se vivo, será assim a condição de dar e receber energia, em que depende do seu poder de adaptação, a sua própria transformação, entenda-se evolução, embora muito lenta, que pode possibilitar a mutação.
A resultante será um outro corpo, embora semelhante, que contém em si maior quantidade de elementos do original, mas que foi incorporado por algo que estaria fora dele, que passou a possuir.

O sentimento de posse é originária dessa necessidade de manter-se vivo, em que existe uma intencionalidade assumida pelo o corpo, o não deixar-se morrer, que se manifesta através dele, e o impulsiona a enxergar o exterior, cuja finalidade será obter os objetos exteriores de sua necessidade, e satisfação.

Tal processo o podemos encontrar na própria biologia, em que as uniões, cruzamentos, que são verdadeiras orgias colectivas, não são mais que relações necessárias num mundo interativo, em que a partir do dar e receber, a resultante será a criação de um corpo semelhante, mas nunca igual, que por isso mesmo será sempre diferente.

As evidencias passam despercebidas em virtude de uma transformação lenta, muito embora as relações possam dar-se a um ritmo acelerado.
Somos levados a considerar por isso, que as zonas periféricas do corpo, de contacto, sofrem a todo o momento o impacto das relações exteriores, mas cujos sentidos não são de imediato absorvidos pela sua interioridade, ou seja incorporados, existindo nessa viagem de fora para dentro, obstáculos, bloqueios e interrupções, que são responsáveis pela aceitação, rejeição, ou apenas o corpo parece mostrar-se indiferente ao que se passa à sua volta.

Notemos que o envelhecimento de um corpo parece ser devido a esse impacto com o meio exterior, em que aquilo que lhe é periférico está sujeito a uma maior degradação, como será o caso da pele.

Significa que a incorporação de alguma coisa, que pertencia ao mundo da percepção, posicionada no exterior, que seria, ou não, objeto de desejo, ou de uma necessidade instintiva, uma vez incorporado, admitido como algo que possa constituir-se em parte de um corpo, deixa, a partir desse momento de ser perceptível, ou melhor, objeto de percepção.

É o caso do inconsciente.

O inconsciente reconhece a si mesmo, como sentido incorporado, o que equivale a afirmar, que um sentido só reconhece um sentido semelhante, e que os diferentes são sinalizados como intrusos, em que a ansiedade é o produto dessa diferença.
A ansiedade é uma forma de fazer sentir ao corpo a existência de um outro corpo, ou de alguma outra forma, muito embora identificada, não possui as mesmas características de determinado sentido incorporado.

E aqui nos debatemos com o mesmo problema – Como o corpo reconhece, ou consegue captar as diferenças caracteriológicas entre as mais diversas formas ?

Através dos órgãos dos sentidos, dos sentidos incorporados e seus significados, que um dia foram incorporados.

A partir de um sentido, o corpo consegue extrair significados, proveniente de um impacto exterior com outros corpos, mas também consegue ganhar um sentido, a partir de uma forma verbalizada, que é preenchida por significados, que lhe é conferida por aquele que verbaliza.

Tantos uns, quanto os outros, podem constituir-se em sentidos, a partir de determinada percepção do mundo exterior, e da complexidade de suas relações.

Percebemos deste modo, que o ser humano está dependente de uma relação exterior, e pode ser condicionado por ela, da qual resulta um determinado sentido, que uma vez incorporado, passa a fazer parte de um corpo, que se transforma em inconsciente.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Dossier Bullying

Organizei num único documento - Pdf - o que me pareceu mais importante acerca do Bullying.

Está disponível no blog - psicanalisecom.blogspot.com

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Violência em Belo Horizonte

Entre o bem e o mal encontramos a guerra, que por bem tenta matar o mal, faltando desde logo ao primeiro mandamento, ¨ Não matarás ¨ .
O que será o bem, ou, como é entendido pelo o estudante de Educação física, que á porta da faculdade, segundo a notícia, das mais prestigiadas da cidade, esfaqueou o professor causando-lhe a morte ?
O bem para ele é equivalente ao bom, que por ser-lhe negado o chocolate, entenda-se nota suficiente para passar de ano lectivo, coisa que o infeliz professor, decerto por birra negou, não teve meias medidas, e fez justiça por suas próprias mãos, acabando com a raça daquele que tinha por missão avaliar os conhecimentos.
O ensino não pode ser mercantilista, dizem uns, em que se esquece os valores humanos, e tendem a emergir formas de poder social, económico e político.
Existe algo de verdadeiro em tais afirmações, mas o ensino mercantilista pode coexistir tendo em conta fatores de humanização, tudo depende daquilo em que se acredita, e na vontade de levar por diante projetos nesse sentido.
Para além de qualquer discussão, existem princípios imutáveis, que não conceitos, e um deles é irrefutável – Não pode existir socialização, sem humanização, e nunca será através da socialização, que o ser humano pode chegar á humanização.
Mais tarde ou mais cedo, o que julgamos socializar, ou estar socializado, é despertado para a violência, porque nele está incorporado o gérmen da guerra contra o outro, entendido como entrave aos seus próprios desejos.
É preciso estar muito doente para chegar a este ponto.
O teatro mais uma vez saiu á rua, a imprensa vive de acontecimentos, o exaltação samba promete dias melhores, porque pior não pode ficar, e titiricando damos asas á nossa imaginação, sem que seja necessário afrodisíacos, ou crack.
Amanhã será outro dia, e comparado com os cinco mil assassinatos / ano, só no Estado do Rio de Janeiro será uma gota de água no Oceano, coisa sem importância, a não ser para as respectivas famílias e amigos.
Mas o outro lado da história, que todos podem observar através da televisão, e dos demais meios de comunicação, que são os depoimentos de autoridades, colegas e professores, parece que nenhum de nós está interessado em enxergar.
Era um indivíduo que fervia em pouca água, afirmam algumas colegas.
Explodia quando contrariado, afirma um outro colega.
Os professores, a instituição escolar, e as autoridades sabem quais são os alunos potencialmente agressivos, mas só reagem á agressão, e á morte, em que a palavras nesse momento não podem ser outras, que não de condenação e punição.
Um indivíduo potencialmente agressivo, sabemos bem que é um sério candidato à pratica da violência e crimes de sangue, mas acreditamos, e esperamos que nada possa acontecer.
O trabalho de prevenção, ou seja de humanização, fica assim, desse modo por fazer.

Fica a pergunta:

- Não seria melhor enviar esses indivíduos para um trabalho de análise durante um certo período, assim que fosse detectado alguma agressividade gratuita, do que assistirmos impotentes a tantas tragédias, que infelizmente, ceifa a vida de quem pretende dar um pouco da sua, em prole da sociedade ?

Talvez por medo de encarar que estamos perante uma sociedade adoecida, e proceder de acordo, sejamos surpreendidos por uma sociedade de suicidas e assassinos, em que a culpa pode ser endereçada a quem pratica tamanhos desmandos, que foram possuídos pelo o espírito maligno, isentando todos aqueles que tem por missão formar as crianças de hoje, adolescentes e homens de amanhã.

A culpa é sempre do outro. Nós somos os meninos bem comportados.

Haja coração.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Poder é hostilidade

Poder é hostilidade, insatisfação.
Afeto é satisfação.

Poder é hostilidade para quem sofre na pele a intolerância, a prepotência, e a agressão verbal ou física.

Não estou certo, que, quem o exerce sinta alguma satisfação por isso, salvo em alguns casos de puro sadismo, porém, ao conseguir vergar os outros á sua vontade, tende a emergir uma satisfação interior.

A satisfação provém de um desejo de superação que foi conseguido.

O poder será o instrumento cuja finalidade será conseguir a superação de si mesmo, face a uma impotência criada, ou admitida como tal.

O que nos é revelado de seguida, e que devemos distinguir, é se ele é exercido á custa de tentar inferiorizar o outro, o machucando, o espezinhando, entendido como obstáculo que se intromete, entre o indivíduo e a coisa desejada, ou se é exercido sem que possa afetar o semelhante.

Neste último caso estão excluídas as questões estéticas, o ser crente em Deus, ou noutra entidade qualquer. Ser branco, amarelo, pardo, ou vermelho. Ser heterossexual, ou homossexual, usar penteado punk, ou vestir de negro, dado que são coisas que pertence a cada um, que por isso não nos deve incomodar.

Se nos incomodar tudo isso, então deixamos de falar em afeto, para sentir a hostilidade, que é uma forma de poder, e a tentativa de sentir-se, e mostrar aos outros que é superior, a que o sentido exagerado de pureza não é estranha.

O leitor poderá julgar o que quiser em relação aos outros, mas o que importa é perceber como esse julgamento pode influenciar na relação com os outros, que conduz por norma a conflitos psicológicos, e a atitudes, que tantas vezes atenta contra a vida das pessoas, e de si mesmo.

A agressão psíquica ou física pode ter alguns nomes, como violência doméstica ou bullying, mas ela é originária do mesmo núcleo de formação infantil.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

domingo, 28 de novembro de 2010

A agitação da urgência

Deleuze

Um personagem sai de casa, desce até á rua e diz:
- ¨ Tânia, a mulher que amo, me pede ajuda ¨ .
Vou correndo, ela morrerá se eu não for.
Encontra um amigo, vê um cachorro atropelado, a esquece, esquece completamente que Tânia o espera á beira da morte.
Põe-se a falar, cruza com outro camarada, vai até sua casa tomar chá e, de súbito, diz novamente :
¨ Tânia me espera, é preciso que eu vá ¨ .
As personagens são perpetuamente vítimas da urgência, e ao mesmo tempo, elas parecem saber que há uma questão ainda mais urgente, embora não saibam qual.
E é isso que as paralisa.
Tudo se passa como se, na maior urgência - ¨ É um incêndio, é preciso que eu vá ¨- Elas se dissessem :
- Não, existe algo ainda mais urgente.
Não moverei um dedo até saber do que se trata.
É a fórmula do ¨ Idiota ¨ - Adaptação ao cinema do romance de Doitoiévski.
Veja, há um problema mais profundo.
Qual problema, não saberia responder ao certo.
Mas me deixe. Tudo pode arder.
É preciso encontrar esse problema mais urgente.

A crise histérica é algo urgente, mistura de neurose e psicose, em cujo potencial o sujeito acredita, referida a um espaço fora do seu tempo, que não tem objetivo, mas apenas objeto, que é urgente encontrar, embora não sabendo o que procurar.
Parece existir uma dissociação entre o visual e o sonoro, entre o ver e falar, e sobretudo, entre o corpo e a alma.

Marcado pelo o objeto, este faz-se presente em qualquer tempo, em que objeto / objetivo se confundem, em que a autonomia está comprometida, em virtude do ontológico ter sido substituído pela entropia.

Essa necessidade de dar não sabendo bem porquê, e o quê, opta tantas vezes pelo o corpo, a que muitos chamam de amor, apresentando uma característica particular no histerismo, que nada tem a ver com altruísmo, mas com uma necessidade, desejo profundo de receber algo em troca.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Quântica vontade

Tudo tem seu centro, núcleo, representado por um ponto, que o ser humano só parece dar conta quando a velocidade de um corpo atinge um certo limite, que tende a afastar-se da realidade de todos os outros.
Tais corpos em movimento em altíssima velocidade afastam-se de outros corpos, desvinculando-se de uma realidade compatível, em que as diferenças de potencial não promovem a associação, mas antes a dissociação.
O corpo dissociado da multiplicidade, tende manter a estrutura do seu núcleo, sendo este o seu objetivo fundamental, como preservação da própria vida.
Á distância parecemos um ponto, de perto representamos um corpo para aquele outro que nos observa, no entanto não deixamos de ser o mesmo corpo, muito embora perto, visto como um ponto ao longe.
Nesse ponto nuclear em que tudo parece começar, tudo termina, que para além dele existe a multiplicidade, que são derivados de uma mesma unidade genética, promovida por uma infindável associação de células, que contêm em si mesmo o sentido de vida de seu núcleo.
O corpo, entendido como suporte dos sentidos, e do movimento, observatório privilegiado do que o rodeia, contempla para além de si mesmo, porque aquém parece não saber definir, em que apenas persiste um sentido, que leva o ser humano a reconhecer que se encontra vivo.
Para além é semelhante aquilo que se encontra aquém, muito embora não saibamos definir, em que a diversidade de corpos são apenas produtos da mesma energia universal.
Corpos separados, mas semelhantes, divididos em espécies, como fatores multiplicadores do milagre das rosas que virou pão, a partir de uma única roseira, que teve sua origem num núcleo.
Esses pontos nucleares são em tudo semelhantes, em que as diferentes formas dos corpos, nos podem dar a sensação de sermos diferentes a partir de um núcleo, criando a ilusão da existência de uma diversidade nuclear.
A mutação dos corpos é muito mais acelerada, como tentativa de adaptação ao mundo exterior, do que as dos núcleos, mas, no entanto o mundo energético parece ser o mesmo.
Talvez aqui possamos reconhecer a separação teórica, entre emergia e matéria.

Falando de forma mais acessível, parece ser a energia que reúne os pontos materiais, as partículas, que por associação tende a formar um corpo homogêneo, pelo menos será essa a sensação que o ser humano possui.

Desse modo podemos considerar que a velocidade exige a distância, promovendo a dissociação entre os corpos, o condicionando ao seu próprio núcleo.
Do mesmo modo nos é dado a observar que o isolamento, produzindo a inércia, tende a provocar o mesmo efeito.

Se no primeiro caso podemos perceber em tal fenômeno a tentativa de fuga, cujo sentido é despojar-se de algo que está associado ao corpo, que o faz sentir mal, no segundo caso, nos é dado a observar a inércia, como forma de reflexão, que apresenta o mesmo sentido, cuja finalidade é livrar-se da dor e sofrimento.

Podemos deduzir que a associação exige a compatibilidade, cuja essência parece ser a relação, e a possibilidade de interação desejada.
Porém, tal desejo, não será mais que um sentido, que tende a emergir de um corpo, e que por ele tende a ser manifestado.

Não sei se estou sozinho na convicção de que os sentidos são fenômenos quânticos, e que são eles, tal como os sonhos, que comandam a vida do ser humano.
Que diferença fará para um ser humano estar sozinho ou acompanhado, a não ser a proteção e o aconchego, que o impulsiona a sentir, que essa será a melhor maneira de estar em sociedade, através da qual tende a afirmar-se ?

João António Fernandes Psicanalista Freudiano

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Guerra no Rio


Depois de quase 40 horas de intenso tiroteio, a polícia do Rio de Janeiro anunciou nesta quinta-feira que tomou a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, quartel general do Comando Vermelho. Mais de 100 criminosos fortemente armados fugiram para o Complexo do Alemão, controlado pela mesma facção.
Notícia Yahoo

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Controle do medo

quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Pesquisadores mostram como cérebro controla o medo
Estudo descobriu dois tipos de neurônios que controlam fluxo dessa emoção na amídala

Uma equipe de pesquisadores da Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), nos Estados Unidos, deu um passo importante na compreensão de como o medo é desencadeado no cérebro ao dissecar o circuito neural desse estado emocional.

No estudo, chefiados por David Anderson, professor de biologia da Caltech pesquisador da do Instituto Médico Howard Hughes, os cientistas descrevem um microcircuito na amídala, que contém dois subtipos de neurônios com funções opostas – eles controlam o nível de medo que sai da amídala, funcionando como uma espécie de gangorra.

Assim que começa o fluxo de medo, esse impulso pode ser transmitido para outras regiões do cérebro que controlam o comportamento temeroso.

Anderson explicou que, agora que já conhecem esse mecanismo da gangorra, os cientistas poderão desenvolver remédios para tratar distúrbios psiquiátricos provocados pelo medo, como transtornos do estresse pós-traumático e da ansiedade ou fobias.

Segundo o chefe do estudo, a chave para entender esse mecanismo delicado foi a descoberta de "marcadores", genes que poderiam identificar e permitir aos cientistas distinguir os diferentes tipos de tipos de células neuronais da amídala.

A equipe de Anderson encontrou esse marcador em um gene que codifica uma enzima chamada de proteína kinase C-delta, que aparece na metade dos neurônios dentro de uma subdivisão do núcleo central da amídala, região que controla justamente o fluxo do medo. Os cientistas marcaram com uma substância fluorescente os neurônios nos quais a enzima é expressa, o que lhes permitiu mapear as conexões desses neurônios, além de monitorar e manipular sua atividade elétrica.

O estudo revelou que a composição da kinase com os neurônios formam uma das pontas da gangorra, fazendo com que as conexões com a outra população de neurônios do núcleo central não expresse a enzima.

Em outro estudo independente desse, o cientistas Andreas Lüthi, do Instituto Friederich Miescher, na Suíça, conseguiram gravar os sinais elétricos gerados pela amídala durante estímulos de indução ao medo. Eles descobriram dois tipos de neurônios que reagiram de formas opostas a esse estímulo: um tipo aumentou sua atividade enquanto o outro diminuiu.

As duas equipes uniram seus esforços para saber quais os neurônios de Lüthi correspondiam aos neurônios com e sem a proteína kinase, descobertos pela equipe de Anderson: as células que diminuíram sua atividade eram os neurônios com a proteína e aquelas que aumentaram, os sem proteína.

As descobertas mostraram que a geografia do cérebro é organizada de forma parecida à do mundo: é dividida em países, estados, cidades, bairros, vizinhanças e casas, sendo que as casas correspondem aos vários tipos de neurônios, explicou Anderson.

"Antes, só tínhamos conseguido dissecar a amídala nos níveis das cidades ou, no máximo, das vizinhanças. Com essas novas técnicas, finalmente chegamos ao nível das casas".

Post do blog-Metendobico.blogspot.com

sábado, 20 de novembro de 2010

Metafísica



O Universo não precisa de nós

As coisas existem por si mesmo, porque outras coisas, milhares delas existem para além de nós mesmos, pelo que não devemos ter a pretensão de sermos a unidade que se revela como sendo a estrela polar, a referência, o guia do universo, tendo a sensação que tudo gira á nossa volta.
Elas passam a ser percebidas quando existe uma definição para elas.
Talvez não façam sentido para o indivíduo que as contempla, mas elas apresentam um sentido, têm um sentido, porque então o Cosmos não faria sentido
Será a definição verdadeira ou falsa?
Ou apenas uma explicação que o ser humano empresta aos fenômenos e ás coisas ?
Será a este fenômeno que chamamos de consciência, ou pensamento ?
¨As coisas só existem na medida em que são percebidas ¨, afirma o filósofo.
Como assim ?
Quando o indivíduo sente, e não sabe porque sente, porque está sentindo, nem sabe de onde lhe vem tal sentido, significa que aquilo que está sentindo não
existe ?
Ou, pelo o contrário a coisa existe, tem um sentido, talvez apenas um sinal de alerta, que deixa revelar um sentido que não percebemos ?
Talvez as coisas só passem a ter sentido para o indivíduo, quando de fato as sente.
Tenhamos a humildade de um pedinte, que tem fome de saber por não o possuir, e logo damos conta da nossa pequenez perante a complexidade do Universo.
É o ser humano que precisa do Universo para viver.
Se aquilo que é dado á função, que é corpo, puramente materialista, existisse por si mesma, de forma isolada, o ser humano teria poucas hipóteses de sobreviver, pelo que os fenômenos que ainda não conseguimos dominar encontra-se de forma abstrata no nosso espírito, como um sinal, cuja finalidade é a tentativa de sua revelação.
Só a revelação ( a verdade ) te salvará, porque convencidos do nosso saber, somos eternos ignorantes.

Lembrando Nietzsche, deixo escapar um pensamento:

- Se o sentido se constitui em espírito, e se este apresenta determinado sentido, muito embora nenhum de nós saiba onde nos possa levar, ele se faz transportar para além do próprio corpo, mas a ele lhe pertence, dado que só através dele pode ser revelado.

Este mundo sensível não será mais que um sentido que é dado á matéria, que apresenta um sentido, e toma sentido daquilo que a rodeia, numa troca de energia, que não pode ser percebida de forma matemática, objetivada em unidade, múltiplos e sub-múltiplos.
O objetivo parece determinado por fontes energéticas, que a partir de um qualquer meio, tende realizar a sua tarefa, numa constante relação e transformação das condições que é conferida á matéria.
Talvez o que possamos entender por degradação de um corpo, tal como a velhice, por exemplo, seja o princípio de um ciclo progressivamente transformista, dado que seus desejos mais íntimos não podem ser cumpridos, dada a existência de outros corpos com quem interage.
Não será a mumificação a tentativa de assegurar a eternização de um corpo ?
Mas tal só parece ser possível através do regresso ao inanimado, e ao isolamento, que não permita o contacto com outros corpos, que com ele possam reagir.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sentido de vida

Para além da interioridade, cujo sentido de vida altera o corpo, quando sente que a vida lhe foge, determinado por parâmetros estabelecidos biologicamente, emergindo alguma insatisfação por isso, que é sentida, a que o indivíduo não sente nenhuma necessidade de dar um significado, nos resta perceber a alteração no corpo quando confrontado com algo exterior a si mesmo.

A existência de um pacote energético que nos é dado grátis assim que somos gerados, contém em si mesmo determinações compatíveis com o ser vivo que é gerado, e tende a manter-se nessa condição durante toda a nossa existência.

O que foi herdado através da genética, vamos tentar repetir durante a nossa existência, cuja evidencia encontra-se nos instintos, que determina um sentido, culminando interiormente num impulso, levando na prática a uma ação periférica do corpo, que percebemos através de suas manifestações, que possui um sentido dirigido a algo exterior.
Assim, nos é dado a perceber que o sentido é emergente da matéria, como forma primária da existência de um ser vivo, cujo princípio é em essência materialista.

* O princípio de sustentabilidade encontra-se para além do próprio corpo.
* O princípio de funcionalidade é dado á interioridade do corpo.
* A relação é o meio através do qual existe a procura de algo exterior, que seja capaz de sustentar a função, a tornando capaz de ser funcional.

Os objetos exteriores serão aqueles que eventualmente podem servir á função, torna o sistema funcional, criando as condições para a sua sustentabilidade.

Significa que tudo aquilo que serve á função é compatível, e tudo aquilo que a afete será sentido com algum grau de incompatibilidade, ou se o quisermos entender de outro modo, de toxicidade.
A plasticidade é percebida mediante essa capacidade do corpo em adaptar-se a essa variação de grau, que é diferente em cada ser humano, em que o idealismo, por exemplo, devido á negação da diversidade tenta impor um conceito de uniformidade, criando desse modo a inflexibilidade psíquica.
Nos é dado a perceber desse modo, como os conceitos tendem a afrontar, e destruir os princípios emergentes da matéria, criando a instabilidade por incompatibilidade.

O efeito da lingüiça

Não posso ver lingüiça, mas adoro carne de porco e de boi.
Perguntei de que era feito a lingüiça.
De carne de porco, respondeu ela.
Também não gosto de macarrão, dá-me vômitos.
Mas massinha curta eu como.

A essência da ¨ coisa ¨ não está no sabor, mas no simples olhar, que repudia a forma como elas se apresentam.

Lingüiça e macarrão, formas que fazem lembrar lombrigas, ou outra coisa do gênero, mas que não o sendo de fato, não deveria causar nojo, vômitos e repulsa.

Assim, que a pessoa associa uma imagem interiorizada, que em dado momento causou repulsa, com uma forma exterior que tenha alguma semelhança com ela, tende a sentir os mesmos efeitos que a primeira imagem lhe causou.

Eis um dos exemplos, que o passado condiciona o presente e o futuro.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tortura – Um mal menor ?

George Bush por ocasião do lançamento de seu livro, proferiu os seguintes comentários

- A tortura a prisioneiros tornou-se necessária para defender o povo Americano.
- Depois do enforcamento do ditador Iraquiano o mundo ficou melhor.

Percebi então, que o lançamento do livro seria para justificar tais atos bárbaros.

Justificar o bem, praticando o mal, foi sempre a razão última daqueles que só sabem exercer o poder empregando a força das armas.

Hitler foi um desses exemplos, embora a sua morte prematura o impedisse de justificar em livro as suas atrocidades, mesmo assim, existem alguns que o tentam imitar.

Em nome de Deus, disfarçados de diabo, o mundo continua a assistir aos desmandos dos homens.
Bem haja.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Agressão bárbara

Uma professora de uma escola técnica em Porto Alegre (RS) teve os dois braços e seis dentes quebrados após ser espancada por um aluno do curso de enfermagem que ficou revoltado por ter tirado uma nota baixa. O caso ocorreu na última terça-feira (9).
Após tomar conhecimento de sua nota, o rapaz utilizou uma cadeira de ferro para agredir a professora, de 57 anos. Os braços dela foram atingidos no momento em que tentou se defender. Mesmo depois de ela ter desmaiado, o estudante, que é instrutor de artes marciais, desferiu socos e chutes, quebrando os dentes da professora. Ao perceber a chegada de duas professoras, o aluno decidiu fugir.
O delegado Fernando Soares, que investiga o caso, disse que um segurança e o porteiro do prédio ainda tentaram deter o agressor mas não conseguiram. O estudante, de 25 anos, ainda não foi localizado pela polícia. Informações do Estadão.

Noticia-www.Dicity.com

Palestras, conferências, livros escritos, vidas passadas na televisão, no rádio, nos jornais, á mesa do café, ou em família, nos revelam atos que condenamos, sem contudo percebermos como inverter os atos de vandalismo.
É o falar por falar, que nos alivia a alma, mas que não evita que sejamos confrontados com as mesmas situações no futuro.
Talvez seja este movimento emergente de um histerismo, proveniente de uma incapacidade sentida, que nos obriga a libertar energias, sem contudo resolvermos coisa alguma.
A punição pedida é uma consequência lógica, que funciona muito mais como medalha de consolação, tanto para as vítimas, como para a sociedade, com todo o aspecto de vingar um ato de vandalismo, mas que não atua na origem dos conflitos, e muito menos ao nível dos sentimentos de cada um, nem impede acontecimentos futuros da mesma ordem.

A família e a sociedade produzem seres humanos a partir de duas concepções :

· O poder e a culpa.

Os pais não querem sentir a culpa perante as manifestações hostis de seus filhos, e tratam logo de sacudir a água do seu capote, dizendo que a culpa é dos professores, da escola, ou de qualquer outro, elevando os meninos a coitadinhos de uma sociedade exigente e repressiva.
Andamos todos á procura da culpa, não da nossa, mas do outro, dado que desse modo encontramos o vilão causador das nossas desgraças.
Ignoramos os sinais que nos são enviados através da postura de cada um, e ficamos depois admirados indignados, e revoltados pelas atrocidades cometidas.
Depois de tantas queixas, sobra a agressão, a prisão, o hospital, e a morte.

domingo, 14 de novembro de 2010

Neurociências

Ser humano, ao nascer, tem estrutura cerebral semelhante ao homem de Neandertal
11/11/2010

É o que dizem pesquisadores do Instituto Max Planck, em um estudo publicado na revista online Current Biology.
Conforme explica a revista Veja, fonte da notícia, "a descoberta é baseada em comparações de impressões virtuais, em diferentes idades de desenvolvimento, de circunvoluções cerebrais e estruturas vizinhas do interior dos crânios fossilizados de homens modernos e de Neandertal, incluindo os de recém-nascidos".
De acordo com a pesquisa, é após o nascimento, especialmente no primeiro ano de idade que, que começam a aparecer as diferenças entre o cérebro do homem de Neandertal e o cérebro Humano. Estas diferenças refletem, provavelmente, mudanças nos circuitos e conexões neurais, explica Philipp Gunz, um dos principais autores do estudo. São estas diferenças na configuração interna do cérebro que determinam o nível da capacidade cognitiva da espécie, completa o autor.
Os dados do estudo sugerem fortes influências ambientais no desenvolvimento da capacidade cognitiva humana. Na verdade, apenas confirmam dados de outras pesquisas mais antigas: dependendo do tipo de ambiente em que a pessoa se encontra e do tipo de estimulação que ela recebe neste ambiente, o seu desenvolvimento irá variar.
Fonte: [www.Redepsi.com.br]

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Quântica consciência ? ( I )

Onde mora a consciência ?
O que podemos entender por consciência ?
O que é ter consciência ?
E o ser consciente ?
E o estar consciente ?
E o ser inconsciente é estar privado de consciência ?

Estar e deixar de estar, presença e ausência, identifica um estado, uma mudança de lugar, cujo processo físico não interfere com a composição química de um determinado corpo, em que a transformação física se evidencia, mas não devemos perceber nisso a não existência, dado tratar-se das mesmas características endógenas de um determinado corpo.
Assim, somos levados a considerar, que a forma de um corpo, apresentando-se de diversas maneiras, não conduz necessariamente á transformação de suas qualidades mais íntimas, que correspondem a um núcleo, que possui vida, e apresenta um sentido predeterminado.

Por outro lado nos é dado a saber, que a condensação conduz por norma á associação de outras formas, vulgo incorporação, passando a constituir parte de um corpo físico, mas que não altera as características essenciais desse corpo.
Será pois o agregado, que foi associado, como algo que foi considerado pelo corpo como acessório extensível, que permite ganhar características ontológicas, que tantas vezes é divergente em relação ao conteúdo nuclear.
Ao existir a transformação de determinado corpo, os resíduos então associados ao núcleo, não acompanham tal metamorfose física, percebendo-se a dissociação de alguns elementos, que estavam agregados, resultando num processo de separação.
Despido de seus resíduos, o corpo volta á sua forma mais simples, ou seja, mais primitiva.

O corpo na sua forma mais simples ou complexa, não deixa de existir, apenas se transforma, o que nos pode levar a considerar que, ¨ a não existência ¨ será apenas uma forma verbalizada, cuja finalidade tende a justificar a sua ausência, ¨a não presença ¨, e não propriamente a sua existência.
A ¨ não presença ¨, o estar ausente, não significa a não existência de um corpo, em que apenas nos é dado a saber, que ele mudou de lugar.

Desse modo, a consciência, o ser consciente, a devemos perceber como incorporada num corpo a tempo inteiro, em que o estar e deixar de estar, tem a ver com a transformação de um determinado estado, que pode estar, ou não estar, mediante determinada condição, mas que não deixa de possuir consciência, seja qual for a circunstância.

O que nos é presente de seguida, jugo ser relevante e fundamental, dado que nos é difícil perceber num corpo simples, não só a ausência, como a inexistência de uma forma consciente, que nos possa levar a considerar que a consciência possa de fato existir.


Se estivermos de acordo, que a consciência não existe num corpo simples, ao existir será sempre como algo exterior a si mesmo, como forma presumida, que não real, sendo proveniente de um processo de indução, a que se segue a dedução lógica, em face da incorporação de elementos exteriores.

Nos posicionamos agora no campo da subjetividade, que é garantida mediante uma relação exterior, que o induz a deixar de estar na sua condição primitiva, em que podemos perceber a existência de um corpo inanimado, que se transforma em animado.

Mas como referenciado anteriormente, aquilo que não existe num corpo simples, não pode existir na complexidade. Decorrente desse princípio geral da matéria, a consciência não existe, mas apenas um sentido.

Segundo minha percepção, não parece que seja uma questão filosófica por resolver, e só a podemos entender como tal, se a entendermos como fazendo parte de um fenómeno, que tende a afastar-se de uma realidade terrena, que a própria filosofia tende a rejeitar.
Quando sentimos a necessidade de definir o que podemos entender por consciência, estamos a afirmar perante nós mesmos e os outros, que ela de fato existe.

Desse modo não somos conduzidos a lado algum, que nos leva pelo o caminho da interpretação, na tentativa de justificar a sua existência real, abandonando de vez o questionamento e a indagação acerca da sua existência, em que o pressuposto parece ter sido incorporado por uma certeza.

Mas será mesmo, que a consciência existe ?

Autor – João António Fernandes – estudo e investigação em psicanálise.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Consciência - Quântica

Palestra do Prof. Osvaldo Pessoa Jr. no Centro de Estudos Avançados da USP - Post retirado do site -www.redepsi.com.br

1.Introdução Seria a consciência um fenômeno quântico? Por mais forçada que tal especulação possa parecer, ela tem sido seriamente considerada por vários pesquisadores nos últimos cinco anos. A motivação para essa abordagem, grosso modo, é que como a consciência é uma coisa misteriosa, e os fenômenos quânticos também o são, então esses dois mistérios poderiam estar ligados. O presente trabalho, ainda em fase preliminar, é um estudo dos diferentes argumentos utilizados para defender tal ligação, e das diferentes linhas de pesquisa em neurociência que fazem uso de considerações da física quântica.Veremos que a questão de se a consciência é um fenômeno quântico é basicamente uma questão empírica, ainda em aberto, mas que uma formulação precisa desta questão requer esclarecimentos filosóficos relativos às definições de "consciência" e de "fenômeno quântico".

2.A quem interessa tal Tese?
Vamos nos colocar dentro do contexto do materialismo, e supor que estados e processos conscientes são idênticos a certos estados e processos fisiológicos. Neste contexto, existe um debate em psicologia que gira em torno do funcionalismo ("strong AI"), que defende que a mente depende apenas da estrutura dos processos cerebrais, e não de sua realização física.
Assim, em princípio, um computador poderia ter consciência, ou mesmo uma sociedade poderia ter uma consciência própria, desde que os elementos destes sistemas satisfizessem certas propriedades estruturais, ainda não conhecidas pela ciência.
A mente seria como um programa de computador.
NB - Só que o programa de computador apresenta-se de forma rígida, não aceita irregularidades, o que não permite por si mesmo alterar seja o que for.
A tese de que o problema mente-corpo só poderá ser esclarecido quando for levado em conta a natureza quântica do cérebro tem sido usada como um argumento anti-funcionalista.

3. O que é a Consciência?
Boa pergunta! Não sei bem! Espero aprender nesta conferência!
Mas tem algo a ver com eu (ou você) estar aqui agora, tendo acesso a impressões sensoriais que possuem uma qualidade fenomênica (os "qualia", a qualidade branca neste branco, etc.), tendo acesso a memórias que são sempre relativas às experiências minhas, tendo desejos e pensamentos que parecem ter sempre uma intencionalidade, tendo uma noção de unidade de minha consciência, tendo uma noção de tempo e um terrível pavor ao representar adequadamente a minha morte.
6. O Papel da Física Quântica na Consciência
A tese que pretendemos examinar com maior cuidado não é o papel da consciência na teoria quântica, mas o papel da teoria quântica nas teorias materialistas da consciência.
Apresentarei aqui os principais argumentos em favor da tese de que a física quântica é essencial para a consciência.
a) O cérebro seria um "computador quântico". Este conceito foi bastante trabalhado pelo físico David Deutsch, que mostrou que tal computador seria mais eficiente do que um computador digital. Por seleção natural, essa vantagem computacional poderia ter favorecido um cérebro que fosse um computador quântico. O problema com este argumento é que o cérebro é muito quente para que tal computação quântica pudesse ocorrer.
b) O cérebro computaria funções não-recursivas. Computadores clássicos e quânticos só podem computar funções recursivas, mas o pensamento humano (por exemplo, a intuição matemática) extrapolaria esta limitação. Uma solução inovadora ao problema do colapso na mecânica quântica talvez solucionasse também esse problema da consciência.
O problema aqui é que não se mostrou rigorosamente que o pensamento humano é capaz de computar funções não-recursivas.
c) Um fenômeno quântico semelhante à "condensação de Bose" poderia ocorrer no cérebro. Este fenômeno é observado a baixas temperaturas, quando um grande número de partículas se comporta identicamente. Fröhlich (1968) propôs um modelo biológico deste fenômeno de "coerência" à temperatura ambiente, envolvendo moléculas dipolares. Alguns pesquisadores afirmam ter encontrado evidência de que tal fenômeno ocorreria no cérebro.
d) O cérebro seria regido por leis análogas às da mecânica quântica. Existe uma abordagem em neurociência que supõe que a convencional dinâmica do neurônio e da sinapse não é fundamental, e que as funções cerebrais podem ser descritas por um "campo dendrítico" que obedeceria a equações da teoria quântica de campos. Esta abordagem matemática foi inspirada na proposta de Karl Pribram, nos anos 60, de um modelo "holonômico" para o cérebro. O fato de leis análogas às da mecânica quântica descreverem funções cerebrais não implica que tais funções constituam um fenômeno quântico. Além disso, em tais modelos não se introduzem medições que causam colapsos, o que sugere que a descrição destes autores é meramente ondulatória.
e) A liberação de neurotransmissores é um processo probabilístico, que seria descrito apenas pela física quântica. Tal liberação, chamada de "exocitose", ocorreria com uma probabilidade relativamente baixa (de cada 5 impulsos nervosos chegando à vesícula sináptica de células piramidais do neocórtex, apenas 1 liberaria o neurotransmissor).De acordo com John Eccles, a mente (que em sua visão dualista existe independentemente do cérebro) pode alterar levemente essas probabilidades de exocitose, o que constituiria um mecanismo para a ação da mente sobre o cérebro. Rejeitamos aqui, por motivos filosóficos, esse dualismo de Eccles. Agora, se ele estiver correto e a exocitose puder ser descrita pela teoria quântica, faltaria mostrar que a mecânica quântica é necessária para descrever este fenômeno, conforme explicado na seção 4, e de que forma este fenômeno está ligado com a emergência da consciência.
f) Ao nível subneuronal ocorreria processamento de informação. Nos anos 70 descobriu-se que as células possuem uma delicada estrutura formada por "microtúbulos" de proteína, formando um "citoesqueleto". Autores citam alguma evidência experimental de que o citoesqueleto tem de fato uma função cognitiva, ligada à memória. Como tais microtúbulos são cilindros com diâmetro de apenas 25 nanometros (10-9 m), é provável que eles só possam ser adequadamente descritos pela física quântica. Resta saber se de fato o citoesqueleto tem uma função cognitiva, além de sua função estrutural e de transporte. Em um recente relato irônico a respeito deste programa de pesquisa, anunciou-se que Penrose aderiu a ele.
7) A mecânica quântica explicaria fenômenos de percepção extrasensorial. Alguns autores partem do princípio de que a consciência pode exercer influência direta sobre processos naturais, e procuram mostrar como um modelo quântico da consciência daria conta deste e de outros tipos de fenômenos. Marshall defende que a performance mental de seres humanos é alterada quando um eletroencefalograma é feito, já que este aparelho de medição estaria provocando colapsos no cérebro.

domingo, 7 de novembro de 2010

Consciência e física quântica

O que é a consciência ?

Será apenas uma denominação que tende a agrupar um conjunto de sentidos emergentes da relação da diversidade com um corpo, que se relaciona e interage com as coisas, e o mundo á sua volta.
A objetividade perde algum sentido para tudo aquilo que é subjetivo, em que encontrar a unidade, só a relacionando com nós mesmos.

Se entendermos a consciência como um derivado de um processo físico e químico, que possui seus princípios básicos de organização, leis físicas e químicas, não será difícil aceitar, que ela é um derivado de uma função, mas que na realidade não lhe pertence.

Desse modo nos custa a aceitar, que consciência seja corpo.
Em volta desta questão tão discutida, consciência – corpo, têm-se erguido vozes, umas contra, outras a favor, porque a meu ver, uns e outros, não têm levado em consideração o sentido por um corpo, e sua expressão, em face de uma forma anterior sentida.

Assim, nos é dado a observar, que a designação ¨ consciência ¨ não pertence a uma função genética / biológica, contudo podemos aceitar que possa ser dada a uma função fisiológica, como zona periférica de contato, que mediante uma relação, possa tomar sentido do mundo á sua volta.

Por isso não a podemos encontrar incorporada num sistema, mas antes fora dele, muito embora o possa influenciar.

Podemos até perceber a consciência como um sistema organizado, mas não mais, como outro qualquer que constitua um corpo, porque pura energia não é coisa concreta, embora possa influenciar a relação entre eles, a resultante será um derivado dessa relação, e não mais pertença a uma função do próprio corpo genético / biológico.

Autor – João António Fernandes - Estudo e investigação em psicanálise.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Será possível a conversão ?

A vida dos Judeus há muitos séculos atrás não foi nada fácil, perseguidos por toda a Europa, foram muitas famílias acolhidas em Portugal, onde se instalaram e refizeram suas vidas, com a promessa de se converterem á religião católica.
Eram chamados de cristãos novos, como o estigma que substituiu a estrela ao peito, mas que da mesma maneira os identificava e descriminava perante todos os outros.
Marquês de Pombal acabou com tal discriminação lá pelos anos de mil setecentos, e qualquer coisa, quando nomeado ministro em Portugal.
Uns tentam acentuar as diferenças, marcando no peito, na lei ou na carne os seres humanos que julgam merecer tamanha honra.
Outros pretendem acabar com essa forma de descriminar e diferenciar seres humanos.
Mas o que pretendo entender é se de fato é possível a conversão de gente que é diferente, quanto a aspectos formativos e religiosos ?
Os homens na sua loucura, de vez em quando tentam a exterminação de outros homens, apenas porque pensam de maneira diferente, apresentam formas de estar na vida diferenciadas que os incomodam, desta feita não recorrendo ao veneno para os ratos, mas munindo-se de armas poderosas para o efeito.
Talvez os loucos sintam que não é possível a conversão, e que só a exterminação pode acabar com a raça de uma formação, que ganhou raízes na interioridade do ser humano.
Se um louco não sabe o que faz, porque apenas funciona através dos instintos, será que os seres pensantes e intelectuais, sabem de fato definir a complexidade dos fenómenos que lhes são presentes ?
Talvez não sejamos tão loucos quanto eles, mas não nos livra de sermos de igual modo ignorantes em relação a determinados assuntos, não obstante toda a postura de seriedade.
Como explicar que possamos encontrar vestígios dessa civilização Judaica, em algumas aldeias de Portugal, mantendo-se alguns costumes, e formas próprias de se relacionarem em família, e com estranhos ?
Somos levados a considerar, que pelo menos a conversão não foi conseguida na totalidade, o que já é um mau pronuncio para aqueles que julgam que a conversão é possível.
Por outro lado é frequente a queixa daqueles que sofrendo de obsessão mental, não conseguem deixar de pensar em determinadas imagens e idéias que os atormentam, reclamando do médico o remédio milagroso que possa varrer da sua mente tais pensamentos.
É assumido pelo comum dos mortais que as imagens não podem ser apagadas, desaparecendo como por encanto, não tendo a ciência qualquer solução para o caso.
Desse modo nos é dado a observar que a conversão é um mito, ou pelo menos é uma frase inadequada para definir seja o que for.
Mas enquanto insistirmos em frases inadequadas, mesmo entre aqueles que se dedicam ao estudo e investigação das coisas da mente, estamos a oferecer á maioria das pessoas gato por lebre.
Na realidade a conversão não é possível, mas apenas a coexistência de imagens e idéias no psiquismo humano, que devido a um sentido valorativo, umas ganham mais importância para o indivíduo, que outras, que por isso tendem a ser relegadas para segundo plano.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O mal estar da civilização é cultural

A psicologia pós modernidade resvalou de vez para a neurose obsessiva, e constitui-se na própria doença do século.

Deixou de tratar sintomas, apenas os tenta aliviar, por não reconhecer o transtorno, dado que está incorporado por ele.

Reprodução do original, ou pirata será o seu modelo, a identidade ?

Incorporação de algo exterior, devido a um vazio, ou confusão de identidade ? Interessante.

A referência deixa de estar na interioridade, e posiciona-se no exterior.

Reconhece-se nos outros, e deixa de conhecer-se a si mesmo ?

Será então o finito de uma transformação, porque todos semelhantes, nada se transforma.

Não estou certo, mas talvez contrarie as leis da própria natureza, abandonando de vez o processo de humanização, desejando a todo o custo a socialização, através de uma política de condicionamento, entenda-se proibição e punição, elevando cada vez mais o ser humano a uma forma animalesca.

A culpa é da cultura. Interessante.

Já não são os homens com seus costumes e modos de estar na vida, que formam um sistema cultural, mas sim este que os tenta subjugar e formar.

A filosofia já não nasce do nada, mas de um pretenso saber.

Como as vontades mudam, de acordo com o tempo, meu Deus.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Homossexualidade feminina

A bomba estoirou, e sobrou para a escola, em que a professora mantinha relações sexuais com uma aluna de treze anos, segundo a TV Globo, com direito a quarto de hotel.

Aos homens do direito compete estudar e investigar o assunto, e decidir segundo as determinações legislativas, tentando apurar a responsabilidade das partes envolvidas, que podem merecer, ou não, a punição.

Aqueles que se dedicam ao estudo e investigação das coisas da mente, devem dar o seu testemunho acerca das implicações mentais, que tal cenário pode despertar num ser humano com treze anos.

Tecnicamente poderíamos encerrar este artigo a partir da constatação de um fato:

A referida aluna defende o seu amor pela professora publicamente, assumindo a sua homossexualidade perante os pais, a escola e a sociedade.
Perante tal afirmação, em que não existe sentimento de culpa, vergonha e constrangimento, nem a mais pequena disposição em ocultar o seu amor pela professora, em que a relação afetiva e sexual é assumida por mútuo acordo, não consigo descortinar, no plano restrito dos fenómenos psicológicos, qualquer consequência, que possa gerar um conflito no psiquismo da aluna.

Os profissionais da área sabem muito bem, que a homossexualidade, que não é assumida, embora desejada, em virtude do julgamento dos pais, amigos e da sociedade, que tende a promover a exclusão do sujeito, é aceite como sendo responsável pelo o desencadear de graves perturbações psíquicas.

Não existindo o mais leve indício de sedução, de arrependimento, do emprego da força física, e de recusa pela prática das relações afetivas e sexuais, não existe qualquer alteração, quanto ao modo de organização do psiquismo daquela moça, somos a considerar, que a sua homossexualidade já se encontrava desde há muito definida.

Tenho algum receio, que aquela aluna, uma vez submetida a tanta pressão exterior, possa vir a tornar-se paciente e transtornada, de que não podemos prever quais as consequências.

Será bom acrescentar que independente dos aspectos técnicos, a opinião pública tem seu direito a manifestar-se, muito embora suas opiniões não sejam consideradas neste artigo, dado que o autor pretende separar o campo de atribuições que cada um deve ter na análise do mesmo assunto.

domingo, 31 de outubro de 2010

Outro tempo

Estou ausente
De corpo presente
Me transporto no tempo
Viagem sem espaço
Navegando ao vento
Onde os pensamentos
Me levaram
De onde nunca saí
Para me mostrar
O que já enxerguei
Para observar
O que nunca vi
Sem tempo
Sem espaço
Com tempo
Para ocupar outro espaço
Sei lá !

Joâo António Fernandes

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mente e cérebro

Autor - Leopoldino dos santos ferreira
Fenômenos Emergentes

O que podemos dizer acerca da existência da mente nos animais quando observamos seu comportamento? Eles visivelmente experimentam sentimentos e emoções similares a nós mesmos. Qualquer um que tenha visto uma leoa alimentar suas crias não pode questionar seu amor maternal. Qualquer um que tenha ouvido o chiado estridente de um pássaro sendo perseguido por um gato não pode duvidar de seu terror. Qualquer um que tenha testemunhado um cão pulando em seu dono após o seu retorno não pode deixar de apreciar que ele está sobrepujado de alegria. Ainda, podem os animais pensar – isto é, formar imagens mentais? Parece que eles podem reconhecer propriedades abstratas, tais como formas e cores. Mas é menos certo que eles possuam uma sabedoria de si mesmo ou de sua existência. Ninguém viu até agora, ou espera ver tão cedo, um chipanzé – o animal mais próximo do homem geneticamente – pintar a Mona Lisa ou escrever Guerra e Paz.
A mente emerge da complexidade do cérebro. Em vista do que temos dito previamente a respeito dos princípios de auto-organização que emergem em sistemas quando eles cruzam um limiar de complexidade, que discernimento podemos adquirir sobre o problema do corpo e da mente? Afinal de contas, o cérebro é o sistema mais complexo que a Natureza já produziu. Podíamos, portanto, esperar fenômenos emergentes que se manifestam num nível mais alto, com propriedades diferentes daquelas dos processos neurais (tal como o fluxo de elétrons nos neurônios), que pertencem a um nível mais baixo. Estes fenômenos emergentes podem ser assimilados com o que chamamos de "mente." A consciência "emerge" da atividade neural no cérebro, mas num nível mais alto. Uma vez gerados, os estados mentais seguem suas próprias leis causais, que são diferentes e não podem ser deduzidas das que governam o trabalho dos neurônios no nível mais baixo. Os estados mentais emergentes podem por sua vez atuar nos neurônios que os produzem por meio de seu comportamento holístico e coletivo.
Como o americano Marvin Minsky, um perito em inteligência artificial, coloca:
Os átomos no cérebro estão sujeitos às mesmas leis auto-inclusivas que governam todas as outras formas de matéria. Então podemos explicar que nossos cérebros realmente trabalhem inteiramente em termos daqueles mesmos princípios básicos? A resposta é não, simplesmente porque mesmo se compreendêssemos como cada uma de nossas bilhões de células cerebrais trabalham separadamente, isto não nos diria como o cérebro trabalha como uma agência. As "leis do pensamento" dependem não somente das propriedades daquelas células cerebrais, mas também de como elas estão conectadas.
Assim, a psicologia não pode ser reduzida à física e à química. Os behavioristas chegaram a sua concepção determinista e reducionista copiando os métodos das assim chamadas ciências "objetivas"(mesmo assim, como temos visto, a mecânica quântica tem diminuído enormemente esta objetividade por atribuir um papel primordial ao observador em criar a realidade). Isto não significa, contudo, que a psicologia deva rejeitar as leis da física e da química. Estas operam em níveis diferentes. A psicologia requer princípios adicionais que funcionam num nível mais alto de organização (continua).
Referências: Trinh Xuan Thuan, Chaos and Harmony, University of Virginia.
Pensamento do dia: Para ser popular é necessário ser uma mediocridade (Oscar Wilde, 1854-1900, escritor irlandês).

Físico e escritor. Tem cinco livros publicados. Mestre em Ciências pela COPPE-UFRJ. Doutor e Livre Docente em Física pela UFPA. Foi estagiário no Instituto de Pesquisa Nuclear de Jülch, Alemanha. Orientador de teses de mestrado na UFPA. Controlador de Vôo. Coluna de divulgação científica, Físicos e Filósofos, no jornal O Liberal em Belém. Artigos em jornais.
(Artigonal SC #3559973

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ser consciente por instantes

Tenho consciência do que faço, cujas consequências não desejo.
Sei o que devo fazer para que tal não aconteça.
Mas não consigo deixar de fazer o contrário, o que me conduz ao tormento.

Enfim estou consciente de tudo que me acontece, mas algo me impede de fazer aquilo, que supostamente me faria feliz.
Não sei de mais nada, e sinto-me confuso.
A realidade é que sinto a felicidade durante um período, e a infelicidade vem logo de seguida, como algo que é inevitável, mas que não desejaria que acontecesse.

As palavras rolam como as cerejas, num estranho labirinto que se estreita até acabar na visibilidade de uma atitude não desejada, não causando qualquer estranheza quando aos olhos dos outros se apresentam como satisfatórias.
Apenas desejos que se encontram na esquina da vida, que uns não desejam o que parece satisfazer os outros.
Não se trata do contrário, mas apenas do diferente, que coexistem lado a lado, que uns tentam, expurgar, exterminar, para que a vida seja toda ela pretensamente cor de rosa..
Não pensem que esta é a história de um ¨ maricon ¨ ou de um ¨ veadão ¨, mas apenas a história de muitos seres humanos que desejam viver, e sentem que aos poucos estão a morrer, pressentindo a morte, porque algo, ou alguém os impede de viver.
Onde estás consciência, que não me deixas ser consciente a tempo inteiro ?
Talvez a luta entre o ser e o estar, que se traduz na fragmentação, que não na continuidade, estabelecendo por isso a separação entre o ser que tem desejos, e um estar que o incomoda.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Onde mora a consciência ?

Treze anos, entrada da adolescência, pais divorciados, vive com a mãe, que segundo ele pega no seu pé, dizendo o que deve ou não fazer a toda a hora.
A mãe ansiosa e com medo, passa a ansiedade e o medo ao filho.
Preocupada com os estudos toma posições rígidas, xinga, não admite notas menos boas.
Sempre vigilante por medo do filho trilhar caminhos impróprios, reclama por tudo.
O filho criou a ansiedade por não corresponder ás suas expectativas, temendo a cada passo o fracasso, que o faz temer as provas que tem de prestar na escola.
Resultado, a sua prestação é fraca.
Eu compreendo a matéria, mas no exato momento da prestação de provas, fico nervoso, dá um branco, e parece que todo o meu conhecimento desaparece como por encanto.
Aquilo que mais temo acontece.
No inicio do ano escolar não ligo muito á matéria, mas quando vem as provas e as notas fico aflito, porque não quero decepcionar a minha mãe.
Acho que gosto da vida fácil, diz ele.
Onde mora a consciência, se na realidade você está a fazer tudo para que aconteça o que não deseja ?
Porque não fecha essa ferida ?
Não sei.