Beijar na boca
Desperta sentimentos, e como zona erógena provoca uma excitação sexual.
Ela se apressa a dizer, que mais nada existiu para além de beijar na boca, alertando para a separação que parece fazer entre o beijo e o sexo.
Como podemos interpretar suas palavras ?
O dar parte do corpo, não é o mesmo que dar-se na totalidade, entenda-se penetração.
A definição do que é dado a um corpo periférico e á sua intimidade.
A mente tece artifícios para justificar os atos do indivíduo, que nem ele próprio, chamado a explicar, sabe muito bem como definir.
Parece existir a nítida separação entre zonas periféricas de contacto, boca, seios, coxas, embora possa despertar a tesão, e uma interioridade, intimidade, que a penetração sugere.
É o dar-se superficialmente sentindo ondas sucessivas de prazer, que não sei bem se podemos considerar como satisfação, como aceitação daquele, através do qual nos servimos, cuja finalidade será a auto satisfação.
É a masturbação através de um corpo alheio, que pode levar ao orgasmo, sem que possa surgir outras consequências, cuja intenção decerto não será a união.
Se o vibrador pode substituir o corpo do parceiro, qualquer parceiro pode muito bem fazer as vezes do vibrador.
Porque existe a opção por um, ou por outro, a podemos encontrar nos mais diversos motivos.
Mas então o que podemos perceber como união ?
O estar unido é conviver com um outro, que advém de uma razão, que é desejo de estar e permanecer nesse estar, que é desejado, cujos motivos podem ser de diversa ordem.
Podemos distinguir um desejo de estar com o outro, partilhando momentos de uma vida em comum, e um desejo de estar em fugazes momentos com um outro, porque nos dá um prazer acrescido.
O que nos ocorre de imediato é porque não conseguimos obter satisfação e prazer através da mesma pessoa, pelo menos a tempo inteiro, o que seria bastante para nos trazer felizes e contentes.
Será que alguns escolhem o parceiro / a, sem que sejam levados em conta aspectos sexuais, mas sim outros valores que não estes ?
Será que a vida em comum tende a desvalorizar o exercício da sexualidade, como um dos fatores fundamentais para manter uma relação ?
Ou, tudo isso parece ser irrelevante perante desejos ocultos, que não sabemos bem definir, mas que acabam por criar obstáculos á nossa maneira de estar na vida ?
Perguntas que tendem a ficar sem resposta.
Quando definimos uma relação estável, o que na realidade pretendemos dizer com isso ?
Talvez aquela que tende a permanecer para além dos solavancos da vida, como sendo a relação que dará seus frutos, e alguma estabilidade emocional ao indivíduo.
Funciona como se fosse o porto de abrigo, em substituição do pai e da mãe, que embora ainda vivos, já não conseguem satisfazer em plenitude, nem são mais fonte de satisfação e prazer como o foram antes.
A procura num outro dessa proteção parece unir o que antes estaria separado, que obviamente é promovido na totalidade.
Façamos então de novo a pergunta.
Será que em alguns momentos queremos o prazer, e em outros sentir a satisfação através de uma união estável ?
Não estará desse modo um pouco definida essa apetência espontânea pelo adultério, por exemplo, em que o segredo tende a manter a união estável ?
Contudo não será difícil perceber a existência de dois desejos.
· O de manter-se unida a um companheiro, que é a sua satisfação ( proteção e aconchego).
· E o de sentir prazer acrescido, que essa união parece não ser capaz de oferecer.
Não é contra isso, que homens e mulheres, lutam constantemente pela sua vida fora, recusando as cantadas, recalcando desejos ?
Muitas das vezes quem ganha é o desejo em sentir prazer que, sabe-se lá porquê, não lhe é permitido na união.
A hipocrisia nos faz falar em contrário, mas nos enganamos quando sentimos que um piropo nos faz elevar o ânimo em viver.
Aquelas palavras sedutoras podem ser apenas os preliminares de uma possível relação, em que pode muito bem acabar ali, como terminar na cama se o outro insistir.
O comando do ser humano encontra-se no olhar e no som, nas palavras sedutoras, nos gritinhos e trovões, que desencadeiam uma energia, de que ás vezes nem o próprio consegue dar conta.
Eu sei, que não devo ter relações sexuais fora da união, nem beijar na boca sequer, combato isso, mas perante a insistência e o objeto não consigo resistir, confessa ela.
Mulher atormentada pelo o medo da descoberta, sente a dor e sofrimento no corpo por reprimir seus desejos, e o relaxamento quando os satisfaz.
O que devo fazer para que essas relações não aconteçam ?
A essa pergunta não sei responder, nem o desejo fazer, mas decerto em breve encontrará uma resposta que a possa satisfazer, disse eu.
È por demais evidente, que emerge de suas palavras, uma necessidade, um desejo em manter a união, da qual surgiu um fruto já próximo da adolescência, que é pertença de ambos.
Ao mesmo tempo existe uma vontade não expressa nas palavras, mas inscrita no corpo, que reclama para si mais prazer.
Gosta de ser seduzida, mas numa primeira fase recusa corresponder ás insinuações eróticas, sendo a fuga a uma possível intimidade, que não deseja.
Podemos perceber a fuga a uma intimidade, entenda-se relação sexual, mas deixa-se cada vez mais envolver pela sedução.
É notória a excitação que os telefonemas despertam nela, cujos desabafos vão no sentido de desculpar sua postura, colocando o ênfase na insistência do outro em telefonar, como se fosse impotente perante suas investidas, o que não corresponde á verdade.
Não nos custa admitir a luta interna de algumas formas instintivas, que tende a escapar ao princípio de racionalidade.
Se assim considerarmos, podemos perceber que as suas atitudes estão dependentes de formas circunstanciais, que em determinado momento podem satisfazer os seus mais íntimos interesses, em que a fragmentação é provocada, emergindo de forma clara a diferenciação entre os desejos instintivos, e formas socialmente aceites.
A luta interna entre o Id e o superego, não tem um vencedor antecipado, e em determinadas circunstancias tanto pode impor-se um, quanto o outro, que não depende de causas exteriores, mas antes de um sentido interior mais exaltado, que tende a sobrepor-se ao outro.
Como tentar explicar a diversidade de atitudes no ser humano, a não ser através de seus desejos, que podem ser verbalizados, mas que se impõem através dos sentidos do próprio corpo, que já percebemos, que alguns podem estar ocultos, cujas imagens podem estar perdidas no tempo, mas das quais o corpo tomou sentido, e continuam a fazer-se sentir.
Se as imagens estão perdidas no baú da memória, talvez porque a elas sucederam-se milhares de outras, o ser humano parece perder o rasto da imagem primeva que originou o sentido, que foi incorporado, que perante imagens novas que lhe são presentes, não consegue perceber suas próprias atitudes.
Não reconhece em si o sentido de uma nova postura, mas parece reconhecer mediante o social que suas atitudes são contrárias ao estabelecido, o que implica a emergência de um sentimento de culpa, e de um medo, que possa a partir da descoberta, colocar em causa a sua união, que ainda corresponde ao seu princípio de satisfação ( proteção e aconchego ).
Afinal o corpo que pensa, embora possa pensar, não parece, em muitas circunstancias, alterar a postura do indivíduo, em que desse confronto, entre um corpo que pensa e aquele que sente, emerge um conflito, que tende a alterar o metabolismo, misturando-se sentimentos, desejos e não desejos, que confere a idéia ao indivíduo que se encontra á deriva.
Deixo-me envolver pela sedução, sinto tesão, mas perante a aproximação do indivíduo sedutor, que seduz, existe a tendência para recusar a sua intimidade, que por vezes não consigo manter.
Perante tal cenário, a forma que se nos apresenta de imediato, e que aparentemente parece ser a solução, seria a proibição de manter contacto com os objetos exteriores, que a possa levar a cair de novo na armadilha.
A repressão pode impedir a ação, mas não consegue eliminar o sentido do corpo, que perante uma possibilidade circunstancial, é levado a fazer o que afirma não desejar.
Desejo e não desejo. Quero e não quero, afirma ela.
Uma vontade manifestada através do corpo, e uma vontade expressa proveniente de uma lei social, que são corrompidas a todo o momento, garante-lhe a sensação de ser uma fora da lei, dado que ambos os sentidos estão inclusos
Essa corrupção, ora num sentido, ora no outro, provoca uma sensação de esvaziamento em virtude da indecisão, em que aquilo que é julgado como sendo o mal, não consegue ser parado praticando o bem, dado que está investida de ambos.
A resultante será o acréscimo da ansiedade, que tanto parece ser processada através de um sentimento de culpa, como por um desejo, que é exaltado através da sedução, dada a existência de uma possibilidade de transgressão.
Parece ser o instinto de negação embutido através de uma ordem social, que a instiga a fazer o contrário, negando aquilo que alguém lhe possa negar.
A poderosa uma vez seduzida, entende ser poderosa o bastante para levar o outro a tentá-la seduzir, transmitindo-lhe a sensação de domínio, o que nos leva a considerar um poder narcisista elevado.
Temos um dado novo, a sedução, como forma exigida para que o desejo seja evidenciado em si.
O que equivale a dizer que sem a dedução, não consegue ter energia para viver, em que a sua auto satisfação depende de um outro que a possa seduzir.
A poderosa afinal é fraca, dado que não consegue ser feliz por si mesma.
Somos a considerar por isso uma fragmentação originada por uma vontade manifestada e uma outra, que é expressa, que está para além do bem e do mal, e que apenas parece posicionar-se na visibilidade das consequências que possam surgir.
Que consequências serão essas ?
O medo de ser vista como adúltera, que a coloca no aspecto social, como uma qualquer, que pode por via disso, deixar eventualmente de ser amada por seu filho, e a restante família, deixando entender que o amor do marido é secundário, ou pelo menos coisa menos importante, desde que mantenha o quadro familiar estabelecido socialmente.
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
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