Argumento, segundo o dicionário é o raciocínio com o qual o sujeito chega a uma conclusão.
Existe uma conclusão, que o sujeito tenta definir, pelo que é chamado a argumentar.
Será através da associação de imagens e idéias, que os argumentos emergem, como condição de tornar-se compreendido e compreensível, ou seja, apresentar uma lógica.
Somos levados a considerar, que sem a imagem primeva, e a idéia acerca dela, não pode existir pensamento, mas apenas memória.
Como é garantida a idéia acerca de determinada imagem ?
Uma foto mostrada pela primeira vez, ou, que se mostra ao indivíduo, cujos objetos, e cenário são desconhecidos, será simplesmente uma foto, sem qualquer significado.
Perguntamos a quem nos mostra a foto:
- Quem são as pessoas que ali estão representadas, ou, os objetos que nela se encontram, e onde foi tirada.
Podemos perceber isso na postura da criança em relação á mãe, e desta em relação a ela, em que aquela é receptora de estímulos exteriores, sendo a mãe a emissora desses estímulos dirigidos á criança.
Mas a imagem mãe / pai, ou de outra pessoa qualquer, também é constituída sem que exista a absoluta necessidade de recorrer á fala, á linguagem.
Desta feita, percebemos na postura, a contribuição válida para um processo formativo da criança, que passa pelo gestual, pela intensidade das manifestações dos corpos em presença, tal como, a agressividade exagerada, gerando a agressão e a violência, em que o aprendizado não tem voz que a sustente inicialmente.
Ao não compreendido das palavras, a criança tenta perceber nos gestos dos outros o que se passa á sua volta, ficando atenta ás expressões, e ás atitudes, tomando sentido delas, as memorizando.
Desse modo nos é dado a perceber, que a imitação é a primeira forma de aprendizado, e que a tomada de sentido é processada através de uma relação com outros corpos á sua volta.
Esse aprendizado processa-se por transferência de energia.
Aquela mãe, sem perceber bem o que fazer, e por tanto bater de frente com a filha, me questionou, se não seria melhor somente uma análise de quinze em quinze dias, dado, que desse modo não ficaria sufocada com tanta agressividade da filha.
A filha está na faculdade, e tem sua vida profissional numa outra cidade, e só se desloca a casa dos pais para vir á análise.
Apesar da filha ter 25 anos, nota-se claramente a intromissão por parte da mãe nos seus assuntos, o que demonstra o poder por um lado, e a submissão por outro.
Em face do histórico familiar, que aponta de forma clara, para um poder esmagador da figura feminina em relação ao pai, sendo este submisso, mas ao mesmo tempo facilitador dos desejos da filha, desautorizando a mãe, fiz-lhe notar o seguinte :
- O empurrar para fora do seio familiar um jovem, mesmo que a sua idade corresponda á fase adulta, como é o caso, contra sua vontade, encerra alguns perigos, que eu gostaria que a senhora analisasse comigo.
Primeiro, se o jovem ainda não se encontra pronto para voar, pelo menos assim julga, o que lhe faltará ?
Não será decerto a senhora que pode responder a esta pergunta, mas sim a sua filha.
Tudo o que disser poderá não corresponder ao sentido da sua própria filha, que será muito provável, que também esteja confusa , devido á emergência de diversos sentimentos, que não sabe bem elaborar.
Se formos corpos capazes de entender as coisas deste modo, não nos custa admitir, que apenas existem argumentos, na ânsia de justificar atitudes, e nada mais.
A segunda questão que proponho é a seguinte :
A sua filha não só bebeu de si os ensinamentos, como também do pai, pelo que se encontra dentro dela a mãe poderosa e o pai submisso, que tantas vezes transgrediu uma ordem dada pela senhora.
Significa que ela deixa-se seduzir por um homem submisso, ou pelo menos assim o julga, do qual presume que possa obter o chocolate, que a mãe lhe negou.
Esta postura está marcada no sistema psíquico de sua filha, devido ao comportamento do pai, repetido centenas vezes, enquanto criança, em que nos é dado a perceber de forma clara, o processo de indução / induzido, que uma vez incorporado, passou a atuar no próprio corpo da criança, de forma instintiva.
Mas uma vez desenganada, desiludida, ou simplesmente contrariada, porque um desejo que pretende realizar é negado por aquele homem submisso, recorre á outra arma disponível, que aprendeu com sua mãe como último recurso, a intolerância, a prepotência, como um poder que julga possuir.
A evidência de um pai sedutor, transgredindo ás ordens da mãe, a conduziu, porque seduzida, ao caminho da transgressão, perversão, que de forma intrínseca julgava a mãe como sendo a má da fita.
Parece que temos dois caminhos em paralelo, o poder e a sedução, como forma de obter os objetos de satisfação, e de desejo.
Mas devemos ter em atenção, que foram os pais que possibilitaram á filha essa agressividade de que tanto a senhora reclama, chegando ao ponto de alguma violência física contra o irmão e o próprio pai, embora sem consequências de maior.
A experimentação de forças físicas percebe-se contra aquela força, que aparentemente parece não ter poder algum, ou menos poder.
Agora tente perceber o que poderá acontecer se a empurrar para fora de portas ?
Quando essa energia acumulada não apresentar condição alguma de ficar represada, ou ser dissolvida, tende a aflorar, e a pergunta que faço é a seguinte:
- Não existindo a família, como, e onde vai, ou pode, descarregar essa energia ?
- No meio social decerto.
A questão que fica por saber, será como, de que forma, e com quem tal explosão vai dar-se.
Poderá acontecer, que aquilo que julgou ser um alívio para si, na decorrência de sua atitude, de ter a sua filha longe do seu convívio, possa ser motivo de maior tristeza e angústia posteriormente, em face das confusões em que ela eventualmente possa entretanto envolver-se.
Sabemos bem, que perante a dificuldade de gerir as coisas, fugimos, ou, as rejeitamos, porém neste caso, a mãe não estava a dar-se conta, que estaria a rejeitar a filha.
Nota breve - Ela fora rejeitada na infância pela mãe.
Ficou paralisada, olhar estranho, como se estivesse á procura de um argumento, que não conseguia encontrar, e ficou disposta a ouvir o que tinha para dizer.
Adivinhe o que ela vai fazer de seguida ?
Queiramos ou não, o seio familiar, por muito ruim que seja, funciona sempre como porto de abrigo.
Em face dessa rejeição, não será que ela tende a arranjar um porto de abrigo substitutivo fora de portas ?
Se ela está mal, tem conflitos, que ainda não consegue gerir, será obvio que os tenta transferir para a pessoa, que escolheu, e entendeu ser o seu porto de abrigo.
E aqui reside o perigo da sua atitude.
Tudo que está acontecer, será muito provável que possa acontecer de novo, muito embora com outras pessoas, de cujo caráter nada sabemos.
O amor que lhe é devido, passa fundamentalmente pelo o tratamento, ou seja, pela análise.
No decurso da análise, vai percebendo como voar, adquirindo mais saber acerca de si, e do mundo que a rodeia, não precisando de ser empurrada, iniciando a sua partida em devido tempo, de livre, e espontânea vontade.
O gozo está nesse movimento de libertação, percebendo a capacidade própria em voar, e seguir seu caminho.
O falso gozo percebe-se através da sua incapacidade, que só goza no outro, e com o outro, por não conseguir ainda voar.
É essa revolta que transporta no peito, embora de forma inconsciente, de não conseguir voar sozinha, que fabrica a energia, que tende a projetar em quem ama.
Se arranjar um novo amor, a cena vai repetir-se, alimentando o seu transtorno.
Mas ela deve ver que .....
Apenas argumentos para justificar atitudes, mas que não soluciona coisa alguma.
O que parece ser urgente e necessário, encontra-se no poder da análise, que a possa levar a desatar o nó dessa trama ( de ) formativa da infância.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
A arte de argumentar
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