Deleuze
Um personagem sai de casa, desce até á rua e diz:
- ¨ Tânia, a mulher que amo, me pede ajuda ¨ .
Vou correndo, ela morrerá se eu não for.
Encontra um amigo, vê um cachorro atropelado, a esquece, esquece completamente que Tânia o espera á beira da morte.
Põe-se a falar, cruza com outro camarada, vai até sua casa tomar chá e, de súbito, diz novamente :
¨ Tânia me espera, é preciso que eu vá ¨ .
As personagens são perpetuamente vítimas da urgência, e ao mesmo tempo, elas parecem saber que há uma questão ainda mais urgente, embora não saibam qual.
E é isso que as paralisa.
Tudo se passa como se, na maior urgência - ¨ É um incêndio, é preciso que eu vá ¨- Elas se dissessem :
- Não, existe algo ainda mais urgente.
Não moverei um dedo até saber do que se trata.
É a fórmula do ¨ Idiota ¨ - Adaptação ao cinema do romance de Doitoiévski.
Veja, há um problema mais profundo.
Qual problema, não saberia responder ao certo.
Mas me deixe. Tudo pode arder.
É preciso encontrar esse problema mais urgente.
A crise histérica é algo urgente, mistura de neurose e psicose, em cujo potencial o sujeito acredita, referida a um espaço fora do seu tempo, que não tem objetivo, mas apenas objeto, que é urgente encontrar, embora não sabendo o que procurar.
Parece existir uma dissociação entre o visual e o sonoro, entre o ver e falar, e sobretudo, entre o corpo e a alma.
Marcado pelo o objeto, este faz-se presente em qualquer tempo, em que objeto / objetivo se confundem, em que a autonomia está comprometida, em virtude do ontológico ter sido substituído pela entropia.
Essa necessidade de dar não sabendo bem porquê, e o quê, opta tantas vezes pelo o corpo, a que muitos chamam de amor, apresentando uma característica particular no histerismo, que nada tem a ver com altruísmo, mas com uma necessidade, desejo profundo de receber algo em troca.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário