Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

sábado, 28 de agosto de 2010

Condicionamento animal

Grande reportagem – Globo – 29. Agosto. 2010-08-28

Os macacos confinados a determinado espaço entram em estresse.
Para aliviar a ansiedade oferecem-lhes objetos para ocuparem o tempo.

Somos levados a considerar algumas questões interessantes:

1-Os sintomas do estresse parecem ser semelhantes, tanto no homem, como nos animais.

2-A própria existência de sintomas semelhantes, nos garante a idéia de uma mesma postura de estar na vida.

3-Se utilizamos animais em cativeiro para perceber o seu comportamento, os métodos utilizados para aliviar o estresse são os mesmos que para o ser humano.

Parece que estamos inseridos numa aldeia global, em que todos são macacos.


Grande reportagem – O Brasil é o segundo país mais estressado do planeta.



O desenvolvimento tecnológico nos garante uma quantidade enorme de objetos, que servem ao conforto, e ao bem estar, fechados entre quatro paredes de um apartamento, em que a TV e o computador é rei, que servem a pais e filhos.

Não obstante a prisão a que o ser humano está submetido, ainda alguns técnicos de saúde nos vêm pregar o sermão, que devemos proibir os filhos de estarem ao computador, ou em frente á TV, tantas horas seguidas.

Resultado, não existem alternativas para a prisão, que devemos de forma tranquila aceitar, tentando recalcar os instintos, porque desejamos ignorar que somos em essência animais, que pretendem ser humanos.

Por outro lado, nos alertam para programas da TV e sites da internet, que devem ser proibidos a crianças.

A sociedade de consumo cria objetos, e de seguida envia a responsabilidade da sua utilização para o sujeito, que deve observar determinadas regras, em que o aconselhamento é a proibição.

Parece claro que o condicionamento carece de repressão, e da proibição repetitiva.

De fato, ainda não foi encontrada uma psicologia baseada em sentimentos humanos, que impeçam ressentimentos, e atitudes reativas, em que a teoria provém da manipulação dos macacos, e dos ratos em laboratório.

A maior parte dedica-se á tarefa de professores e policiais do comportamento humano, dizendo o que devem, ou não fazer, para que sejam uns meninos bem comportados, para que sejam aceites pela sociedade.

A mesma sociedade que é açoitada pelos teóricos, que dizem ser possuída de todos os males.

A resultante é sempre a mesma, a luta neurótica contra o outro, ou contra qualquer coisa, causadora do mal estar, como reação, que retira a possibilidade de uma atividade criadora, dinâmica e produtiva.

Nos transformámos nos eternos reclamantes, para tudo continuar na mesma.

Somos levados a perceber uma realidade que não nos serve, a que os técnicos de saúde respondem com a mudança de um estilo de vida, como se fosse fácil mudar..

Sabemos que operar qualquer mudança, exige a transformação de alguma coisa anterior, que a maioria das pessoas sente como perda, o que retarda, ou nega o próprio desejo sentido em mudar.

A verdade é que são gastos rios de tinta e papel, milhares de dólares, reais e euros, para convencer as pessoas que o sistema em que estão inseridos, é o melhor, o comparando com o vizinho do lado.

Não está em causa quem disponibiliza e paga a publicidade, mas apenas o clima de sedução e aliciamento a que o indivíduo está sujeito, para nos virem agora dizer, que a sociedade tal como está organizada, é causa de doenças e estresse.

Maravilha, construímos uma sociedade, e agora nos dizem que ela não presta, dá cabo da saúde, causa ansiedade, a maioria anda estressada, e calculem, que até por causa dessa sociedade maligna, ocorrem no Brasil 134 mil infartos por ano.

Finalmente descobrimos que nem só o tabaco causa essa maleita.

Uma investigadora italiana, psicóloga, vem a terreno informar, que o excesso de horas de trabalho, e trabalhar contrariado, é responsável pelo o estresse das pessoas, para logo de seguida informar que a taxa mais alta de estresse encontra-se entre as domésticas, neste caso diz ela, por falta de recompensa.

Já no inicio do século passado Freud dissertou acerca do mal estar da civilização.

Continuamos a remendar o fundilho das calças, em vez de comprar umas calças novas, não porque não tenhamos disponibilidade financeira, mas antes porque a maioria das pessoas não está preparada para a mudança.

E porquê ?

Porque é necessário encontrar um modelo diferenciado de formação infantil e educação escolar, e até hoje o que temos observado são remendos que servem o mesmo objetivo, para manter o mesmo estado de coisas, a que não é alheio a sede de poder, e a ganância pelo o dinheiro, que vem dar no mesmo.



Devemos fazer a nós mesmos a pergunta seguinte:

- Porque só uma parte da população parece estar sob o domínio do estresse ?

- O que se passa com os outros ?

Afinal têm o mesmo estilo de vida, (mas não propriamente o mesmo sentido de vida), estão inseridos no mesmo meio, mas parece que não são atingidos por essa peste do Século XXI, que já vem do século passado.

São as condições que a sociedade propõe, ou, será a inadaptação das pessoas ás condições propostas por ela ?

Devemos admitir que não existe uma resposta fácil, objetiva, e que o estresse, aliás como qualquer transtorno psíquico, é devido a várias circunstâncias, que deve ser olhado como fenómenos complexos, o que deveria impulsionar os teóricos para o estudo e investigação mais em profundidade.

O fast food só é uma boa comida para os apressados e ansiosos, em que o sabor e a praticidade supera a qualidade, mas o mesmo poderei dizer quando o fast food da resposta fácil é veiculado por quem tem a responsabilidade de mais saber em relação á complexidade da mente humana.

A sociedade está dividida entre os fast foods, e aqueles que entendem a complexidade de sistemas, que tem seus princípios e dinâmica própria, que não se compadece com uma resposta pronta na ponta da língua.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O escritor

O escritor brinca consigo mesmo, julgando estar a jogar com as palavras.

Apropria-se da palavra para brincar, e, é por isso, que sente uma paz de espírito quando entregue á escrita.

Não existe o compromisso de escrever, mas apenas o desejo de o fazer.

Não existe a crítica e o julgamento de um outro, ele próprio desempenha esse papel.

O lugar do outro está ocupado por um EU, que não sendo masoquista não pretende magoar-se, e o afeto emerge de forma natural.

Ele demonstra amor pelo o outro, e por si mesmo.

Ao desempenhar o papel de duas personagens, o de escritor e leitor, consegue perceber os dois lados da mesma história.

O amor então será isso, a tentativa em compreender os dois lados da mesma história, em que não existe a afirmação, ou negação, mas apenas a articulação de fatos históricos, cuja finalidade é tentar entender a história.

No entanto o que escrevi é parte de uma história, que será diferente quando através da escrita o escritor deixa fluir ressentimentos, derivados de um sentido recalcado, proveniente de um inconsciente afetado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pedido de ajuda

Meu nome é Joel , tenho 31 anos , casado , 1 filho , moro em São Paulo , no momento trabalho como frentista .

Em 2002 , eu estava jogando uma partida de futsal quando senti uma forte falta de ar , naquele momento senti uma sensação de desmaio , formigamento na boca , e o coração batia em descompasso , galopava , pensei que ia desta para melhor ou pior , fui até uma clinica e lá após o atendimento o medico não sabia o que eu tinha , realizei o eletrocardiograma e deu normal . A partir daí , desenvolvi a sindrome do pânico e passei 3 anos de desespero e medo , mal conseguia entrar em um onibus para ir trabalhar , fora que se alguém chegasse perto de mim e falasse que alguém morreu , eu entrava em estado de medo excessivo , tremia muito .

Comecei a ter essas descargas de adrenalina onde o coração batia descompassadamente , toda vez que eu tinha muita coisa para fazer eu tinha essas descargas , a cada descarga eu achava que minha hora tinha chegado, perdi as contas de quantas vezes fui parar nas emergências.

Lembro que uma vez eu peguei no sono e quando acordei já estava atrasado para pegar meu filho na escola , quando me levantei e bati a porta da rua , tive uma descarga de adrenalina .

Após esses 3 anos eu resolvi retomar atividades esportivas ( voley de praia ) jogava feliz da vida achando que eu estava recuperado daquele trauma , mas um certo dia eu estava muito tenso na partida quando senti o descompasso dentro do peito , não acreditei , fiquei tão chateado com a vida e com tudo , continuei jogando enraivado , mais não deu tive que parar . Uma semana depois voltei a praia e fui de novo jogar, na primeira partida ( boooooommmmm) novamente o descompasso e por fim a ideia que volei também não daria mais para mim . Durante a crise , eu só tinha vontade de ir para a emergência , fui para casa, e o medo de morrer, a raiva que eu sentia dessa maldita crise de adrenalina me fez tomar uma decisão , sei que fiz errado , mais eu já estava cheio dessas crises, e resolvi tomar umas cervejas , depois fui para casa dormir ... acordei sem os sintomas , que bom ... descobri que não devia ficar desesperado , era só tirar um cochilo de 30 minutos a 1 horas que passava ( descobri isso em uma das crises ) .

Hoje 2010 , não jogo volei nem futebol , minha atividade é pedalar ... vou trabalhar de bicicleta , 30 minutos indo e 30 minutos retornando, mas tem horas que o coração dá uns pulos , tento não ficar muito impressionado , e aí passa .

Fui ao Psiquiatra , disse tudo que aconteceu comigo até aquela data, fui informado que eu deveria tomar anti depressivos . Sai do consultório bem triste , pois não queria e não tomei nenhum anti depressivo até aquela consulta .

Em 2009 resolvi tomar durante um mês o Tal do Anti deprê , após uma semana de uso , comecei a perder medo de muitas coisas , sabia que era uma falsa sensação de poder , só foi um mês e mais nada.

De um ano e meio para cá , tenho sentido sintomas de depressão leve , faço de tudo para não me entregar , pois gosto da vida , a vida é massa , viver é um espetáculo .

João , não sei por onde começar, pois passa milhões de coisas pela cabeça , não sei o que faço para conter essa descarga , já pensei em fazer REGRESSÃO , me falaram até em reposição hormonal , de repente esteja havendo uma disfunção ..... .

Resposta

Amigo Joel, em primeiro lugar gostaria de dizer-lhe, que o acompanhamento médico e a medicação é importante, para obter uma certa tranquilidade, e submeter-se a sessões de análise (psicanálise) é fundamental.

Perpassa da sua escrita um instinto de negação muito forte, uma tensão interior que se acumula devido a diversos fatores, daí que a raiva aflore, que curiosamente vem acompanhada de uma sensação de medo, e do sentido de morte.

É normal em muitos casos, essa procura incessante de cura, sem entregar-se a coisa alguma, por isso fala em regressão e reposição hormonal, como poderia falar em qualquer outra coisa, como cartomante, por exemplo, como se o processo de regeneração não estivesse em cada um de nós, mas sim no além. O que me é dado a observar, é que esse tipo de comportamento, é uma fuga, por medo de perder algo da sua interioridade, que se traduz num certo poder.

Joel, entre nós humanos perante a natureza das coisas, não existem fracos, nem fortes, todos nós um dia sucumbimos, por vezes ao mais pequeno abalo, apenas temos a sensação de um desejo interior de ser poderoso, ou ter poder suficiente para resistir ao que nos é proposto.

A primeira condição para um futuro equilíbrio psíquico, é o esforço que terá de fazer para entregar-se de corpo e alma á análise, tendo fé em si, respeitando o saber do médico e do analista, não colocando em dúvida o que lhe desejam oferecer.

De resto o seu caso, é muito semelhante a tantos outros, e deixe que lhe diga, nada preocupante, no entanto, sem a análise o quadro tem tendência a agravar-se, dado que a vida nos reserva mais á frente, o abandono de todas as atividades físicas, dos filhos que um dia vão embora, a própria sexualidade leva outro rumo, porque a idade não perdoa.

O transtorno psíquico não é uma doença, ele surge na sequência de uma certa organização de imagens e idéias no psiquismo, a que não é alheia uma formação infantil, que podem ser mais ou menos compatíveis com uma realidade, que não desejamos.

Espero que tenha contribuído de algum modo, para um dia você alcançar a paz de espírito.

Estarei sempre á sua disposição, como de todos aqueles que necessitem de uma palavra amiga, sem no entanto deixar de ser realista.

Um abraço

João António Fernandes

domingo, 22 de agosto de 2010

Idealismo filosófico

No livro de Márcio Zacarias Lara – O alvorecer de novo paradigma –logo na introdução, o autor refere que o cientista da religião deve ser regido por uma conduta imparcial, neutra e objetiva. E assim procedendo, movido pelo desejo da verdade, suprimindo toda subjetividade – escolhas pessoais, valores, preconceitos, afetos – garantirá um nível de certeza elevado acerca dos fenómenos que investiga.

Tenho sempre á mão alguns livros, para consulta rápida, debatendo-me constantemente com os autores, tentando enriquecer o meu saber, e consolidar os conhecimentos acerca de determinados assuntos.
Ao longo dos séculos, o homem tem-se debatido com o mesmo dilema – como ser investigador, ou investigar qualquer assunto, sem ser afetado por escolhas pessoais, valores e preconceitos ?
Formulando a pergunta de outro modo – Como o investigador pode conseguir a abstração de tudo em que está envolvido, que faz parte da organização do seu psiquismo, cuja finalidade seria a isenção ao estudar um determinado tema ?
Num mundo cada vez mais neurótico, só poucos conseguem escapar dessa maleita, dado que não conseguem abstrair-se daquilo que os afeta.
Isso será possível em disciplinas que não envolvam diretamente o sujeito com seus sentimentos, como por exemplo, a matemática, a física e a biologia.
Se fosse possível a ausência de valores, de escolhas pessoais, de preconceitos e afetos, estaríamos em presença de uma inteligência despida de seu sentido humano, em que o estudo conduziria o investigador para a aceitação dos princípios que regem a matéria, condicionado á física e química, e á sua resultante fenomenológica.
O olhar do cientista seria a de um ser humano sem olhar, por impossibilidade de sentir algumas formas, dada a exclusão de algumas características do seu modo de sentir as coisas, e o mundo que o rodeia.
Teríamos desse modo o retorno ao inorgânico, estritamente com sua base fenomenológica, retirado o corpo de seus sentidos, do seu próprio pensamento, e da sua forma de estar na vida.
Seria a inteligência ¨ quartziana ¨, que não cartesiana, em que a síntese seria definida, através da associação de seus elementos mais primitivos, derivados de um princípio genético, cuja finalidade é a existência de um sentido de vida, e a sua preservação.
Sou a deduzir por isso, que a religião existe, como uma das formas possíveis para conferir um sentido á vida do ser humano, o que aliás, corresponde ao meu próprio pensamento.
Neste caso, seria olhar a religião, segundo um ponto de vista materialista, que não teológico, desejando o autor introduzir uma nova forma de abordar o assunto, em que damos conta de uma sequência lógica, partindo de princípios universais, que é conferido á matéria.
Desejo afirmar, que o trabalho produzido pelo o autor é bastante interessante, e até mesmo ousado, ao introduzir princípios e conceitos derivados da física quântica, e da teoria da relatividade, tendo em conta a religião.
O idealismo filosófico parte do pressuposto, que é possível desanexar o afeto da componente humana, retirando o sujeito da abstração de formas idealizadas e incorporadas, conferindo-lhe uma função mental racionalizada.
Se em alguns casos tal é possível, somos forçados a admitir que na maioria das pessoas isso não se verifica, mesmo entre cientistas, estudiosos e investigadores da mente humana.
Freud, na psicanálise, e Nietzsche na filosofia, foram, quanto a mim, os homens que tentaram introduzir uma nova concepção acerca dos fenómenos produzidos pelo o ser humano, mergulhando na interioridade do corpo, estudando e investigando, como, e devido a quê, são produzidas forças, que o conduzem ao ato.
A mutação do virtual em realidade, após a conversão do ser humano, devido a uma formação infantil e aspectos culturais, torna-se numa missão, senão, impossível, pelo menos com poucas probabilidades de êxito.
Resta-nos os trabalhos produzidos que nos conduzem por outros caminhos, alargando o leque de possibilidades, quanto á forma de entender e compreender o mundo, e a relação do ser humano consigo mesmo, e com os outros.
Só a formação infantil e a educação, segundo um entendimento diferenciado, pode a médio prazo inverter o cenário atual.
Mas que fazer ao medo que toda a transformação implica, e que adia a evolução ?
Por isso ela é lenta.

sábado, 21 de agosto de 2010

Inteligência

A inteligência, segundo o ponto de vista Freudiano, encontra-se na capacidade de associar idéias, a que não é alheio o processo de identificação, as interseções, vulgo proibições e inibições, e o afeto.

Segundo o dicionário, inteligência é a faculdade de entender e conhecer.

Somos colocados no plano da relação com outros corpos, em que somos receptores, através de nossos sentidos, de algumas características que emanam do mundo exterior.
Após a recepção, a tendência é para a projeção, que é derivada de uma incorporação receptiva, constituindo uma lei interna, a que o corpo tende a obedecer.
A inteligência é uma faculdade, uma possibilidade, que pode ser potencializada, desenvolvida, pelo que somos a considerar a questão da intensidade de energia, e sua quantidade investida, para levar a cabo a tarefa da aprendizagem, cuja energia é dirigida ao objeto exterior.
A inteligência é uma designação linguística, uma invenção humana, um símbolo, que tende a identificar determinado fenómeno mental, que só é compreensível, a partir de dois pressupostos.

1-Através de um conceito fabricado pela mente humana, derivado da percepção.

2-Ou pela observação, estudo e investigação, dos princípios que deram lugar ao fenómeno.

O ser inteligente é uma forma inata, porém o humano só torna as coisas inteligíveis, quando percebidas, e compreendidas.

Diferente do não compreendido, que fica em aberto no psiquismo, esperando uma resposta satisfatória, ou melhor que satisfaça o indivíduo.
A realidade nos diz, que a compreensão deve-se a um conjunto de fatores relacionados, que interligados, apresentam uma sequência lógica.
Não exige porém, que a compreensão esteja comprometida com a verdade, mas antes como uma suposta verdade que foi compreendida.
Podemos perceber isto de forma clara, quando o indivíduo não sabe de onde é proveniente tal verdade, a que chamamos de crença, a que outros jogam com a não existência dos objetos, para afirmar que só a ciência conduz o ser humano pela estrada da verdade.
Uns e outros têm algo em comum, pretendem a prova que os faça mudar de rumo, levando até ás últimas consequências a sua argumentação, que têm sempre um escape, cujo objetivo é não perder algo, que se instalou na sua interioridade, e que lhes garante o sentido de vida.
Percebemos desse modo, o instinto de negação potencializado, em que a negação do outro, confere a si mesmo a alegria de afirmar-se.
Temos então um ganho de satisfação secundário, proveniente do psiquismo, a que está associado o medo de perder algo que contêm em si, que não sabe explicar, nem compreender, mas que é sentido.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Dilema epistemológico

Como explicar e compreender a psicanálise ?

1-Em essência a compreensão provém do estudo da função biológica e psíquica, cujos princípios são imutáveis, como parte constituinte de um corpo.

2-O pressuposto fundamental é a subjetividade empírica, circunstancial, derivada de uma formação infantil, que embora semelhante, existem muitos pormenores, que provocam desvios a um desejo de uniformidade.

3-Deriva desses dois entendimentos, a complexidade, como fenómeno posterior, proveniente da relação de ambas, da essência e da subjetividade, que garante a irregularidade.

Referenciar a subjetividade como fundamental, e não enxergar a essência, como objeto / objetivo em si mesmo, será a tentativa de excluir a base nuclear, a partir da qual tudo é derivado.
A questão não pode ser reduzida a um aparato tecnológico e científico, com a consequente produção de bens de consumo, e instrumentos que permitam o bem estar do ser humano, desprezando o estudo e investigação da evolução das relações entre os homens.
Percebemos de fato um desfasamento entre essas duas vertentes, em que uma ficou atrofiada, e a outra teve um desenvolvimento extraordinário no último século.
Ao criar a ruptura com o ser natural, com as condições de sua própria natureza, e por outro lado, ao não ter em atenção a subjetividade das relações, das quais o ser vivo toma sentido, o efeito será a tentativa de exclusão de algo, ou alguma coisa.
A tentativa de conversão da subjetividade em formas objetivadas, tendem a criar condições de uniformidade, perante toda a diversidade vivenciada, o que impede a evolução psíquica, a complexidade.
Sabemos que a atividade primária de um ser vivo, é promovida através de uma reação, que impulsiona o corpo para o movimento, em que as tomadas de sentido, servem á diferenciação de estímulos, interiores e exteriores.
Por outro lado, tais estímulos também são diferenciados, quanto ao princípio de satisfação, daqueles outros, que não satisfazem, ou provocam a insatisfação, percebendo-se desse modo a ambivalência.
O fator valorativo é proposto ao ser vivo, através do princípio de satisfação, como referência absoluta de um corpo que tende a preservar sua vida.
Ao criar a ruptura com o ser natural, e com as condições de sua própria natureza, não parece que seja possível falar em inclusão, quando á partida existe a proibição seja do que for, que impede o ser humano de associar, e elaborar. .
São excluídos da dinâmica psíquica alguns conteúdos, porque proibidos, que tendem a permanecer imobilizados, devido a elementos de interseção, que os aprisiona, que constituem a negação de algo que pretende afirmar-se.
O medo induzido por existência de fantasmas, e de outras figuras virtuais e fantásticas que punem, se a criança não vergar á vontade de seus formadores, provoca a exclusão do princípio de racionalidade, a mantendo no seu estado animal.
Dito de outro modo, a sua reação posterior não será humana, porque inadaptado, apresenta dificuldades no plano social, em virtude da sua virgindade animal, foi criada a ruptura com a possibilidade de humanização.
O epistemológico, não está somente na compreensão de uma fase posterior á própria existência animal, nem a podemos encontrar em exclusivo na função da máquina biológica e psíquica, mas no entendimento dessa relação animal e humana.
Nos encontramos perante a complexidade, que exige a continuidade, que não a ruptura entre sistemas, como consequência lógica, daquilo que se pretende uno e funciomal.
De contrário cada vez mais seremos confrontados com a disfunção, e o distúrbio.
Não basta falar em sistematização, como mero movimento repetitivo, que conduz ao condicionamento, nem tão pouco ficar satisfeito ao fazer a ponte entre sistemas, como processo de continuidade, mas compreender acima de tudo a incompatibilidade que possa existir entre a função e o material que serve de interseção, e incapacita o indivíduo de racionalizar.
Tal modo de entender as coisas, nos remete novamente para o condicionamento, que não á compreensão, desta feita recorrendo a elementos que provocam o bloqueio psíquico, que tende a atrofiar a motricidade.
Assim, e segundo meu entendimento, a complexidade e a racionalização, derivam da conjugação, da harmonização da diversidade face a um objeto / objetivo, em que a exclusão é promovida de forma natural, dado não caber num determinado fenómeno, que tem características específicas.
O que é cabível, ou não, diferencia o fenómeno.
Existe porém uma dificuldade acrescida nesta abordagem, por existência de uma cola que tende a unir os corpos, o afeto, que impede o investigador de chegar a uma verdade imparcial, objetiva, pelo que toda a verdade está sujeita ao indivíduo que a possui como verdadeira.
Assim sendo, a verdade epistemológica, entendida como imparcial, não será observada através da relação, porque subjetiva, e só a podemos encontrar na função biológica e psíquica.

A verdade para o sujeito provém dos sentidos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Código da Vinci

Tenho para mim, que enquanto continuarmos a dar importância a coisas menores, esquecemos as fundamentais, e em vez da lucidez, é promovida a guerra.
Não me incomodou o fato de Cristo ser companheiro de Madalena, de supostamente a ter arrancado das garras da prostituição e viver a seu lado, incomoda-me a realidade da prostituição mental e física de algumas mulheres, e de alguns homens, que se vendem pela obsessão do vil metal, mas mesmo a esses Deus os considera como filhos.
Se Cristo, foi o filho de Deus enviado à terra, não poderia ele ter vida social ?
Ou para ser puro, que não virgem, o ser humano não pode ter relações sexuais ?
Eis uma das perguntas que podemos fazer ?.
Dizem uns que simplesmente era portador da palavra de Deus, e não o próprio Deus.
Afinal que ato mais generoso podemos conceber, que retirar da prostituição uma mulher, e ter a coragem de a considerar como companheira ?
Afinal, quantas mulheres estão vendidas a um só homem ?
No xadrez a rainha protege o rei. Na vida a mãe protege o filho. E o espirito do Pai tenta proteger todos, sendo por isso a lei. Só que o espirito do Pai na terra, parece não ter ligação com o espirito do Pai no céu, Deus, e devido a isso, não poderá ser feita a sua vontade, assim na terra como no céu, e isto caros leitores é que deve incomodar, porque se trata do fundamental.
Recorre-se a figuras geométricas para simbolizar uma união corporal, mas só nos podemos sentir ofendidos, se for imoral, porque na prática serve tanto para gerar seres humanos, filhos de Deus, como para exteriorizar a alegria em viver.
E imoral parece ser o fato de existir uma relação sexual, coisa que não pode ser observada em Cristo, santos e sacerdotes.
Mas essa união foi relacionada como se fosse a de Cristo e Madalena, segundo a maioria dos críticos, e que sentada a seu lado determinava a importância que a companheira supostamente teria para ele.
E será que a companheira continua a não ter importância nenhuma, como amiga e mulher, mas somente como mãe ?
Não será ela de tamanha importância no seio familiar ?
Ou apenas pode ser observada como elemento contemplativo, como o leitor pode observar no filme a paixão de Cristo, através da postura de Maria.
A pensar deste modo, não estaremos a descriminar a mulher, como um dos elos fundamentais na formação familiar ?
O cálice que supostamente não estaria na ceia, devido à imaginação foi considerado como sendo a forma do órgão genital feminino.
Que sentido tem isto a não ser a própria vida, e o entendimento da preservação da espécie humana ?
Certamente que todos percebem que a procriação só tem lugar se existir, homem, mulher, macho e fêmea.
Então porquê esta admiração ?
Poderá alguém em consciência, conspurcar a sua vida na terra ?
È esse o medo que aflige algumas pessoas, e como sempre em vez de se racionalizar as coisas, tenta-se proibir para não se falar delas, e enquanto existir este conflito, assistiremos a salas de cinema sempre cheias, posicionando-se uns com a bandeira vermelha, e outros com a verde.


Uns e outros, parecem sofrer de uma obsessão sexual.
Enquanto observamos este cenário de meros preconceitos, eu continuo a admirar Cristo pela sua obra, tento observar a verdade do espirito divino, e continuo a assistir às maiores barbaridades praticadas contra o ser humano em nome de Deus, que decerto não é o mesmo que o meu.
Deus é vida, participação, alegria e amor, e não ódio e morte.
Será que alguma vez o ser humano vai entender a palavra de Deus ?
Que cada um pense o que quiser, tenha as suas crenças, os mistérios que entender, que coloque lenço no pescoço, na face, ou em qualquer outra parte do corpo, mas que respeite a comunidade a que pertença, e que as outras sociedades os respeitem como seres humanos, não os querendo obrigar a ser aquilo para o qual não estão preparados, porque senão, um dia acordamos com um pilantra qualquer à beira da nossa cama a querer dormir connosco.
È simples, olhem para cima, e não para o lado, querendo ser semelhante a Deus, e não ao vizinho do lado.
Afinal, a história nos diz que o homem está pouco preocupado em ser generoso, e pacífico, dedicando-se á degola dos inocentes, desprezando o espírito divino, sendo o próprio diabo.
Que Deus nos perdoe.
Artigo publicado num jornal Português de índole católica, pelo autor do blog.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dialética

A arte de argumentação, a dialética, permite ao ser humano sair, ou pelo menos tentar sair de uma situação incómoda, recorrendo a processos que se repetem em qualquer circunstância, gerando a dúvida, colocando em causa qualquer forma absoluta de perceber as coisas.

A dialética é uma espécie de caos linguístico, em que tudo é descontruído, a favor de algo ou alguma coisa, que não consegue sustentar-se através de princípios, mas apenas de conceitos genéricos.

Tomando como exemplo a presunção, como forma de julgar o outro, presumindo características que não possui, uma vez chamado a atenção para esse fato, obtemos tantas vezes como resposta, que todos nós presumimos em face de uma forma que nos é presente.
Percebemos dessa forma, que os fenómenos existem, e são processados do mesmo modo, sendo independente do sujeito e suas características, pelo que somos forçados a deduzir, que por aí não conseguimos encontras a diferença.
O dissimulado acrescenta – Eu sou, mas você também é.
Apresentando as coisas como normal, natural, e que estão ambos em igualdade de circunstâncias, o resto fica por conta da interpretação, de uma forma aparente, mais ou menos sedutora.
Tal afirmação é facilmente entendida, dado corresponder a uma forma superficial e lógica de perceber as coisas, que não carece de maior profundidade de análise.
Contudo é a síntese de um fenómeno, pertença de uma função psíquica, como organizadora de conteúdos psíquicos.
Então, onde podemos encontrar a diferença, que nos permita suportar tal afirmação, e diferenciar as posturas ?
Percebendo o que é dado ao princípio de realidade, e á fantasia.

O princípio de realidade, não torna o que é real em realidade, a fantasia em realidade, ou vice versa, ele mantém uma relação íntima com os fatos e acontecimentos que são observados, que não podem ser comparados, nem alterados, mas sim tomados em consideração como tal.

Existe uma sequência que confere a complexidade, que determina o ato, a realidade, o fato real, que apresenta como fundamento a dedução.

A dedução é lógica e racional.
A presunção é fantasiosa, irreal, virtual.

Visitando o dicionário somos levados a considerar o seguinte:

- Presumir, levado a crer, pressupor.

- Deduzir, tirar conclusões.


Quem emprega o princípio de racionalidade não presume, deduz, tira conclusões de fatos reais, das suas consequências.

Quem emprega a crença, presume, julga ser verdadeiro o que afirma.

Os elementos de ligação, que sustentam a lógica, ou seja, que garantem a sequência, promove o movimento, a interligação de fatos anteriores com os posteriores, pertencem á função, e verificam-se em qualquer situação.
Assim só nos resta a fonte a partir da qual todos os fatos são relacionados, cujos princípios podem ser reais ou fantasiosas, diferenciando desse modo a realidade da crença.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sociedade recalcada

Os valores através dos quais a sociedade se rege, impõe ao ser humano um certo conformismo, a dependência e a submissão.
Por outro lado, as desigualdades sociais favorecem a rebeldia, a transgressão, e geram violência, como reação á exclusão.
O Estado - proteção, só protege uma parte.
Uns são filhos legítimos, os outros bastardos.
A percepção que uma sociedade evoluída, é em si mesmo uma proteção, não passa de uma miragem, em que de fato existe uma evolução tecnológica e científica, mas um estagnar ao nível da relação humana, e até mesmo um retorno ao primitivo.
Tal sensação de proteção e tranquilidade, tem que ser defendida, sob pena de emergir um sentimento de abandono, de falta de proteção.
A sociedade, segundo este ponto de vista virou figura materna, que embora adultos, os indivíduos continuam a sugar o teto da mãe, e a sentirem-se satisfeitos com o aconchego do seu corpo.
Quem não deseja ter emprego certo ?
Observado o princípio de satisfação, existe alguma dificuldade de o indivíduo em mover-se fora desse modelo – padrão.
O ser humano espera tudo da sociedade, sem de fato exigir a si mesmo o esforço para realizar seus desejos.
A célebre frase de um presidente americano, aplica-se neste caso:
- Não perguntes o que a América pode fazer por ti, mas antes o que cada um pode fazer pela a América.
É claro que existe sempre o troco de uma certa forma de estar na vida, dado que a sociedade é o reflexo de determinadas formas individuais, e se estas são amorfas, a sociedade será do mesmo modo.
Parece claro, que á sombra da bananeira morre o macaco, se espera que a banana caia de madura.
O dinamismo de uma sociedade, percebe-se através de um contínuo fluxo de energia, envolvendo todos os seus elementos, desde a base até ao topo, em que ela tende a refletir as resultantes desse movimento.
A falta deste movimento em círculo, pressupõe a existência de uma ruptura, em que o movimento só tem um sentido, e que por isso mesmo tende a esgotar-se.
Tenhamos em atenção, que a mutação só existe, a partir de um conjunto de fatores relacionados, que tentam encontrar uma forma equilibrada de estar, em que podemos perceber nesse movimento, a tentativa de adaptação a novas condições.
A existência de elementos, que tendem a colocar em causa tal equilíbrio, que formam resistências, exige um novo movimento, cuja finalidade é encontrar novamente um certo equilíbrio.
Não existe o equilíbrio, mas tudo pode estar mais ou menos equilibrado.
Talvez aqui possamos entender a diferença entre a vontade de poder em organizar, e a vontade de poder, de sentir-se superior aos demais.
A uma designamos por força ativa, a outra reativa, sendo esta produto de sentimentos recalcados.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Especulação

- Artigo publicado no jornal ¨ A trapaça ¨ de Rio Tinto.

Confundir sociedade de consumo com especulação, não será mais que a tentativa de manter a mentalidade do escravo e do senhor, vestindo roupagem de democrata como disfarce.

Mercado livre, não pode ser tão livre, que permita toda a espécie de arbitrariedades, correndo o risco de colocar as pessoas na selva, desprotegidas do rugido do leão.
È o que se passa com o regime de aluguel, em que não são respeitados os índices de inflação, pedindo cada um o que quer.
Permite-se uma ordem de despejo a quem cumpriu sempre com suas obrigações, como se uma casa de habitação fosse um objeto de consumo, e não uma necessidade básica.
Quem não tem dinheiro para pagar o aumento absurdo do aluguel pretendido por alguns proprietários, tem que procurar um barracão para morar com a família, começando desse modo a exclusão social, e a proliferação de bairros degradados da periferia.
A culpa não é do mercado, mas do poder político que permite a especulação.

Mas assim é que está bom, criando de forma artificial necessidades, que em tempo de eleições serve ao voto, prometendo bairros sociais aqueles, que eles próprios deixaram cair na rua.
Primeiro fere-se de morte as pessoas, para de seguida estender as mãos para os levantar da lama.
Hipocrisia não é política, é armadilha.
Se para reinar é necessário semear a pobreza, e a miséria, alguém deve explicar o que pretendem fazer das pessoas, e com elas.

domingo, 8 de agosto de 2010

O mistério da força do universo

Heráclito, nega a dualidade dos mundos e faz do devir uma afirmação.
O múltiplo é a afirmação do uno.
O devir é a afirmação do ser.

Perante esta afirmação, não podemos conceber um mundo diferenciado daquele que é real, que pode ser observado e observável, que é tocado, deixa-se tocar, apenas em parte, que não no todo, porque não sabemos determinar o fim, nem como tudo teve seu inicio, em que o finito o encontramos em nós, perante o infinito que nos é dado a observar.
Não existe a dualidade na força, apenas damos conta da diversidade de vontades, que não deriva da vontade de poder dessa força, mas de outras relacionadas.
Sem tal relação retornamos ao uno, á força única, e universal.
Uma vontade de poder que tende a contrariar uma outra vontade, não requer uma vontade diferenciada, mas antes ela é expressa da mesma maneira, embora em diversos corpos.
Desse modo, aquilo que dizemos ser a diversidade de vontades, é pura ilusão, ou servirá apenas para diferenciar os corpos, quanto ao exercício da sua vontade de poder.
Não será propriamente uma vontade que tende a contrariar uma outra vontade de poder, mas antes a tentativa de afirmar-se a si mesmo, exercendo a pressão sobre uma outra, quando a ela sujeita.
Só nessas condições a vontade de poder, ganha uma tensão acrescida, com o fim de superar a si mesmo, derrubando obstáculos, cuja finalidade é seguir sua viagem.
O corpo entregue a si mesmo não sente essa necessidade.
Os corpos serão os múltiplos, que afirmam o uno, como afirmação do ser.
O eterno retorno é o regresso ao uno, á individualidade, ás características próprias do ser, que é uno, de uma força, e vontade única.
A associação de várias unidades forma um complexo, que se revela a partir daquilo que é uno.
Freud percebeu isso, ao ter o entendimento, que a construção de uma complexidade psíquica só é possível graças á associação de idéias, que estão organizadas de uma forma sequencial, e apresenta consequências, como ato final, seu objetivo.
Para que possa existir uma transformação de um ato final não desejado, o percurso a percorrer será o inverso, em que o psiquismo tende a rodar o filme ao contrário, analisando cada entrada em cena dos diversos elementos, até achar o ponto de ruptura, que fragmentou uma sequência anterior.

sábado, 7 de agosto de 2010

Devotos ignorantes

Existem pessoas, que não sabem o que dizem, nem dizem o que sabem, em que procuram dizer o que melhor serve á justificação de seus procedimentos.

Tentam justificar os atos. Tentam justificar a vida.

A intenção primeira é manter inviolável a sua interioridade, por medo da mudança, tentam construir obstáculos, opondo resistências, para não sentir o incómodo.
O melhor é colocar a máscara do super homem, mesmo que tenha medo de uma teia de aranha, sempre disfarça.
Justificam o tempo todo as suas atitudes, arranjam argumentos falhos, que possa servir tais interesses, manipulando as palavras, os outros, e a si mesmo, cuja finalidade é a sua própria afirmação, negando os outros, por medo de negar a si mesmo.
Eu estou certo. Os outros errados.
Eis o mundo dividido entre o bem, e o mal, quando só existe uma única força universal.
Eu sou emocional, vocês são racionalistas.
Eu sou coração, vocês a razão.
Apenas palavras, palavras ¨ malditas ¨, cuja intenção é matar á nascença o que poderia levar ao questionamento, á reflexão, e indagação.
Elas servem de resistência a toda, e qualquer mudança.
As palavras estão invadidas pelo vício da repetição.
Elas são o sintoma de uma interioridade humana.
Dizem saber, desejando serem ignorantes, apenas para justificar a sua vida, para a sustentar, que não pode ser perdida, dado que não reconhecem outras formas de a viver.
As palavras traduzem a sua maneira de estar e agir, em que o pensamento serve á estética, a banalidades, dado que mergulhar mais fundo mete medo, a quem não sabe nadar.
O frouxo, vira durão, porque impotente não pode dar-se, nem mostrar-se, que na dispersão de tantas palavras, tenta manter oculta sua própria interioridade.
É o falar por falar, como vómito, proveniente de algo indigesto, que alguns dizem levar á cura, a confundido com alívio de uma energia maligna contida em si, que tem de ser jogada fora, permanecendo contudo, restos de uma semente que irá germinar de novo, dependendo da época apropriada.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Negação

O ser humano que nega a si mesmo, deixa de afirmar seus desejos, e quando não existem mais, deixa-se morrer.

Têm medo de dar – (se), com um desejo enorme de o fazer, culpam os outros por sua impotência afetiva.

Existem pessoas , que, quando não conseguem realizar seus desejos, porque dependente de desejos alheios, os atacam violentamente, recorrendo á moral estéril, e á estética, em que é visível a falta de autonomia, denotando uma total dependência aos objetos exteriores, dos quais reclamam a mamadeira.

A vingança, como negação da vida.

Pior que mendigo da rua, embora vivendo debaixo de telha, só mesmo o dinheiro, e o poder os podem salvar da frustração total, e da morte anunciada.
Infelizes criaturas, que vivem da contemplação das estrelas, tentando encontrar o criador no meio das trevas, quando ele está na luz.

No apartamento 123 jaz uma alma moribunda, de um corpo sem vida, á espera de nada, e nada pode esperar, por não saber dar afeto.

Paz a sua alma.

domingo, 1 de agosto de 2010

O saber

O desejo de saber, quando o indivíduo se sujeita á relação, tende a incorporar o mais saber acerca das coisas, e do mundo que o rodeia.
Em determinados momentos não deseja saber, observar a realidade tal como se apresenta, em que o seu desejo é ignorá-la.
Ignorar não nos faz sofrer, afirmam alguns, pelo menos com tamanha intensidade, digo eu, mas ficam restos de um saber, por saber, por ser difícil o adaptar a determinada organização psíquica.
Percebemos então neste fenómeno a negação do próprio desejo de saber.