Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

domingo, 31 de outubro de 2010

Outro tempo

Estou ausente
De corpo presente
Me transporto no tempo
Viagem sem espaço
Navegando ao vento
Onde os pensamentos
Me levaram
De onde nunca saí
Para me mostrar
O que já enxerguei
Para observar
O que nunca vi
Sem tempo
Sem espaço
Com tempo
Para ocupar outro espaço
Sei lá !

Joâo António Fernandes

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Mente e cérebro

Autor - Leopoldino dos santos ferreira
Fenômenos Emergentes

O que podemos dizer acerca da existência da mente nos animais quando observamos seu comportamento? Eles visivelmente experimentam sentimentos e emoções similares a nós mesmos. Qualquer um que tenha visto uma leoa alimentar suas crias não pode questionar seu amor maternal. Qualquer um que tenha ouvido o chiado estridente de um pássaro sendo perseguido por um gato não pode duvidar de seu terror. Qualquer um que tenha testemunhado um cão pulando em seu dono após o seu retorno não pode deixar de apreciar que ele está sobrepujado de alegria. Ainda, podem os animais pensar – isto é, formar imagens mentais? Parece que eles podem reconhecer propriedades abstratas, tais como formas e cores. Mas é menos certo que eles possuam uma sabedoria de si mesmo ou de sua existência. Ninguém viu até agora, ou espera ver tão cedo, um chipanzé – o animal mais próximo do homem geneticamente – pintar a Mona Lisa ou escrever Guerra e Paz.
A mente emerge da complexidade do cérebro. Em vista do que temos dito previamente a respeito dos princípios de auto-organização que emergem em sistemas quando eles cruzam um limiar de complexidade, que discernimento podemos adquirir sobre o problema do corpo e da mente? Afinal de contas, o cérebro é o sistema mais complexo que a Natureza já produziu. Podíamos, portanto, esperar fenômenos emergentes que se manifestam num nível mais alto, com propriedades diferentes daquelas dos processos neurais (tal como o fluxo de elétrons nos neurônios), que pertencem a um nível mais baixo. Estes fenômenos emergentes podem ser assimilados com o que chamamos de "mente." A consciência "emerge" da atividade neural no cérebro, mas num nível mais alto. Uma vez gerados, os estados mentais seguem suas próprias leis causais, que são diferentes e não podem ser deduzidas das que governam o trabalho dos neurônios no nível mais baixo. Os estados mentais emergentes podem por sua vez atuar nos neurônios que os produzem por meio de seu comportamento holístico e coletivo.
Como o americano Marvin Minsky, um perito em inteligência artificial, coloca:
Os átomos no cérebro estão sujeitos às mesmas leis auto-inclusivas que governam todas as outras formas de matéria. Então podemos explicar que nossos cérebros realmente trabalhem inteiramente em termos daqueles mesmos princípios básicos? A resposta é não, simplesmente porque mesmo se compreendêssemos como cada uma de nossas bilhões de células cerebrais trabalham separadamente, isto não nos diria como o cérebro trabalha como uma agência. As "leis do pensamento" dependem não somente das propriedades daquelas células cerebrais, mas também de como elas estão conectadas.
Assim, a psicologia não pode ser reduzida à física e à química. Os behavioristas chegaram a sua concepção determinista e reducionista copiando os métodos das assim chamadas ciências "objetivas"(mesmo assim, como temos visto, a mecânica quântica tem diminuído enormemente esta objetividade por atribuir um papel primordial ao observador em criar a realidade). Isto não significa, contudo, que a psicologia deva rejeitar as leis da física e da química. Estas operam em níveis diferentes. A psicologia requer princípios adicionais que funcionam num nível mais alto de organização (continua).
Referências: Trinh Xuan Thuan, Chaos and Harmony, University of Virginia.
Pensamento do dia: Para ser popular é necessário ser uma mediocridade (Oscar Wilde, 1854-1900, escritor irlandês).

Físico e escritor. Tem cinco livros publicados. Mestre em Ciências pela COPPE-UFRJ. Doutor e Livre Docente em Física pela UFPA. Foi estagiário no Instituto de Pesquisa Nuclear de Jülch, Alemanha. Orientador de teses de mestrado na UFPA. Controlador de Vôo. Coluna de divulgação científica, Físicos e Filósofos, no jornal O Liberal em Belém. Artigos em jornais.
(Artigonal SC #3559973

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ser consciente por instantes

Tenho consciência do que faço, cujas consequências não desejo.
Sei o que devo fazer para que tal não aconteça.
Mas não consigo deixar de fazer o contrário, o que me conduz ao tormento.

Enfim estou consciente de tudo que me acontece, mas algo me impede de fazer aquilo, que supostamente me faria feliz.
Não sei de mais nada, e sinto-me confuso.
A realidade é que sinto a felicidade durante um período, e a infelicidade vem logo de seguida, como algo que é inevitável, mas que não desejaria que acontecesse.

As palavras rolam como as cerejas, num estranho labirinto que se estreita até acabar na visibilidade de uma atitude não desejada, não causando qualquer estranheza quando aos olhos dos outros se apresentam como satisfatórias.
Apenas desejos que se encontram na esquina da vida, que uns não desejam o que parece satisfazer os outros.
Não se trata do contrário, mas apenas do diferente, que coexistem lado a lado, que uns tentam, expurgar, exterminar, para que a vida seja toda ela pretensamente cor de rosa..
Não pensem que esta é a história de um ¨ maricon ¨ ou de um ¨ veadão ¨, mas apenas a história de muitos seres humanos que desejam viver, e sentem que aos poucos estão a morrer, pressentindo a morte, porque algo, ou alguém os impede de viver.
Onde estás consciência, que não me deixas ser consciente a tempo inteiro ?
Talvez a luta entre o ser e o estar, que se traduz na fragmentação, que não na continuidade, estabelecendo por isso a separação entre o ser que tem desejos, e um estar que o incomoda.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Onde mora a consciência ?

Treze anos, entrada da adolescência, pais divorciados, vive com a mãe, que segundo ele pega no seu pé, dizendo o que deve ou não fazer a toda a hora.
A mãe ansiosa e com medo, passa a ansiedade e o medo ao filho.
Preocupada com os estudos toma posições rígidas, xinga, não admite notas menos boas.
Sempre vigilante por medo do filho trilhar caminhos impróprios, reclama por tudo.
O filho criou a ansiedade por não corresponder ás suas expectativas, temendo a cada passo o fracasso, que o faz temer as provas que tem de prestar na escola.
Resultado, a sua prestação é fraca.
Eu compreendo a matéria, mas no exato momento da prestação de provas, fico nervoso, dá um branco, e parece que todo o meu conhecimento desaparece como por encanto.
Aquilo que mais temo acontece.
No inicio do ano escolar não ligo muito á matéria, mas quando vem as provas e as notas fico aflito, porque não quero decepcionar a minha mãe.
Acho que gosto da vida fácil, diz ele.
Onde mora a consciência, se na realidade você está a fazer tudo para que aconteça o que não deseja ?
Porque não fecha essa ferida ?
Não sei.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Mente e corpo

Mente e Corpo
Autor: leopoldino dos santos ferreira

Mente e Corpo
Nem Aristóteles nem Platão fizeram uma distinção entre a mente e o corpo. Isto não seria feito até o século dezessete quando os dois se tornaram separados. O filósofo francês René Descartes (1596-1650) foi o primeiro a formular explicitamente esta divisão. Em 1629, ele se retirou para uma hospedaria holandesa para meditar sobre os mistérios da mente. Ele estava inclinado a encontrar um princípio que trouxesse certeza à realidade da mente. Descartes havia entendido que a percepção da realidade por nossos sentidos pode ser quase ilusória. Afinal de conta, nossos sentidos nos dizem que, como o Sol nasce no leste e se põe no oeste, a Terra deve se manter parada no centro do sistema solar, e o Sol e todos os outros corpos celestes revolvem em torno dela. Entretanto Copérnico tinha demonstrado desde 1543 que exatamente o contrário era verdadeiro: O Sol estava de fato no centro do sistema solar, e a Terra que se revolvia em torno dele. O sistema Cartesiano de pensamento está baseado na duvida: Tudo deve ser criticado, pois não podemos confiar nos nossos sentidos, que estão aptos a nos conduzir a erros. Os objetos nos aparecem tão reais num sonho como quando estamos totalmente acordados. Sabe lá se a própria vida não é senão um sonho ? Naquela noite, em seu quarto na hospedaria, Descartes teve uma súbita revelação. Se tudo pode ser questionado – o quarto no qual ele estava, a cadeira na qual ele se sentava, etc. – pelo menos uma coisa estava além de contestação: Isso era o próprio fato de que ele tinha duvidas. Quando ele estava duvidando, ele tinha que estar pensando, e porque ele estava pensando, ele tinha que existir como uma coisa pensante. Descartes expressou esta convicção na sua famosa máxima: Cogito, ergo sum, "Penso, logo existo." A natureza dual do homem. Para Descartes, a realidade tinha duas formas distintas: aquela da mente (ou pensamento), e aquela do mundo material. Tal é a essência do dualismo Cartesiano. A mente é pura consciência, não tem extensão espacial, e não pode ser subdividida. Pelo contrário, a matéria é desprovida de consciência, estende-se através do espaço, e pode ser subdividida. Assim, o homem tem uma natureza dual: Ele pensa, mas ele é também dotado com uma extensão material que é seu corpo. Descartes acreditava que o corpo era uma máquina perfeita, como a imagem dos autômatos no Royal Gardens em Saint Germain, em Paris, os quais o tinham fascinado. Em seu Treatise of Man, publicado em 1644, ele descreveu um inspetor caminhando no Royal Gardens, pisando sobre lajes para obrigar a água de um reservatório fluir através de canos e ativar os autômatos. Completamente distinto da mente, o cérebro era para Descartes um componente de sua máquina perfeita. Ela funcionaria de acordo com princípios similares aos dos autômatos. Para ele, os órgãos sensoriais eram estimulados pelo meio ambiente, justamente como os autômatos eram ativados pelo peso do inspetor pressionando as lajes do Royal Gardens. O cérebro tinha seus próprios tubos e válvulas, como também um reservatório de fluido cujo fluxo era controlado por estes estímulos. A mente pensante estava estacionada perto do reservatório e, como um atento engenheiro-chefe, procurava a própria operação do mecanismo, ocasionalmente intervindo diretamente para abrir ou fechar as válvulas do cérebro. O contacto entre a mente e o cérebro acontecia num local particular do cérebro que Descartes chamou de "glândula pineal." Como um ponto matemático, esta glândula não tinha extensão espacial. Por meio dela, a mente podia responder às paixões e humores do corpo, posto que ela também tinha o poder de se distanciar dos impulsos "básicos" do corpo, tais como a luxúria e o ódio, e operar completamente independente dele (continua). Referências: Trinh Xuan Thuan, Chaos and Harmony, University of Virginia. Pensamento do dia: O fracasso é oportunidade de se começar de novo inteligentemente (Henry Ford, 1863-1947, industrial americano).

http://www.artigonal.com/ciencias-artigos/mente-e-corpo-3522413.html

Perfil do AutorFísico e escritor. Tem cinco livros publicados. Mestre em Ciências pela COPPE-UFRJ. Doutor e Livre Docente em Física pela UFPA. Foi estagiário no Instituto de Pesquisa Nuclear de Jülch, Alemanha. Orientador de teses de mestrado na UFPA. Controlador de Vôo. Coluna de divulgação científica, Físicos e Filósofos, no jornal O Liberal em Belém. Artigos em jornais. Veja também em ´busca´do Google assim: "leopoldino dos santos ferreira."
www.literatura-leo.com

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Da luz ás trevas

A pedra jogada na água é deslocada para as profundezas, e o que estaria, e seria antes claro, e em condições de ser observado, não mais o será, ou pelo menos com tamanha clareza.
O que era superficial tornou-se profundo, em que o sentido repousa agora nas entranhas de um corpo que se deixou invadir, vergado ao peso das características físicas de um outro corpo, que o conseguiu ¨penetrar¨.
Corpo do meu corpo, desfazendo-se em sangue, foi tomado pelo meu, de que já não consigo distinguir suas partes, por tornar-se uno.
O que antes pertencia a mundos diferenciados, passou a fazer parte do mesmo.
O que antes seria diferente, apresenta alguma semelhança.
A luz e as trevas deixaram de existir, substituída apenas por um cenário, em que a integração, garante a sensação, que tudo parece igual, mesmo não sendo.
A verdade encontra-se nas profundezas, naquele corpo feito pedra, que uma vez jogado rasgou minhas entranhas, se fez corpo dentro de meu corpo, cuja verdade foi sentida, através de uma sensação que rasgou a minha carne.
Talvez não seja a verdade absoluta, nem admitida por outros, mas será sempre parte da minha verdade, porque sentida.

¨A verdade que não conseguimos enxergar, será sempre a verdade para o sujeito que a sente ¨.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Reação em cadeia

São importantes os depoimentos das pessoas, referidas ás mais diversas aflições porque passam durante determinado período da sua vida.
Ouvi-los atentamente, e os considerar, é no fundo parte do trabalho do analista, tentando associar fatos, e deduzir como aquela pessoa age e reage perante os acontecimentos.
Ouvido aquele que tentou o suicídio três vezes, que foi para á cadeia por um crime que diz não ter cometido, afirma ter perdido o medo pela punição.
Dizia ele. Que tinha perdido o medo da morte ?
Perdido o medo de morrer ou matar ?
Foi a observação que fez uma amiga minha a si mesma, perante a afirmação do sujeito.
Da neurose obsessiva compulsiva teria evoluído o sujeito para a psicose ?
Foi a pergunta que ficou no ar, mais em jeito de desafio, do que uma certeza assumida.
Como podemos entender, e quais os efeitos no sujeito, essa retirada do medo da interioridade do ser humano ?
Merece da minha parte o seguinte comentário:
· Até que ponto, a prisão, excepto nos crimes de sangue, pode contribuir para a regeneração do ser humano ?
Não obstante o questionamento, o que falta saber e indagar, carecendo de estudo e investigação, nomeadamente em casos semelhantes, quais as alterações eventualmente provocadas no indivíduo, a partir da sua primeira relação com as grades da prisão.
Será que em muitos casos a sociedade está a provocar reações violentas, julgando estar a contribuir para a paz social ?
Por outro lado, não existirá outras formas, quiçá, mais eficientes de punir ?
A pergunta fica no ar.

domingo, 17 de outubro de 2010

Porque os fracos vencem

Teoricamente os mais fracos conseguem a preservação da sua própria vida, de sua espécie, e até aumentá-la consideravelmente, por terem a noção, e sentirem-se fracos, reclamando assim a ajuda de seus companheiros, que se unem em torno da mesma idéia de preservação da vida.
O exemplo mais evidente nos vem de uma colónia de formigas, ou de abelhas.

A ¨ consciência ¨ do fraco faz sentir em si uma certa incapacidade em superar os mais diversos obstáculos que encontra no seu caminhar pela vida.

Mas para o ser humano sentir-se fraco, deve ter a noção que carece de ajuda.
Se o conseguir, não devemos olhar para o que nos acontece como um milagre, mas sim como obra de uma forma estruturada e organizada segundo a própria natureza, que lhe é conferida pelas forças do Universo.
O fraco, como por encanto tornou-se forte, graças ao seu instinto de preservação.
Aquele que se julga forte tende a sucumbir perante a idéia construída de ser, ou mostrar-se forte, em que é derrotado pela sua própria teimosia, que o faz desejar manter-se nesse estado.

sábado, 16 de outubro de 2010

Bullying e educação

Todos sem excepção sabemos definir o que está certo ou errado, quando colocados perante as consequências, em que a dor e sofrimento não parece ser perceptível para o agressor, apenas ficando assustado, quando suas atitudes, desencadeiam no outro o sentido de morte.
Desse modo, podemos observar as declarações dos colegas, após o enforcamento de um seu companheiro de escola, que era gozado por ser homossexual, que nunca pensaram que suas atitudes tivessem um desfecho tão sinistro, não desejados por eles, o suicídio de um colega.
Não passara de uma brincadeira, dizem eles.
Freud estudou as brincadeiras de criança, como algo que se passa na vida familiar de cada um, que tende a projetar-se fora de portas, com outros colegas, que substituem os brinquedos de criança, e estes são figuras simbólicas dos próprios pais.
A discussão a partir da observação de uma tragédia, é limitada ao cenário, em que as acusações não faltam, apontando os agressores, criando leis punitivas, imputando responsabilidades, em que o papel da formação e prevenção não existe, porque a maioria das pessoas parte do princípio, que para prevenir basta punir.
Todos sabemos que isso não é verdade.
O papel da formação cabe á família.
Ao Estado caberá a indicação do caminho que ela deve levar, e a prevenção, que deve ser levada á prática com inteligência e conhecimento, sendo o último recurso a punição.
No caso de serem corrompidos os pressupostos de um processo de humanização, deve promover cursos de reciclagem obrigatórios, não levando em conta quem os pratica, porque afinal, todos sem excepção, devemos isso ao nosso semelhante.
A educação na escola é absorvida por tais condições sociais, a que deve dar uma resposta cabal, como última etapa de um processo de humanização / socialização.
A discussão, se cabe ou não ao educador desempenhar o papel de mediador de uma formação familiar, e á instituição que representa é secundária.
A realidade é que é exigido aos profissionais da educação uma série de atributos para os quais, a maioria, não se encontra preparada, dado que o Estado não está organizado nesse sentido, produzindo tão só legislação punitiva para os infratores, sejam alunos, professores, ou a própria instituição escolar, por permitir tais atitudes nas suas instalações.
O que me apraz registrar é a procura do amparo, que parece não ter respaldo em qualquer instituição, seja familiar, nos professores e nas instituições educativas, na ânsia de conseguir resolver um conflito, que pelos vistos não tem solução á vista.
Conclusão, pais, alunos, professores e instituições escolares estão desamparadas.

Desse modo, não existe na realidade amparo algum, mas apenas a sensação de que ele existe.

A época da teta da mãe e da mamadeira já lá vai, do que se trata é perceber em relação á criança, no seu caminhar para adulto, a autonomia que lhe é concedida.
Não se trata simplesmente de uma autonomia em relação aos objetos, mas também em relação ás próprias ideias produzidas por outros, que uma vez, ao não ser observada, faz do sujeito um ser dependente, que só sabe caminhar através de um outro, ou, quando inserido num grupo qualquer.

Urge perguntar – Quem o fez assim, e o pretende submisso. e dependente ?
Tudo tem princípio, meio e fim.

Discutir consequências, apenas percebemos o que é dado ao afeto, e ao desafeto, que pode satisfazer, ou infligir dor e sofrimento, tanto no sujeito, quanto nos outros, mas nada nos diz qual o sentido que foi dado ás coisas, aquando da formação infantil.

Se a sociedade não apresenta a capacidade de interferir na formação da criança, porque tal é conferido aos pais, á escola cabe o papel de tentar minimizar os conflitos.

Resta saber, como o pode fazer colhendo frutos agradáveis, e não consequências trágicas.
Mais uma vez as pessoas estão sozinhas nessa tarefa, cuja solução passa por muito suor e lágrimas, deixando atrás de si um rasto de sangue, muita dor e sofrimento.

Conclusão, não existe de fato uma política séria por parte dos responsáveis, que conduza o processo no sentido da prevenção e da reciclagem, em que o seu papel é meramente punitivo, que se traduz no Deve e Haver, sem que existam condições para estancar os índices de violência.
Aliás, o que nos é dado a assistir nas escolas, é apenas a reprodução do que podemos observar nas famílias, e no cotidiano da vida pública.
Desse modo não devemos perceber o bullying como um fator isolado dos demais, sendo uma variante do mesmo problema social, que é em essência proveniente de uma formação familiar desprovida de um sentido de humanização.
Porque refiro o Deve e o Haver ?
Porque o resultado entre deveres e obrigações, aponta para números, em que a sociedade atual baseia-se em estatísticas para mostrar ao mundo a sua eficiência.
O que resta dessa comparação, são apenas números, que indicam a quantidade de transgressões ao que está pré estabelecido, segundo determinados valores sociais da própria sociedade.
É o balanço das quantidades que conta, desprezando a qualidade da formação, e do ensino..
Se a taxa de violência diminui, logo damos conta de um aproveitamento político, por parte de quem está no poder.
Se a taxa aumentou, logo a oposição se aproveita, e vem a terreiro na tentativa de demonstrar a ineficácia do poder político.
Não fora o poder de adaptação dos indivíduos á realidade, por mais terrível que seja, que transforma a relação entre as pessoas, e nos garante a sensação que algo melhorou, tudo estaria bem pior, dada a inexistência de uma política de prevenção e reciclagem por parte do Estado.
Assim, continuamos nessa discussão inútil.
A quem será dado o papel de formação dos jovens, e qual a sua responsabilidade no processo ?
Aos pais ? À escola ?
Ou, essa responsabilidade deve ser repartida ?
Mas como repartir responsabilidades, quando uma das partes é transgressora, ou nega-se a compreender o processo formativo e educativo ?
Ao negar não executa, empurrando a responsabilidade para os demais.

É neste emaranhado, que se encontra a classe dos professores, as próprias instituições escolares, e os pais, devido á inexistência de uma política pública de formação familiar, educativa, preventiva e de reciclagem.
Como o conseguir ?

Não através da interferência nos assuntos da família, mas pela obrigação de frequentar cursos de formação, quando forem visíveis os primeiros sinais de agressão verbal ou física.
Afinal para que se gastam rios de dinheiro no ensino público, se ele não serve para transmitir o conhecimento ?
Só para mostrar o saber, e afirmar banalidades nos jornais e revistas, e nos demais diversos órgãos de informação, vincando cada vez mais a afirmação e negação, o mal e o bem, não valeria a pena tanto esforço, dado que qualquer mortal, sabe muito bem distinguir as coisas.
A ansiedade, que é provocada pela necessidade urgente de eliminar, banir da sociedade atitudes depreciativas, agressões verbais e físicas, traduz-se na atitude imediatista, de tentar estancar o sangue num tecido que está podre, cujo poder de regeneração não se encontra na punição, mas sim na formação.

Bastaria enxergar a realidade para perceber isso, em que a punição por si só, não é suficiente para estancar o fluxo de agressividade, e violência social.

Que a maioria das pessoas não saibam como fazê-lo, a não ser recorrendo a atitudes proibitivas e punitivas, é compreensível, mas gente de mais saber, que sigam o mesmo caminho, é que não parece que seja tolerável.
Afinal qual a diferença ?

Existe algo que preocupa e invade a interioridade de uns e outros, que os coloca no mesmo nível de formação humana, não obstante o saber de uns, e a ignorância de outros..

Responder ao imediatismo é função do corpo biológico, ou se o quisermos, resposta instintiva animal, que é autónoma do princípio de racionalidade.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A ciência dos sintomas

O que podemos perceber por ciência ?

Apenas uma ¨brincadeira de crianças¨, que através da sua traquinagem, entretêm-se a retirar, e a juntar uma diversidade de elementos, num movimento de associação e dissociação, cuja finalidade é associar de novo, na tentativa de entender as consequências que daí possam derivar.
A prova científica exige a repetição dos atos, condicionada aos mesmos elementos constitutivos, para que possam ser comprovadas as mesmas consequências.
Diferente da observação dos efeitos colaterais, que não são visíveis em determinado processo, mas que se fazem sentir numa outra dimensão, digamos mais complexa e oculta, que nos quer dizer, ou pelo menos indica, que é diferente a tentativa de resolver um conflito pontual, do que tratar o conflito na sua complexidade.
Daqui podemos deduzir, que tratar o sintoma, não significa tratar o transtorno, dado que tende a perder-se a visibilidade de algo que impressiona o indivíduo, e os outros, mantendo-se oculto os verdadeiros motivos que o provocaram.
Será inevitável a volta do sintoma, ou o seu deslocamento para outra parte do corpo, que bem pode ser uma imagem interior incorporada, que pode funcionar como receptora de uma patologia, que tenha respaldo exterior, a partir da identificação, e da posse de um objeto, real ou virtual, funcionando como tubo de escape da própria patologia.
De onde podemos deduzir, que a ausência do objeto exterior pode em casos extremos levar á morte mental e física do sujeito, mas em geral contribui para a dissolvência do conflito interior, tomando sentido em si, que afinal pode viver de uma outra forma.
Se uns não conseguem superar o medo, e por isso morrem, a maioria é possuído pela capacidade de superação, descobrindo uma nova forma de estar com os outros, e consigo mesmo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Memória para além do tempo

Casimiro de Abreu

Ó que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais

A memória não tem relação alguma com o tempo, mas com a imagem revelada em certo tempo, através de uma vivência, inserido numa realidade que nos ultrapassa, mas através da qual somos, de uma maneira ou de outra, afetados.
A imagem pode ser associada a um determinado período da nossa existência, mas ela perdura em nós para além dele, em que apenas é a evocação de cenas passadas.
A memória conserva uma imagem virtual, que um dia foi real, cuja realidade já não existe mais, em que esta sim é o tempo presente, que no segundo seguinte se ausenta.
O que virá de seguida nos é presente, que pode ser semelhante, mas nunca igual, embora nos garanta a sensação que se trata do mesmo.
Nunca será em busca de um tempo perdido que o ser humano se agita, mas das imagens que foram perdidas no tempo, que desejamos, mas teimam em não voltar.
Lembro-me de uma canção de António Mourão, que fez grande sucesso em Portugal, lá pelos anos sessenta, cujo refrão dizia assim :

Ó tempo volta para trás
Dá-me tudo o que eu perdi
Tem pena e dá-me a vida
Da vida que já vivi.

Desejo não concedido pela própria natureza das coisas.
Mas as imagens permanecem no tempo.

domingo, 10 de outubro de 2010

Mundo fragmentado

Nos é dado a saber ao longo dos séculos, os mais diversos pensamentos acerca do mundo, e das forças que constituem o universo, afirmando alguns que só existe uma única força universal.
Talvez essa força única deva existir para conferir veracidade à existência de um Deus único, que por isso mesmo, é onipotente, e tende a fazer-se presente em todas as atitudes humanas.
Deste modo a religião casou com a física, quando esta defendeu por muitos séculos a existência de forças contrárias, que eram colocadas contra esse sistema universal. que forçosamente teria que ser exaltada uma para que fosse possível levar de vencida a outra.
Notemos então, que dessa forma de pensar emerge a idéia da existência de uma força, considerada boa, e outra que ofendia os princípios daquela, a designando por má.
A física quântica nos vem dizer que existe a complexidade, que não propriamente o contraditório, e que todas as forças existem por natureza e são complementares, certamente derivadas de uma relação entre corpos, que produzem a repulsa, ou a associação de forças.
Provavelmente o ser humano ainda não conseguiu perceber o que a física quântica nos quer dizer, e o mundo continua por isso dividido entre a psicose e a neurose obsessiva, que também se enquadram nessa força única universal.
Parece existir uma força única universal, e qualidades que dela tendem a emergir, que fragmentaram o mundo, ou melhor, a forma como o entendemos.
Devemos perguntar, dada a nova postura da física moderna, de onde, e como surgem qualidades, a partir dessa força única universal ?
A partir da diversidade do pensamento, ou da tomada de sentido de uma relação entre corpos ?
Fica a pergunta.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Memória

A importância das imagens

A neurociência nos diz, que as imagens, que não sejam consideradas importantes para a mente, perduram menos como lembrança, e tendem a ser esquecidas mais rapidamente.
Nos é dado a conhecer a existência de um grau de importância ás imagens, que é conferida pelo o indivíduo, e que depende desse grau o tempo que elas podem ser lembradas pelo o ser humano.
Até aqui nada de novo, sendo compreensível para o comum dos mortais, que percebe em si mesmo, a existência de imagens, que não desgrudam da sua mente, e outras, de que já nem sequer lembra.
Quando alguém nos chama a atenção para determinadas imagens de um encontro casual, por vezes fazemos um esforço para lembrar, sendo na maioria das vezes auxiliado por aquele, que delas se lembra perfeitamente.
( Re ) organizamos o cenário já vivido, e a imagem como por enquanto nos vem á memória.
Se assim é, não será difícil admitir, que as imagens não se perdem definitivamente, muito embora só haja traços delas.
Ao serem ( re ) vivadas, o indivíduo é capaz de montar um cenário semelhante de um passado longínquo, mas não em toda a sua dimensão, contudo preservando o essencial, a que é conferido um sentido.
A questão, porém, torna-se mais complexa, quando desejamos questionar, como, por intermédio de quê, ou de quem, ou através de que mecanismos, sistemas, o corpo apresenta a capacidade de conferir um determinado grau de importância ás imagens ?
O que é fato, dada a explicação científica, é que sem um determinado grau de importância, a imagem tende a passar pela memória, a perder-se, sem se fixar, dispersando-se pela imensidão do universo, pelo que é sempre necessário um grau mínimo de importância, para que tal não aconteça.
Daí a afirmação de António Damásio, neurocientista, que sem emoção não existe imagem.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bullying II

Eu sei que as pessoas consultam os mais diversos blogs, que tratam deste tema, esperando enxergar uma solução para o problema, sejam professores, instituições, alunos e respectivas famílias, esperando um milagre para as suas aflições.
Desde há muito fiquei desiludido, porque no que é dado ao homem, não existem milagres, apenas estudo e trabalho, que possam impedir a repetição das mesmas cenas não desejadas.
Então não existe solução ?
Ela existe, mas não pode ser obtida através de uma via imediatista.
Se acrescentarmos o fato que a atitude punitiva, tenta julgar os agressores, mas que não repara os estragos feitos na vítima, nem impede atitudes semelhantes no futuro, somos levados a considerar, que devem ser implementadas ao mesmo tempo atividades preventivas,e ações de formação.
Como sabemos, tais atividades passam em primeiro lugar pela sinalização dos indivíduos e grupos de maior risco.
Tais pólos de possível agressividade excessiva, por vezes não são facilmente percebidos, dado encontrarem-se encobertos por determinados fatores, que só são despertados no indivíduo quando em grupo.
O que não significa, que não possam ser detectados, mas carece de alguma formação para o efeito.
Quando referi no artigo anterior a falta de uma visão global, ela não serve apenas para os pais e alunos, mas também para os professores e instituições, dado que a tendência é para preservar os mais fracos, face á agressão daqueles que se consideram mais fortes.
Embora reconhecendo que isso deve ser feito, o papel do analista e investigador, deve pautar-se pela revelação das causas, que o conduzam ao estudo, e a uma proposta válida, cuja finalidade é solucionar, ou pelo menos minimizar o conflito.
A sociedade impõe-se pelo o seu poder punitivo face a qualquer tipo de agressão, o que falta de fato é perceber quais as atitudes formativas que devem ser implementadas para estancar a violência nas escolas, que, é bom que se diga, não é coisa que um sujeito não enxergue nas famílias e no cotidiano, que é do domínio público.
A repressão não mostra ser suficiente para estancar a violência, e a prova a temos nos assassinatos, na violência doméstica, e nos índices de corrupção que abunda na sociedade, de que todos damos conta pelas notícias dos mais diversos órgãos de comunicação.
Poucas dúvidas tenho, que só a formação pode garantir a médio prazo resultados satisfatórios, que não passa por empurrar a responsabilidade só para uma das partes envolvida no conflito, mas antes, tentar implementar um projeto, que possa envolver todos os intervenientes no processo.
Se uns tentam revelar um poder, elevando a sua auto estima, ou melhor, dando continuidade a uma satisfação interior, a vítima revela um indivíduo fraco, que não apresenta condição alguma de sobreviver a uma pressão exterior.
A tendência é socorrer os fracos, os feridos e ofendidos, esquecendo porém que também necessitam de serem analisados, para que possam superar as pressões a que estão sujeitos.
Em termos de formação infantil nos é dado a observar, que uns foram preparados para a guerra, e outros, fizeram deles os ¨ bobos da corte ¨.
No meio de tudo isto, na ânsia de encontrar responsáveis, onde de fato não existem, as instituições e os professores são punidos verbal, física, ou administrativamente, porque o poder parece estar num dos lados, que tende a esmagar o outro.
Estamos colocados numa luta de poderes, e não perante a tentativa séria de solucionar o conflito.
Na tentativa de explicar o fenómeno, alguns analistas referem um poder narcisista exacerbado como causa do bullying, mas contudo não parece que seja regra, em que outro elemento podemos observar, o sadismo, que impulsiona o indivíduo a provocar dor e sofrimento no outro.
Podemos notar também um poder de negação exaltado, que tende a afirmar o indivíduo, e a denegrir a imagem do outro.
São fatores que corrompem o conceito de humanização, sendo uma lança espetada no coração alheio, que o faz sentir-se inferior, pequeno, desprotegido, e incapaz de superar as dificuldades que se deparam pelo o caminho.
Em termos práticos, se uns demonstram ter força bastante, que lhes sobra até, para levar por diante suas intenções, outros não parecem ser possuídos por ela , necessitando da ajuda dos outros.
Assim criamos uma sociedade de dependentes, que fala em humanização, mas que na verdade o que os comanda, para o bem, e para o mal, é a psicologia social estética, que não apresenta condição alguma de ser enquadrado num processo de humanização.
Não significa porém, que a estética não possa fazer parte da vida do ser humano, bem pelo o contrário, mas apenas que deve ter limites, sem idealismos, para que possa dar continuidade a um processo de humanização, rumo á socialização.
Julgo tratar-se da ignorância relativamente ás atitudes cometidas durante a formação infantil, que dão o efeito contrário do desejado.
Sou assaltado pela dúvida, se os suicídios, sendo casos extremos, não correspondam de fato a um desamparo total, cuja primeva origem está na formação infantil, como negação da própria criança, que criou obstáculos na relação pais / filhos, em que o excesso de proteção, escassez, ou a negação de si mesmo, a faz sentir-se desprotegida.
Nenhum de nós pode falar do que não sabe, dado que nos falta o histórico familiar.

O fato é que foi dado, sabe-se lá por quem, e devido a quê, ao professor e ás instituições de ensino a tarefa de tentar endireitar as paredes tortas de uma formação infantil, que parece ninguém desejar, mas que faz-se presente no cotidiano.

Continua ..

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Bullying

Tal fenómeno sempre existiu, embora não tendo uma designação específica anteriormente, nos são dados a conhecer fatos semelhantes de violência verbal e física nas escolas, desde há muito.
Hoje, a visibilidade desses casos é muito maior, dada a evolução dos meios de comunicação, que transferem a noticia em tempo real para qualquer canto do planeta, o que antes era impossível.
Temos nos dias de hoje uma noção mais real da violência que grassa no mundo, o que nos traz mais assustados e preocupados, em virtude do ser humano observar a verdadeira dimensão do problema.
Aquilo que era dado a conhecer numa comunidade, e resolvido localmente, na sociedade atual, em virtude do desenvolvimento tecnológico e científico, tende a sofrer interferências de toda a ordem, que por vezes limita a ação de quem tem por dever decidir.
Tal limitação emerge de uma relação, entre o desenvolvimento atual, que não só produz bens de consumo, mas também conhecimento, que se debate com a interioridade de cada um, quanto á forma de sentir as coisas, e o mundo á sua volta.
A meu ver, existiu uma evolução do bem estar económico e social, uma produção superior de bens de consumo, e uma expansão dos meios de comunicação, em contrapartida deu-se a estagnação, quanto á forma como tudo isso é elaborado no psiquismo de cada indivíduo, face a uma lei psíquica incorporada na fase infantil, que não tem em conta a realidade.
Ou seja, na maioria dos casos, as pessoas não estavam, e não estão preparadas mentalmente, para lidar com alguns excessos, nem com a escassez, e por isso reagem a seu modo.
De onde resulta uma falta de adaptação a uma realidade exterior, mostrando-se incompatível com a sua interioridade, o que tende a transformar o social, num campo de batalha político e económico, cuja finalidade vai no sentido de obter a qualquer custo os frutos dessa evolução tecnológica e científica.
Pergunta-se : Serão as circunstâncias que despertam e violência ?
Ou, o indivíduo já contém em si o gérmen, esperando o melhor momento para deixar fluir todo o seu conteúdo ?
O que é fato é que se não existir a semente, o crescimento de algo é impossível, por inexistência de um corpo que contenha vida, que, por isso, não representa, nem se faz representar através de um sentido.
Desejo com isto afirmar, que a representação da violência, faz-se representar através de um corpo, que dela tomou sentido, restando saber, devido a quê, e através de quem foi incorporado tal sentido.
Falamos no desamparo da vítima, em virtude de não estar, ou ser protegida das agressões alheias, sejam verbais ou físicas, em que a motricidade ganha evidencia, em detrimento de uma atitude ¨ madura ¨, dirão alguns, que premeie a compreensão e a tolerância.
Mas não falamos do desamparo do agressor, desprovido do respeito e consideração pelo o outro, do qual também foi vítima na infância, que reproduz do mesmo modo á entrada da adolescência de forma mais violenta, o que lhe foi incorporado.
Aqueles desamparados no social, estes amparados por uma formação social estética, que lhes negou o sentido do respeito e consideração pelo o semelhante.
Se uns estão amparados por um sentimento de superioridade, outros estão desamparados por um sentimento de inferioridade, que os faz sofrer, e sentirem-se excluídos.
O desamparo deve ser entendido segundo o princípio da psicanálise, a que Freud se refere nos seus escritos, que tem um enquadramento diferente daquele que lhe é dado vulgarmente.
No fundo existe uma diferença considerável entre aqueles que estão amparados socialmente, e os outros, que estão amparados e incorporam a ideia de humanização.