Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

sábado, 15 de maio de 2010

Efeitos colaterais ( II )

Sabemos que existe um movimento ascendente, a partir do dia em que nascemos, em que só temos ganhos, e que depois dos quarenta anos, as perdas são inevitáveis e gradativas.
Casam os filhos, vai-se embora a formosura, os nossos pais estão a ficar velhos, a qualquer momento nos vão deixar para sempre, em que de tudo isto só nos resta a lembrança.
Toda essa atividade de partilha vai cedendo lugar a um vazio, que por vezes não sabemos como preencher.
Vem a aposentadoria e acaba o último elo com a atividade, que ocupava pelo menos oito horas do nosso dia.
Todo esse movimento ativo, que de uma maneira ou de outra vai-se perdendo, quando não substituído por outras atividades, coloca o ser humano no banco do jardim, ou sentado no sofá a ver televisão, em que aos poucos a inatividade vai tomando conta de si.
Sobra tempo para pensar que estamos velhos, e quando pensamos estamos mesmo, que de uma hora para a outra somos embrulhados num lençol e deitados á terra, que somos inúteis, que já ninguém nos quer por perto.
Passamos da satisfação e do prazer de viver, para o desprazer e insatisfação, em que transforma o nosso dia a dia numa angústia e tristeza.
Eis aqui a inversão de sentidos, em que de repente um ser humano que sentiu o pulsar da vida durante tantos anos, aos poucos deixa-se morrer, porque já não tem gozo em viver.
O movimento intelectual e a atividade motora, devido ás circunstâncias da própria vida, e de um certo modo de pensar e sentir as coisas, deixou de fazer-se, e como não foi substituído por outras coisas, a inatividade e a apatia começou a impor-se.
Não é por acaso que as pesquisas da terceira idade, apontam para o movimento, caminhada, dança, ginástica, natação, como forma satisfatória de lidar com o que resta da nossa vida.
A morte vai acontecer, mas ainda não se deu.
Até lá gozam a vida.
Gradualmente a falta de movimento nos leva á doença psicológica e orgânica.
O problema, é que muitos de nós recusa a atividade, quando entramos num processo de inatividade repetitiva.
Mas essa falta de movimento que podemos observar exteriormente, devido ao comportamento da pessoa, começou muitos anos antes interiormente, em que deixou aos poucos morrer a sua interioridade, sem encontrar alternativas para as sucessivas perdas.
O depressivo antes de surgir a patologia, que o faz imóvel, cansado e triste, em que pretende isolar-se de tudo e de todos, para sozinho curtir suas mágoas, já se encontrava abandonado em si mesmo, sem saber o que fazer com as sucessivas perdas.
Podemos perceber desse modo a falta de autonomia, e o vínculo a objetos exteriores sentido de forma excessiva, como fundamental para a sua existência.
De notar que o processo de autonomia no ser humano, começa com a formação infantil no seio familiar, que tantas vezes só é abalada, quando as condições são alteradas, e existe uma dificuldade em procurar outros caminhos.
Quando tal acontece surge a insatisfação e o desprazer, e os elementos químicos que produziam uma sensação de bem estar no corpo, não são ativados, e logo outros tomam o seu lugar, para fazer sentir ao corpo que algo não está bem, ou foi alterado.

O corpo não fala, mas com suas manifestações nos diz; muda de rumo, procura outro caminho, que este não serve e está a provocar-me insatisfação e desprazer.
O problema é que a pessoa que pensa, não sabe tantas vezes o que pensar, e o que fazer para procurar um outro rumo na sua vida, e deixa-se ficar no mesmo lugar, imóvel, estática, agravando a dor e sofrimento do corpo.
A pessoa começa a ficar preocupada com seu estado de saúde, que aos pouco vai-se degradando, em que o psiquismo cada vez mais se ocupa da doença, desprezando o ser ativo, abraça em definitivo a inatividade.
Ou seja, abraça uma causa, por impossibilidade de ser ativo de outra forma.
Talvez possamos perceber nessa atitude uma obsessão mental.
Continua na próxima postagem.

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