Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Suicídio aos 13 anos

Seth Walsh, de apenas 13 anos, faleceu nesta segunda-feira, depois de nove dias na Unidade de Tratamento Intensivo em um hospital de Bakersfield, na Califórnia. Ele sucumbiu após tentar o suicídio por enforcamento no quintal de sua casa, em 19 de setembro, em razão da perseguição e assédio que sofria na escola onde estudava, por ser homossexual.

A morte chocou a pequena cidade de Tehachapi onde Seth morava e estudava, na Jacobsen Middle School. O chefe da polícia local Jeff Kermode decidiu não investigar a morte e afirmou que as crianças choravam ao saber que o amigo tentou se matar por causa de suas brincadeiras. Ele também aponta que a escola não protegeu o aluno como deveria. Até os seus perseguidores não imaginavam que a história poderia acabar em tragédia.

Parentes e amigos lançaram vídeos de apoio ao menino no You Tube. A história do rapaz é apenas mais uma entre as tragédias criadas pelo preconceito e a discriminação contra homossexuais. O funeral de Seth está marcado para esta sexta-feira, e deve ter cobertura da mídia americana.
www.revistaladoa.com.br

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Violação

Mesmo casada vigiava o pai na sua leviandade desmedida, que nos poderia levar a considerar uma santa aliança com a mãe, a quem ele estaria traindo.
Por outro lado dizia que estava apaixonada pelo o pai.
Seria um daqueles casos, em que o seu desejo era estar no lugar da mãe ?
Ou, gostaria de ser seduzida por ele ?
A idéia da traição, a fazia espiar seus movimentos ?
Perguntas, que aparentemente parecem não ter sentido algum, mas que sempre fazemos a nós mesmos, quando não é visível a motivação, que leva a cometer determinadas atitudes.
O fato é que ele perante a presença da filha, insinuando que estaria a perceber suas intenções, refreava seus desejos.
Porque se prestaria ela a ser policial do comportamento do pai ?
Começou a ficar claro, que existia uma reprimenda á postura paterna, e que de certo modo era entendido pelo o pai como punição.
Mas porque a filha o desejava espiar e punir, seria o segredo bem guardado de todo este cenário.
A punição era exercida através do julgamento da filha, muito embora com seu olhar insinuante, e poucas palavras.
O que via no olhar da filha, ou recordava, que o fazia desistir da idéia de seduzir uma mulher ?
Talvez todo este comportamento tivesse uma relação com um medo interiorizado, que cometesse algum ato de violação, mental ou físico, para com uma menina inocente;
Ciúmes do pai ?
Talvez.
Mas existe uma outra realidade que não devemos descartar, e tentar perceber, dado que todos nós vive, mais ou menos debaixo de uma pressão social, devido a seus conceitos, mitos e tabus.
Nem sempre percebemos isso, e muito menos conseguimos determinar o seu peso na organização do psiquismo de cada um, que é sentido de forma particular e diversa.
O medo da descoberta de um violador no seio da família, pode encobrir um outro medo social, que sempre é despertado quando tal acontece, que se liga ao julgamento, que supostamente aquele pai também teria cometido tal ato com seus filhos.
Será que ele fez o mesmo aos filhos ?
Diz a vizinha linguareira.
A verdade é que todos nós somos assaltados em algum momento por essa idéia, muito embora não a verbalizemos.
Em psicanálise sabemos bem que a projeção corresponde a uma interioridade sentida, e que a violação dos filhos neste caso, seria muito provável
Sabemos por outro lado que, quem é violado, apresenta uma tendência para violar, e pouco sabemos do passado desse pai.
Era este medo incorporado que temia, que por um ato de violação cometido pelo o pai, viessem a descobrir, ou simplesmente a suspeitar, que também ela fora vítima de abuso sexual por parte dele.
Como podemos saber quais os sentimentos despertados na altura que aquela criança foi seduzida, e submetida a práticas sexuais ?
E como entender os sentimentos gerados na mulher adulta, que a fez espiar o pai ?
Entre esses dois momentos, o que aconteceu na história de vida desta mulher, que a fez atuar dessa forma, que não de outra qualquer ?

domingo, 26 de setembro de 2010

A vítima

Você diz que tem medo da miséria, que é um fracassado, que nada dá certo, e ao mesmo tempo tenta recusar a ajuda, pensando em desistir da análise.
É como se tivesse uma doença que pode ser curada, em que emerge um desejo interior que o impulsiona a procurar ajuda, e outro que se opõe, que a nega.
Que desejo é esse que nega a si mesmo ?
Somos levados a considerar a existência de duas forças interiores agonizantes, que lutam entre si, embora nenhuma delas saia vencedora, provocando no indivíduo um mal estar, e uma ansiedade desmedida, que conduz o sujeito á exaustão.
A sensação de impotência advém dessa luta, que bem vistas as coisas não levam a lado nenhum, que perante a impossibilidade de deixar de lutar, procura os culpados para tanta agitação.
Nada é como eu quero, desabafa o sujeito.
È o ¨ Eu quero ¨, a que podemos acrescentar ¨ posso e mando ¨, que quando desautorizado, dado que um outro não satisfaz seus desejos, o faz cair da cadeira da onipotência, e estatelar-se no chão, do qual parece ter alguma dificuldade em erguer-se.
Quanto maior a frustração mais intensamente é sentida a onipotência.
A frustração corresponde ao desamparo, ou melhor é equivalente, dado tratar-se apenas de uma sensação, que saindo frustradas suas expectativas, interioriza que o mundo acabou para ele, que deixa de fazer sentido.
A segurança está no outro, por isso o acusa, na tentativa de endereçar a culpa, libertando-se de um sentimento de culpa, recriando a criança vitimizada pelo o desamparo a que foi votada, pelo menos assim julga.
Hoje venho dizer-lhe que não estou bem, quero ficar sozinho, e que a análise fica para a semana que vem.
Faça favor de entrar, ou por acaso não quer honrar seu compromisso ?
Entrou, não a contra gosto, dado que nem sequer insistiu, e não mais falou da sua indisposição momentânea.
São estas atitudes que dá que pensar, e que nem sempre são de fácil leitura.
Porque necessitaria do meu mando ?
Porque não contrariou a minha voz de comando ?
Porque a segurança e o poder está no outro, que não nele, que tem necessidade de observar para sentir-se seguro e tranquilo.
Sentiu-se amparado.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O mito filosófico da dor

Ao longo dos séculos foi criada a sensação nos seres humanos, que tem que existir dor para o mundo ser melhor, ou, que através da dor o indivíduo aprende a ser mais dócil, ou pelo menos temperado nas suas emoções.
A temperança parece estar na dor, pelo que sem dor, não existe felicidade, nem amor, O sacrifício em prol de qualquer coisa, que alguém disse ser importante, para alcançar a felicidade, é a pedra de toque, senão de toda a filosofia de vida, pelo menos de grande parte dela.
Mas curioso é constatar que a dor, pressupõe a existência da ofensa, da agressão, seja verbal ou física, da perda do sentido de vida, emergindo o sentido de morte, como prenúncio de uma morte física anunciada.
A partir da inevitabilidade da morte física, alguns senhores construíram fantasmas para nos atormentar a vida, nos acenando constantemente com o espectro da morte.
Como não pensar nela ?
Se a morte é o castigo, a punição, para quem está vivo, e deseja viver, o diabo e os fantasmas, são a morte virtual, que tende a tomar o corpo do indivíduo.
A dor que é expressa no corpo, apresenta a particularidade de prevenir o indivíduo de que algo está a ofender o corpo, pelo que deve tomar as devidas precauções, para que possa ser levado a cabo um processo de evitação.
Mas como evitar uma perda ?
Como evitar ser agredido ?
Se falarmos na relação do indivíduo com o mundo e os objetos exteriores, ele sabe muito bem como evitar a dor, mesmo correndo alguns riscos.
Mas como evitar a dor, enquanto criança, que se sujeita a um poder superior, seja mãe, ou pai, que tenta infligir a dor ao seu rebento, cuja finalidade é quebrar a sua energia, o vergando á sua própria vontade de poder ?
À criança não restam alternativas. O mesmo já não poderemos dizer do adolescente, ou do adulto.

Desse modo repressivo, nos é dado a perceber que a felicidade da criança só é conseguida quando desiste da idéia, a favor de uma alheia, a dos pais.

Como o indivíduo foge da dor, como o diabo foge da cruz, aprendemos desse modo a fazer a vontade do outro, deixando para trás todos os nossos desejos.
Você agora está feliz, sem dor, e os momentos de felicidade regressam aos poucos, muito embora seja um dependente e submisso, que para o caso não tem importância alguma, o que importa mesmo é a conversão, sujeitando o outro á nossa vontade.

A dor como tentativa de sublimação não existe.

Dor é apenas dor, física ou psíquica, sem nenhum outro significado, indicador de um certo mal estar, como algo estranho sentido no corpo, que por ele é expresso.
Se o ser humano aprender a amar, através da dor, o que será desse amor, e de onde ele provém, senão de um ressentimento gerado pelo o mal estar, ou pelo ódio, que na impossibilidade de viver sem amor, o deseja de qualquer forma.
Mas se nos recordarmos do objeto primevo que nos deu amor, a mãe e o pai, entendido como afeto, como sendo o mesmo que nos afetou na carne e na alma, somos adultos feitos crianças, que trazem dentro de si, o amor e ódio, que tende a transportar para as futuras relações.
Constatamos então a dificuldade de fragmentar, o que se tornou inteiro pela via da formação infantil, em que na mesma pessoa coexiste o amor e o ódio.

Os pais fragmentaram o que estaria inteiro, desdobrando a organização psíquica, em que de um lado estão as coisas boas e desejadas, e do outro, as ruins não desejadas.
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Como os fragmentos, restos de um corpo inteiro, não podem ficar separados, a não ser no imaginário, são colados, associados, formando um corpo diferenciado do primeiro, mas que se tornou inteiro de novo.
Assim, o corpo é a reprodução, não só da genética e da biologia, mas também a reprodução de uma formação infantil, que é incorporada constituindo-se em lei.
Desse modo, o ser humano é constituído pelas coisas boas e ruins, quando se pretendia ser apenas invadido pelas coisas boas, que fariam dele um ser humano exemplar.

O que fazer com a dor ?
È o que ocorre de seguida.
Aí, cada um apresenta uma forma particular de sentir e entender as coisas, que leva o sujeito a ter determinadas atitudes, que podem ser semelhantes, ou até mesmo opostas.
Nesta altura sobe a palco a dialética, tentando justificar o ato, mediante os pressupostos da vingança, da retaliação tantas vezes, em que se evidencia o poder reativo, provocado por uma infância infantil onde teve lugar a agressão física ou verbal.

Mas o que é a dor ?

Não será apenas um sinal do corpo, proveniente de uma agressão física ou mental ?
Quando a sociedade e os filósofos não conseguem separar a morte física dos acontecimentos psíquicos, nos estão a dizer, que estamos mortos, muito embora vivendo.

Quando nos dizem que uns envelhecem bem, e que outros, o envelhecer é para eles um tormento, do que estão a falar ?
Provavelmente de uma morte anunciada, de que não sabemos a sua origem, em que os aspectos circunstanciais são desprezados, a favor de uma dialética do sentido de vida e morte, que não tem tradução objetiva.

Nos querem fazer crer que objetivamente aquilo que nos atormenta é a morte e a finitude, e que por isso estamos condenados, entenda-se condicionados, a pensar nela o tempo todo, em que o sentido de morte supera em muito o sentido de vida.

Será mesmo assim ?
De tal forma de pensar, nasce a convicção que o ser humano é a única espécie ao cimo da terra, que sabe que vai morrer um dia, retirando aos seres vivos a possibilidade de fazer tal dedução, perante a visibilidade da morte de seus companheiros.
Na prática podemos observar mediante alguns gestos animais, que isso não é verdade, perante o horror da possibilidade da morte.
Para que serviria então a agressividade animal, senão para fugir da morte anunciada ?.

Talvez seja a partir dessa dor, que lhe é garantida pela visão prometida da morte física, e da perda do objeto de afeto, que provoca no ser humano o cepticismo de uma vida sem sentido, porque refugiado debaixo daquele que lhe promete a salvação.
Já não é a dor que faz sentido, mas o objeto que a provoca, que tem de ser adorado, para deixar de sofrer a agressão física ou mental.
Assim era nos tempos primitivos.
E assim continua nos tempos de hoje.
Como se não fosse possível um parto sem dor, daí nascendo um degenerado e malfeitor.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Don Giovanni - José Saramago

¨A minha idéia é que Don Giovanni, ao contrário do que sempre se diz, não é um sedutor, mas antes um permanente seduzido.
A simples presença de uma mulher perturba-o ¨.

É certo que Don Giovanni é um fraco com as mulheres, mas ¨ compensa-o ¨ bem com a sua força ética no momento em que é tentado pela facilidade hipócrita do perdão.
Don Giovanni, o sujeito imoral por excelência, é um homem fiel á sua própria responsabilidade ética.
Fiel á sua posição fundamental nos confrontos com todas as ¨ verdades ¨ constituidas.
A única maneira de ¨ vencer ¨ Don Giovanni é negar, contra toda a verdade, as suas vitórias amorosas.
Don Giovanni é um mentiroso, não seduziu uma única mulher.
Este texto o podemos encontrar a pág. 95 – do seu livro – Don Giovanni ou o dissoluto absolvido.

Neste pequeno trecho do seu livro, podemos retirar material suficiente para uma análise mais profunda, daquilo que podemos entender por ser humano, seu pensamento e organização psíquica, que cada um garante aos mais diversos assuntos.
Não existe o homem puro, dado tratar-se de uma impossibilidade, como a perfeição que pode ser perseguida, mas nunca alcançada.
Existe de fato um homem mesclado, em que são evidenciadas contradições e convicções, ancoradas em desafetos e afetos.
É esse modo afetivo em permanência, que Saramago trata como necessidade assumida por Don Giovanni, que de sedutor passa a seduzido, como se fosse um encanto, que na realidade percebemos tratar-se de uma obsessão psíquica.
A sua imoralidade face á sociedade de então, proveniente de suas relações afetuosas e sexuais com muitas mulheres, não o impede de recusar o perdão que lhe é proposto, mantendo-se fiel aos seus desejos mais íntimos, arcando com essa responsabilidade ¨ ética ¨.
A moral e imoralidade passeiam juntas na interioridade do ser humano.
Ou, apenas será imoral, porque a sociedade assim o determina ?
A última parte deste texto, é para mim fundamental, dado que é a tentativa de derrubar toda a estrutura de organização psíquica de Don Giovanni, roubando-lhe as vitórias amorosas.
Saramago percebe, que Don Giovanni passaria de forte a fraco, de um ser que teve vida, para um homem sem vida, em que a obsessão não o deixaria viver de outra maneira, ficando desse modo esvaziado de uma forma de sentir as coisas e o mundo, que assim sendo não faria qualquer sentido.
Don Giovanni não poderia negar a sua própria vida, nem as mulheres que a garantiram.
Podemos perceber como é relevante para o ser humano os objetos, as suas conquistas, que uma vez perdidos, ou colocados em causa, é gerador de conflitos internos exacerbados.
A recusa do perdão, será pois a recusa de um sentimento de culpa, face ao afeto, e á relação sexual, que, no caso de Don Giovanni, não é sentida como imoral, mas percebida como coisa normal da vida.
O que parece que Don Giovanni nos quer dizer, é que aquilo que é próprio da natureza, não pode ser motivo de culpa, por conseguinte não merece o perdão.
Nestas condições a ausência de um sentimento de culpa não poderá ser entendido como algo que possa conduzir o ser humano ao transtorno psíquico, e como tal não poderá servir de baliza para determinar seja o que for, sem que possa ser entendido num determinado contexto.
O ser convicto, mesmo a prepotência e a intolerância, nem sequer a meu ver, podem ser entendidas desse modo, mas apenas condições incorporadas, que podem ser frustradas devido ás circunstâncias, emergindo de uma relação a possibilidade do ser humano ficar transtornado.
Consideremos então, que tudo quanto é próprio, e dado ao ser humano não funciona como verdade absoluta, mas apenas como possibilidade, que outras formas relacionadas, pode provocar a instabilidade emocional no sujeito.
É um cenário provável, não a todo o momento, mas em momentos que são determinados pelas circunstâncias, em que a capacidade de adaptação a novos cenários, é o ponto vital da mutação, que só parece apresentar uma finalidade, a satisfação, o bem estar interior.
A culpa nestes casos funciona como travão á mutação, provocando um estado de estagnação, posicionando o sujeito no conflito, colocando em dúvida os seus atos, ficando fixado nas imagens passadas julgadas impróprias.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

inconsciente

Problemáticas IV
- O inconsciente e o ID –
· J. Laplanche
Autor do livro – Martins Fontes

Os dois modos de escuta. As lacunas do discurso consciente.
A noção de formação no inconsciente.

O inconsciente na análise, não se revela de forma homogénea, mas posiciona-se por debaixo daquilo que é manifesto.
Nem é encontrado num segundo nível, que acompanharia de forma contínua os atos ou as palavras manifestas, mas há sempre alguma coisa que se revela em pontos particulares, a que se poderia chamar pontos de carga, é o que decorre especialmente da noção de ¨ formações ¨ do inconsciente, ou da imagem das lacunas, na medida que essas formações – pensemos num lapso que se intercala numa conversa ou numa aula – provocam uma ruptura num texto que, por outro lado, pretende ter certa coerência.
Se o inconsciente não está em toda a parte com a mesma densidade, se ele não está presente como um texto paralelo, o que seria a significação inconsciente do que estou realmente dizendo, mas aflorando aqui e ali
como uma falha do meu discurso, então significa que ele tampouco pode ser escutado e decodificado – como expressei naquele texto - ¨ em simultaneidade ¨.
Fim de citação.

Procuro e não te encontro, seria a frase ideal para definir essa tentativa de busca do inconsciente.

Se ele não se encontra no discurso, nem na decorrência de um processo analítico, de forma homogénea, se por outro lado, não o encontramos num segundo nível do discurso, que é sempre futuro, o que podemos deduzir, se, tal como diz Laplanche, nem tampouco pode ser escutado e decodificado ?

Porque sentido não pode ser escutado e decodificado, mas apenas sentido, quando o indivíduo não consegue definir de onde é proveniente tal sentido.

sábado, 18 de setembro de 2010

Sarkozy

Sarkozy
- O poder mudou de lugar.

Era suposto, dada a evolução tecnológica e científica, a produção de conhecimento e os meios de comunicação ao dispor do ser humano, que poderia existir uma forma diferenciada de pensar, relativamente a homens como Hitler, Estaline, Bush, ou a qualquer bárbaro de que reza a história.
Era suposto, dizia eu, mas não, o que podemos observar, se a isso podemos considerar evolução, é quanto ao métodos utilizados, que antes não existia qualquer sentimento de culpa por declarar a guerra, perseguir e matar todos aqueles que não pensavam como eles, e hoje o poder político serve-se do legislativo, e da manipulação da opinião pública, para levar por diante a sua vontade de poder.
A democracia ainda é uma versão ¨ light ¨ do totalitarismo de antigamente.
Da matança da inquisição, que é posterior á degola dos inocentes, surgiu Hitler, com a mania do idealismo racial, que todos sabemos bem como terminou, mas que a maioria não sentiu na pele os efeitos dessa verborreia mental, constatamos nos dias de hoje, que alguns andam entretidos com as vestes dos outros.
Não obstante tantos exemplos, em que a tentativa de exclusão de formas culturais, religiosas e raciais, deu lugar ao extermínio, continuam os senhores da guerra em democracia a alimentar o mesmo tipo de pensamento.
Disse, o mesmo pensamento, e não a mesma forma de agir, porém, o que podemos constatar é que por gestos e palavras ¨ malditas ¨, o efeito produzido parece ser o mesmo, muito embora gerando conflitos menores.
A triste conclusão a que podemos chegar, é que aquilo que é condenável e condenado, é atentar contra a vida do semelhante de forma violenta, quando não existe arte e engenho para a coberto de uma ¨ boa ¨ razão invadir um país alheio, e levar a morte e a desgraça a casa dos outros.
Os resíduos colaterais, pensamos nós, são algumas mortes deste lado, exterminando o opositor, exaltando o patriotismo, que tende aos poucos a desvanecer-se, quando as famílias começam a receber os caixões, os inválidos e os transtornados, em que o avolumar da tragédia aos poucos vai causando algum mal estar na opinião pública.
Ao fim de alguns anos, revelando toda a impotência de uma nação, antes poderosa, a maioria começa a inverter a sua posição inicial, e já pede a todos os santos e a Deus, que a guerra acabe.
A ilusão de um poder. Poder, que nenhum país parece ter, o podemos observar na debandada das tropas invasoras, deixando atrás de si um rasto de destruição, sofrimento e muita dor.
Mas como começa uma guerra ?
Pela formação de guerrinhas que alastram até tomar uma proporção tal, que já ninguém consegue segurar, porque recuar não parece que seja possível, em que a paz tende a revelar-se quando fartos de sangue, e nada mais resta, que possa ter importância.
E como começam as guerrinhas ?
Através de idealismo tolos, como aqueles que tiveram homens que conduziram a humanidade pelo o caminho da destruição.
Os fenómenos desencadeados são os mesmos, embora com outra intensidade.

A palavra chave, no meu entender, que deve presidir a todo o processo formativo e á relação humana resume-se deste modo – Respeito e consideração pelo o outro.

Tudo o resto é paliativo, retórica, dialética, na tentativa de justificar um ato de agressão, de violação, ou um sentimento de posse exagerado de idéias absurdas e valores engendrados, como os melhores.

O mesmo será afirmar que todo aquele que exerce uma pressão sobre o outro, seja qual a forma, na tentativa de o vergar á sua vontade de poder, o desrespeita, e não o considera como um ser humano, que possui a liberdade de ser tal como é.
Retirando o poder reativo, que é legítimo em caso de defesa de sua própria vida, não podemos descortinar outros motivos, que possam conduzir o ser humano a atitudes reativas, repressivas, de violação, e até mesmo violentas.

Só que a repressão, a violação, e a agressão geram ressentimentos a quem é dirigida, e disso parecem esquecer os senhores da democracia, que de vez em quando recebem o troco em forma de terrorismo, que engole inocentes, como aquelas balas perdidas, que encontram alguém pelo o caminho.

Quando a França ficou destruída pela segunda guerra mundial, a reconstrução foi dolorosa, ganhando novamente vida, não só através de suas gentes, mas também com milhares de emigrantes, que fizeram da França o país desenvolvido de hoje.
Claro, que ninguém questionou nessa altura, argelinos, turcos, portugueses, árabes, ateus e fariseus, porque era tempo de reconstrução e evolução, de desenvolvimento.
Antes, fraco deixou-se invadir por pessoas oriundas dos mais diversos pontos do planeta, com costumes culturais e religiosos diferenciados, que serviram a um certo desenvolvimento, hoje, fortalecidos, questionam o véu islâmico, que não de grinalda, mas que vem dar no mesmo, porque ambos são símbolos sagrados, que o legislativo de França tenta proibir.
Aliás, tal tentativa já vem desde 2001 ganhando força.
Julgam-se agora suficientemente fortes para exercer o seu poder repressivo, tentando exterminar, o que antes não foi colocado em causa, vá lá saber porquê, ameaçando com
prisão o marido, que obrigar a esposa a usar o referido véu tapando o rosto.
Acena a bandeira da dignidade da mulher, decerto francesa, obtendo do outro lado como resposta, a virulência do discurso religioso, chamando de adúltera a sua esposa atual.
Senhor Sarkozy como vai a violência doméstica no seu país ?

O mundo ocidental é detentor da verdade e da razão, eles, os islâmicos, são o podre da maçã, que é necessário extirpar.
Qual a diferença dos tempos de Hitler para os de hoje ?
Apenas a guerra ostensiva contra o mal que era necessário extirpar, que hoje é processada através da linguagem, e do uso do legislativo.
O pensamento é o mesmo.
Ora, deixai os pobres de espírito curar as suas maleitas, enquanto nós curamos as nossas.
A tentativa de diferenciação entre o bem e o mal, que parece ter novos protagonistas substituindo o policial americano, pela união Europeia, em que do mesmo modo julgam ser os detentores da verdade, e lhes assiste a razão de passear pelo o mundo sonhado por eles, á sua imagem e semelhança, tentando os demais, a seguir suas ¨ idiotices ¨, que vale sempre uma bomba, algumas mortes, e muita agitação social, para tudo continuar como antes.
Com suas atitudes garantem a eternização da guerra.
Tal diferenciação entre o mal e o bem, entre a dignidade, o que é digno, e aquilo que é supostamente indigno, dado que tapar a totalidade do corpo, ou praticar nudismo, ou suruba, devemos considerar casos extremos, que por isso mesmo, quem é intolerante e prepotente, posiciona-se sempre de um dos lados da barricada, tentando derrotar o outro lado.

Esquecemos porém, que a mulher islâmica é tão digna quanto qualquer mulher, mediante seus próprios costumes culturais e religiosos.

Um dia, se for caso disso, ela saberá dar a resposta adequada, como o fizeram a juventude nos anos sessenta, e mais tarde a mulher, com seus movimentos de liberdade feminina.
O mundo precisa de tranquilidade, de gestores de um poder público, que coloquem ao serviço da sociedade todo o saber produzido em ciências humanas, e não de benfeitores, e muito menos de manipuladores da opinião pública, sempre ávida por poder.

Você saiu em defesa dos seus valores, e os outros vão ficar apavorados perante todo o seu poder ?

Esse tem sido o calcanhar de Aquiles dos homens que exercem o poder, por ingenuamente considerarem que podem mandar nos costumes e na religião alheia, em que a resultante, como podemos observar através da história, é a guerra e a miséria, em nome do amor e da paz.
Não sei que amor será esse, que se serve da violação dos costumes culturais e religiosos.
Não sei que paz será essa, que só conduz o ser humano á guerra.
Mas vós, de saber mais elevado, nos querem fazer crer, que só através da guerra é possível chegar á paz e ao amor entre os homens, tal qual os homens das cavernas.
Não sei do que falam, mas tento entender porque o fazem.
Vós não cabeis no terno e gravata, que lhes enche o peito de uma lufada de poder, que apenas será uma sensação, quando observam não ter poder algum, caindo na real, quando os terroristas mandam pelo o ar qualquer estação de metrô, ou terminal ferroviário, semeando a morte.
Mas aí ganha força o ressentimento, e porque cego não enxerga, mesmo vendo bem, intensifica-se a repressão, e a vigilância, que um dia, não se sabe como, nem quando, pode originar um conflito global.
Vós sois fracos, dando a sensação de uma força poderosa, que de fato não existe, em que o abismo é já ali.
Continuem a queimar o Alcorão, mas não esqueçam que existem muitas Bíblias que podem ser queimadas, mas quem se queima na realidade, não é Deus, mas os homens.

Ainda não foi compreendido que devemos ser tolerantes com as tolices dos outros, para que tolerem as nossas.

Haja Deus para aguentar tudo isto.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O mito da razão

¨ Não há razão no mundo perfeito ¨ - William – Metendoobico.blogspot.com

Mas parece existir uma razão para considerarmos o mundo perfeito

Razão, é uma forma emergente de uma relação entre duas quantidades, ou entre dois números, em que o livro de razão, revela o deve e haver, apresentando um resultado.
A resultante é a verdade, ou melhor a realidade de algo, que pela razão foi revelado.
Mas como resultante de duas quantidades, só podemos entender a razão como dedução da diversidade, que é sempre subjetiva, e o que nos é revelado de fato, é um rácio, um número, que serve de referência, que varia de acordo com as forças em presença, e suas quantidades, que não qualidades.
Não há razão no mundo perfeito, porque ele em si mesmo é a razão existencial.
A razão de que o homem fala é extraída de vários pensamentos, que são sempre formas artificiais, de entender as coisas e o mundo.
O mundo não é perfeito, nem imperfeito, nem no meu entender, está dividido entre o bem e o mal, entre o paraíso e o inferno, ele é tudo isso, e por isso ele é perfeito.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A tirania do poder

Uma mãe que não tem disponibilidade económica para comprar o básico para alimentar seu filho, mas contudo é carinhosa, afetuosa e protetora, tenta reconfortar o filhote, ao mesmo tempo, que espera obter aquilo que possa satisfazer as necessidades de seu filho.

Num outro cenário, nos é dado a conhecer uma mãe, que não tem essas dificuldades, mas que emprega a agressão verbal e física, cujo finalidade é negar o objeto de desejo a seu filho, muito embora em outras ocasiões demonstre carinho, afeto e o proteja.

No primeiro caso, o filho é afetado pela ausência de algo que o possa satisfazer, mas que percebe do mesmo modo afetar a mãe, em que a afetação não tem rosto, nem a criança sabe de onde surge.
A criança neste caso é afetada pela a ausência de um objeto exterior, e por ele tende a reclamar, em que é reconfortada pela a mãe.

No segundo caso, o filho é afetado, não pela ausência de um objeto exterior, que eventualmente realizaria seus desejos, garantindo a satisfação, mas através da presença de um objeto / mãe, que o agride verbalmente, e por vezes fisicamente, cuja finalidade é a negação do que o possa satisfazer, muito embora em outras ocasiões demonstre carinho, afeto e o proteja.
A criança neste caso é afetada pela a presença de um objeto / mãe, devido a suas atitudes agressivas e até mesmo violentas, em que a afetação tem rosto, e tem o poder de o afetar.
A criança reclama da mãe o objeto, mesmo sendo agredida, o que é diferente de reclamar o objeto, sendo reconfortado pela mãe.
A idéia que parece evidenciar-se perante tal atitude, é que a mãe tem acesso ás coisas, negando ao filho a mesma oportunidade de as possuir.
Destes exemplos, podemos observar sentimentos e posturas diferenciadas, que são organizadas no psiquismo de diferentes formas, que apresenta consequências no futuro da criança.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fragmentação

Fragmento é uma parte de um corpo, que estaria inteiro num determinado momento.

Fragmento é uma, ou diversas partículas, que uma vez desligado de um corpo, passa a constituir um outro corpo, embora com características semelhantes.

Perante a idéia da fragmentação, temos a sensação que algo pode cair em pedaços, estilhar-se, partir-se, destruir-se, como a visão extrema de um fenómeno, que também pode ser processado de forma extremamente lenta, progressiva e tranquila.

Fragmentar é dissociar, em que uma das partes foi constituída de forma autónoma em relação a determinado corpo, que pode dar-se de diversas maneiras obedecendo a determinados princípios.

Quais serão ?

Lembremo-nos por exemplo, que o fogo produzido por um pau de fósforo, ou o incêndio que podemos observar numa mata, tem a mesma origem fenomenológica, embora nas suas devidas proporções, em que no primeiro caso nos é garantida a sensação de controle, e no segundo caso entramos em aflição, porque temos a noção da nossa pequenez, perante um fenómeno grandioso, que temos alguma dificuldade em controlar.

O ser vivo de acordo com sua própria estrutura apresenta limites na relação com os objetos exteriores, e os fenómenos daí decorrentes.

Entre as espécies tal pode ser observado, mas também entre os indivíduos que a constituem nos é dado a perceber diferenças evidentes, pelo que devemos considerar a existência de características genéricas e particulares, que são inerentes a qualquer ser vivo.

Evidenciam-se as particularidades como a forma periférica que é dada a relação com as coisas e o mundo exterior, e as generalidades, como a essência de um corpo, que contém em si mesmo a vida, que obedece a determinados princípios biológicos, e a forças energéticas universais.

Tais particulares, designo de circunstanciais, dado que são adquiridas através de uma relação posterior á própria existência do corpo, que variam de acordo com o meio ambiente em que está inserido.

A questão que se levanta de seguida, é que as circunstâncias, uma vez e outra experimentadas, devido a um processo de repetição, tendem a ser incorporadas, constituindo um novo sentido, instinto secundário, em que passa a existir uma vontade de poder interior sentida, servindo-se das mesmas condições energéticas do corpo.

Tal fenómeno constitui a base da formação do que designamos por inconsciente.

Em última análise, o sentido será o fragmento de um corpo energético.

domingo, 12 de setembro de 2010

Crianças rejeitadas

- Curitiba – cursos para adoção de crianças.

Grande reportagem da Globo, 03-Set.2010-divulgou um trabalho na cidade de Curitiba, cursos para os adultos que pretendem adotar crianças que estão em abrigos, que conseguiu reduzir a zero a taxa de rejeição.
Um dos meninos que fora rejeitado pela família adotiva, e que hoje está perfeitamente integrado num outro núcleo familiar, a chorar declarou perante as câmaras da TV :

- Que teria eu de errado, para ser rejeitado.

Foi, para mim, um momento de grande emoção, sabendo que estas crianças já foram vítimas de abandono por parte de seus pais biológicos, sentem-se como cachorros em abrigos, dos quais desejam sair, cuja intenção é encontrar a paz e a tranquilidade num ambiente familiar que os possa acolher.
Segundo as estatísticas, nos abrigos encontram-se 5.000 crianças á espera de uma nova família.

Espero sinceramente que estes cursos possam ser alargados ao pré-natal.
Todos os dias somos confrontados com o abandono de crianças recém nascidas, e o que é pior, algumas despedaçadas na lixeira, que pagaram com a vida, a ousadia de terem nascido.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Deus é mulher

Por mais que os machões evidenciem seu corpo sarado, toquem o trombone da fanfarronice da superioridade, em que o poder parece estar na posse da fêmea, ou do dinheiro, que vem dar no mesmo, não conseguem disfarçar a sua fraqueza, perante a ¨ endeuzada ¨, mulher, que os atenta, e os tenta proteger debaixo de suas saias, para que não cometam tantas atrocidades e loucuras.
Vem a isto a propósito de uma cena inusitada num palco de guerra, Israelitas / Palestinos, em que um grupo de mulheres, de um, e do outro lado do conflito, contrariando os respectivos poderes políticos, juntaram-se em redor da mesma mesa, num repasto, quiçá ¨ satânico ¨, mandando um recado aos homens ¨ poderosos ¨, que o afeto tende a superar qualquer adversidade.
Tive a oportunidade de escrever, numa das muitas crónicas de que era autor para um jornal português, durante alguns anos, que deixei mãe branca a chorar, quando fui empurrado para uma guerra colonial – Guiné Bissau, e que fui encontrar mãe negra chorando a morte de seu filho.
A dor, o sofrimento, as lágrimas de uma mãe, não tem cor, nem credo, não importa sequer de que filho estejamos a falar, nem a mãe que está chorando, apenas devemos perceber um laço, que se entrelaça, e envolve o mistério da criação, que parece não estar ao alcance da compreensão humana.
Se Deus é a força divina e o equilíbrio, então devo admitir que a Deusa mulher, contém em si mesmo, as qualidades necessárias para apaziguar a brutalidade dos homens.
Não desejo, pelo menos neste artigo, discutir como ela promove tal equilíbrio, de que instrumentos se serve, mas apenas vivenciar essa idéia de equilíbrio, de um sentido de vida, que tenta retirar do psiquismo do homem, o sentido de morte.
Se eu constatei no palco de guerra, que o afeto tende a superar qualquer tipo de animosidade, também o leitor pode aperceber-se disso, através destas pequenas atitudes, que mães e mulheres fartas de guerra, tentam preservar os seus entes queridos da morte, e da miséria.
A mulher é de fato aquela que tenta manter o equilíbrio na família.
Porém,não significa que o consiga na maioria das vezes.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ciência da motivação

Ciência da motivação

O que é isso ?

De vez em quando surgem novos posicionamentos em relação ás coisas, o que não significa necessariamente novas idéias, porque elas já existiam, mas antes uma disposição para levar á prática, o que antes estaria no fundo do baú, ou amarrado a determinadas normas.

Esquecimento ?

Não. O que se passa é que o século XXI, por diversas razões evolutivas permite a excentricidade, que não tem relação alguma com maluquice, distúrbio mental, mas com um movimento nascido no interior, que sem amarras é enviado para fora do indivíduo, em que a criatividade cada vez mais é indiferente ao julgamento.
É uma forma de autonomia, que é indiferente á crítica, e ao julgamento, quando esta está amarrada á recompensa, em que a sensação, quando ela não é conseguida, é de punição.
No mundo dos negócios é mais fácil a exteriorização da criatividade, dado que é evidente a procura de novos nichos de mercado, cuja finalidade, e visibilidade imediata, é o bem estar económico e social.
Na formação infantil tal visibilidade não é imediata, dado que ela vai dar a conhecer-se alguns anos mais tarde, pelo que existe uma dificuldade em conectar as atitudes formativas, com os resultados que cada um possa obter.
No meu blog tenho feito diversas referências aos malefícios da repressão na formação infantil, que ao contrário do que algumas pensam, ou na sua grande maioria, condicionam o movimento, e aniquilam a criatividade, conduzindo o ser humano á obsessão, ao transtorno psíquico, e a um mal estar interior.
Aliás toda a literatura Freudiana aponta nesse sentido, bem evidente em vários escritos de Freud.
Para os menos atentos direi que estes novos ¨ conceitos ¨, são emergentes do estudo da psicanálise, ou pelo menos nela se enquadram, que se distancia da psicologia tradicional, do condicionamento.
É curioso notar no entanto, que a idéia da motivação, excluindo o recurso á recompensa e á punição, começou a ganhar corpo tendo em conta o que ela mesma contesta, a recompensa por uma vida mais saudável, criativa, autónoma, com total liberdade do pensamento, em que se obtém uma gratificação interior, uma auto satisfação.
A recompensa vem de dentro, em que o sujeito dá asas á sua imaginação, em que novas associações de imagens e idèias podem surgir, conferindo ao indivíduo a total liberdade, autonomia, para criar, em que a única recompensa é a sua satisfação, e bem estar interior.
Notemos que desse modo, o ser humano sente criar algo, como valorização de si mesmo, que os outros podem aproveitar, se o desejarem.

Desta forma o ser humano consegue ser altruísta.

No mundo do marketing e do sistema financeiro, é necessário encontrar alternativas ao mercado, tantas vezes saturado por métodos tradicionais, que esgotados, já não correspondem aos anseios dos consumidores, nem ás necessidades dos empresários.
A criatividade é a resposta possível que tenta impedir a estagnação, o condicionamento, em que a diversidade é a solução, e não parte do problema.
Por diversas vezes referi quanto é prejudicial o pensamento único, o absolutismo, que conduz á uniformidade, e o sujeito ao conformismo, e por conseguinte á estagnação, que confere ao indivíduo uma sensação de impotência.

A recompensa vinda do exterior, como forma de atingir uma meta pré estabelecida, promove a ponte entre dois objetos e um objetivo, num mundo de intenções, em que o movimento é fechado, condicionado, que por isso mesmo é finito.
Qualquer movimento finito apresenta uma meta, um fim de linha, que uma vez não atingido, causa frustração, sem que exista um escape para uma atividade diferenciada.
Causou alguma indignação, quando defendi que a recompensa na formação infantil deve ser entendida como chantagem emocional, a que a criança não deve ser sujeita, e que por isso mesmo deve ser banida da sua formação, e educação escolar.

E porquê ?

Porque retira a possibilidade de uma vontade de poder interior de uma forma natural, a tentando substituir por uma reação perante uma atitude exterior, desde que exista recompensa, e deixando-se ficar aquietado, perante a visibilidade de uma punição.
A criança corre atrás da recompensa, para não ser punido nos seus desejos.

Você tem direito ao chocolate, se comer a sopa.

É segundo este aspecto da formação, que continuamos a ser influenciados pelos estudos de Pavlov, pelas experiências com macacos e ratos de laboratório, em que estamos posicionados numa psicologia animal, que não humana, nem a ela somos conduzidos através desses métodos.
O problema maior é que existem crianças, cujo instinto de negação de negação é tão evidente, exaltado, exacerbado, que se privam daquilo de que gostam, para privar o outro do seu desejo.
Percebemos claramente nesta atitude o bloqueio de qualquer movimento, tanto exterior, quanto interior, que nos faz questionar, onde se encontra a atividade dessa criança.
Mas quando isso não acontece, elas na mira de obter o chocolate, que é o seu desejo, se obrigam a fazer o que não desejam, em que a vontade do outro prevalece, em relação á sua própria vontade interior.
A ansiedade eleva-se em virtude de estar sujeito a um outro toda a sua atividade, e é esvaziada quando é realizado o seu desejo.
A ansiedade é devida ao perigo que um outro incute, que pode impedir de realizar os seus desejos, mediante exigências, que por vezes não pode cumprir, ou lhe é difícil fazê-lo.
Porque o mundo dos negócios fala mais alto, em virtude dele depender a estabilidade financeira do sujeito, que serve á sua sobrevivência, exige o imediatismo, em que as necessidades básicas não podem ser adiadas, sendo por isso, mais fácil perceber a estagnação, em que o corpo é impulsionado a inovar, a criar outras possibilidades que sirva á evolução do mercado, e a si mesmo.

No mercado as consequências são imediatas.

Na formação da criança elas são refletidas a longo prazo, permanecendo as consequências de certa forma ocultas, em que o imediatismo apresenta como finalidade, parar a agitação da criança, tentando castrar os seus instintos.

Criatividade e castração são incompatíveis.

domingo, 5 de setembro de 2010

Homem - Que bicho é esse ?

¨ Ao se apegar e buscar insanamente toda a forma de realização material e satisfação dos desejos instintivos e carnais o homem vem rebaixando a conduta e comportamento aos mais vis ou bestas – feras dos irracionais ¨.

Retirado do blog – Metendoobico.blogspot.com – William Junior

O que fica por explicar, tentando ser prático, é como forças animalescas podem ser despertadas, incentivadas e exercitadas, sem um outro elemento que as provoque ?

Na natureza tal provocação é originada no biológico, como necessidade de caçar a presa para satisfazer o seu desejo de manter-se vivo, que por isso tem de alimentar-se.
O ser humano ultrapassa os limites da biologia, e tenta destruir o seu semelhante, em que o prazer deve ser encontrado em outro lugar qualquer, que não no elemento físico, corpo.
São as formas de interagir na relação, que influenciam , e podem exaltar as forças instintivas, e não porque elas existam, e que por isso devam ser castradas.
Ademais, parece existir uma contradição para aqueles que evocam Deus, dado que o homem tenta castrar o que lhe foi dado pelo o poder criador divino, não se apercebendo que está a reconhecer nessa sua atitude, a imperfeição de quem ter o poder de criar.
Existe um não saber em relação aos acontecimentos, aos fenómenos e suas origens, que o sujeito não deseja saber, porque lhe é difícil desviar-se de uma concepção pré estabelecida, que tende a condicionar toda a postura humana ao nível da consciência.
Por outro lado, significa, que não conseguimos enxergar o outro lado de uma história de vida, e nos excluímos da totalidade fenoménológica, impondo uma leitura parcial dos acontecimentos, em que a outra parte parece pertencer ao mundo virtual, que não real.
Não existe razão, verdade, alma e espírito, sem a existência do corpo, logo o material é a totalidade espiritual, onde se encontra alojada a alma, que após a morte do corpo, deixa o rasto da sua existência, que é transmitido através de um processo transferencial, como testemunho de passagem entre as gerações.
Através da verbalização da maioria das pessoas, nos é dado a perceber que a consciência existe e não existe, que ela está incorporada, e encontra-se fora de um corpo que pensa, mas que sente, de acordo com a idéia que cada um tem acerca do que podemos entender por consciência, desprezando o inconsciente.
Inconsciente e irracional, de acordo com o significado que lhe é conferido pela maioria das pessoas, se unem, para determinar a falta de consciência, quando na realidade o irracional não existe, e o inconsciente será apenas uma consciência profunda adquirida instalada no núcleo psíquico, que teve sua organização na infância.
A idéia da castração é cultural, em que o sacrifício, a dor e sofrimento, apresenta como objetivo alcançar o bem, e a felicidade, coisa que cada vez mais parece fugir ao ser humano, pelo que esse caminho está condenado ao fracasso.
Mas antes de ser cultural foi uma imposição política, comandada pelos homens da Igreja, que já exerceram o poder público em tempos mais distantes da nossa história, para fazer dos homens servos do reino, que não de Deus.
Dessa herança ainda a humanidade não se livrou, em que tenta-se confundir a obediência ás leis de Deus, com a subjugação a formas hierárquicas que escravizam o ser humano, atentando contra a sua liberdade e dignidade.
O que resulta, são ressentimentos, como formas reativas a um tratamento animalesco, que apresenta vários de graus de intensidade, que não pode ser mensurável, culminando tantas vezes em autênticas barbáries.
É por intermédio de um outro que as forças animalescas tendem a revelar-se, através de um processo de exaltação, desafiador, violador do corpo e de seus instintos, acerca do qual o corpo toma sentido, vulgo consciência, e não por qualquer outro motivo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Perdas

O medo que possa acontecer algo de ruim, ou apenas a visibilidade de que tal venha a acontecer, assaltado por essa imagem, mostra ao sujeito um cenário de horror, de dor e sofrimento, que pode provocar a paralisia momentânea de um movimento desejado.

Desejo interrompido, ou até mesmo bloqueado por um não desejo de perder o conforto, a proteção, e a segurança.

O que subsiste é o medo de perder, e se assim é, existiu um ganho anterior de sentimentos prazerosos, sem que o indivíduo tivesse adquirido a noção, que a qualquer momento os seus desejos podem sair frustrados.
A frustração faz parte da experiência de vida, como resultante de algo esgotado, que não deu certo, ou que não pode ser associado por ser incompatível, em que a dor e sofrimento tende a emergir, proveniente de uma certa forma de sentir as relações com os objetos, e o mundo exterior.
Devemos perceber tal fenómeno levando em conta a relação com o outro, e os efeitos provocados pela sua ausência, que tantas vezes cria a impossibilidade de sentir a satisfação interior, em que percebemos a incapacidade de estar sozinho.

A sensação de conforto, proteção e segurança, parece depender da presença de um outro objeto, sentindo-se o indivíduo desprotegido quando entregue a si mesmo.

O medo da solidão, de encontrar-se com a noite, de estar sozinho no escuro, de não ter o outro que possa abraçar e adormecer, como se estivesse nos braços da mãe, parece ser um sinal evidente de uma interioridade, que se encontra ameaçada por fantasmas.
Na realidade fantasmas não existem, o que tende a prevalecer é a imagem de um outro, que nunca concedeu a liberdade ao indivíduo para encontrar-se consigo mesmo, estar sozinho, ser autónomo, e ganhar experiência.

Criada a dependência, a falta de um outro, que não existiu na infância, entendido como facilitador de experiências, faz com que o sujeito reclame por ele.

Façamos a pergunta:

- Como alguém pode encontrar-se consigo mesmo, se nunca o deixaram liberto ?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O general

Poucos conseguem ser amados pela ostentação das estrelas que trazem ao peito, quando existe a necessidade de trazer sempre á mão, um bengalim, nome dado a uma vara rígida de couro entrançado, daquelas usadas em cavalaria, cuja finalidade é açoitar os cavalos para que sejam obedecidos, como símbolo de um poder, que lhes parece fugir a qualquer momento.

Hoje a varinha mágica, foi substituída pela língua afiada, que sem ninguém lhes perguntar nada, despejam nas palavras toda a sua violência, que é provocada pelo o mesmo vírus de onipotência, e de um saber ignorante, que pensa através de um outro, por incapacidade de pensar por si mesmo.

General e governador dos tempos da guerra colonial portuguesa em África, substituto do general demissionário, fez-se presente ás tropas sitiadas na mata, julgando tratar-se de animais, que não de pessoas, tende a exercer a repressão por intermédio de um outro, neste caso Estado, que por falta de alternativas deixava o sangue escorrer pela entranhas da carne alheia.

Brancos, negros e mestiços, foram as suas vítimas, que sem dó nem piedade, os empurravam para uma guerra que não desejavam, em nome de uma soberania, de uma santa ignorância, que nem as estrelas conseguiam ocultar.

Repetidores de desejos alheios, puros imitadores, dizendo ser adultos, não deixaram de ser crianças, que tomam para si as dores de um estadista, de um filósofo, ou da polícia política, não conseguem escapar ao persecutório, vasculhando a vida alheia, transformando a verdade em mentira, recorrendo ao velho, e ultrapassado método da tortura, e da censura, cujo único objetivo é a evidencia do recalque.

Evocam frases célebres, como se fosse a letra de uma música universal, que apresenta um só sentido, que é sempre exibida, mesmo fora do contexto, que tem em vista perpetuar a todo o custo o poder.

É o saber de um outro, que ao ser evocado, lhe confere o saber, como uma verdade absoluta incorporada, por incapacidade de pensar por si mesmo, não percebendo que é escravo de um pensamento, e modo de estar na vida, que se fez corpo, no seu próprio corpo.

É o perfeito incesto mental, que a maioria por medo da punição não ousa sequer afrontar, o que aliás estaria condenado ao fracasso, dada a diferença de potencial das forças em presença, e que seria também pouco inteligente persistir nessa luta insana.

A suposta ação revolucionária não seria mais, que uma reação a um poder instituído, sendo um fenómeno dado á relação do senhor e do escravo, gerador de ressentimentos, em que a inteligência humana fica completamente subjugada aos instinto do animal, que existe na interioridade de cada um de nós.

Aqueles que falam em humanismo tentando subjugar os outros á sua vontade de poder, vulgarmente designada por verdade, baralham as palavras, e as idéias aos mais desatentos.

Desafiam o saber, através do brilho de suas estrelas, passam o lustre a todo o instante, as colocam num lugar bem visível, cuja intenção é serem observadas, para vir á lembrança a punição, fazendo dos homens mudos e dependentes, os acorrentando ás grades de uma prisão mental.

É o cardápio de quem não tem mais nada para oferecer aos outros, e a si mesmo

O caminho da liberdade não é feito de atalhos, pelo o contrário é um penoso caminho, por isso os perversos, manipuladores, e aqueles que julgam ter poder, o preferem, basta para tanto encostarem-se ao poder instituído, e deixarem levar-se pelos ventos de ocasião.

Os becos mais escuros incomoda o ser humano, as trevas sempre incomoda quem não consegue enxergar a luz, porque iluminados por outros, na escuridão perdem a noção do espaço, e de si mesmo, em que o medo os imobiliza, a que só a virulência das palavras, que não a violência física, pode garantir uma sensação de poder, e de sentido de vida, muito embora falsa.

Limpar o terreno das minas inimigas, pode garantir a caminhada, contudo passa a ser o jogo do gato e do rato, em que se retiram umas, e são colocadas outras, nessa luta infernal pelo o território, que é uma característica animal, que não abona em nada a inteligência superior humana.

A escolha para quem deseja caminhar em liberdade, é por um terreno limpo, onde não exista aquele que deseja a guerra, nem o outro que a possa alimentar.

Quem é eeeesse ?

Perguntou o general, fazendo movimentos nervosos e insistentes com sua varinha mágica, apontando na direção de um africano, que se encontrava a meu lado, em que era bem evidente na manifestação de sua postura o desprezo por tal criatura.. .

Existia uma tentativa de manipulação velada, e desafiadora na forma como fez a pergunta, não por aquilo que disse, mas por aquilo que não disse, e deu a entender por gestos, e o prolongar da interrogação.

Convidou-me desse modo a entrar na (des) humanidade de seus preconceitos, convicto da sua superioridade racial, que também existe entre brancos, desta feita chamada de classe social, que uma vez despido de sua farda e despojada das estrelas, talvez encontrássemos a criança aterrorizada, por não estar coberta pela manta do poder, que lhe confere uma sensação de segurança.

Não sei se teria razão alguma para proceder assim, quais as suas idéias acerca das coisas e do mundo, nem sequer nisso estaria interessado, apenas as palavras ¨ malditas ¨ cheirando a desprezo despertaram a minha atenção.

Eeeesse, meu general, é um soldado das milícias africanas

Apontei eu com o dedo, repetindo o mesmo gesto, que fizera antes com a varinha mágica, dirigindo-se a um outro seu semelhante, mas o sentindo como inferior.

O general percebeu muito bem meu gesto, o poder pode ser burro, mas não é estúpido, espreitando sempre uma palavra mais hostil, ou entendida como tal, para cair em cima de sua vítima.

Desejava que lhe desse a prova porque ali se encontrava aquela criatura, como se fosse intruso, ou uma alma estranha, como coisa / objeto, que estaria a mais naquele cenário.

Por falta da prova os homens mataram Cristo, o chamando de impostor, dado que não exibiu o diploma divino, ignorando se na realidade ele existia, ou se era investido de uma graça espiritual, assim os ignorantes o mataram, e fizeram dele uma figura sagrada.

Com sua atitude colheram o fruto não desejado, que até hoje perdura, e já lã vão mais de dois mil anos, em que o sacrifício fez dele um ser humano respeitado.

Perante a dúvida de ser ou não ser, nada melhor que acabar com a sua raça, antes que possa provar que é detentor de mais saber, muito embora não possa exibir as estrelas, e a dita varinha mágica.

Desde aqueles tempos mais longínquos, não obstante s criação do perfume francês, do terno italiano, da publicidade, do computador e da internet, que transmite uma sensação de conforto, e de mais saber, as relações humanas ficaram estagnadas no primitivo, devido a um psiquismo atrofiado, proveniente de idealismos, que provocam a obsessão mental, e as constantes guerras.

Só que as estrelas também brilham nos olhos de todos aqueles que sentem a ofensa, em que o desafeto, ao contrário do que julgam alguns sábios ilustres que sobem ao palanque, possui o condão de unir os homens á volta da fogueira, procurando o calor que os possa manter vivos.

Existem os homens que procuram o afeto entre os ofendidos, afetados que foram, tal como eles, na alma por outros seres humanos, que inexoravelmente derrotam os fortes, mesmo que os julguem fracos.

Cristo morreu sozinho, não quis a parceria dos fracos, nem dos fortes, seguindo seu próprio destino, como ser autónomo, não evocou na hora de sua morte o diploma divino, que o pudesse salvar da aflição, emergindo da agonia, as seguintes palavras :

- Perdoai-lhes Senhor, que não sabem o que fazem.

Não rogou pragas, não insultou, não foi virulento, nem evocou a sua condição de filho do mais alto poder, que lhe fora conferido, nem lamentou a sua sorte, porque sabia bem do que era capaz o ser humano, devido a seus ressentimentos.

De então para cá, pouco ou nada mudou.

O africano referenciado anteriormente estava a aprender os primeiros socorros, que lhe permitisse em caso de emergência acorrer a um companheiro ferido.

No mini hospital de campanha instalado numa tabanca feita de barro amassado com palha e telhado de chapa de zinco no meio da mata africana, existia um esforço de poupar vidas das garras da morte, que se fazia anunciar todos os dias ao cair da noite, ou nas sucessivas caminhadas cortando o capim.

Uns, através das palavras e de suas atitudes, estão possuídos pelo o poder divino, ou demoníaco da destruição, por julgarem ser Deus, tentam obrigar os outros a enxergar, o que só eles parecem ver, outros tentam apaziguar a dor e sofrimento alheio, através do seu conhecimento, em que existe a partilha do saber.

Se a indignação tomasse conta daquele ser humano africano, e alguma palavra fosse ouvida, que pudesse ser entendida como afronta, era certo e sabido, que teria de pagar pela ousadia de sua rebeldia.

Mas não, manteve-se sereno, tranquilo, sem proferir palavra alguma.

Não consegui ler seu pensamento, porque isso nos é vedado, e ainda bem, dado que o simples desejo para alguns, já é transgressão, o que levaria decerto a uma repressão mais violenta e constante.

Informei o General do porquê da sua presença.

Não satisfeito, perguntou pela capacidade de aprendizagem daquela figura estranha, e de bom porte físico, fardado a rigor.

Ele já sabe dar injeções ?

Já sim senhor, meu general.

Perguntas burras, de quem julga o outro burro, que tende a encobrir o complexo de superioridade, que no fim de contas, só um ser humano, que sente ser inferior pode possuir.
O general também fora traído por ressentimentos.
Finalmente, olhando nos meus olhos, perguntou:

E você, como está ?

Meu general, estou farto disto.

Num repente, e em silêncio, sem pronunciar uma palavra, deu meia volta, e saiu pela porta dos fundos tomando o rumo do hélio estacionado para o conduzir de novo ao gabinete do ar condicionado, dos seus aposentos em Bissau.

Passados alguns meses a guerra acabou, através de um movimento ¨ revolucionário das forças armadas no dia 25 de Abril de 1974.

Tínhamos acabado de sucumbir vergados ao peso das nossas ambições de poder, corroídos por dentro por um mal estar interior, que se tornou insustentável.

Nenhum de nós resiste ao peso da nossa própria ignorância.