No livro de Márcio Zacarias Lara – O alvorecer de novo paradigma –logo na introdução, o autor refere que o cientista da religião deve ser regido por uma conduta imparcial, neutra e objetiva. E assim procedendo, movido pelo desejo da verdade, suprimindo toda subjetividade – escolhas pessoais, valores, preconceitos, afetos – garantirá um nível de certeza elevado acerca dos fenómenos que investiga.
Tenho sempre á mão alguns livros, para consulta rápida, debatendo-me constantemente com os autores, tentando enriquecer o meu saber, e consolidar os conhecimentos acerca de determinados assuntos.
Ao longo dos séculos, o homem tem-se debatido com o mesmo dilema – como ser investigador, ou investigar qualquer assunto, sem ser afetado por escolhas pessoais, valores e preconceitos ?
Formulando a pergunta de outro modo – Como o investigador pode conseguir a abstração de tudo em que está envolvido, que faz parte da organização do seu psiquismo, cuja finalidade seria a isenção ao estudar um determinado tema ?
Num mundo cada vez mais neurótico, só poucos conseguem escapar dessa maleita, dado que não conseguem abstrair-se daquilo que os afeta.
Isso será possível em disciplinas que não envolvam diretamente o sujeito com seus sentimentos, como por exemplo, a matemática, a física e a biologia.
Se fosse possível a ausência de valores, de escolhas pessoais, de preconceitos e afetos, estaríamos em presença de uma inteligência despida de seu sentido humano, em que o estudo conduziria o investigador para a aceitação dos princípios que regem a matéria, condicionado á física e química, e á sua resultante fenomenológica.
O olhar do cientista seria a de um ser humano sem olhar, por impossibilidade de sentir algumas formas, dada a exclusão de algumas características do seu modo de sentir as coisas, e o mundo que o rodeia.
Teríamos desse modo o retorno ao inorgânico, estritamente com sua base fenomenológica, retirado o corpo de seus sentidos, do seu próprio pensamento, e da sua forma de estar na vida.
Seria a inteligência ¨ quartziana ¨, que não cartesiana, em que a síntese seria definida, através da associação de seus elementos mais primitivos, derivados de um princípio genético, cuja finalidade é a existência de um sentido de vida, e a sua preservação.
Sou a deduzir por isso, que a religião existe, como uma das formas possíveis para conferir um sentido á vida do ser humano, o que aliás, corresponde ao meu próprio pensamento.
Neste caso, seria olhar a religião, segundo um ponto de vista materialista, que não teológico, desejando o autor introduzir uma nova forma de abordar o assunto, em que damos conta de uma sequência lógica, partindo de princípios universais, que é conferido á matéria.
Desejo afirmar, que o trabalho produzido pelo o autor é bastante interessante, e até mesmo ousado, ao introduzir princípios e conceitos derivados da física quântica, e da teoria da relatividade, tendo em conta a religião.
O idealismo filosófico parte do pressuposto, que é possível desanexar o afeto da componente humana, retirando o sujeito da abstração de formas idealizadas e incorporadas, conferindo-lhe uma função mental racionalizada.
Se em alguns casos tal é possível, somos forçados a admitir que na maioria das pessoas isso não se verifica, mesmo entre cientistas, estudiosos e investigadores da mente humana.
Freud, na psicanálise, e Nietzsche na filosofia, foram, quanto a mim, os homens que tentaram introduzir uma nova concepção acerca dos fenómenos produzidos pelo o ser humano, mergulhando na interioridade do corpo, estudando e investigando, como, e devido a quê, são produzidas forças, que o conduzem ao ato.
A mutação do virtual em realidade, após a conversão do ser humano, devido a uma formação infantil e aspectos culturais, torna-se numa missão, senão, impossível, pelo menos com poucas probabilidades de êxito.
Resta-nos os trabalhos produzidos que nos conduzem por outros caminhos, alargando o leque de possibilidades, quanto á forma de entender e compreender o mundo, e a relação do ser humano consigo mesmo, e com os outros.
Só a formação infantil e a educação, segundo um entendimento diferenciado, pode a médio prazo inverter o cenário atual.
Mas que fazer ao medo que toda a transformação implica, e que adia a evolução ?
Por isso ela é lenta.
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