Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

sábado, 16 de outubro de 2010

Bullying e educação

Todos sem excepção sabemos definir o que está certo ou errado, quando colocados perante as consequências, em que a dor e sofrimento não parece ser perceptível para o agressor, apenas ficando assustado, quando suas atitudes, desencadeiam no outro o sentido de morte.
Desse modo, podemos observar as declarações dos colegas, após o enforcamento de um seu companheiro de escola, que era gozado por ser homossexual, que nunca pensaram que suas atitudes tivessem um desfecho tão sinistro, não desejados por eles, o suicídio de um colega.
Não passara de uma brincadeira, dizem eles.
Freud estudou as brincadeiras de criança, como algo que se passa na vida familiar de cada um, que tende a projetar-se fora de portas, com outros colegas, que substituem os brinquedos de criança, e estes são figuras simbólicas dos próprios pais.
A discussão a partir da observação de uma tragédia, é limitada ao cenário, em que as acusações não faltam, apontando os agressores, criando leis punitivas, imputando responsabilidades, em que o papel da formação e prevenção não existe, porque a maioria das pessoas parte do princípio, que para prevenir basta punir.
Todos sabemos que isso não é verdade.
O papel da formação cabe á família.
Ao Estado caberá a indicação do caminho que ela deve levar, e a prevenção, que deve ser levada á prática com inteligência e conhecimento, sendo o último recurso a punição.
No caso de serem corrompidos os pressupostos de um processo de humanização, deve promover cursos de reciclagem obrigatórios, não levando em conta quem os pratica, porque afinal, todos sem excepção, devemos isso ao nosso semelhante.
A educação na escola é absorvida por tais condições sociais, a que deve dar uma resposta cabal, como última etapa de um processo de humanização / socialização.
A discussão, se cabe ou não ao educador desempenhar o papel de mediador de uma formação familiar, e á instituição que representa é secundária.
A realidade é que é exigido aos profissionais da educação uma série de atributos para os quais, a maioria, não se encontra preparada, dado que o Estado não está organizado nesse sentido, produzindo tão só legislação punitiva para os infratores, sejam alunos, professores, ou a própria instituição escolar, por permitir tais atitudes nas suas instalações.
O que me apraz registrar é a procura do amparo, que parece não ter respaldo em qualquer instituição, seja familiar, nos professores e nas instituições educativas, na ânsia de conseguir resolver um conflito, que pelos vistos não tem solução á vista.
Conclusão, pais, alunos, professores e instituições escolares estão desamparadas.

Desse modo, não existe na realidade amparo algum, mas apenas a sensação de que ele existe.

A época da teta da mãe e da mamadeira já lá vai, do que se trata é perceber em relação á criança, no seu caminhar para adulto, a autonomia que lhe é concedida.
Não se trata simplesmente de uma autonomia em relação aos objetos, mas também em relação ás próprias ideias produzidas por outros, que uma vez, ao não ser observada, faz do sujeito um ser dependente, que só sabe caminhar através de um outro, ou, quando inserido num grupo qualquer.

Urge perguntar – Quem o fez assim, e o pretende submisso. e dependente ?
Tudo tem princípio, meio e fim.

Discutir consequências, apenas percebemos o que é dado ao afeto, e ao desafeto, que pode satisfazer, ou infligir dor e sofrimento, tanto no sujeito, quanto nos outros, mas nada nos diz qual o sentido que foi dado ás coisas, aquando da formação infantil.

Se a sociedade não apresenta a capacidade de interferir na formação da criança, porque tal é conferido aos pais, á escola cabe o papel de tentar minimizar os conflitos.

Resta saber, como o pode fazer colhendo frutos agradáveis, e não consequências trágicas.
Mais uma vez as pessoas estão sozinhas nessa tarefa, cuja solução passa por muito suor e lágrimas, deixando atrás de si um rasto de sangue, muita dor e sofrimento.

Conclusão, não existe de fato uma política séria por parte dos responsáveis, que conduza o processo no sentido da prevenção e da reciclagem, em que o seu papel é meramente punitivo, que se traduz no Deve e Haver, sem que existam condições para estancar os índices de violência.
Aliás, o que nos é dado a assistir nas escolas, é apenas a reprodução do que podemos observar nas famílias, e no cotidiano da vida pública.
Desse modo não devemos perceber o bullying como um fator isolado dos demais, sendo uma variante do mesmo problema social, que é em essência proveniente de uma formação familiar desprovida de um sentido de humanização.
Porque refiro o Deve e o Haver ?
Porque o resultado entre deveres e obrigações, aponta para números, em que a sociedade atual baseia-se em estatísticas para mostrar ao mundo a sua eficiência.
O que resta dessa comparação, são apenas números, que indicam a quantidade de transgressões ao que está pré estabelecido, segundo determinados valores sociais da própria sociedade.
É o balanço das quantidades que conta, desprezando a qualidade da formação, e do ensino..
Se a taxa de violência diminui, logo damos conta de um aproveitamento político, por parte de quem está no poder.
Se a taxa aumentou, logo a oposição se aproveita, e vem a terreiro na tentativa de demonstrar a ineficácia do poder político.
Não fora o poder de adaptação dos indivíduos á realidade, por mais terrível que seja, que transforma a relação entre as pessoas, e nos garante a sensação que algo melhorou, tudo estaria bem pior, dada a inexistência de uma política de prevenção e reciclagem por parte do Estado.
Assim, continuamos nessa discussão inútil.
A quem será dado o papel de formação dos jovens, e qual a sua responsabilidade no processo ?
Aos pais ? À escola ?
Ou, essa responsabilidade deve ser repartida ?
Mas como repartir responsabilidades, quando uma das partes é transgressora, ou nega-se a compreender o processo formativo e educativo ?
Ao negar não executa, empurrando a responsabilidade para os demais.

É neste emaranhado, que se encontra a classe dos professores, as próprias instituições escolares, e os pais, devido á inexistência de uma política pública de formação familiar, educativa, preventiva e de reciclagem.
Como o conseguir ?

Não através da interferência nos assuntos da família, mas pela obrigação de frequentar cursos de formação, quando forem visíveis os primeiros sinais de agressão verbal ou física.
Afinal para que se gastam rios de dinheiro no ensino público, se ele não serve para transmitir o conhecimento ?
Só para mostrar o saber, e afirmar banalidades nos jornais e revistas, e nos demais diversos órgãos de informação, vincando cada vez mais a afirmação e negação, o mal e o bem, não valeria a pena tanto esforço, dado que qualquer mortal, sabe muito bem distinguir as coisas.
A ansiedade, que é provocada pela necessidade urgente de eliminar, banir da sociedade atitudes depreciativas, agressões verbais e físicas, traduz-se na atitude imediatista, de tentar estancar o sangue num tecido que está podre, cujo poder de regeneração não se encontra na punição, mas sim na formação.

Bastaria enxergar a realidade para perceber isso, em que a punição por si só, não é suficiente para estancar o fluxo de agressividade, e violência social.

Que a maioria das pessoas não saibam como fazê-lo, a não ser recorrendo a atitudes proibitivas e punitivas, é compreensível, mas gente de mais saber, que sigam o mesmo caminho, é que não parece que seja tolerável.
Afinal qual a diferença ?

Existe algo que preocupa e invade a interioridade de uns e outros, que os coloca no mesmo nível de formação humana, não obstante o saber de uns, e a ignorância de outros..

Responder ao imediatismo é função do corpo biológico, ou se o quisermos, resposta instintiva animal, que é autónoma do princípio de racionalidade.

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