Estava eu no passeio, agora lugar servindo de fudómetro, a que todos os fumantes têm acesso, uma vez corridos das cadeiras do café, quando de repente, do outro lado da rua, um corre, corre danado, e uns gritos de mulheres aflitas, pedindo socorro, em que se podia ouvir o tradicional slogan ¨ agarra que é ladrão ¨.
O camarada que seguia na dianteira, transportava uma sacola, que pelos vistos devia estar bem pesada, dado que tinha alguma dificuldade em correr, apesar de ser jovem.
Pudera, tinham acabado de assaltar uma joalharia, numa das ruas mais movimentadas da cidade de Divinopólis, fazendo uma limpeza geral.
O outro comparsa seguia á frente do pelotão abrindo caminho com uma 7.38 não fosse algum manifestante ter a pouca vergonha de o interceptar.
O segurança da joalharia, seguia mais atrás, na tentativa de devolver o troco, dado que fora imobilizado, quando aquela turma resolveu botar a mão nas coisas alheias.
Mais á frente, os meliantes renderam um condutor, entraram no automóvel, e quando estavam preparados para a corrida, a brincadeira acabou, com a entrada na pista de dois carros patrulha da polícia.
Alívio geral, que desta vez não meteu tiros, caso raro.
As mulheres choravam, ao mesmo tempo de raiva, e de alegria, por terem recuperado todo o produto do roubo, e aproveitaram a deixa para dar uns tapas nos atrevidos.
Agora presos, têm a oportunidade de rever todo o processo, perceber o que falhou, para que da próxima vez tudo possa correr a contento.
Uma atrevida acrescentou – Cama, roupa lavada, televisão e sexo, que mais lhes pode faltar ?
As pessoas inventam cada coisa.
sábado, 31 de julho de 2010
Assaltantes despreparados
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Conhecimento limitado
Conhecemos parte de um todo, que sabemos que existe, mas que não conseguimos definir, porque desconhecemos.
Sabemos que existe, mas desconhecemos.
Algo parece soar estranho nesta frase.
O que desconhecemos é a sua definição.
Saber é sentir, e não imaginar.
E de onde vem tal sentir, saber e conhecimento, que afirmamos desconhecer ?
Através do movimento, e da lógica sequencial, que nos dá a sensação, que a cada metro da caminhada, descobrimos um metro mais á frente.
Na realidade não descobrimos nada, as coisas apenas são reveladas através do seu movimento, ora nos aproximamos delas, ou elas se aproximam de nós.
Se passamos pelas pessoas, do mesmo modo elas passam por nós.
Quem passou por quem ?
Discussão inútil daquilo que foi, e, é passado.
Ambos são objetos, que já não existem mais um para o outro, até se encontrarem de novo.
O movimento do passado, nos faz movimentar de novo, porque desejado, nos faz passar novamente por semelhante situação.
Passado, que se faz presente, mesmo ausente, através de uma imagem, que não existe na realidade, que é virtual, que a cada movimento é retocada, renovada, com uma imagem real.
Somos os pintores das nossas próprias telas.
E somos induzidos pelas cores, e pinturas alheias.
A escolha quando existe é de cada um.
Não querendo passar pelo o passado, não desejamos passar pela rua onde mora, aquele que foi o amor desejado, que já não é mais.
O desejado, convertido a um não desejo, vá lá saber porquê, que tende a inverter o movimento do passado.
Não conhecemos o todo, porque coisa infinita, não pode ser conhecida, nem se deixa conhecer.
Damos apenas conta das partículas, e de suas formas estéticas, que constituem parte de um todo, desse todo desconhecido, mas que sabemos que existe, que o ser humano não consegue abarcar.
Sabemos que existe o espaço, mas não o sabemos definir.
Não sabemos definir, mas temos uma idéia, que advém da sua existência, mas sobre a qual não temos idéia nenhuma.
Porque existe, e de onde vem tal existência, não sabemos, apenas sabemos que existe, e por dedução, afirmamos conhecer, o que na realidade desconhecemos, que se encontra para lá do horizonte.
A noção, que além não pode ser diferente do aquém, nem diferente do presente, nos garante a uniformidade do pensamento.
Mas o que conhecemos, ou dizemos conhecer, está restringido ao espaço.
Definimos formas estéticas construídas por associação de partículas, como parte insignificante de um todo, que desconhecemos.
A verdade, entendida como absoluta, se é que existe, tal como o todo, a desconhecemos.
A cada instante nos deparamos com a realidade, que é a realidade de cada um, de acordo com a posição que ocupa, em relação a um outro.
A verdade é que eu passei pelo o sujeito, e não que ele tenha passado por mim, porque essa é a verdade dele, e não a minha.
Mas a verdade, porque real, é que ambos passamos um pelo o outro.
Não existe o todo, como coisa absoluta, dado que a cada momento ele se modifica, altera, apenas será a parte de um todo, que se transforma a todo o momento, que percebemos nisso, a totalidade, que é mostrada por intermédio dos nossos sentidos.
O todo pressupõe algo completo, uno, indivisível e imutável, e isso parece não existir, porque sujeito á mutação, o todo deixa de o ser, para transformar-se em outra coisa qualquer, a que chamamos novamente de todo.
O todo, por isso é uma ilusão, apenas serve de referência, mas não é uma forma absoluta.
Nietzsche: - Não existe o todo, mas nada existe fora do todo.
Não nego o todo, mas não o posso considerar como tal, a não ser restringido a determinado espaço, cujas circunstancias, tende a alterar os corpos, que devido a isso, são forçados a ocupar um outro espaço.
Cada um é um corpo lançado no espaço, que faz parte de um todo, que está limitado a determinado espaço.
Cada ser vivo está limitado a um raio de ação, a um espaço, que restringe o seu conhecimento, e por isso o seu conhecimento é limitado.
Sabemos que existe, mas desconhecemos.
Algo parece soar estranho nesta frase.
O que desconhecemos é a sua definição.
Saber é sentir, e não imaginar.
E de onde vem tal sentir, saber e conhecimento, que afirmamos desconhecer ?
Através do movimento, e da lógica sequencial, que nos dá a sensação, que a cada metro da caminhada, descobrimos um metro mais á frente.
Na realidade não descobrimos nada, as coisas apenas são reveladas através do seu movimento, ora nos aproximamos delas, ou elas se aproximam de nós.
Se passamos pelas pessoas, do mesmo modo elas passam por nós.
Quem passou por quem ?
Discussão inútil daquilo que foi, e, é passado.
Ambos são objetos, que já não existem mais um para o outro, até se encontrarem de novo.
O movimento do passado, nos faz movimentar de novo, porque desejado, nos faz passar novamente por semelhante situação.
Passado, que se faz presente, mesmo ausente, através de uma imagem, que não existe na realidade, que é virtual, que a cada movimento é retocada, renovada, com uma imagem real.
Somos os pintores das nossas próprias telas.
E somos induzidos pelas cores, e pinturas alheias.
A escolha quando existe é de cada um.
Não querendo passar pelo o passado, não desejamos passar pela rua onde mora, aquele que foi o amor desejado, que já não é mais.
O desejado, convertido a um não desejo, vá lá saber porquê, que tende a inverter o movimento do passado.
Não conhecemos o todo, porque coisa infinita, não pode ser conhecida, nem se deixa conhecer.
Damos apenas conta das partículas, e de suas formas estéticas, que constituem parte de um todo, desse todo desconhecido, mas que sabemos que existe, que o ser humano não consegue abarcar.
Sabemos que existe o espaço, mas não o sabemos definir.
Não sabemos definir, mas temos uma idéia, que advém da sua existência, mas sobre a qual não temos idéia nenhuma.
Porque existe, e de onde vem tal existência, não sabemos, apenas sabemos que existe, e por dedução, afirmamos conhecer, o que na realidade desconhecemos, que se encontra para lá do horizonte.
A noção, que além não pode ser diferente do aquém, nem diferente do presente, nos garante a uniformidade do pensamento.
Mas o que conhecemos, ou dizemos conhecer, está restringido ao espaço.
Definimos formas estéticas construídas por associação de partículas, como parte insignificante de um todo, que desconhecemos.
A verdade, entendida como absoluta, se é que existe, tal como o todo, a desconhecemos.
A cada instante nos deparamos com a realidade, que é a realidade de cada um, de acordo com a posição que ocupa, em relação a um outro.
A verdade é que eu passei pelo o sujeito, e não que ele tenha passado por mim, porque essa é a verdade dele, e não a minha.
Mas a verdade, porque real, é que ambos passamos um pelo o outro.
Não existe o todo, como coisa absoluta, dado que a cada momento ele se modifica, altera, apenas será a parte de um todo, que se transforma a todo o momento, que percebemos nisso, a totalidade, que é mostrada por intermédio dos nossos sentidos.
O todo pressupõe algo completo, uno, indivisível e imutável, e isso parece não existir, porque sujeito á mutação, o todo deixa de o ser, para transformar-se em outra coisa qualquer, a que chamamos novamente de todo.
O todo, por isso é uma ilusão, apenas serve de referência, mas não é uma forma absoluta.
Nietzsche: - Não existe o todo, mas nada existe fora do todo.
Não nego o todo, mas não o posso considerar como tal, a não ser restringido a determinado espaço, cujas circunstancias, tende a alterar os corpos, que devido a isso, são forçados a ocupar um outro espaço.
Cada um é um corpo lançado no espaço, que faz parte de um todo, que está limitado a determinado espaço.
Cada ser vivo está limitado a um raio de ação, a um espaço, que restringe o seu conhecimento, e por isso o seu conhecimento é limitado.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Máscara democrática
A ganância e a hipocrisia abala a estrutura familiar, e tende a refletir-se na sociedade, das quais nem o poder escapa, seja ele qual for.
Da confusão nasce o emprego para todos, pelo menos para alguns, que se não fora isso, teriam de ir de férias para o campo, ou exercer uma outra atividade qualquer.
Por isso, nada melhor, que instigar as pessoas, alimentando a sua sede de poder, e dinheiro, nessa luta insana, que provoca inúmeras vítimas, mas que gera muitos processos, receita quanto baste, e consultas médicas.
A isto chamam alguns de progresso, outros de capitalismo selvagem, e ainda existem uns quantos, que afirmam que os vilões deixam cair a máscara de democracia, mostrando a verdadeira face de uma mentalidade digna de um Estado totalitário, repressivo e subversivo.
O subversivo percebe-se quando a dialética tenta impor-se aos princípios, em que o lado sedutor do bem falante, com cara de anjo, tenta tranquilizar as almas ofendidas, cuja intenção é ganhar tempo, para de seguida saltar em cima da presa, virando abutre, comendo a carne, e vampiro, bebendo o sangue de suas vítimas.
Consumado o ato, saindo mais uma vez impune, colarinhos engomado, e nariz empinado, abre os braços e agradece a benção, embora não consiga perceber quem a possa dar.
Os outros, que é a maioria, os submissos, por não saberem o que fazer, atormentados pelo medo da punição, esquecem que têm direitos, pelo menos estão escritos, preferem deixar para lá, talvez não tanto pelo o incómodo, mas porque é pago a peso do ouro o direito á reclamação, tirando o que lhes resta para sobreviverem.
O que fazem ?
Falam, falam, falam, mas enquanto isso a caravana passa.
A sociedade parece um imenso consultório, em que o diabo é o porteiro, que de vez em quando grita bem alto – Faz favor de entrar a próxima vítima.
E desse modo, vamos cantando e rindo até que a morte nos separe.
Que venha o Estado de direito, gritam uns.
Grita o diabo, se o encontrarem por aí, prendam-no, que ele será a próxima vítima.
Claro que isto é ficção, retirado algures de uma peça de teatro, de um escritor maluco.
Da confusão nasce o emprego para todos, pelo menos para alguns, que se não fora isso, teriam de ir de férias para o campo, ou exercer uma outra atividade qualquer.
Por isso, nada melhor, que instigar as pessoas, alimentando a sua sede de poder, e dinheiro, nessa luta insana, que provoca inúmeras vítimas, mas que gera muitos processos, receita quanto baste, e consultas médicas.
A isto chamam alguns de progresso, outros de capitalismo selvagem, e ainda existem uns quantos, que afirmam que os vilões deixam cair a máscara de democracia, mostrando a verdadeira face de uma mentalidade digna de um Estado totalitário, repressivo e subversivo.
O subversivo percebe-se quando a dialética tenta impor-se aos princípios, em que o lado sedutor do bem falante, com cara de anjo, tenta tranquilizar as almas ofendidas, cuja intenção é ganhar tempo, para de seguida saltar em cima da presa, virando abutre, comendo a carne, e vampiro, bebendo o sangue de suas vítimas.
Consumado o ato, saindo mais uma vez impune, colarinhos engomado, e nariz empinado, abre os braços e agradece a benção, embora não consiga perceber quem a possa dar.
Os outros, que é a maioria, os submissos, por não saberem o que fazer, atormentados pelo medo da punição, esquecem que têm direitos, pelo menos estão escritos, preferem deixar para lá, talvez não tanto pelo o incómodo, mas porque é pago a peso do ouro o direito á reclamação, tirando o que lhes resta para sobreviverem.
O que fazem ?
Falam, falam, falam, mas enquanto isso a caravana passa.
A sociedade parece um imenso consultório, em que o diabo é o porteiro, que de vez em quando grita bem alto – Faz favor de entrar a próxima vítima.
E desse modo, vamos cantando e rindo até que a morte nos separe.
Que venha o Estado de direito, gritam uns.
Grita o diabo, se o encontrarem por aí, prendam-no, que ele será a próxima vítima.
Claro que isto é ficção, retirado algures de uma peça de teatro, de um escritor maluco.
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Falemos clarto
domingo, 25 de julho de 2010
Medo da contaminação
( Comentário referente á postagem anterior )
Se as pessoas que estão ligadas ao processo educativo e intelectual, têm a noção, que aquilo que possa ser dito, tende a influenciar, ou seja, a induzir, a manipular as pessoas, da mesma forma o estarão a fazer.
Por outro lado, sem se aperceberem estão a dar razão, a todos aqueles que afirmam, que só a formação e educação pode conduzir o ser humano á autonomia.
Desse modo, somos levados a considerar a menoridade de todos aqueles que se deixam seduzir, ou manipular.
E se assim é, não podemos falar em princípio de racionalidade, mas em imitação e crença, como forma primária de uma formação infantil.
Negar as evidências, ou seja, a realidade, nada mais fazemos, que alimentar um estado anterior de dependência, o que retira a possibilidade do indivíduo algum dia ser autónomo.
É bom que se diga, que autonomia sem respeito e consideração pelo o outro, é libertinagem, e por aí não vou.
Se as pessoas que estão ligadas ao processo educativo e intelectual, têm a noção, que aquilo que possa ser dito, tende a influenciar, ou seja, a induzir, a manipular as pessoas, da mesma forma o estarão a fazer.
Por outro lado, sem se aperceberem estão a dar razão, a todos aqueles que afirmam, que só a formação e educação pode conduzir o ser humano á autonomia.
Desse modo, somos levados a considerar a menoridade de todos aqueles que se deixam seduzir, ou manipular.
E se assim é, não podemos falar em princípio de racionalidade, mas em imitação e crença, como forma primária de uma formação infantil.
Negar as evidências, ou seja, a realidade, nada mais fazemos, que alimentar um estado anterior de dependência, o que retira a possibilidade do indivíduo algum dia ser autónomo.
É bom que se diga, que autonomia sem respeito e consideração pelo o outro, é libertinagem, e por aí não vou.
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Falemos claro
sexta-feira, 23 de julho de 2010
O medo da contaminação
Márcio Peter de Souza Leite Um artigo retirado do seu blog – O erro de Damásio
Antônio Damásio no livro “De onde vêm as emoções? Como as células tornam alguém consciente?”, desenvolve uma teoria provocativa sobre a consciência, que coloca o corpo, e não somente o cérebro, no centro da ação. “Ele continua na mesma ideologia, do homem neuronal, mas ao localizar o ser do homem, a alma, não o faz na serotonina, mas no corpo, pois a mente não termina no cérebro.
Outra maneiras de explicar as razões das condutas humanas podem ser encontradas em um outro livro de Antônio Damásio - “O erro de Descartes” - um texto que explora a conseqüência do cogito cartesiano,que foi a divisão entre psíquico e soma. Penso logo sou, implica em um quem pensa, a res cogitans, que não tem existência material. Eu sou é a res extensa, e existe materialmente.
Qual então, o erro de Descartes para Antônio Damásio? (… ) "Poderíamos começar com um protesto e censurá-lo por ter convencido os biólogos a adotarem, até hoje, uma mecânica de relojoeiro como modelo de processos vitais. Mas talvez isso não fosse muito justo, e comecemos, então, pelo ‘penso, logo existo’. (…) A afirmação sugere que pensar e ter consciência de pensar são os verdadeiros substratos de existir. E, como sabemos que Descartes via o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, essa afirmação celebra a separação da mente, a ‘coisa pensante’ (res cogitans), do corpo não pensante, o qual tem extensão e partes mecânicas (res extensa)". (Antônio R. Damásio, O erro de Descartes, Companhia das Letras, 1996, p.279).
Damásio propõe corrigir o erro de Descartes. O tomamos aqui como paradigma das tendências da psiquiatria biológica atual, e do cognitivismo. A tendência atual é de se criticar tudo que se sustenta no dualismo como sendo ultrapassado, como sendo inexato, como sendo os restos de uma filosofia superada. A ciência atual prefere recuperar a possibilidade de se pensar a mente, reduzindo ao cérebro, caracterizado num monismo fisicalista.
Damásio propõe a adoção de uma perspectiva do organismo que não só tem que passar pelo código físico, mas tem que passar pelo domínio do tecido biológico. Ele sugere que se pense a mente pelo tecido biológico, pela córtex cerebral.
A tendência atual das ciências da mente – que se chama mind, uma palavra que não é nem psíquico, nem indivíduo, nem ser, um termo novo – é negar o dualismo e adotar o monismo, não qualquer monismo (pode-se ter vários tipos de monismo), mas um monismo fisicalista, quer dizer, mente e cérebro são a mesma coisa. A mente é consequência do funcionamento cerebral.
Na tradição filosófica um monismo fisicalista que tome por base o funcionamento cerebral pode ser identificado a um materialismo. Este materialismo assim definido passa a ser também uma ontologia, uma teoria do ser, e tem por consequência uma visão de mundo, uma concepção do mundo.
É o que está acontecendo: subverte a ética, subverte a moral, subverte as possibilidades de imputabilidade das ações do sujeito, desresponsabiliza o sujeito pelos seus atos.
Comentário:
Como é possível uma teoria monista fisicalista provocar tudo isso ?
Ela apenas tenta explicar, a partir de determinada concepção um fenómeno, que fora entendido por outros de uma forma diferenciada. Damásio é um homem da ciência, que tenta desvendar os mistérios neuroniais, e sua complexidade no cérebro humano, e apenas isso. Que despropósito, atribuir á neurociência, a responsabilidade pelas relações humanas, ou que por via de suas concepções, a sociedade seja induzida a ter determinada postura. A certeza que tudo está no lugar certo, pressupõe a continuidade, que não a ruptura, e a mutação, o que implica necessariamente a manutenção de um estado de civilização, e a constatação do transtorno psíquico. Talvez seja isso, que muitos pretendem. Observar uma sociedade ¨ bem ¨comportada, mas adoecida.
Antônio Damásio no livro “De onde vêm as emoções? Como as células tornam alguém consciente?”, desenvolve uma teoria provocativa sobre a consciência, que coloca o corpo, e não somente o cérebro, no centro da ação. “Ele continua na mesma ideologia, do homem neuronal, mas ao localizar o ser do homem, a alma, não o faz na serotonina, mas no corpo, pois a mente não termina no cérebro.
Outra maneiras de explicar as razões das condutas humanas podem ser encontradas em um outro livro de Antônio Damásio - “O erro de Descartes” - um texto que explora a conseqüência do cogito cartesiano,que foi a divisão entre psíquico e soma. Penso logo sou, implica em um quem pensa, a res cogitans, que não tem existência material. Eu sou é a res extensa, e existe materialmente.
Qual então, o erro de Descartes para Antônio Damásio? (… ) "Poderíamos começar com um protesto e censurá-lo por ter convencido os biólogos a adotarem, até hoje, uma mecânica de relojoeiro como modelo de processos vitais. Mas talvez isso não fosse muito justo, e comecemos, então, pelo ‘penso, logo existo’. (…) A afirmação sugere que pensar e ter consciência de pensar são os verdadeiros substratos de existir. E, como sabemos que Descartes via o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, essa afirmação celebra a separação da mente, a ‘coisa pensante’ (res cogitans), do corpo não pensante, o qual tem extensão e partes mecânicas (res extensa)". (Antônio R. Damásio, O erro de Descartes, Companhia das Letras, 1996, p.279).
Damásio propõe corrigir o erro de Descartes. O tomamos aqui como paradigma das tendências da psiquiatria biológica atual, e do cognitivismo. A tendência atual é de se criticar tudo que se sustenta no dualismo como sendo ultrapassado, como sendo inexato, como sendo os restos de uma filosofia superada. A ciência atual prefere recuperar a possibilidade de se pensar a mente, reduzindo ao cérebro, caracterizado num monismo fisicalista.
Damásio propõe a adoção de uma perspectiva do organismo que não só tem que passar pelo código físico, mas tem que passar pelo domínio do tecido biológico. Ele sugere que se pense a mente pelo tecido biológico, pela córtex cerebral.
A tendência atual das ciências da mente – que se chama mind, uma palavra que não é nem psíquico, nem indivíduo, nem ser, um termo novo – é negar o dualismo e adotar o monismo, não qualquer monismo (pode-se ter vários tipos de monismo), mas um monismo fisicalista, quer dizer, mente e cérebro são a mesma coisa. A mente é consequência do funcionamento cerebral.
Na tradição filosófica um monismo fisicalista que tome por base o funcionamento cerebral pode ser identificado a um materialismo. Este materialismo assim definido passa a ser também uma ontologia, uma teoria do ser, e tem por consequência uma visão de mundo, uma concepção do mundo.
É o que está acontecendo: subverte a ética, subverte a moral, subverte as possibilidades de imputabilidade das ações do sujeito, desresponsabiliza o sujeito pelos seus atos.
Comentário:
Como é possível uma teoria monista fisicalista provocar tudo isso ?
Ela apenas tenta explicar, a partir de determinada concepção um fenómeno, que fora entendido por outros de uma forma diferenciada. Damásio é um homem da ciência, que tenta desvendar os mistérios neuroniais, e sua complexidade no cérebro humano, e apenas isso. Que despropósito, atribuir á neurociência, a responsabilidade pelas relações humanas, ou que por via de suas concepções, a sociedade seja induzida a ter determinada postura. A certeza que tudo está no lugar certo, pressupõe a continuidade, que não a ruptura, e a mutação, o que implica necessariamente a manutenção de um estado de civilização, e a constatação do transtorno psíquico. Talvez seja isso, que muitos pretendem. Observar uma sociedade ¨ bem ¨comportada, mas adoecida.
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Psicanalise
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Freud
(Para além do princípio do prazer)
Função e tendência
O princípio do prazer é uma tendência que opera a serviço de uma função, cuja missão é libertar inteiramente o aparelho mental de excitações, conservar a quantidade de excitação constante nele, ou mantê-la tão baixa quanto possível.
Função e tendência
O princípio do prazer é uma tendência que opera a serviço de uma função, cuja missão é libertar inteiramente o aparelho mental de excitações, conservar a quantidade de excitação constante nele, ou mantê-la tão baixa quanto possível.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Fantasia
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Psicanálise
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Identificação e homossexualidade
Fui abordado por uma mãe, que muito embora não ofendida, questionou a responsabilidade enorme que as palavras escritas, ou faladas, conferem ás mães na formação dos filhos, e a culpa que lhes é endereçada pelos seus transtornos psíquicos.
Percebi, que estaria a referir-se ao artigo publicado neste blog – relato de um homossexual.
Terei de vergar-me a essa forma de entender as coisas, dado que transporta consigo alguma injustiça, em que só uma das partes parece ser responsabilizada neste caso particular, existindo a intenção de excluir a figura paterna desta história.
Mais evidente parece ser a sua indignação, dado que fora o pai, que promovera sessões de espancamento
Tal intenção na realidade não existe.
O que se passa, é uma impossibilidade real de expressão através das palavras de conteúdos teóricos, que para a maioria das pessoas não parece ser acessível, e que só aqueles, que dedicam o seu tempo ao estudo, e investigação das coisas das mentes, parecem entender.
Tentar explicar o fenómeno da homossexualidade, teriam que ser produzidas abundantes folhas, que daria um livro, e o que é referido é apenas uma síntese de uma forma específica, a identificação com a figura materna.
É essa identificação feminina, que julgamos, e temos boas razões para isso, estar na origem, na maioria do casos de homossexualidade masculina.
O que o sujeito relata, são posições assumidas pela mãe, que só em adulto deu conta, que contribuíram para a sua patologia.
E qual seria ?
Decerto, não tinha qualquer relação com a sua condição homossexual, porque assumido perante a sociedade, não era motivo para tal.
O que ele nos quis dizer, é que no seu entender foi empurrado para a homossexualidade, devido a um processo de formação desviante, cujo ponto de equilíbrio, poderia ser a mãe.
Descobriu nela uma série de atitudes manipuladoras, das quais pretendia libertar-se.
Se tirarmos esse sentido do texto, percebemos que a homossexualidade não está colocada em pauta, apenas é uma questão lateral, o que é evidente no discurso do sujeito, é excessiva dependência, e identificação com a figura materna.
Entendo que as pessoas são apanhadas por frases feitas, e podem ficar chocadas, como que abandonadas á sua sorte, porque destruidores de um sonho de menino.
Que fique claro, que a formação da criança, deve ser um exercício a dois, que tendem a completar-se, onde não deve imperar a guerra, em que esta só apresenta um resultado, quem manda em quem.
A criança identifica-se com o poder.
Parece claro, que as cenas de espancamento, e a submissão do pai ás exigências da mãe, fez dele um frouxo, permitindo a desautorização da sua figura perante o filho, e que elas foram tão, ou mais importantes, que a mãe poderosa e manipuladora, para a formação do filho.
Podemos afirmar, que ambos de forma inconsciente, não conseguiram perceber as consequências, mas também é verdade, que de modo consciente, não conseguiram mudar suas atitudes.
È bom que fique claro, que no romance familiar, se existem culpados, a culpa deve ser distribuída pelo o pai e mãe.
Percebi, que estaria a referir-se ao artigo publicado neste blog – relato de um homossexual.
Terei de vergar-me a essa forma de entender as coisas, dado que transporta consigo alguma injustiça, em que só uma das partes parece ser responsabilizada neste caso particular, existindo a intenção de excluir a figura paterna desta história.
Mais evidente parece ser a sua indignação, dado que fora o pai, que promovera sessões de espancamento
Tal intenção na realidade não existe.
O que se passa, é uma impossibilidade real de expressão através das palavras de conteúdos teóricos, que para a maioria das pessoas não parece ser acessível, e que só aqueles, que dedicam o seu tempo ao estudo, e investigação das coisas das mentes, parecem entender.
Tentar explicar o fenómeno da homossexualidade, teriam que ser produzidas abundantes folhas, que daria um livro, e o que é referido é apenas uma síntese de uma forma específica, a identificação com a figura materna.
É essa identificação feminina, que julgamos, e temos boas razões para isso, estar na origem, na maioria do casos de homossexualidade masculina.
O que o sujeito relata, são posições assumidas pela mãe, que só em adulto deu conta, que contribuíram para a sua patologia.
E qual seria ?
Decerto, não tinha qualquer relação com a sua condição homossexual, porque assumido perante a sociedade, não era motivo para tal.
O que ele nos quis dizer, é que no seu entender foi empurrado para a homossexualidade, devido a um processo de formação desviante, cujo ponto de equilíbrio, poderia ser a mãe.
Descobriu nela uma série de atitudes manipuladoras, das quais pretendia libertar-se.
Se tirarmos esse sentido do texto, percebemos que a homossexualidade não está colocada em pauta, apenas é uma questão lateral, o que é evidente no discurso do sujeito, é excessiva dependência, e identificação com a figura materna.
Entendo que as pessoas são apanhadas por frases feitas, e podem ficar chocadas, como que abandonadas á sua sorte, porque destruidores de um sonho de menino.
Que fique claro, que a formação da criança, deve ser um exercício a dois, que tendem a completar-se, onde não deve imperar a guerra, em que esta só apresenta um resultado, quem manda em quem.
A criança identifica-se com o poder.
Parece claro, que as cenas de espancamento, e a submissão do pai ás exigências da mãe, fez dele um frouxo, permitindo a desautorização da sua figura perante o filho, e que elas foram tão, ou mais importantes, que a mãe poderosa e manipuladora, para a formação do filho.
Podemos afirmar, que ambos de forma inconsciente, não conseguiram perceber as consequências, mas também é verdade, que de modo consciente, não conseguiram mudar suas atitudes.
È bom que fique claro, que no romance familiar, se existem culpados, a culpa deve ser distribuída pelo o pai e mãe.
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terça-feira, 13 de julho de 2010
Repetição
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sábado, 10 de julho de 2010
Afetos
Há pessoas com uma energia maravilhosa. Existem pessoas que fazem de momentos de sofrimento alavancas para progressão na vida, de um modo saudável. Há pessoas que sorriem e fazem sorrir, quando já tanto choraram e quando tanto o seu coração apertado ficou. Existem pessoas que em criança passaram por situações que muitos adultos têm dificuldade em passar. E mesmo assim tornaram-se homens e mulheres que transmitem Amor. Existem pessoas assim que se cruzam no nosso Caminho, das quais sabemos a sua história e muitas histórias. Ficam por um instante nas nossas vidas. E depois desaparecem. Encontramo-las através de uma fotografia colada no nosso álbum, ou de um amigo comum que ainda mantém contacto. E mesmo assim continuamos unidas a ela, sem que haja contacto, sem que a vejamos, ou com ela falemos. São pessoas a quem queremos bem, mesmo que já não haja uma relação actual estabelecida. Uma dessas pessoas é um amigo que tenho no coração, o D. Ele fez-me rir muitas vezes, acarinhou a minha barriga quando o Gui lá dentro se desenvolvia. .. tivemos conversas interessantes, momentos descontraídos, de festa e parvoíce... e sempre, com a sua postura, sem discursos muito directos a respeito, fez-me ver que eu era uma pessoa especial e que devia interiorizar isso. Eu dou graças por o conhecer e desejo do fundo do coração que ele seja muito muito feliz onde quer que esteja.
Esta postagem foi retirado do blog - coisas banais - Ana Filipa Oliveira
Esta postagem foi retirado do blog - coisas banais - Ana Filipa Oliveira
sexta-feira, 9 de julho de 2010
E-Book
Amigos
Dificuldades técnicas, impedem que publique o meu livro - Traição do corpo que sente - neste blog.
Entretanto, quem estiver interessado na sua leitura, o poderá fazer através do blog. estudodapsicanalise.ning.com
Em breve deve estar solucionado o problema.
Um abraço
Dificuldades técnicas, impedem que publique o meu livro - Traição do corpo que sente - neste blog.
Entretanto, quem estiver interessado na sua leitura, o poderá fazer através do blog. estudodapsicanalise.ning.com
Em breve deve estar solucionado o problema.
Um abraço
domingo, 4 de julho de 2010
Paranóia coletiva
Tudo que estimule o idealismo, que, como sabemos é proveniente de um poder exacerbado narcisista, tende a levar o indivíduo, á perversão, ao persecutório e á paranóia.
Pouco sabemos acerca da sua evolução, dada a existência de diversos elementos que ao longo do caminho se associam, e tendem a uma ação aglutinadora, no entanto, não parece existir qualquer dúvida quanto ao seu crescendo de intensidade, que conduz os grupos, e parte da sociedade ao êxtase.
Quem for apanhado por essa onda gigantesca, pode ser engolido, trucidado, porque a manada está cega por uma ânsia de poder incontrolável, cujo princípio de racionalidade foi perdido desde há muito, em que a procura é pelo o alimento que sustenta tal condição.
Quando a palavra difundida, não importa qual o meio utilizado, só refere um lado da história, e responsabiliza uma parte da sociedade, sejam instituições, ou individualidades, pelo o mau estar da civilização, podemos perceber nisso, um idealismo, que nos empurra para a luta contra o nosso semelhante, cuja finalidade é banir as diferenças, em que o pensamento deixa de ser livre, e a postura é condicionada, percebendo-se a repressão.
Essa guerra, nunca trouxe benefícios para a humanidade, que teve seu inicio em discursos inflamados, como explosão do Eu prepotente e intolerante, com sede de poder, que seguiu seu rumo até á batalha final.
O que ficou, para além de muito sangue derramado, e de um cenário de destruição, que teve a particularidade de desorganizar, o que de algum modo estaria organizado, sob a condição da tranquilidade, da tolerância e do mais saber ?
Deveríamos estudar e investigar mais um pouco, acerca do que podemos considerar como ser passivo e ativo, dado que todos nós, sem excepção, estamos possuídos por ambas.
Ficaram restos dessa refrega, fragmentos de algo que foi poder, mas que já não o tem para que o possa exercer, da forma como fora desejada antes, em que tudo parece ter ficado esvaziado, que alguns tentam de novo preencher.
Depois da guerra, os profetas da desgraça, descem a terreiro, e nos fazem crer, que meninos mal comportados, irreverentes, com pensamento próprio, sentindo a liberdade no sangue, e a autonomia no corpo, foram os responsáveis por tais acontecimentos.
O sentimento de culpa que é endereçado a cada um, apresenta como única finalidade, vergar os outros aos seus desejos mais íntimos, sejam sexuais, ou sexualizados, sob a forma de poder, cuja intenção, embora de forma inconsciente, é coitar os coitados, que incorporam tal sentimento.
Desse modo, as instituições por um lado, e o ser humano que sofre por ânsia de poder, porque não desejam sentir a impotência, formam uma santa aliança, para que o círculo vicioso não se perca.
Nem conseguem enxergar, que não foram os homens, ou parte deles, que destruíram o poder, tão desejado por alguns, idealistas confessos e fanáticos, mas sim a própria natureza, que não comporta nos seus corpos tamanha intolerância.
Parece que nenhum de nós deseja a guerra, mas a realidade nos diz, que ela torna-se inevitável, a partir de um certo momento, em que a intensidade do discurso, já não consegue convencer o seu opositor, e promove uma alteração metabólica tão profunda, que os sentidos deixam de funcionar, e dá lugar à emergência de uma tensão interior, de tal modo exagerada, em que só a força bruta funciona.
O segredo da paz, está de fato na limitação do discurso, a tudo aquilo que lhe é próprio, sem que possa existir a razão, a crítica e o julgamento, que promove uns a figuras, entendidas como divinas, e os outros a vilões e demoníacos.
Tais denominações, servem os interesses do idealismo, do fanatismo e da guerra, como forma, embora não conseguida, de perpetuar o poder.
Vejo em tudo isso a decadência de uma civilização, em termos de relações humanas, e da própria evolução psíquica, não obstante reconhecer o avanço espantoso, no que se refere á ciência e tecnologia.
Podemos considerar, que a evolução psíquica, e a forma de organizar os conteúdos psíquicos, e as inúmeras proibições, que servem de obstáculo a uma forma sequencial e lógica, que impedem o desenrolar natural do pensamento humano, foi deslocada para o meio científico e tecnológico.
Desejo com isso afirmar, que embora possa parecer, numa análise superficial, que existiu uma sublimação, ela na realidade não foi conseguida, dado que as duas formas de entender as coisas, funcionam em paralelo.
Ou seja, ao mesmo tempo, que assistimos a uma inteligência superior no campo das ciências e no mundo tecnológico, nos é dado a observar que a evolução psíquica, em parte, foi bloqueada, mantendo-se atemporal e primitiva.
É a perfeita negação, não por que a deseja, mas porque ela emerge de forma natural, dessa relação entre corpos, que impede a intelectualidade de ser entendida como sinónimo de evolução, quanto á forma como possamos entender a relação entre os homens.
A realidade nos diz, que pode existir evolução em determinados campos, e em outros, existir uma estagnação, conduzindo-nos novamente a uma falta de equilíbrio emocional.
E se assim entendermos, devemos ter poucas dúvidas, que nascemos inteiros, e que alguém promoveu em nós a fragmentação, e nos tornámos despedaçados, para além do ser inconclusivo, que nunca deixaremos de ser.
Dessa forma, que nos é imposta, até nos tornarmos em esquizofrénicos, será apenas uma questão de grau de intensidade.
Nos tornamos naquilo que somos, por impossibilidade de sermos, o que já fomos.
Existe uma provocação ao ser vivo, que o transforma, por necessidade de adaptação e sobrevivência, mas que não o salva da desgraça, quando pressionado por outros, e da morte, como sua condição natural.
Se desta não podemos fugir, da desgraça nos podemos precaver.
E é neste ponto que residem os momentos de felicidade ou de infelicidade.
Para mim, existem poucas dúvidas, que é devido á pressão exagerada dos outros, que o ser humano torna-se num ser impossível e infeliz.
Pouco sabemos acerca da sua evolução, dada a existência de diversos elementos que ao longo do caminho se associam, e tendem a uma ação aglutinadora, no entanto, não parece existir qualquer dúvida quanto ao seu crescendo de intensidade, que conduz os grupos, e parte da sociedade ao êxtase.
Quem for apanhado por essa onda gigantesca, pode ser engolido, trucidado, porque a manada está cega por uma ânsia de poder incontrolável, cujo princípio de racionalidade foi perdido desde há muito, em que a procura é pelo o alimento que sustenta tal condição.
Quando a palavra difundida, não importa qual o meio utilizado, só refere um lado da história, e responsabiliza uma parte da sociedade, sejam instituições, ou individualidades, pelo o mau estar da civilização, podemos perceber nisso, um idealismo, que nos empurra para a luta contra o nosso semelhante, cuja finalidade é banir as diferenças, em que o pensamento deixa de ser livre, e a postura é condicionada, percebendo-se a repressão.
Essa guerra, nunca trouxe benefícios para a humanidade, que teve seu inicio em discursos inflamados, como explosão do Eu prepotente e intolerante, com sede de poder, que seguiu seu rumo até á batalha final.
O que ficou, para além de muito sangue derramado, e de um cenário de destruição, que teve a particularidade de desorganizar, o que de algum modo estaria organizado, sob a condição da tranquilidade, da tolerância e do mais saber ?
Deveríamos estudar e investigar mais um pouco, acerca do que podemos considerar como ser passivo e ativo, dado que todos nós, sem excepção, estamos possuídos por ambas.
Ficaram restos dessa refrega, fragmentos de algo que foi poder, mas que já não o tem para que o possa exercer, da forma como fora desejada antes, em que tudo parece ter ficado esvaziado, que alguns tentam de novo preencher.
Depois da guerra, os profetas da desgraça, descem a terreiro, e nos fazem crer, que meninos mal comportados, irreverentes, com pensamento próprio, sentindo a liberdade no sangue, e a autonomia no corpo, foram os responsáveis por tais acontecimentos.
O sentimento de culpa que é endereçado a cada um, apresenta como única finalidade, vergar os outros aos seus desejos mais íntimos, sejam sexuais, ou sexualizados, sob a forma de poder, cuja intenção, embora de forma inconsciente, é coitar os coitados, que incorporam tal sentimento.
Desse modo, as instituições por um lado, e o ser humano que sofre por ânsia de poder, porque não desejam sentir a impotência, formam uma santa aliança, para que o círculo vicioso não se perca.
Nem conseguem enxergar, que não foram os homens, ou parte deles, que destruíram o poder, tão desejado por alguns, idealistas confessos e fanáticos, mas sim a própria natureza, que não comporta nos seus corpos tamanha intolerância.
Parece que nenhum de nós deseja a guerra, mas a realidade nos diz, que ela torna-se inevitável, a partir de um certo momento, em que a intensidade do discurso, já não consegue convencer o seu opositor, e promove uma alteração metabólica tão profunda, que os sentidos deixam de funcionar, e dá lugar à emergência de uma tensão interior, de tal modo exagerada, em que só a força bruta funciona.
O segredo da paz, está de fato na limitação do discurso, a tudo aquilo que lhe é próprio, sem que possa existir a razão, a crítica e o julgamento, que promove uns a figuras, entendidas como divinas, e os outros a vilões e demoníacos.
Tais denominações, servem os interesses do idealismo, do fanatismo e da guerra, como forma, embora não conseguida, de perpetuar o poder.
Vejo em tudo isso a decadência de uma civilização, em termos de relações humanas, e da própria evolução psíquica, não obstante reconhecer o avanço espantoso, no que se refere á ciência e tecnologia.
Podemos considerar, que a evolução psíquica, e a forma de organizar os conteúdos psíquicos, e as inúmeras proibições, que servem de obstáculo a uma forma sequencial e lógica, que impedem o desenrolar natural do pensamento humano, foi deslocada para o meio científico e tecnológico.
Desejo com isso afirmar, que embora possa parecer, numa análise superficial, que existiu uma sublimação, ela na realidade não foi conseguida, dado que as duas formas de entender as coisas, funcionam em paralelo.
Ou seja, ao mesmo tempo, que assistimos a uma inteligência superior no campo das ciências e no mundo tecnológico, nos é dado a observar que a evolução psíquica, em parte, foi bloqueada, mantendo-se atemporal e primitiva.
É a perfeita negação, não por que a deseja, mas porque ela emerge de forma natural, dessa relação entre corpos, que impede a intelectualidade de ser entendida como sinónimo de evolução, quanto á forma como possamos entender a relação entre os homens.
A realidade nos diz, que pode existir evolução em determinados campos, e em outros, existir uma estagnação, conduzindo-nos novamente a uma falta de equilíbrio emocional.
E se assim entendermos, devemos ter poucas dúvidas, que nascemos inteiros, e que alguém promoveu em nós a fragmentação, e nos tornámos despedaçados, para além do ser inconclusivo, que nunca deixaremos de ser.
Dessa forma, que nos é imposta, até nos tornarmos em esquizofrénicos, será apenas uma questão de grau de intensidade.
Nos tornamos naquilo que somos, por impossibilidade de sermos, o que já fomos.
Existe uma provocação ao ser vivo, que o transforma, por necessidade de adaptação e sobrevivência, mas que não o salva da desgraça, quando pressionado por outros, e da morte, como sua condição natural.
Se desta não podemos fugir, da desgraça nos podemos precaver.
E é neste ponto que residem os momentos de felicidade ou de infelicidade.
Para mim, existem poucas dúvidas, que é devido á pressão exagerada dos outros, que o ser humano torna-se num ser impossível e infeliz.
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Psicanalise
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Relato de um homossexual
O que descrevo a seguir é o relato fiel de um caso clínico de um homossexual.
Mulher fálica – Falo – Pénis - Representação do membro viril adorado pelos antigos como símbolo da fecundidade, da natureza., segundo o dicionário.
Numa conversa entre colegas, um deles afirma que é devida à mãe fálica, poderosa, que a homossexualidade no filho apresenta uma tendência a evidenciar-se, e não propriamente proveniente do romance familiar e do complexo de Èdipo.
A linguagem técnica encerra de forma natural o assunto, como explicação entendida como científica, mas que pode ser mal interpretada, porque outras perspectivas são possíveis, imagens associadas a uma ideia representada por um pénis, viril e ereto, como símbolo da fecundidade, e ao poder de criar.
Se essa figura materna poderosa e viril, representando o pénis, o Pai, for entendida como inversão do feminino, mostrando-se masculina, podemos entender que para sentir-se feminina deve ser o contrário de tudo isso, frágil, impotente e submissa.
Não creio que o emprego da linguagem, que se pretende que tenha um papel importante na tentativa de definição dos atos, e das diversas perspectivas com que se pode avaliar o mesmo assunto, possa ser empregue de modo superficial no campo das ciências humanas e nas teorias psicanalistas, e mais cuidado deveria merecer quando em público é transmitida uma opinião técnica.
Perguntei o que a colega entendia por mãe fálica e poderosa, o que convenhamos foi uma surpresa, porque essas coisas, que têm um nome, emprega-se na linguagem de forma corriqueira, porque simbólica, julgamos que o seu significado está bem definido, e que todos entendem o mesmo, quando na verdade pode não corresponder ao que cada um pensa acerca dele, porque o simbólico é o objeto, que se enxerga e tem um nome, mas aquilo que significa, qual a sua utilidade, já pertence á representação, o que o objeto representa para cada um, que nos retira da objetividade do nome da coisa, para a objetividade da representação.
Perante a pergunta, a pausa no discurso deu lugar ao silêncio, em que se percebeu a glote a deslizar na garganta, como a tentativa de trazer à consciência o assunto, na tentativa de satisfazer os meus desejos, mas dada a dificuldade em o fazer, porque de modo inconsciente emprega tais termos, proveniente de uma ideia já consumida pelo tempo, cuja forma construtiva não sabemos, e que ela própria apresenta alguma dificuldade em explicar.
Partindo da verdade do sujeito, que se constitui na sua realidade interna, a construção da linguagem faz-se a partir dessa ideia base, que se for derivada de um pensamento único, não poderá apresentar à posteriori outra perspectiva senão aquela proveniente dela própria.
A mãe fálica, representante da virilidade, do pénis, mesmo não o tendo na realidade, mas que gostaria de ter, tenta anular o Pai, promovendo a incorporação da figura paterna, que podemos entender como a aceitação da sua bissexualidade, de forma latente, mesmo que se note uma forma heterossexual assumida no social, mas não parece estar definida no aspecto psíquico.
Somos conduzidos por isso a uma perspectiva algo diferenciada sobre o assunto, que nos permite entender que as manifestações do corpo, podem ser provenientes de um modo natural de entender as coisas, de uma proibição social, que implica um determinado tipo de resposta, omitindo outras, que podemos considerar de inibições parciais, e de manifestações anestésicas, paralisias e amnésias que podemos considerar de amputações, como forma de inibição total.
A mãe fálica, poderosa, deve ser entendida no plano de um narcisismo exacerbado, que tem algo de psicose, e não como algo ligado à sua sexualidade, porque normalmente serve-se dos órgãos sexuais para obter os seus desejos, o que não parece ser uma forma sadia de exercer a sexualidade, mas que é proveniente de estímulos e excitações, que produzem determinadas sensações, que se constituem em emoções e sentimentos.
Invalida-se deste modo a ideia da mulher histérica, tal como foi entendida na idade média, como produto de uma disfunção orgânica, em que as manifestações corporais tinham uma conotação sexual, destruidora, devoradora, que parecia ter o demónio no corpo, e que por isso deveria ser queimada.
A mulher mais afoita na abordagem de uma relação com o sexo oposto, é entendida como algo que pode devorar o homem, o que se percebe no homem, dada uma certa inibição em relacionar-se com elas.
A submissão e a tentativa de anular o Pai, fazendo crer ao filho que ele é frouxo, sendo perversa, permitindo ao filho o que o Pai antes proibiu, transmite à criança uma sensação de poder da mãe em relação à figura paterna, que na realidade existe, percebendo-se a dependência de um em relação ao outro, em que a lei do Pai não se mostra, sendo substituída pela lei da mãe.
Se outra figura paterna existisse, com poder suficiente para equilibrar este quadro familiar, outra seria a relação, mesmo que conflituosa, não resultaria num poder único e esmagador, e a criança percebia a relação de outro modo.
A mãe fálica e poderosa, é entendida quanto a sentimentos, que podem refletir-se de um, ou outro modo, na forma como exerce a sua sexualidade, e não o contrário, porque se assim não for entendido, construímos a ideia da mulher passiva, que não pode ter desejos sexuais, cujo papel é simplesmente reprodutor, submissa ao masculino, que está em contradição com os movimentos de libertação da mulher.
Que libertação será essa de que falam esses movimentos ?
Por um lado manifesta-se o desejo de se libertarem das garras do poder masculino, por outro lado o desejo de ser dependente dele, pelo que se percebe evidente uma relação tumultuosa, sem que se tenha a coragem de definir seja o que for, em que se deseja a liberdade mas não se define em relação a quê, e tudo isto por culpa do amor, das sensações que ele produz, ou das sensações que cada um deseja sentir, para que possa sentir-se feliz, cujo princípio do prazer tantas vezes manifesta-se contrário ao princípio da realidade interna, e da realidade do mundo exterior.
Quando as pessoas entram em conflito, tanto com os outros, como consigo próprio, que passam mal, adoecem, não só no psíquico como no orgânico, e neste caso, recuperando de uma leucemia, paralisia parcial das pernas e impotência sexual, sofrem muito, e em consequência tomam decisões na sua vida, e tantas vezes nada tentam fazer e entregam-se à doença, o que não deixa de ser da mesma forma uma decisão, já que não conseguem potencializar outras possibilidades, mesmo que tenham a noção que elas existem, o que aconteceu neste caso particular, mas que pode servir de exemplo para tantos outros, porque semelhantes, mas que passados os momentos iniciais da sua doença, se entregou à psicanálise, e ao analista, para tentar entender alguma coisa de si, e do que estava a acontecer com a sua vida.
Para além de uma questão de fé, acreditando ser possível sair desse quadro clínico de morte, o que já constituía um indicador psíquico de mudança, ela começou a fazer-se na sua postura.
Na tentativa de criar uma energia ligada a outras ideias que não aquelas, percebeu um alívio da tensão interior no organismo, sem contudo existir um afrouxamento da sua ansiedade quando os conflitos surgiam, dado que começou a sentir a pressão de uma formação familiar que não estava preparada para qualquer tipo de mudança.
O narcisismo exacerbado, que a princípio funciona a seu favor, quando o conflito se instala posiciona-se contra ele, sendo uma força contrária que o agride, quando as dificuldades na relação surgem.
Tal força passou a funcionar a seu favor, associando a ideia da mudança a essa força contrária que emerge, sem que a possa conter, não lhe dando a importância que lhe merecia anteriormente, o mesmo será afirmar, que desistiu de impor a sua vontade ao outro, perseguindo um objetivo definido e autónomo, que só exige esforço de si próprio, sem mostrar-se dependente do outro, o que o levou a ter uma sensação de abandono, de sentir-se esvaziado de algum conteúdo ideativo, que se revelara patológico, como sendo a descontrução de si, o regresso à criança que está admirada, espantada com tanta magia, sentindo que está reconstruir-se, ou a construir um homem diferente dentro de si, que chora e pede ajuda ao Pai analista, para que o faça compreender, e perceber a mudança.
A transferência é essencial neste processo, o acreditar, e ter confiança no analista, para lhe confessar os segredos mais ocultos, em que a verbalização e o empenho que demonstra, o possa transportar a um mundo novo, tendo a noção que só agora está a dar os primeiros passos, mas que tenta entender, porque já não tem tanta ansiedade, já não se sente tão agredido, nem tanta raiva, em que o ser ativo manifesta-se, e o poder da sedução vai-se perdendo, entendida como as atitudes pervertidas que possam levar o outro a conceder-lhe o prazer.
Chorou e desabafou ¨ Não sei o que se passa comigo ¨.
Criança admirada, espantada, que durante vinte e poucos anos foi repetindo atitudes na sua vida, que lhe trouxeram a doença psíquica e orgânica, e que agora, num processo de recuperação fantástico, se sente esvaziado de tudo, mas feliz e extasiado com toda a transformação, que já não lhe traz tanta angústia e tristeza, mas que ainda se lhe nota alguma dependência em relação à mãe.
O grande desafio é subir a escada, sem que olhe para trás contando os degraus da sua vida passada, mas tendo a noção que sem eles, não poderia ter subido para um patamar superior, quando antes se negava a sair do mesmo sítio, em que o desejo psíquico contrariado pelas atitudes de uma mãe poderosa, lhe causava tanta dor, que a tentou anular, não através de um trabalho de elaboração psíquica, mas amputando parte de si, a paralisia parcial das pernas, que o impedia na realidade de caminhar, o equivalente a sintomas histéricos adquiridos por uma identificação com a figura materna.
A sua homossexualidade em nenhum momento foi motivo de análise, nem sequer seria interessante o fazer, e só os afetos foram trabalhados, elaborados, no sentido de entender a relação com os outros e consigo próprio, contudo ao ver o filme ¨ Lua de fel ¨ e ao observar uma cena em que a mulher besuntada de chocolate, ou algum creme gostoso, era lambida nos seios por um homem, lhe despertou o desejo de ser aquele homem, e possuir aquela mulher.
¨O que está acontecer comigo ¨ ?
Ou seja, porque os meus desejos estão a mudar ?
E porque eu sinto que estou a transformar-me, tenho medo de perder, não só os objetos que faziam parte da minha vida, porque já não pretendo ser passivo, mas todas aquelas pulsões que representavam uma ideia, que ao modificar esta, perderam-se, não só a ideia anterior, como a própria pulsão, a energia, que me conduziam a um determinado objetivo, que muito embora fosse substituído por outro, ainda não apresenta condições de satisfação plena do instinto.
Entendeu que a intimidade com os homens, promoveu a exclusão do objeto feminino nas suas relações sexuais, e que agora existe alguma inibição, que pode promover uma certa ansiedade, porque deseja, e não está seguro dos passos que deve observar nesse sentido, em que compreendeu, que está posicionado no ponto zero, semelhante à criança ignorante, que tem agora de aprender a lidar com a nova realidade, e não sabe muito bem como fazer, mas que tem consciência que deve manter-se tranquilo, sem fazer desses desejos novos uma obsessão psíquica, mas tentando lidar com eles de forma natural, em que o convívio deve ser promovido, de forma serena, natural, e que a relação pode acontecer a qualquer momento, quando se proporcionar, e não, que procure obsessivamente.
O poderoso, que nunca chorava, agora emociona-se e chora, e isso causa-lhe confusão.
E isso é bom ou é mau ?
Entende que o sentido que dá agora à sua vida não é a mesma que antes, mais verdadeira, responsável, sem angústia e tristeza, com decisões importantes no campo profissional, abandonando projetos a favor de outros que julga serem mais importantes, o que lhe confere uma segurança, o ser ativo, que tudo pode mudar, mas que ainda tem medo, que se emociona, porque está a viver, em que o passado, se faz ainda presente, embora ausente, mas que ninguém pode apagar e esquecer de todo.
O ser passivo, denota dependência em relação ao outro, e, é lógico, que ao pretender ser ativo, dando passos nesse sentido, esses sentimentos que ainda não foram perdidos, e não se perdem nunca, simplesmente se transformam, se fazem presentes, causem um certo desconforto, e uma sensação de insegurança.
Também é verdade que os ganhos secundários são sentidos como perdas, que no fundo são desejos e prazeres, que já não se querem ter mais, mas que tenta equilibrar com outros desejos e prazeres, criando objetivos, como a faculdade, os projetos de investigação, com o fim de obter vida própria, autonomia, mas com a consciência que o passado o atormenta ainda, e a todo o momento, que nos permite entender, que por vezes não damos conta do que estamos a pensar, e a fazer o que não desejamos.
Parece ser este o curso normal de toda a mudança, ou da sua tentativa, de quem pretende mudar na realidade.
São tentativas, como o foram na infância tantas outras, o aprendizado em permanência, as possibilidades que estão á espera de serem potencializadas, perante a impossibilidade, que ao sentir-se é responsável pela criação de outras possibilidades.
A sensação de ser escravo de uma ideia alheia, ou simplesmente da nossa, da qual nos pretendemos libertar, em que só a liberdade pode promover a autonomia do ser humano,
exige algum risco, não se vá ser destruído por uma realidade exterior que ainda não dominamos porque nunca experimentámos antes, pelo que sentimos alguma insegurança quanto aos resultados que podemos obter, e por isso o apoio que pretende, no aconchego do analista, no colo materno de um outro homem.
Por não pretender mais a dependência materna, que tem a noção que o conduziu a tal estado, por lhe querer tão bem, tanto mal lhe fez, mas que já perdoou, porque o amor tem destas coisas, ama-se, mas não conseguimos entender que estamos a sufocar o outro, não o deixamos crescer, recolhido no útero materno de modo fantasioso.
Honrar Pai e mãe, e perdoar-lhes pelos seus exageros, é ser adulto.
È entender que nos deram o que lhes foi possível, embora de uma forma que não percebemos tantas vezes, e eles muito menos, convencidos que estavam a dar o melhor a seus filhos.
O ser adulto é pensar por si, desejar ser autónomo e criar possibilidades.
È mostrar-se forte perante o impacto da realidade exterior, sentir a frustração, a angústia e tristeza, e reagir, fazendo de novo, de outro modo talvez, sem sentir-se agredido, e não sentir a raiva, que o possa levar a agredir, para não voltar a sentir os mesmos sentimentos, mas tendo sempre em conta o respeito e consideração pelo o outro.
Em cada momento sentimos a criança dentro de nós, que não sabe como fazer, mas que deseja, e como por magia as coisas acontecem, o espanto toma conta de nós, porque estamos a mudar o que antes parecia impossível, eternamente crianças e nem sempre adultos, nos confrontamos a cada passo, com a possibilidade e a impossibilidade de transformar a nossa vida.
Somos empurrados para um canto da sala, ou tentamos seduzir o outro para conseguir nossos objetivos, ou de modo próprio, depois de elaborar lançamos mãos à obra, para construir a nossa própria vida.
Já não sou o mesmo de ontem, não serei amanhã o que sou hoje, em constante evolução, perguntou quem sou afinal ?
Quando as mudanças são promovidas devido a alterações de pormenores, não se lhes nota a diferença, criando a ilusão que nada mudou, quando tudo se altera a cada momento, não sendo confrontado com o radical das decisões, que nos coloca perante uma nova realidade, que temos de gerir, mas cujo movimento é dirigido noutro sentido, e tantas vezes inverso ao que estamos habituados.
A constância parece não existir, mas a um ritmo próprio de cada um, com alterações pelo meio, em que a rotina acaba sempre por cansar, e nos tornar seres imobilizados, nada fazemos igual, muito embora semelhante, devido a alterações de pormenores, que pode ir desde o cenário, aos objetos e à relação com eles, num processo de auto realização, que nos pode conduzir à satisfação ou á frustração.
Mas que resistência é essa, que não nos deixa introduzir alterações profundas no sentido de inverter o rumo aos acontecimentos ?
Talvez, porque as alterações que observamos que nos podem ser úteis, não seguem a mesma ordem que antes construímos rumo a um objetivo, e reconhecemos que o ser humano não tem condições, pelo menos imediata de adaptar-se a elas, por isso as rejeitamos.
A perspectiva inicial que se tem, segue o seu rumo, e só uma outra percepção sobre o assunto pode desencadear um novo processo e criar um novo destino, em que o movimento se verifica sempre, de uma maneira ou outra, na tentativa de alcançar a finalidade do instinto, a sua satisfação.
Mas como abandonar a perspectiva anterior, quando se é afetado por ela, e deixar-se abandonar nos braços de outra, deixar-se levar por ela, como ser puro, feito criança ?
Nada se perde, tudo se transforma, Lavoisier.
Mas ao transformar-se, existe a perda de uma ideia anterior ?
Ou é a partir dela que é possível a mudança ?
A partir de uma ideia construída, podemos construir uma infinidade delas, que não dos objetos, porque outros podem substituir aqueles, embora possam permanecer em nossas vidas, eles não são sentidos como únicos e fundamentais, porque o objecto EU, o sujeito, retirou-se da sua dependência, e quis navegar por outros mares.
A ideia de hoje sobrepõe-se, ou pode sobrepor-se, à anterior, aquela pode matar esta, ou esta pode matar aquela, mas será sempre por causa das ideias anteriores, que outras vieram para a substituir, por mais estúpidas e aberrantes que sejam, sendo ideias que se tornam presentes, para não nos sentirmos ausentes, sem ideia nenhuma, em que só o autómato, a robótica, ou a paralisia, nos pode salvar de uma sem vida.
O movimento repetitivo tende a eliminar um novo sentido.
Queiramos ou não, amputamos algo em nós, para que seja possível criar possibilidades de vida.
Passado quase uma semana de estar em São Paulo, nos afazeres da Faculdade, quando o dia do regresso a casa estava próximo, as dores de cabeça começaram, as dores abdominais também, e uma indisposição geral difícil de suportar apoderou-se do seu corpo, sem que conseguisse perceber qual a origem de tudo isso, foi levado a meditar acerca de tal manifestação de mau estar.
Será que o estar longe de casa causa-me alguma insegurança ?
Se assim fosse, tudo isto me aconteceria aquando da viagem para São Paulo, e não agora que vou regressar.
Será que esta indisposição tem a ver com o regresso ao ambiente familiar que já não desejo ?
Eis a dor, e uma tensão interior, provocado por um conflito inconsciente, entre o que deseja e o desprazer de um encontro com o passado que não deseja, que nada tem a ver com o amor de mãe, mas com a relação entre pessoas, que já não pretende que seja a mesma.
O objeto de amor, que ama, e pretende continuar a amar, e não odiar, mas cujas relações com ele tornou-se difícil de suportar.
Percebe-se a nítida definição quanto ao objeto de amor, e ao modo de manter uma relação com ele, algo diferenciada daquela que tinha no passado.
Existia um polimorfismo quanto ao modo de pensar, em que tudo era associado a essa forma inicial, em que todas as possibilidades potencializadas não eram criadoras de fatos novos.
O outro como objeto sente que algo na relação está a mudar, e desenvolve esforços para que isso não aconteça, tentando impor a ideia de que amor, aquele amor, só pode ter aquele tipo de relação, possessiva, não entendendo mais nada para além disso mesmo, em que só a atitude firme e correta, demonstrando que o amor que sente pela mãe é o mesmo, mas que pretende libertar-se da sua dependência, e seguir seu caminho, agora com autonomia.
Os sintomas que enxergava no filho, já não os enxerga mais, a não ser a espaços, e o medo por o perder, também é sentido, em forma do objeto criança, que desejava perpetuar, em que nota-se o seu poder narcisista, e o sentimento de posse exagerado.
O filho, que consciente em seguir um rumo na sua vida de forma autónoma, tem a noção do aprendizado, da insegurança, que por vezes sente-se esvaziado, pela perda de uma ideia inicial dessa relação mãe e filho, caminha agora no sentido de uma nova construção.
Tende a consolidar uma posição, sem perceber muito bem como o fazer, procura um suporte, que lhe garanta uma vida diferente, não desejando cair no colo da mãe novamente, apresenta alguma dificuldade em amparar-se em si mesmo.
Hoje percebo as coisas horríveis que fiz, desabafa a chorar.
Aproveitei-me das pessoas para obter o que desejava, servi-me delas.
Sente culpa ?
Talvez não, mas raiva, porque hoje sinto que estava errado, e que não o deveria ter feito.
Mar porquê hoje e não ontem ?
Tem razão, porque só hoje consigo enxergar.
Que culpa é essa, senão a compaixão de si próprio, mais uma vez punindo-se devido a comportamentos do passado ?
Não se perdoa ?
Estou a tentar perdoar-me.
Quando se vai libertar dessa culpa do passado ?
Vejo a luz ao fundo do túnel, mas ainda não a consigo alcançar, estou a caminhar para ela, mas assusta um pouco, sinto-me por vezes inseguro, inquieto, sozinho, não querendo o colo materno, mas ainda o desejando por vezes, porque ser autónomo exige sacrifício, energia diferenciada, o que por vezes faz perder forças, e incomodado pelo o incómodo, a tendência é o regresso ao passado, que não desejo.
Estava no escuro do túnel, do útero materno, acomodado, acarinhado, mas apodrecendo, porque já não era tempo de estar ali, uma luz podia observar do outro lado, o ser que estava dentro de outro ser, que embora outro, não poderia ser outra coisa, senão aquele que o fazia omisso, e quando um dia empurrado para a loucura da luz do dia, seus olhos cegos que pretendia abrir, com tanta luz, acabaram por fechar-se, agarrou-se à saia da mãe, porque tudo o ofendia, ou parecia ofender quando na relação com os outros.
Pai agressivo e prepotente, uma sociedade preconceituosa, e uma mãe que não o defendia, mas que o protegia, fazendo das outras figuras omissas, mas ao mesmo tempo tenebrosas e assassinas, o aconchegando simplesmente para não voar e sentir-se sozinha, arrastada para a solidão com medo de cair na melancolia e morrer.
Mal sabia ela, que o filho a entendia como objeto destruidor, triturador, que anulou a figura do Pai, poderosa, e que só por medo, ou por não saber criar outras possibilidades, a ela se subjugava, submetia-se, que projetou na vagina todo o seu poder, que castrou o pai, o mesmo que era tão agressivo, e que ela dominava como se fosse um cordeiro.
E como não tenho vagina para ser penetrado e moldar o outro à minha vontade, me servirei do ânus, como algo semelhante, para que possa possuir outros homens, e ser tão poderoso quanto ela, e os perverter aos meus desejos.
Sou coitado por necessidade de obter prazer e ganhos secundários, por isso garanto ao outro o prazer de me ter, sou passivo, mas com a ideia de criar possibilidades, e quanto a isso sou ativo.
Parece então claro, que o ser ativo ou passivo na relação não se mostra tão importante, porque todos somos ativos perante uma ideia que nós próprios criámos, ou nos criaram, e o ser passivo em relação ao outro é proveniente dessa ideia.
Sujeito-me a ser coitado, criando a ilusão ao outro que sou inferior, para que ele me possa conceder o prazer de estar na vida, que de outro modo não consigo obter.
Não sou coitado, sou lobo, embora me mostre cordeiro, carne tenra para comer, o sacrifício que tenho de fazer, para obter o prazer do aconchego e ser compreendido.
O histerismo da mãe projetado no filho, que quando deixa de fazer-se sentir, o núcleo neurótico mostra-se evidente, em que o regresso ao ignorante, o faz sentir a magia quando experimenta algo de novo, em que o experimento desenvolve algumas possibilidades, que ele próprio não sabia que existiam dentro de si.
Já não tenho gozo, e até sinto um certo incómodo em beber uma cerveja num bar Gay.
O exibicionismo incomoda-me.
Já não quero mais aquele ambiente.
O que se está a passar comigo ?
O espanto, a magia, por algo que se está a transformar, não lhe parece ?
Sim, mas eu quero, eu preciso entender, causa-me confusão.
Tente entender primeiro porque o incomoda agora o exibicionismo da sua homossexualidade, que antes lhe parecia agradar.
Não sei explicar.
Porque não tem agora essa necessidade de mostrar-se igual a tantos outros ?
Não sei.
Será que tem a certeza do ser homossexual que está dentro de si ?
È verdade, nunca senti tantos desejos por mulheres como hoje.
Porque antes queria fazer parte da oferta, e hoje da procura ?
Não tinha pensado nisso.
Não lhe disse, mas senti que ele de fato tinha perdoado à mãe, já não a enxergava tão poderosa, porque arrastada a seus pés, quando pressentiu que o filho desejava sua vida autónoma, percebeu que o general tinha perdido o comando das tropas, ou que ele próprio era agora o poder, que lutava mais consigo, que com os outros, que liberto das amarras, começava a entender, que afinal o mundo exterior não era como o via, ou o fizeram enxergar, e que destruidora, a trituradora da figura paterna estava errada.
Simplesmente o Pai se deixava anular por aquela vagina quente e húmida, que lhe dava prazer, não por amor, mas por necessidade de sentir-se útil, porque homossexual era entendido como sendo o contrário, e estando com uma mulher, ninguém poderia julgar, ou, sequer adivinhar as suas tendências homossexuais.
A transferência para o filho fez-se através de uma postura agressiva e prepotente, chegando ao espancamento, como a raiva contida de não o poder possuir, fez dele o homossexual que ele nunca teve a coragem de ser.
Por medo de mais tarde também constituir uma ameaça, não vá um dia ser desejado pela mãe e ela o desprezar, fez perceber no filho que os homens eram agressivos e violentos, o empurrando para uma postura feminina.
Podemos pensar o descrito como especulativo, mas o fato é que este relato, ou melhor esta sensação, foi o próprio paciente que a revelou.
A neurose traumática está aos poucos sendo dissolvida, não é mais criança, que possa ser espancada, cujo entendimento permite-lhe construir uma outra perspectiva, sem o medo de ser punido, espancado, questionando neste momento, que nem todas as vaginas são iguais, que se comportam como a da sua mãe, e que outras mães apresentam outro tipo de atitude que não aquela, dissolvendo a ideia da vagina destruidora, trituradora.
Começou a perceber outras perspectivas, construindo outras ideias, em que existem outras tantas possibilidades, que dependem da relação, e que os sentimentos são resultantes de sensações que elas podem provocar.
Bem vindo ao mundo da psicanálise.
Acordar do sonho nem sempre é fácil, porque mesmo acordados, por vezes, continuamos a sonhar.
Mulher fálica – Falo – Pénis - Representação do membro viril adorado pelos antigos como símbolo da fecundidade, da natureza., segundo o dicionário.
Numa conversa entre colegas, um deles afirma que é devida à mãe fálica, poderosa, que a homossexualidade no filho apresenta uma tendência a evidenciar-se, e não propriamente proveniente do romance familiar e do complexo de Èdipo.
A linguagem técnica encerra de forma natural o assunto, como explicação entendida como científica, mas que pode ser mal interpretada, porque outras perspectivas são possíveis, imagens associadas a uma ideia representada por um pénis, viril e ereto, como símbolo da fecundidade, e ao poder de criar.
Se essa figura materna poderosa e viril, representando o pénis, o Pai, for entendida como inversão do feminino, mostrando-se masculina, podemos entender que para sentir-se feminina deve ser o contrário de tudo isso, frágil, impotente e submissa.
Não creio que o emprego da linguagem, que se pretende que tenha um papel importante na tentativa de definição dos atos, e das diversas perspectivas com que se pode avaliar o mesmo assunto, possa ser empregue de modo superficial no campo das ciências humanas e nas teorias psicanalistas, e mais cuidado deveria merecer quando em público é transmitida uma opinião técnica.
Perguntei o que a colega entendia por mãe fálica e poderosa, o que convenhamos foi uma surpresa, porque essas coisas, que têm um nome, emprega-se na linguagem de forma corriqueira, porque simbólica, julgamos que o seu significado está bem definido, e que todos entendem o mesmo, quando na verdade pode não corresponder ao que cada um pensa acerca dele, porque o simbólico é o objeto, que se enxerga e tem um nome, mas aquilo que significa, qual a sua utilidade, já pertence á representação, o que o objeto representa para cada um, que nos retira da objetividade do nome da coisa, para a objetividade da representação.
Perante a pergunta, a pausa no discurso deu lugar ao silêncio, em que se percebeu a glote a deslizar na garganta, como a tentativa de trazer à consciência o assunto, na tentativa de satisfazer os meus desejos, mas dada a dificuldade em o fazer, porque de modo inconsciente emprega tais termos, proveniente de uma ideia já consumida pelo tempo, cuja forma construtiva não sabemos, e que ela própria apresenta alguma dificuldade em explicar.
Partindo da verdade do sujeito, que se constitui na sua realidade interna, a construção da linguagem faz-se a partir dessa ideia base, que se for derivada de um pensamento único, não poderá apresentar à posteriori outra perspectiva senão aquela proveniente dela própria.
A mãe fálica, representante da virilidade, do pénis, mesmo não o tendo na realidade, mas que gostaria de ter, tenta anular o Pai, promovendo a incorporação da figura paterna, que podemos entender como a aceitação da sua bissexualidade, de forma latente, mesmo que se note uma forma heterossexual assumida no social, mas não parece estar definida no aspecto psíquico.
Somos conduzidos por isso a uma perspectiva algo diferenciada sobre o assunto, que nos permite entender que as manifestações do corpo, podem ser provenientes de um modo natural de entender as coisas, de uma proibição social, que implica um determinado tipo de resposta, omitindo outras, que podemos considerar de inibições parciais, e de manifestações anestésicas, paralisias e amnésias que podemos considerar de amputações, como forma de inibição total.
A mãe fálica, poderosa, deve ser entendida no plano de um narcisismo exacerbado, que tem algo de psicose, e não como algo ligado à sua sexualidade, porque normalmente serve-se dos órgãos sexuais para obter os seus desejos, o que não parece ser uma forma sadia de exercer a sexualidade, mas que é proveniente de estímulos e excitações, que produzem determinadas sensações, que se constituem em emoções e sentimentos.
Invalida-se deste modo a ideia da mulher histérica, tal como foi entendida na idade média, como produto de uma disfunção orgânica, em que as manifestações corporais tinham uma conotação sexual, destruidora, devoradora, que parecia ter o demónio no corpo, e que por isso deveria ser queimada.
A mulher mais afoita na abordagem de uma relação com o sexo oposto, é entendida como algo que pode devorar o homem, o que se percebe no homem, dada uma certa inibição em relacionar-se com elas.
A submissão e a tentativa de anular o Pai, fazendo crer ao filho que ele é frouxo, sendo perversa, permitindo ao filho o que o Pai antes proibiu, transmite à criança uma sensação de poder da mãe em relação à figura paterna, que na realidade existe, percebendo-se a dependência de um em relação ao outro, em que a lei do Pai não se mostra, sendo substituída pela lei da mãe.
Se outra figura paterna existisse, com poder suficiente para equilibrar este quadro familiar, outra seria a relação, mesmo que conflituosa, não resultaria num poder único e esmagador, e a criança percebia a relação de outro modo.
A mãe fálica e poderosa, é entendida quanto a sentimentos, que podem refletir-se de um, ou outro modo, na forma como exerce a sua sexualidade, e não o contrário, porque se assim não for entendido, construímos a ideia da mulher passiva, que não pode ter desejos sexuais, cujo papel é simplesmente reprodutor, submissa ao masculino, que está em contradição com os movimentos de libertação da mulher.
Que libertação será essa de que falam esses movimentos ?
Por um lado manifesta-se o desejo de se libertarem das garras do poder masculino, por outro lado o desejo de ser dependente dele, pelo que se percebe evidente uma relação tumultuosa, sem que se tenha a coragem de definir seja o que for, em que se deseja a liberdade mas não se define em relação a quê, e tudo isto por culpa do amor, das sensações que ele produz, ou das sensações que cada um deseja sentir, para que possa sentir-se feliz, cujo princípio do prazer tantas vezes manifesta-se contrário ao princípio da realidade interna, e da realidade do mundo exterior.
Quando as pessoas entram em conflito, tanto com os outros, como consigo próprio, que passam mal, adoecem, não só no psíquico como no orgânico, e neste caso, recuperando de uma leucemia, paralisia parcial das pernas e impotência sexual, sofrem muito, e em consequência tomam decisões na sua vida, e tantas vezes nada tentam fazer e entregam-se à doença, o que não deixa de ser da mesma forma uma decisão, já que não conseguem potencializar outras possibilidades, mesmo que tenham a noção que elas existem, o que aconteceu neste caso particular, mas que pode servir de exemplo para tantos outros, porque semelhantes, mas que passados os momentos iniciais da sua doença, se entregou à psicanálise, e ao analista, para tentar entender alguma coisa de si, e do que estava a acontecer com a sua vida.
Para além de uma questão de fé, acreditando ser possível sair desse quadro clínico de morte, o que já constituía um indicador psíquico de mudança, ela começou a fazer-se na sua postura.
Na tentativa de criar uma energia ligada a outras ideias que não aquelas, percebeu um alívio da tensão interior no organismo, sem contudo existir um afrouxamento da sua ansiedade quando os conflitos surgiam, dado que começou a sentir a pressão de uma formação familiar que não estava preparada para qualquer tipo de mudança.
O narcisismo exacerbado, que a princípio funciona a seu favor, quando o conflito se instala posiciona-se contra ele, sendo uma força contrária que o agride, quando as dificuldades na relação surgem.
Tal força passou a funcionar a seu favor, associando a ideia da mudança a essa força contrária que emerge, sem que a possa conter, não lhe dando a importância que lhe merecia anteriormente, o mesmo será afirmar, que desistiu de impor a sua vontade ao outro, perseguindo um objetivo definido e autónomo, que só exige esforço de si próprio, sem mostrar-se dependente do outro, o que o levou a ter uma sensação de abandono, de sentir-se esvaziado de algum conteúdo ideativo, que se revelara patológico, como sendo a descontrução de si, o regresso à criança que está admirada, espantada com tanta magia, sentindo que está reconstruir-se, ou a construir um homem diferente dentro de si, que chora e pede ajuda ao Pai analista, para que o faça compreender, e perceber a mudança.
A transferência é essencial neste processo, o acreditar, e ter confiança no analista, para lhe confessar os segredos mais ocultos, em que a verbalização e o empenho que demonstra, o possa transportar a um mundo novo, tendo a noção que só agora está a dar os primeiros passos, mas que tenta entender, porque já não tem tanta ansiedade, já não se sente tão agredido, nem tanta raiva, em que o ser ativo manifesta-se, e o poder da sedução vai-se perdendo, entendida como as atitudes pervertidas que possam levar o outro a conceder-lhe o prazer.
Chorou e desabafou ¨ Não sei o que se passa comigo ¨.
Criança admirada, espantada, que durante vinte e poucos anos foi repetindo atitudes na sua vida, que lhe trouxeram a doença psíquica e orgânica, e que agora, num processo de recuperação fantástico, se sente esvaziado de tudo, mas feliz e extasiado com toda a transformação, que já não lhe traz tanta angústia e tristeza, mas que ainda se lhe nota alguma dependência em relação à mãe.
O grande desafio é subir a escada, sem que olhe para trás contando os degraus da sua vida passada, mas tendo a noção que sem eles, não poderia ter subido para um patamar superior, quando antes se negava a sair do mesmo sítio, em que o desejo psíquico contrariado pelas atitudes de uma mãe poderosa, lhe causava tanta dor, que a tentou anular, não através de um trabalho de elaboração psíquica, mas amputando parte de si, a paralisia parcial das pernas, que o impedia na realidade de caminhar, o equivalente a sintomas histéricos adquiridos por uma identificação com a figura materna.
A sua homossexualidade em nenhum momento foi motivo de análise, nem sequer seria interessante o fazer, e só os afetos foram trabalhados, elaborados, no sentido de entender a relação com os outros e consigo próprio, contudo ao ver o filme ¨ Lua de fel ¨ e ao observar uma cena em que a mulher besuntada de chocolate, ou algum creme gostoso, era lambida nos seios por um homem, lhe despertou o desejo de ser aquele homem, e possuir aquela mulher.
¨O que está acontecer comigo ¨ ?
Ou seja, porque os meus desejos estão a mudar ?
E porque eu sinto que estou a transformar-me, tenho medo de perder, não só os objetos que faziam parte da minha vida, porque já não pretendo ser passivo, mas todas aquelas pulsões que representavam uma ideia, que ao modificar esta, perderam-se, não só a ideia anterior, como a própria pulsão, a energia, que me conduziam a um determinado objetivo, que muito embora fosse substituído por outro, ainda não apresenta condições de satisfação plena do instinto.
Entendeu que a intimidade com os homens, promoveu a exclusão do objeto feminino nas suas relações sexuais, e que agora existe alguma inibição, que pode promover uma certa ansiedade, porque deseja, e não está seguro dos passos que deve observar nesse sentido, em que compreendeu, que está posicionado no ponto zero, semelhante à criança ignorante, que tem agora de aprender a lidar com a nova realidade, e não sabe muito bem como fazer, mas que tem consciência que deve manter-se tranquilo, sem fazer desses desejos novos uma obsessão psíquica, mas tentando lidar com eles de forma natural, em que o convívio deve ser promovido, de forma serena, natural, e que a relação pode acontecer a qualquer momento, quando se proporcionar, e não, que procure obsessivamente.
O poderoso, que nunca chorava, agora emociona-se e chora, e isso causa-lhe confusão.
E isso é bom ou é mau ?
Entende que o sentido que dá agora à sua vida não é a mesma que antes, mais verdadeira, responsável, sem angústia e tristeza, com decisões importantes no campo profissional, abandonando projetos a favor de outros que julga serem mais importantes, o que lhe confere uma segurança, o ser ativo, que tudo pode mudar, mas que ainda tem medo, que se emociona, porque está a viver, em que o passado, se faz ainda presente, embora ausente, mas que ninguém pode apagar e esquecer de todo.
O ser passivo, denota dependência em relação ao outro, e, é lógico, que ao pretender ser ativo, dando passos nesse sentido, esses sentimentos que ainda não foram perdidos, e não se perdem nunca, simplesmente se transformam, se fazem presentes, causem um certo desconforto, e uma sensação de insegurança.
Também é verdade que os ganhos secundários são sentidos como perdas, que no fundo são desejos e prazeres, que já não se querem ter mais, mas que tenta equilibrar com outros desejos e prazeres, criando objetivos, como a faculdade, os projetos de investigação, com o fim de obter vida própria, autonomia, mas com a consciência que o passado o atormenta ainda, e a todo o momento, que nos permite entender, que por vezes não damos conta do que estamos a pensar, e a fazer o que não desejamos.
Parece ser este o curso normal de toda a mudança, ou da sua tentativa, de quem pretende mudar na realidade.
São tentativas, como o foram na infância tantas outras, o aprendizado em permanência, as possibilidades que estão á espera de serem potencializadas, perante a impossibilidade, que ao sentir-se é responsável pela criação de outras possibilidades.
A sensação de ser escravo de uma ideia alheia, ou simplesmente da nossa, da qual nos pretendemos libertar, em que só a liberdade pode promover a autonomia do ser humano,
exige algum risco, não se vá ser destruído por uma realidade exterior que ainda não dominamos porque nunca experimentámos antes, pelo que sentimos alguma insegurança quanto aos resultados que podemos obter, e por isso o apoio que pretende, no aconchego do analista, no colo materno de um outro homem.
Por não pretender mais a dependência materna, que tem a noção que o conduziu a tal estado, por lhe querer tão bem, tanto mal lhe fez, mas que já perdoou, porque o amor tem destas coisas, ama-se, mas não conseguimos entender que estamos a sufocar o outro, não o deixamos crescer, recolhido no útero materno de modo fantasioso.
Honrar Pai e mãe, e perdoar-lhes pelos seus exageros, é ser adulto.
È entender que nos deram o que lhes foi possível, embora de uma forma que não percebemos tantas vezes, e eles muito menos, convencidos que estavam a dar o melhor a seus filhos.
O ser adulto é pensar por si, desejar ser autónomo e criar possibilidades.
È mostrar-se forte perante o impacto da realidade exterior, sentir a frustração, a angústia e tristeza, e reagir, fazendo de novo, de outro modo talvez, sem sentir-se agredido, e não sentir a raiva, que o possa levar a agredir, para não voltar a sentir os mesmos sentimentos, mas tendo sempre em conta o respeito e consideração pelo o outro.
Em cada momento sentimos a criança dentro de nós, que não sabe como fazer, mas que deseja, e como por magia as coisas acontecem, o espanto toma conta de nós, porque estamos a mudar o que antes parecia impossível, eternamente crianças e nem sempre adultos, nos confrontamos a cada passo, com a possibilidade e a impossibilidade de transformar a nossa vida.
Somos empurrados para um canto da sala, ou tentamos seduzir o outro para conseguir nossos objetivos, ou de modo próprio, depois de elaborar lançamos mãos à obra, para construir a nossa própria vida.
Já não sou o mesmo de ontem, não serei amanhã o que sou hoje, em constante evolução, perguntou quem sou afinal ?
Quando as mudanças são promovidas devido a alterações de pormenores, não se lhes nota a diferença, criando a ilusão que nada mudou, quando tudo se altera a cada momento, não sendo confrontado com o radical das decisões, que nos coloca perante uma nova realidade, que temos de gerir, mas cujo movimento é dirigido noutro sentido, e tantas vezes inverso ao que estamos habituados.
A constância parece não existir, mas a um ritmo próprio de cada um, com alterações pelo meio, em que a rotina acaba sempre por cansar, e nos tornar seres imobilizados, nada fazemos igual, muito embora semelhante, devido a alterações de pormenores, que pode ir desde o cenário, aos objetos e à relação com eles, num processo de auto realização, que nos pode conduzir à satisfação ou á frustração.
Mas que resistência é essa, que não nos deixa introduzir alterações profundas no sentido de inverter o rumo aos acontecimentos ?
Talvez, porque as alterações que observamos que nos podem ser úteis, não seguem a mesma ordem que antes construímos rumo a um objetivo, e reconhecemos que o ser humano não tem condições, pelo menos imediata de adaptar-se a elas, por isso as rejeitamos.
A perspectiva inicial que se tem, segue o seu rumo, e só uma outra percepção sobre o assunto pode desencadear um novo processo e criar um novo destino, em que o movimento se verifica sempre, de uma maneira ou outra, na tentativa de alcançar a finalidade do instinto, a sua satisfação.
Mas como abandonar a perspectiva anterior, quando se é afetado por ela, e deixar-se abandonar nos braços de outra, deixar-se levar por ela, como ser puro, feito criança ?
Nada se perde, tudo se transforma, Lavoisier.
Mas ao transformar-se, existe a perda de uma ideia anterior ?
Ou é a partir dela que é possível a mudança ?
A partir de uma ideia construída, podemos construir uma infinidade delas, que não dos objetos, porque outros podem substituir aqueles, embora possam permanecer em nossas vidas, eles não são sentidos como únicos e fundamentais, porque o objecto EU, o sujeito, retirou-se da sua dependência, e quis navegar por outros mares.
A ideia de hoje sobrepõe-se, ou pode sobrepor-se, à anterior, aquela pode matar esta, ou esta pode matar aquela, mas será sempre por causa das ideias anteriores, que outras vieram para a substituir, por mais estúpidas e aberrantes que sejam, sendo ideias que se tornam presentes, para não nos sentirmos ausentes, sem ideia nenhuma, em que só o autómato, a robótica, ou a paralisia, nos pode salvar de uma sem vida.
O movimento repetitivo tende a eliminar um novo sentido.
Queiramos ou não, amputamos algo em nós, para que seja possível criar possibilidades de vida.
Passado quase uma semana de estar em São Paulo, nos afazeres da Faculdade, quando o dia do regresso a casa estava próximo, as dores de cabeça começaram, as dores abdominais também, e uma indisposição geral difícil de suportar apoderou-se do seu corpo, sem que conseguisse perceber qual a origem de tudo isso, foi levado a meditar acerca de tal manifestação de mau estar.
Será que o estar longe de casa causa-me alguma insegurança ?
Se assim fosse, tudo isto me aconteceria aquando da viagem para São Paulo, e não agora que vou regressar.
Será que esta indisposição tem a ver com o regresso ao ambiente familiar que já não desejo ?
Eis a dor, e uma tensão interior, provocado por um conflito inconsciente, entre o que deseja e o desprazer de um encontro com o passado que não deseja, que nada tem a ver com o amor de mãe, mas com a relação entre pessoas, que já não pretende que seja a mesma.
O objeto de amor, que ama, e pretende continuar a amar, e não odiar, mas cujas relações com ele tornou-se difícil de suportar.
Percebe-se a nítida definição quanto ao objeto de amor, e ao modo de manter uma relação com ele, algo diferenciada daquela que tinha no passado.
Existia um polimorfismo quanto ao modo de pensar, em que tudo era associado a essa forma inicial, em que todas as possibilidades potencializadas não eram criadoras de fatos novos.
O outro como objeto sente que algo na relação está a mudar, e desenvolve esforços para que isso não aconteça, tentando impor a ideia de que amor, aquele amor, só pode ter aquele tipo de relação, possessiva, não entendendo mais nada para além disso mesmo, em que só a atitude firme e correta, demonstrando que o amor que sente pela mãe é o mesmo, mas que pretende libertar-se da sua dependência, e seguir seu caminho, agora com autonomia.
Os sintomas que enxergava no filho, já não os enxerga mais, a não ser a espaços, e o medo por o perder, também é sentido, em forma do objeto criança, que desejava perpetuar, em que nota-se o seu poder narcisista, e o sentimento de posse exagerado.
O filho, que consciente em seguir um rumo na sua vida de forma autónoma, tem a noção do aprendizado, da insegurança, que por vezes sente-se esvaziado, pela perda de uma ideia inicial dessa relação mãe e filho, caminha agora no sentido de uma nova construção.
Tende a consolidar uma posição, sem perceber muito bem como o fazer, procura um suporte, que lhe garanta uma vida diferente, não desejando cair no colo da mãe novamente, apresenta alguma dificuldade em amparar-se em si mesmo.
Hoje percebo as coisas horríveis que fiz, desabafa a chorar.
Aproveitei-me das pessoas para obter o que desejava, servi-me delas.
Sente culpa ?
Talvez não, mas raiva, porque hoje sinto que estava errado, e que não o deveria ter feito.
Mar porquê hoje e não ontem ?
Tem razão, porque só hoje consigo enxergar.
Que culpa é essa, senão a compaixão de si próprio, mais uma vez punindo-se devido a comportamentos do passado ?
Não se perdoa ?
Estou a tentar perdoar-me.
Quando se vai libertar dessa culpa do passado ?
Vejo a luz ao fundo do túnel, mas ainda não a consigo alcançar, estou a caminhar para ela, mas assusta um pouco, sinto-me por vezes inseguro, inquieto, sozinho, não querendo o colo materno, mas ainda o desejando por vezes, porque ser autónomo exige sacrifício, energia diferenciada, o que por vezes faz perder forças, e incomodado pelo o incómodo, a tendência é o regresso ao passado, que não desejo.
Estava no escuro do túnel, do útero materno, acomodado, acarinhado, mas apodrecendo, porque já não era tempo de estar ali, uma luz podia observar do outro lado, o ser que estava dentro de outro ser, que embora outro, não poderia ser outra coisa, senão aquele que o fazia omisso, e quando um dia empurrado para a loucura da luz do dia, seus olhos cegos que pretendia abrir, com tanta luz, acabaram por fechar-se, agarrou-se à saia da mãe, porque tudo o ofendia, ou parecia ofender quando na relação com os outros.
Pai agressivo e prepotente, uma sociedade preconceituosa, e uma mãe que não o defendia, mas que o protegia, fazendo das outras figuras omissas, mas ao mesmo tempo tenebrosas e assassinas, o aconchegando simplesmente para não voar e sentir-se sozinha, arrastada para a solidão com medo de cair na melancolia e morrer.
Mal sabia ela, que o filho a entendia como objeto destruidor, triturador, que anulou a figura do Pai, poderosa, e que só por medo, ou por não saber criar outras possibilidades, a ela se subjugava, submetia-se, que projetou na vagina todo o seu poder, que castrou o pai, o mesmo que era tão agressivo, e que ela dominava como se fosse um cordeiro.
E como não tenho vagina para ser penetrado e moldar o outro à minha vontade, me servirei do ânus, como algo semelhante, para que possa possuir outros homens, e ser tão poderoso quanto ela, e os perverter aos meus desejos.
Sou coitado por necessidade de obter prazer e ganhos secundários, por isso garanto ao outro o prazer de me ter, sou passivo, mas com a ideia de criar possibilidades, e quanto a isso sou ativo.
Parece então claro, que o ser ativo ou passivo na relação não se mostra tão importante, porque todos somos ativos perante uma ideia que nós próprios criámos, ou nos criaram, e o ser passivo em relação ao outro é proveniente dessa ideia.
Sujeito-me a ser coitado, criando a ilusão ao outro que sou inferior, para que ele me possa conceder o prazer de estar na vida, que de outro modo não consigo obter.
Não sou coitado, sou lobo, embora me mostre cordeiro, carne tenra para comer, o sacrifício que tenho de fazer, para obter o prazer do aconchego e ser compreendido.
O histerismo da mãe projetado no filho, que quando deixa de fazer-se sentir, o núcleo neurótico mostra-se evidente, em que o regresso ao ignorante, o faz sentir a magia quando experimenta algo de novo, em que o experimento desenvolve algumas possibilidades, que ele próprio não sabia que existiam dentro de si.
Já não tenho gozo, e até sinto um certo incómodo em beber uma cerveja num bar Gay.
O exibicionismo incomoda-me.
Já não quero mais aquele ambiente.
O que se está a passar comigo ?
O espanto, a magia, por algo que se está a transformar, não lhe parece ?
Sim, mas eu quero, eu preciso entender, causa-me confusão.
Tente entender primeiro porque o incomoda agora o exibicionismo da sua homossexualidade, que antes lhe parecia agradar.
Não sei explicar.
Porque não tem agora essa necessidade de mostrar-se igual a tantos outros ?
Não sei.
Será que tem a certeza do ser homossexual que está dentro de si ?
È verdade, nunca senti tantos desejos por mulheres como hoje.
Porque antes queria fazer parte da oferta, e hoje da procura ?
Não tinha pensado nisso.
Não lhe disse, mas senti que ele de fato tinha perdoado à mãe, já não a enxergava tão poderosa, porque arrastada a seus pés, quando pressentiu que o filho desejava sua vida autónoma, percebeu que o general tinha perdido o comando das tropas, ou que ele próprio era agora o poder, que lutava mais consigo, que com os outros, que liberto das amarras, começava a entender, que afinal o mundo exterior não era como o via, ou o fizeram enxergar, e que destruidora, a trituradora da figura paterna estava errada.
Simplesmente o Pai se deixava anular por aquela vagina quente e húmida, que lhe dava prazer, não por amor, mas por necessidade de sentir-se útil, porque homossexual era entendido como sendo o contrário, e estando com uma mulher, ninguém poderia julgar, ou, sequer adivinhar as suas tendências homossexuais.
A transferência para o filho fez-se através de uma postura agressiva e prepotente, chegando ao espancamento, como a raiva contida de não o poder possuir, fez dele o homossexual que ele nunca teve a coragem de ser.
Por medo de mais tarde também constituir uma ameaça, não vá um dia ser desejado pela mãe e ela o desprezar, fez perceber no filho que os homens eram agressivos e violentos, o empurrando para uma postura feminina.
Podemos pensar o descrito como especulativo, mas o fato é que este relato, ou melhor esta sensação, foi o próprio paciente que a revelou.
A neurose traumática está aos poucos sendo dissolvida, não é mais criança, que possa ser espancada, cujo entendimento permite-lhe construir uma outra perspectiva, sem o medo de ser punido, espancado, questionando neste momento, que nem todas as vaginas são iguais, que se comportam como a da sua mãe, e que outras mães apresentam outro tipo de atitude que não aquela, dissolvendo a ideia da vagina destruidora, trituradora.
Começou a perceber outras perspectivas, construindo outras ideias, em que existem outras tantas possibilidades, que dependem da relação, e que os sentimentos são resultantes de sensações que elas podem provocar.
Bem vindo ao mundo da psicanálise.
Acordar do sonho nem sempre é fácil, porque mesmo acordados, por vezes, continuamos a sonhar.
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