Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A essência da criatividade

Viajando no tempo, não existe mais tempo para o ser humano fixar-se em algo que possa considerar como importante.

O nômade não considera o tempo como desperdício, por isso caminha em busca de um lugar ao sol, que permita a sua sobrevivência.
O sedentário não pretende largar mão dos haveres e do espaço.

O nômade, dado que não pode carregar a casa ás costas, durante a viagem, transporta o essencial como o garante da sua sobrevivência.
O sedentário rodeia-se de excessos por medo que algo possa faltar.

Um é provocado pelas circunstâncias, que o impulsiona no sentido da vida.
O outro preserva as coisas e as condições circunstanciais, tenta o seu domínio e controle, para que seja possível viver, e não sentir a perda.

Um lida com os fatores circunstanciais com naturalidade.
O outro, os tenta preservar, com a fé e a esperança que nada vai faltar, impondo a si mesmo a vigia e o controle sobre todas as coisas.

E eis que entra em cena a própria natureza, de que as coisas e o mundo são possuídos, altera as circunstâncias, em que uns partem na busca de melhores dias, e outros tristes e angustiados, deixam-se ficar, tentando exercer cada vez mais pressão, controle e domínio, para que tudo volte a ser como antes.

Entramos em guerra, resistimos, a dor e sofrimento aumentam, mas empenhados na luta, funciona como anestésico do próprio corpo, talvez porque, nesse movimento o ser humano encontre uma razão que suporte a sua interioridade.
Transformamos a relação num inferno, consumimos vidas humanas, e no final de um processo, nada foi perdido, apenas o ser humano foi vergado sob o peso das circunstâncias.
Angola, Guiné e Moçambique continuam no mesmo lugar, habitado por gente, talvez não aquela que alguns desejariam, mas semelhante, agora amigos, quando antes eram considerados inimigos.
De que valeu a razão ?
Apenas para suportar a guerra.
O controle e o domínio sucumbem, mais tarde ou mais cedo, aos pés das próprias circunstâncias de uma condição natural.
Que importa a nossa verdade e a razão associada, quando na prática elas tendem a cair por terra.
Que verdade é essa, que não é capaz de suportar-se a si mesma, e deixa ferir-se de
morte ?
Tenho dúvidas que seja a força dos mais fracos, como força reativa, que impõe o domínio aos mais fortes e os derrotam, ou se eles são derrotados pelas circunstâncias que são adversas, que persistem em controlar e dominar.
Se for este caso, a lei do mais forte, derivada de uma fonte natural, é que vence aquele que julgava ser mais forte, quando afinal era fraco.
Do ressentimento e do sentimento de culpa de ambos, parece surgir a futura amizade, em que podemos perceber uma espécie de tentativa de equilíbrio das forças.

É curioso observar, naquelas pessoas que recorrem aos diversos serviços de saúde, mental e física, cuja primeira finalidade é adquirir o elixir milagroso, que possa aliviar, ou até mesmo aniquilar, a dor e sofrimento.
Significa que ao retirar o sintoma, permite ao sujeito continuar a sua luta ¨ heróica¨, segundo sua verdade e a razão que a suporta.
O milagre da onipotência foi liberado através do elixir divino, que retirou a sensibilidade ao corpo, garantindo ao sujeito uma força interior hipócrita, dado que oculta a verdade emergente de uma relação, e o vincula cada vez mais á sua verdade interiorizada.
Somos a deduzir que o tal elixir milagroso, que alivia a dor e sofrimento, em que o indivíduo recusa a análise psicanalítica, alimenta a destruição dos outros, e dele próprio.
O elixir milagroso, divino, afinal, é um veneno que atenta contra a vida, que de forma inconsciente, o sujeito julga devolver-lhe o sentido da vida, quando está a alimentar o seu sentido de morte.
Este é o sedentário, gordinho e cansado, que espera sentado pelo o milagre, que possui a esperança de cair a seus pés, o príncipe encantado, ou a donzela, que o possa fazer feliz.
A criatividade só a podemos observar, quando algo emergente de um corpo, tende a transformar a impossibilidade numa outra possibilidade qualquer de vida, como forma de superar o sentimento de impotência que não deseja sentir, dado que é o pronuncio de uma morte anunciada, que deseja adiar.
Ignorantes os homens, quando não se apercebem, que é precisamente a possibilidade da morte, que é geradora do sentido de vida.
Desse modo, não nos custa admitir que a força da criatividade reside no corpo, como superação ao mundo das trevas.

Nenhum comentário: