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Doenças e saques viram o novo problema do Haiti
Sex, 22 Jan, 08h42
Jesús Sanchis.
Porto Príncipe, 22 jan (EFE).- Organizações internacionais começaram a identificar o surgimento de doenças em Porto Príncipe, onde os trabalhos humanitários continuam e os comerciantes do centro da cidade tentam desesperadamente salvar suas mercadorias dos saqueadores.
Infecções respiratórias, diarreias, problemas dermatológicos e casos de tétano e meningite já foram detectados, disse à Agência Efe a representante de Saúde da Cruz Vermelha no Haiti, Beatriz Karottki.
Passados dez dias desde o terremoto, diminuiu um pouco o número de feridos com traumatismos e órgãos a serem amputados. Por outro lado, começaram surgir problemas de saúde relacionados a desidratação e infecções, comuns após grandes catástrofes.
O dia a dia em Porto Príncipe também começa a voltar ao normal. O comércio abriu as portas, equipes de limpeza já trabalham em algumas localidades e, após dias de ajuda no socorro às vítimas, até as forças de paz da ONU estão retomando sua atividade principal: a segurança.
No centro da capital, porém, alguns comerciantes, com medo da onda de saques, decidiram esvaziar seus estabelecimentos e levar toda a mercadoria para outro lugar.
Por causa do terremoto da semana passada, centenas de pessoas reviram todos os dias as lojas destruídas da parte central de Porto Príncipe em busca de algo para comer ou vender.
Michel, dono de um armazém que vende tecidos, brinquedos e artigos para o lar, levou hoje um de seus empregados para esvaziar o local, caso contrário o estabelecimento em breve virará alvo dos saqueadores.
Enquanto ajudava a colocar as mercadorias em um caminhão estacionado em frente à loja, Michel manifestou à Agência Efe seu mal-estar em relação à passividade da comunidade internacional diante das cenas de roubo, saques e violência.
"Eu esperava que a ONU fosse enviar ajuda para dar segurança a esta região, mas, dez dias depois (do tremor), só há uma patrulha da Polícia estacionada na entrada da rua", comentou o comerciante, que do seu armazém via grupos de jovens saindo de estabelecimentos próximos carregados de produtos roubados.
"Isto é muito duro. Não tenho nenhum projeto nem sei o que vou a fazer. Esta frustração nos desmotivou. A única coisa que posso fazer é tirar o que há dentro do armazém", disse o lojista, que há 30 anos ocupa o mesmo ponto.
Vários outros comerciantes tomaram a mesma decisão que Michel e levam embora suas mercadorias para evitar que sejam roubadas.
"Se não tirarmos, olha o que acontece", disse outro empresário apontando para o alto, onde um grupo percorria o teto de seu estabelecimento em busca do que quer que seja.
Mas, ao contrário de Michel, este comerciante, que preferiu não se identificar, não tem críticas contra a polícia, que "faz o que pode".
"Mas quem me vai me dar crédito nestas circunstâncias? A menos que a comunidade internacional conceda financiamento (...). É muito difícil recomeçar", reclamou o atacadista, que vendia materiais para a fabricação de sapatos.
Quando parados pela polícia, os saqueadores dizem que o que carregam em suas bolsas é de sua propriedade. Mas, em uma destas interceptações, quando os agentes foram embora, um grupo admitiu à Agência Efe que os perfumes, cremes e cosméticos que transportavam eram de lojas da região.
Os saqueadores estão por todos os lados, rastejam pelos buracos entre os escombros e percorrem os tetos dos estabelecimentos.
Em um deles, três jovens que não quiseram dar seu nome reconheceram que estavam em busca de algo para roubar. Porém, disseram que hoje foi um dia ruim, já que não encontraram muita coisa. A conversa acabou de repente, quando dois estampidos foram ouvidos e todos começaram a correr de disparos da "polícia má", como outro jovem se referiu às forças de ordem.
Jean Martín, de 22 anos e com o rosto coberto até os olhos, disse à Efe que não há nada a fazer, a não ser revirar os escombros em busca de algo.
"Tenho muitos problemas. Sinto fome. Você entende? Tenho que salvar minha vida. Minha mãe morreu no terremoto, meu pai está desaparecido e agora estou só", declarou.
"Aí (debaixo dos escombros) há muita coisa: comida, roupa..., o que quiser. A polícia não causa problemas (porque) sabe que temos que comer", acrescentou. EFE
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