Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nietzsche

A verdade e a ciência

Que significa essa vontade absoluta da verdade ?
Será a vontade de não se deixar enganar ?
Será a vontade de não enganar ?
Se eu não quero enganar, eu não quero me enganar.
Não queremos nos deixar enganar porque achamos que é prejudicial, perigoso, nefasto ser enganado – desse ponto de vista, a ciência seria o resultado de uma longa astúcia, de uma precaução, de uma utilidade, e que poderia justamente objetar, como ?
O fato de não querer se deixar enganar diminuiria, realmente o risco de encontrar coisas prejudiciais, perigosas, nefastas ?
Antes de mais nada, o que sabeis a respeito do caráter da existência para poderdes decidir se a maior vantagem está do lado da desconfiança absoluta ou da lado da confiança absoluta ?
Essa convicção, precisamente, não se poderia ter formado, se a verdade e a não verdade afirmassem ambas continuamente, sua utilidade, essa utilidade que é um fato.
Portanto, a fé na ciência, essa fé incontestável, não se pode ter originado de um semelhante cálculo de utilidade, ao contrário, formou-se a despeito da demonstração constante da inutilidade e do perigo que residem na " vontade de verdade ", na "verdade" a todo o custo.
Sabemos muito bem o que isto quer dizer, pois neste altar sacrificamos todas as nossas crenças.
Por consequência, " vontade de verdade " não significa "não quero me deixar enganar" mas, e não há escolha possível, "não quero enganar, nem a mim nem aos outros, e eis-nos então no terreno da moral.
Pois faríamos bem se perguntássemos sinceramente – Porque não queres enganar ?
Sobretudo quando poderia haver aparência (e há aparência), de que a vida, seja disposta em vista da aparência, quero dizer em vista do erro, da trapaça, da dissimulação, do deslumbramento, da cegueira, e de outro lado, de que a grande manifestação da vida se tenha efetivamente sempre mostrado de lado da mais absoluta verdade.
Assim, "A vontade de vida" poderia esconder uma vontade de morte .
A fé na ciência, afirma assim um outro mundo, diferente de mundo da vida, da natureza e da história, e, enquanto afirma esse outro mundo, não precisa, por isso mesmo, negar o seu antípoda, este mundo, nosso mundo.
Mas já terão compreendido onde quero chegar, isto é, que ainda é sempre sobre uma crença metafísica que repousa nossa fé na ciência.-que nós também, nós que procuramos atualmente o conhecimento, ainda tomamos o nosso fogo de um incêndio ateado por uma fé velha de mil anos, essa fé cristã que foi também a fé de Platão e segundo a qual Deus é a verdade e a verdade divina
Mas que aconteceria se precisamente isso se tornasse cada vez mais inverosímil, se apenas o erro, a cegueira, a mentira se afirmassem como divinas, se o próprio Deus se afirmasse como a nossa mais longa mentira ?
Não quero acreditar nela a despeito de sua evidência – a maior parte dos homens não tem consciência intelectual.
Ás vezes chego a pensar que, reivindicando uma tal consciência, nos encontramos solitários, como num deserto, nas cidades mais populosas.
Todos nos olham com olhos estranhos e continuam a manejar sua balança, considerando tal coisa boa e tal outra má.

( A alegre ciência )

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