Hedonismo
A filosofia como instrumento que serve ao homem no questionamento, que pode conduzir ä indagação, é necessária e útil, sendo indiferente onde o filósofo busca o material que a serve, porque subjetivo, a partir de que princípios e conceitos se propõe analisar os fatos.
O filósofo, que não a filosofia, ao longo dos tempos também tem sido responsável por registos psíquicos que perduram como verdades, que não passam de imprecisões, e até mesmo falsidades, cuja finalidade, talvez inconsciente, seja levar por diante um pensamento que apresenta poucas condições para se sustentar.
A denominação em filosofia é perigosa, aliás como em qualquer outro campo do conhecimento, dado que impõe um caracter absoluto, e, tantas vezes falso acerca da realidade.
Mas não fora assim, se não existisse esse caracter absoluto e definidor de significados, que implicam reduções na dinâmica psíquica, através de algo proibido, porque entendido como nocivo, a denominação não apresentava condição alguma para se impor ao sujeito.
Ela é perigosa, porque tende a funcionar como cogito, que é transformado em referencial e princípios, quando apenas é denominação derivada de um conceito, tantas vezes proveniente de um idealismo moral, o que tende a anular pensamentos anteriores.
A moral para alguns está no livre pensamento e não no ato praticado.
Neste caso a denominação hedonista, é entendida como o indivíduo que persegue o prazer, sem ter em conta valores morais, conotado com o imoral, o desregrado e depravado, que por sua vez apresenta uma conotação sexual perversa, ou indecorosa, sem respeito e consideração pelo seu semelhante.
Como a formação familiar e as instituições religiosas, impõem o oculto acerca de muitas matérias, e a sexualidade é uma delas, não será difícil admitir que os autores considerados hedonistas, sofram de uma perseguição mental, que por via disso contribui para perpetuar algumas mentiras, contrariando a própria palavra bíblica
" Só a verdade te salvará ".
Denominar alguém de hedonista é condená-lo á exclusão e ao isolamento, recebendo como proposta o exílio, como tentativa de o retirar do convívio humano.
Não deixa de ser fanatismo a coberto de uma boa razão, que podemos perceber através da história, como a queima dos livros e a fogueira de corpos, considerados insanos.
Como tudo isso era ultrajante e animalesco, a opção agora é pela indiferença e a criação de grupos que impedem a liberdade do livre pensamento, o que vem dar no mesmo, embora de modo oculto, sem dar nas vistas, é promovida da mesma forma, o julgamento prévio, a condenação e a punição.
É imposto ao sujeito o nome de família a quem pertence, hedonista, em vez dos Silvas, metendo no mesmo saco de uma vez só, diferentes formas de pensar e estar na vida, afirmando falsamente que tudo é igual, quando apenas pode ser semelhante.
Bastaria enxergar que o ser humano não apresenta condições de sobrevivência perante a ausência de algum prazer, para perceber quanto é imprópria tal denominação.
Seja qual for o ser vivo, ele obedece ao princípio de satisfação, que é condição necessária para a sobrevivência, em que o prazer é um derivado linguístico, que apenas tende a confirmar tal princípio, uma vez observado.
Assim, admitimos que o princípio de satisfação é proveniente de um sentido derivado de um instinto, por via inconsciente, e o prazer, como sentido, que se traduz no sentimento, que lhe é conferido através da verbalização, através de uma atitude consciente de expressão.
Podemos considerar por isso, que a satisfação não está localizada no ato consciente, mas no inconsciente, como algo interior e oculto, que o outro não tem condição alguma para observar e perceber.
A visualização da satisfação, tem seu inicio num desejo interior, como mera possibilidade de vir a ser realizado, em que só é sentido na interioridade do indivíduo, como derivado do instinto, que por si mesmo determina o que podemos designar por pré prazer.
Ele não é perceptível, nem se revela ao mundo, sem que possa primeiro revelar-se de fato.
Não parece que possa existir prazer por antecipação.
Não sei quem terá mais prazer, dado que este nos é garantido pela descarga de excitação, se o indivíduo que satisfaz a sua interioridade, embora respeitando e considerando todos os outros, ou aquele que impõe aos outros os seus desejos, recorrendo a toda uma série de artimanhas para o conseguir, sem respeito e consideração por quem quer que seja.
De uma forma ou de outra somos todos hedonistas, o modo como obter o prazer é que parece ser necessário definir, mas perante a dúvida, prefiro respeitar e considerar os outros, porque é esta a única garantia de bem estar.
Se pretende reproduzir este texto, respeite a autoria por favor. Não seja perverso.
João António Fernandes - Psicanalista
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário