Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Sistematização

Quando o quadro está um pouco descaído, por milímetros que seja, o neurótico obsessivo dá logo por isso, e se possível anda com um nível portátil no bolso, para logo aferir, dizendo para o parceiro do lado:
-Eu não disse que estava torto.
E acrescenta; tem uma diferença de um milímetro.
Eh pá, que satisfação.
Finalmente consegui colocar uma coisa, alguma coisa no lugar certo.
O quadro agora está perfeito, semelhante á minha imagem interior, alinhado, quietinho e rígido, que qualquer movimento não o possa perturbar, porque logo fico incomodado, e ansioso para o colocar de novo no mesmo lugar, alinhado.
O nível indica que está tudo no perfeito lugar, mas ainda assim dou três passos á retaguarda, alinho o meu corpo com o quadro, e tento tirar a medida com os olhos.
Não parece que esteja direitinho, mas que fazer, o nível diz que sim, e ele é o instrumento de que me sirvo para garantir a exatidão do alinhamento das coisas.
Ou será que o nível já não é mais nível que preste ?
Tenho que ir á loja comprar um novo.
Faz-me lembrar aquela mãe que vai á parada militar do juramento de bandeira de seu filho recruta, em que todos marcham com passo semelhante, e o Manuel está com o passo atrasado, que quando levanta o pé direito, já todos os outros bateram com o esquerdo no chão, e que diz para a senhora do lado, que todos os outros é que estão com o passo trocado.
Tudo quanto é seu, que consta da sua interioridade e está inscrito nos manuais dos registos psíquicos, é para toda a gente cumprir, mesmo que ele ande com o passo trocado.
Mas vá a criatura saber disso, se ela julga e tem a certeza que o seu menino é que está certo e todos os outros errados.
Parece existir claramente uma identificação objetal, que parte de um desejo, do seu mundo imaginário, proveniente de uma relação rígida e prepotente, que a retirou de uma visão exterior que pudesse levar em consideração.
Faz lembrar aqueles burros a quem o dono colocou uma palas laterais nos olhos, para seguir em frente, o impedindo de olhar para os lados, cuja repetição sistemática, quando nem palas existem mais, continua a fazer o mesmo.
Os objetos da vida real, não podem fugir do padronizado dessa ordem interna, nem que seja um milímetro.
Repetição é apenas um movimento de uma determinada forma que pretende ser objetivada, mas que nada nos diz acerca dos elementos que constituem o núcleo sistêmico, nem a forma como estão organizados.
No mundo das imagens armazenadas na memória, e das idéias que são produzidas, mais não são que outras imagens que se associam, conferindo um sentido, na tentativa do indivíduo perceber a totalidade do objeto.
O rigor pela medida exata, é produzido pela repetição sistemática de um desejo alheio, que proíbe ao indivíduo de enxergar outras formas de percepção, que o impede de olhar para o lado.
Parece existir uma luta entre sistemas.
Para esses indivíduos não parece existir o mais ou menos equilibrado, mas o exato, a matemática, que para eles é só meia noite, quando os ponteiros se unem lá no cimo, em que não se consegue perceber nenhuma diferença entre eles, não obstante serem diferentes.
Ou seja, os objetos exteriores devem manter uma identificação entre eles, e estes devem estar alinhados com a imagem contida na sua própria interioridade.
Existe como uma colagem á moda dos computadores, que aquilo que o operador copia é o mesmo que vai colar noutro lugar qualquer, ao transferir o texto, ou a imagem contida no seu conteúdo programático.
O indivíduo não se apercebe, mas é apenas um ¨ transfere ¨, de uma ordem escrita ou verbalizada, de algo que não lhe pertence, como testemunho de uma formação infantil, que tem que passar aos vindouros e a seus semelhantes.
Se é o testemunho da lei do pai, ou tem algum conteúdo da postura mãe, ou de ambos, são casos que devem ser percebidos no particular, o que importa mesmo é que foi colocado nas mãos do indivíduo o testemunho, cuja finalidade é garantir ao sujeito mover-se na vida de forma autônoma.

Este processo é repetitivo, e o transferir também.
A tendência por isso, vai no sentido do afastamento do objeto exterior, que foi garante da passagem do testemunho, e a conseqüente internalização da lei e suas regras.

Quando os formadores fazem a entrega da cesta básica, transferem também o seu conteúdo, e, é a partir daí que podemos perceber e observar algumas diferenças interessantes.
Eu para os meus filhos não vou ser como o meu pai, ou mãe, que não dava carinho, e ao primeiro não, vinha logo o porrete.
Esta idéia transforma tantas vezes o futuro pai em bobão e afetuoso em demasia.
E eis a surpresa, fez dos filhos o seu próprio pai, porque exigentes, prepotentes, intolerantes e sem regras, tudo exigem, mesmo que seja necessário desenterrar o porrete do avô.
Se na geração do avô, eram os filhos que não piavam, por medo da punição, na geração do pai, são os filhos que mandam nos pais.
Outra conclusão interessante; aquele pai, por ser tão rigidamente tratado, e tantas vezes agredido fisicamente, por desejar ser o contrário, deixa-se maltratar por seus filhos.
É o caso de uma paciente, ainda ativa, cujo pai foi um vilão, que teve de trabalhar duramente para não morrer á fome, conseguindo um razoável patrimônio que colocou em nome das filhas, agora vive atormentada por não ter uma casa em seu nome para morar, temendo o seu futuro.
Desta história resulta, que uns passaram o testemunho verdadeiro de seus pais, e outros, embora poucos, quiseram oferecer a seus filhos, o contrário daquilo que os pais lhe ofereceram..
Desta fornada, nenhum deles conseguiu o equilíbrio emocional, quando confrontados com o mundo exterior.

As circunstâncias da vida encarregaram-se de revelar quanto fora inadequada a sua formação infantil.
Podemos deduzir por isso, que embora tenha existido a mesma base formativa repressiva, tende a emergir variantes, proveniente de um mundo de convicções, mas onde impera a falta de regras.
A quantidade de energia acumulada devido a agressões verbais e físicas, parece ser apenas parte de um fenômeno, de um corpo feito criança, que não tem condição alguma de defender-se, ou sequer fugir.
Existiu uma fase de enchimento de energia, sob a forma de tensão, que designamos por acúmulo, devido a atitudes repressivas, insuflada á força no corpo da criança.
Ela será um balão cheio de ar, sem regra alguma, que não sabe onde e como pode esvaziar o seu conteúdo, que lhe cria um certo mal estar interior.
Ao tentar esvaziar essa energia com os colegas, por exemplo, o tende a fazer da forma como conhece.
E o que conhece, não são regras, mas apenas gestos e verbalizações brutas, que ¨ transfere ¨para o mundo exterior.
O que transfere é apenas energia.
Somos colocados perante o corpo físico, seu estudo e investigação, que para existir serve-se da química.
Existe uma relação e uma interligação, que está para além do corpo físico.
Aquilo que nos é dado a observar encontra-se no plano físico, que funciona através dos sentidos, a que chamamos de consciência.
O que está para além dele são energias com seus transferes, que uns captam, outros não, e tantos outros deixam envolver-se.
A energia é uma forma abstrata derivada de uma relação entre corpos, que era desconhecida do ser humano nos tempos mais primitivos. Por isso ao observar os fenômenos da natureza, julgavam a existência de seres com mais poder, os Deuses, que não se deixavam enxergar.
Hoje todos falamos de energia.
O avanço tecnológico e científico, desbravou o caninho da ignorância, e parte dessa história antiga de Deuses tende a ser esquecida, e perigosamente para alguns, prepara-se o assalto ao próprio Deus, na tentativa de demonstrar que ele não existe.
O pior não é se Deus existe ou não, mas a verbalização do ser humano, que produz a afirmação ou negação da sua existência, cujas conseqüências na relação humana desconhecemos.
Para Deus é irrelevante a palavra do homem, não chegando a molestar conceito algum que possa ter acerca dele, mas serve, de motivo de luta contra o seu próprio irmão.
O povo costuma dizer, que vozes de burro não chegam ao céu.
E porque não chegam ?
Porque é uma ordem da própria natureza, que é imutável quanto a seus princípios básicos, que tende á transformação, embora tão lenta, que é quase imperceptível para o homem, mas seguindo os mesmos princípios e a mesma ordem.
Essa ordem deve ser entendida como sistema, cujos movimentos, que é garantido por uma determinada quantidade de energia, conduzem o ser humano ao sistemático, ou á sistematização.
O sistema é derivado de um desejo corpóreo, que não intelectual.
É devido a isso, que um ser humano intelectualizado, apresenta os mesmos conflitos psíq uicos que outro sujeito qualquer, e tem as mesmas dificuldades em superar esses momentos, que se manifestam por sistema, sistematizados.

Quando falamos de sistemas, estamos a tratar de modos de organização, que para existir deve obedecer a princípios.
Sistematização é o movimento gerado, ou impulsionado através de uma ordem sistêmica.

Porém, a sistematização nada nos diz, quanto a conteúdos, sentidos, elementos ideativos e energéticos que o constituem.

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