Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

terça-feira, 22 de junho de 2010

Complexidade

Enxergar os fenómenos, como formas simples, que exigem uma atitude imediata, é próprio daquele que ocorre a uma emergência, porque a casa está a arder, em que fica satisfeito por salvar seus haveres, continuando a desprezar o que deve ser feito, para que tal não possa acontecer de novo.
Confia na sorte, ou em qualquer outra coisa, e recusa-se a iniciar um processo de ( re ) aprendizagem para que as desgraças tenham menos probabilidades de acontecerem.
Se o trem continuar a rodar na mesma linha, as estações serão sempre as mesmas, assim, os resultados serão mais ou menos os mesmos.
São os estados depressivos, em que o indivíduo recusa enxergar outras realidade, que o leva á depressão, como consequência de uma sequência, de uma vida prepotente e intolerante, que recusa o aprendizado, porque o seu saber, parece bastar-lhe.
Na realidade os seus conhecimentos pareciam ser suficientes, mas de repente, como num passe de mágica, não lhe parecem valer, entrando na depressão, colocado a um canto, olhando o chão, interiorizando a sua inutilidade como ser humano.
Seria lógico, que uma vez assim prostrado, saísse dessa condição, e manifestasse a vontade de mudar o rumo á sua vida, que para isso deveria ter a ajuda necessária.
Puro engano, perdido no horizonte, agarra-se á sua interioridade, como algo que resta de si, para não se perder de vez e morrer, ou ser considerado moribundo.
Não se apercebe, porém, que já perdeu, ou está a perder aos poucos.
Mas o que perdeu ?
Apenas a visão, a sensação, de uma perda interior, ou de parte de uma força interior narcisista, que para ele significa o poder, o ter poder é ter vida.
Tenta garantir para si, o resto dessa força interior que lhe resta, por medo de sentir-se inútil.
O deixar de ser importante para os outros, o leva a pensar que não é importante para si mesmo.
Mas não podemos encontrar apenas no poder narcisista exacerbado a explicação para a depressão e violência, dado que constitui parte de uma complexidade psíquica, que sem outros elementos associados, o seu efeito não se faz sentir nas atitudes humanas, ou pelo menos de forma tão intensa.
Sabemos que o poder narcisista pressupõe uma alteração da quantidade de energia produzida através do corpo, o que na realidade, pouco ou nada nos diz, a não ser a constatação de um aumento exagerado de tensão interior.
Significa que tal alteração pode dar lugar a inúmeras atitudes, nem sempre previsíveis.
Parece ser, antes de tudo, necessário entender como ela é produzida, devido a quê, e através de que mecanismos tal é possível.
Hoje, parece ser ponto assente, pelo menos na classe dos estudiosos da mente, que deve ser banido os açoites na bunda das crianças, o que já é um bom princípio, mas manifestamente insuficiente.
Direi mais, o indivíduo que está habituado a lidar com as crianças na base da agressão física, por medo de ser punido, pode de fato fazer um esforço para abster-se de o fazer, mas tende a reforçar as exigências psíquicas, entenda-se agressões verbais, que se não levar á violência, tende a conduzir o indivíduo á patologia.
Ora, a questão, não parece que seja escolher entre uma sociedade violenta e uma sociedade adoecida, mas antes criar as condições, para que ambas possam ser atenuadas de forma clara, uma vez que, de todo não é possível erradicar seja o que for.
Sabemos que a agressão física, é uma resposta motriz, perante a impossibilidade psíquica, porém, por vezes nos esquecemos desses princípios básicos, na hora de analisar os fenómenos.
Por outro lado, deixamos passar em claro, que a agressão verbal, pode ser considerada do mesmo modo uma resposta motriz, dado que não tem qualquer conotação com o pensamento, mas antes com um processo de ação / reação, proveniente de formas instintivas inatas, ou adquiridas.
Nos dispomos, por norma, a atacar as evidências, proibindo, quando elas ocultam uma realidade mais profunda, que se encontra na relação, que muitos de nós, não parece estar interessado em enxergar, ou simplesmente, não detém o saber bastante para o fazer.
Se a sociedade está doente, é porque a família desde há muito está despojada de uma realidade formativa, em que os exemplos transferidos para os filhos, não parecem ser os mais adequados.
Falemos claro, para que não sejamos atropelados pela realidade que nos é presente a todo o momento, em que a maioria, perante a impotência, só pode mesmo é reclamar.
E porque reclama, alguém tenta proibir, para satisfazer seus anseios.
Perante o mal estar da sociedade, entra-se num círculo vicioso de ação / reação, que não leva a lado nenhum, a não ser á disseminação de uma impotência, que tende a conduzir á luta, que alguns fazem crer, entre o bem e o mal. .
É doloroso admitir, que aquilo que é designado por bem e mal, é fabricado dentro de casa, devido á interioridade ambivalente dos seus membros, que ao não saber gerir as contrariedades, são eles próprios que tendem a praticar a maldição.
De outro modo, estaria comprometido outro princípio básico da evolução do ser humano, a transmissão de conhecimentos.
Se aqueles que têm alguma responsabilidade pública, continuarem a alimentar este estado de coisas, apresentando uma reação, que não o mais saber, o trem não pára até explodir por si mesmo, contra um obstáculo qualquer.
É assim nas guerras.
È assim no cotidiano.
É necessário, parar, olhar, escutar, e perceber que só a proibição não promove o ( re ) equilíbrio emocional no agregado familiar, nem na sociedade.
A sensação de impotência, não deve ser sublimada através da agressão física ou verbal, dado que ela corrompe da mesma forma a interioridade do ser humano.
Devemos perceber de onde vem tal sensação de impotência, tentando levar o indivíduo a ( re ) organizar-se interiormente.
Desse modo, não parece que seja apenas com medidas coercivas, circunstanciais, que podemos conter os abusos na formação infantil, que posteriormente tendem a refletir-se na sociedade, como nos é dado a observar no dia a dia.
Se a lei da Maria da Penha, por exemplo, é uma conquista do legislativo, dada as constantes agressões praticadas e evidenciadas, não conseguiu resolver por si mesma o problema da violência doméstica, de que a mulher é vítima, muito embora puna com prisão o agressor.
Poder-se-ia pensar, que a pena de morte implantada nos Estados Unidos, levaria as pessoas a abdicar da violência, o que de fato não aconteceu, sendo considerado um dos países mais violentos do mundo.
Nem a tentativa de extermínio de uma raça, conseguiu que ela desaparecesse da face da terra, bem pelo o contrário, fez com que os Judeus fossem filhos do mundo, espalhados pelos quatro cantos do Universo, disseminando a sua origem, através da procriação com outras raças.
Resultado, se a idéia era não ter sangue Judeu, o sémen contrariou tais ambições idealistas e fanáticas.
Se existe um poder narcisista que tudo parece detonar, e, é entendido, por si só, como gerador de violência, a contra proposta, é a pena de morte, a prisão, e os esquadrões da morte, em que perante um poder bárbaro, tenta-se opor um outro, na tentativa de o superar.
Se os Judeus tivessem enfrentado a barbárie, em vez de fugir, talvez não existissem como raça.
A humanidade ao longo dos séculos tem vindo a sofrer os efeitos desta forma de sentir e pensar as coisas e o mundo, não obstante toda a evolução científica e tecnológica, em termos de formação familiar, ainda estamos na idade média.
Se pensamos que só a proibição da agressão física, ou a simples palmada na bunda, resolve o problema da violência, estaremos na realidade a enxergar apenas uma parte do problema.
Como já deu para entender, dado os exemplos anteriormente descritos, não basta proibir, prender, matar ou baixar um decreto, para solucionar o problema da violência, seja ela qual for.
Desse modo, dirão alguns, mais uma razão para imputar ao poder narcisista exagerado, tais atitudes.
Simplesmente lhes direi, que a maioria das pessoas podem apresentar um poder narcisista exacerbado, sem fazer uso da violência, o que contraria de forma clara, tal forma de enxergar as coisas.
Por isso falo em complexidade, que cada indivíduo tem uma história de vida mal contada, ou por contar, dado que tantas vezes a desconhece, que faz dele um caso único, particular, que deve, e merece ser observado como um ser humano diferenciado.
As diferenças, não as vamos encontrar no corpo, nos órgãos, nem na matéria, porque semelhante, em que a função é sempre a mesma.
A diferença a encontramos em algo, que muitos desconsideram por ser abstrato, como as idéias construídas e associadas, através de imagens, e toda uma série de elementos alheios á sua própria condição de ser animal, que servem de fatores de interseção, inibidores e bloqueadores, do pensamento humano.

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