Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

sábado, 14 de novembro de 2009

O corpo que sente

O sentido atenua, e por vezes até elimina de certa forma a consciência, ou promove a diferenciação entre o pensamento e o sentido.
As mulheres em frente ao presídio, que reclamam por condições de bem estar dos seus filhos ou companheiros, é a prova mais evidente dessa diferenciação.
O que faz uma mulher estar aprisionada a um homem que é assassino ou assaltante, a não ser o afeto.
Para ela é mais importante o sentir, do que o pensar acerca das virtudes e defeitos do seu filho ou companheiro.
Se fosse possível retirar o afeto dos seus corações, a sua postura seria diferente.
Sem afeto somos impiedosos, com afeto somos cordeiros.
Sem afeto realçamos a frieza de uma certa forma de pensar, que permite avaliar e definir as palavras e atitudes, tal como se apresentam, tendo por comparação virtudes e defeitos, instituídas pela sociedade.
Como o afeto e afetação fazem parte do universo do ser humano, que corresponde ao princípio de satisfação ou ao seu contrário, não os podemos perceber em separado, mas sim na relação que mantêm, dado que o mesmo corpo que promove o afeto, também afeta com algumas outras atitudes.
Se não existir o esforço para os perceber em separado, não conseguimos entender as atitudes do ser humano, dado que é a resultante de diversos fatores, que atuam em conjunto.
Não e por isso a incapacidade de pensar que impõe os conflitos, nem por pensar, mas a falta de afeto, que impossibilita o pensamento.
Pensar, todos pensamos, mas o sentir promove a diferenciação das palavras ditas e da ação praticada, porque invadidos pelo o afeto ou afetação, tantas vezes damos o dito pelo não dito.
A mulher que é agredida pelo o companheiro, marcada na alma e na carne, vai ao hospital para tratar sua feridas no corpo, e desloca-se à Delegacia das mulheres para limpar suas feridas psíquicas, porque aquele ¨ traste ¨, merece a punição.
A afetação do seu próprio corpo e dos sentimentos falou mais alto, e a levou a fazer queixa do companheiro, pelo que se percebe que o afeto foi ofendido.
Mais tarde, passado os momentos de tensão, resolve retirar a queixa contra o pai de seus filhos e seu companheiro, porque o afeto revela ser mais importante, passados que foram os momentos da afetação.
Aquela mulher pensa, e entende que o procedimento do companheiro a afetou profundamente, que as suas atitudes não deveriam ser aquelas, que contraria o que possamos entender por amor, mas escolheu o afeto na altura de decidir pela punição, o deixando impune perante as agressões que cometeu.
Podemos pensar, com a nossa frieza, porque não estamos envolvidos, e a distância não nos permite sentir afeto, mas não conseguimos apagar a realidade.
O fenómeno acontece, mesmo contra a nossa própria vontade.
Certo ou errado, virtudes e defeitos, verdade e razão, com um simples ato de afeto, como por encanto desaparecem, e de novo a ordem do amor está implantada.
O sentir é mais importante para o ser humano, que o pensamento.
E quem sente não é o Ego, ele apenas é a instância reguladora, onde não se encontra a verdade, nem a mentira ou a realidade, mas antes uma série de resultantes de outras instâncias psíquicas, que uma vez alteradas, provocam a própria alteração da postura humana.
Quem sente é o corpo que tomou sentido, que se manifesta de acordo com um sentido.
Cada um pode pensar o que quiser, mas é na ordem do sentir que podemos entender os fenómenos psíquicos, porque quando se revelam, o que o ser humano pretende perceber é o sentido do acontecimento, que o pode conduzir à dor e ao sofrimento.
Que sentido faz para o sujeito, uma manifestação de rua contra seja do que for, ou a favor de alguma coisa em particular ?
Porque aplaude ou sente-se agredido ?
Lá diz o ditado popular, quem não se sente, não é filho de boa gente, e que por isso não leva desaforo para casa, porque a forma de exposição é pública, e tem que levar o troco, porque publicamente sentiu-se desnudado.

João António Fernandes
( estudodapsicanalise.ning.com)

Nenhum comentário: