Quando falamos de metafísica, estamos a falar de um corpo, e de formas abstratas que existem para além dele, mas que tendem a afetá-lo, e que de certo modo o transcende.
Não estamos ainda colocados no campo de forças estranhas, embora abstratas, dado que sentimos e sabemos que existem, em que a subjetividade, a podemos encontrar na relação que essas forças mantêm entre si, e o próprio corpo.
A compreensão acerca dos diversos movimentos dessas forças, nos traz para o campo da análise, e é isso que nos interessa em psicanálise.
A filosofia nos ensina, que a compreensão de que a coisa é, como realmente é, tem seus fundamentos naturais, e não parece que seja pelo fato de deixar de estar num determinado estado, que deixa de ser a mesma coisa, apenas existiu um alteração de estado, motivado por forças que estão agregados á matéria.
A incompreensão deste fenómeno nos leva a pensar que existem forças estranhas a um processo físico e químico, o que seria limitar a própria natureza das coisas, entendido como universo, nos transportando para o além, em que o oculto provocado por esse entendimento, garante a emergência de fantasmas ou figuras dominadoras de um espaço
Não é disso que temos o propósito de tratar, mas daquele outro espaço, onde os corpos se movimentam, relacionam e interagem num campo energético, do qual ainda sabemos muito pouco.
É um processo que busca a relação, que não a verdade, dado que esta só pode ser vinculada ao próprio corpo, como existência material, sendo a realidade que podemos observar e pode ser observado por todos os outros seres vivos.
Se o objetivo encontra-se com o objeto, segundo o princípio de satisfação, é uma condição objetiva, independente das circunstâncias nas quais se possa manifestar, em que a subjetividade é circunstancial.
Os fenômenos acompanham essa relação, ele é objetivo dada a sua existência, mas subjetivo, em virtude das circunstâncias em que ocorrem, ou seja, objetivamente damos conta da existência real ou abstrata das coisas e das forças existentes, mas a incompreensão encontra-se com a ignorância que o ser humano tem acerca delas e sua relação com outras forças e a matéria de que é constituído os corpos.
Nos posicionamos quanto a esta matéria, apenas com a idéia de tentar isolar sinais de contingência, acidente ou corrupção, que são processos decorrentes das circunstâncias, para perceber o grau de incidência dessas forças, o seu modo operacional e a transformação que podem trazer á matéria, entendida como corpo.
Estamos no campo do determinismo, apenas no que se refere á interferência dessas forças num campo de ação energética e humana, em que a realidades da coisas são como se apresentam a nossos olhos, sem interferências de formas de pensar que nos conduzam para além de qualquer conhecimento humano.
Podemos falar de ciência objetiva dos entes, como forma de entender a sua organização, classificando e tentando demonstrar em teoria, a existência de uma consistência em termos reais da nossa própria maneira de estar na vida.
A expressão das coisas reais faz parte da matéria, como manifestação de um impato, ou relação.
Os fenómenos que levam á sua alteração, fazem parte de uma manifestação de forças energéticas, e são resultante de uma interseção entre corpos, materiais ou imaterais, em que pode não existir a fusão, mas percebe-se a relação, que tende a modificar a postura dos corpos.
Não só pretendemos perceber a realidade dos corpos em presença, mas a reação que os inúmeros fenómenos provocam neles, como algo independente da sua observação, embora os tenhamos em conta, dado que eles parecem ser apenas a resultante fenomenológica de uma ou diversas relações entre corpos.
A metafísica por isso, tenta determinar a relação com outros corpos, que não físicos, que provocam a alteração circunstancial dos mesmos.
É a partir deste estudo e investigação, que podemos organizar os processos posteriores de forma articulada, e perceber a lógica, a partir da compreensão dos princípios, através dos quais se rege a matéria.
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Escutatória - Rubem Alves
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.
Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia - a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada...“ A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.“ Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.“ Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico“), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.“ Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.“ Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.“ E assim vai a reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto...
Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma“. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.
Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise...) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia - a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada...“ A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.
Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.“ Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.“ Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico“), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.“ Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.“ Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.“ E assim vai a reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto...
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Profetas do nosso tempo
Escrito por Agápio – extraído da Revista " Ventos sábios "
Luc Ferry , filósofo Francês, ex- ministro da Educação de França, no seu livro " Aprender a viver " afirma que é possível ser feliz sem Deus.
O filósofo pariu o óbvio, e com isso vendeu milhares de livros, recorrendo á velha técnica da felicidade e da salvação, apoiado pelo governo de França . Ver site na internet.
O homem tem momentos de felicidade, com ou sem Deus, andando de automóvel ou de bicicleta, vivendo em Cannes, ou em outro lugar qualquer do planeta, na favela ou no apartamento de luxo em Paris.
A afirmação do filósofo com uma pincelada de indagação para disfarçar, só alimenta a luta entre os crentes, tanto daqueles que acreditam na existência de Deus, como dos outros que acreditam que ele não existe.
Se tal como afirma, a filosofia é a salvação do homem, pelo jeito continuamos na mesma, porque filosofar desse modo, só uma parte dos crentes podem ser salvos, porque os outros não acreditam na filosofia de Luc Ferry.
E nesse aspecto não ganha a dianteira á Igreja, porque o discurso parece ser o mesmo, em que a história repete-se, porque só desejamos enxergar um dos lados, de onde não resta sumo que possa alimentar a alma de quem deseja a paz entre os homens.
Se o ser feliz dependesse de crer ou não em determinada figura ou disciplina, seria fácil demais, pois bastaria acreditar em qualquer coisa, e todos sabemos que isso não corresponde á realidade, dado que encontramos homens que estão felizes seja qual for a situação.
O filósofo sofre do síndroma do poder institucional, do homem de Estado, e acusa a Igreja de estar a ocupar o lugar que por direito próprio é da filosofia, e até dispensa a psicologia, por ter o entendimento que a sua disciplina é suficiente para as pessoas serem felizes.
Em resumo, é o filósofo das certezas, com uma escrita bem ordenada, com retoques estéticos para agradar aos corações apaixonados.
Tal como Lutero, que prestou um mau serviço á humanidade, merecendo porém, o aplauso dos ofendidos na alma.
O problema do filósofo parece ser uma questão de espaço, vende-se relegado para a terceira fila, quando julga ter direito a camarote.
Que Deus lhe perdoe.
Luc Ferry , filósofo Francês, ex- ministro da Educação de França, no seu livro " Aprender a viver " afirma que é possível ser feliz sem Deus.
O filósofo pariu o óbvio, e com isso vendeu milhares de livros, recorrendo á velha técnica da felicidade e da salvação, apoiado pelo governo de França . Ver site na internet.
O homem tem momentos de felicidade, com ou sem Deus, andando de automóvel ou de bicicleta, vivendo em Cannes, ou em outro lugar qualquer do planeta, na favela ou no apartamento de luxo em Paris.
A afirmação do filósofo com uma pincelada de indagação para disfarçar, só alimenta a luta entre os crentes, tanto daqueles que acreditam na existência de Deus, como dos outros que acreditam que ele não existe.
Se tal como afirma, a filosofia é a salvação do homem, pelo jeito continuamos na mesma, porque filosofar desse modo, só uma parte dos crentes podem ser salvos, porque os outros não acreditam na filosofia de Luc Ferry.
E nesse aspecto não ganha a dianteira á Igreja, porque o discurso parece ser o mesmo, em que a história repete-se, porque só desejamos enxergar um dos lados, de onde não resta sumo que possa alimentar a alma de quem deseja a paz entre os homens.
Se o ser feliz dependesse de crer ou não em determinada figura ou disciplina, seria fácil demais, pois bastaria acreditar em qualquer coisa, e todos sabemos que isso não corresponde á realidade, dado que encontramos homens que estão felizes seja qual for a situação.
O filósofo sofre do síndroma do poder institucional, do homem de Estado, e acusa a Igreja de estar a ocupar o lugar que por direito próprio é da filosofia, e até dispensa a psicologia, por ter o entendimento que a sua disciplina é suficiente para as pessoas serem felizes.
Em resumo, é o filósofo das certezas, com uma escrita bem ordenada, com retoques estéticos para agradar aos corações apaixonados.
Tal como Lutero, que prestou um mau serviço á humanidade, merecendo porém, o aplauso dos ofendidos na alma.
O problema do filósofo parece ser uma questão de espaço, vende-se relegado para a terceira fila, quando julga ter direito a camarote.
Que Deus lhe perdoe.
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Loucura humana
Noticia do jornal Estado de Minas - Brasil
No Perú foi presa uma quadrilha que se dedicava a matar seres humanos obsesos, para extrair a gordura, que vendiam para a indústria de cosmética.
E adiantavam que a indústria de cosmética utilizava de fato gordura humana para fabricar alguns cosméticos.
Sem comentários
No Perú foi presa uma quadrilha que se dedicava a matar seres humanos obsesos, para extrair a gordura, que vendiam para a indústria de cosmética.
E adiantavam que a indústria de cosmética utilizava de fato gordura humana para fabricar alguns cosméticos.
Sem comentários
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Momento de reflexão
Se um indivíduo ouve vozes ameaçadoras, é um maluco esquizofrênico, possuído pelo o diabo, mas se ele ouvir uma voz de um ente querido que já morreu, passa de esquizofrênico a espírita, médium, profeta, vidente, ou enviado de Deus.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Liberdade (1)
Não devemos considerar que através da consciência ou do princípio de racionalidade, possamos anular ou inverter os impulsos inconscientes, embora possamos pensar o contrário, tal não acontece.
A neurociência desde há muito, que se empenha nessa descoberta, embora sem sucesso.
O fenómeno consciente não detona o conteúdo inconsciente, pelo o contrário, o tende a exaltar, daí que o sujeito tenha reações por vezes agressivas, até mesmo destruidoras dos objetos á sua volta e de si mesmo.
Não é a crença que está em causa, mas antes a resistência provocada por uma inibição, que não deixa que o indivíduo consiga perceber outras formas de percepção.
Um dia o inconsciente decerto foi consciente, mas a partir da fixação de um sentido, não necessita da consciência para mostrar movimento próprio, ou seja impulsos instintivos e involuntários.
Deixa de obedecer a um comando da consciência para tornar-se autónomo, como forma de garantir o movimento e a preservação da vida.
Logo, podemos perceber que consciência e inconsciente, são apenas sentidos, acerca dos quais o corpo periférico e interior toma sentido, e os vincula numa fase primária da existência do ser humano, para que possa ser possível movimentar-se, supostamente, no sentido da vida e da sua preservação.
A questão da liberdade então, sob o ponto de vista da psicanálise, como também da biologia, não será mais que o movimento que liberta o corpo e seus órgãos da inércia, que logo de seguida prende-se ou associa-se a uma idéia ou objeto exterior, perdendo parte ou a totalidade do seu movimento em qualquer outra direção, desde que garantido o princípio de satisfação ao ser vivo, que obviamente lhe dará prazer.
Ao vincular-se, perde parte ou a totalidade da sua liberdade, se de forma obsessiva procurar determinada idéia ou objeto exterior, como forma única de obter satisfação.
Significa que em termos objetivos o princípio de satisfação é aquele que emerge como sentido fundamental, designado por instinto, equivalente ao sentido e preservação da vida.
A neurociência desde há muito, que se empenha nessa descoberta, embora sem sucesso.
O fenómeno consciente não detona o conteúdo inconsciente, pelo o contrário, o tende a exaltar, daí que o sujeito tenha reações por vezes agressivas, até mesmo destruidoras dos objetos á sua volta e de si mesmo.
Não é a crença que está em causa, mas antes a resistência provocada por uma inibição, que não deixa que o indivíduo consiga perceber outras formas de percepção.
Um dia o inconsciente decerto foi consciente, mas a partir da fixação de um sentido, não necessita da consciência para mostrar movimento próprio, ou seja impulsos instintivos e involuntários.
Deixa de obedecer a um comando da consciência para tornar-se autónomo, como forma de garantir o movimento e a preservação da vida.
Logo, podemos perceber que consciência e inconsciente, são apenas sentidos, acerca dos quais o corpo periférico e interior toma sentido, e os vincula numa fase primária da existência do ser humano, para que possa ser possível movimentar-se, supostamente, no sentido da vida e da sua preservação.
A questão da liberdade então, sob o ponto de vista da psicanálise, como também da biologia, não será mais que o movimento que liberta o corpo e seus órgãos da inércia, que logo de seguida prende-se ou associa-se a uma idéia ou objeto exterior, perdendo parte ou a totalidade do seu movimento em qualquer outra direção, desde que garantido o princípio de satisfação ao ser vivo, que obviamente lhe dará prazer.
Ao vincular-se, perde parte ou a totalidade da sua liberdade, se de forma obsessiva procurar determinada idéia ou objeto exterior, como forma única de obter satisfação.
Significa que em termos objetivos o princípio de satisfação é aquele que emerge como sentido fundamental, designado por instinto, equivalente ao sentido e preservação da vida.
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Liberdade
Qualquer fenómeno por mais simples, ou insignificante que nos possa parecer, traz consigo a semente da mudança, mexe com as estruturas existentes, e com os princípios da matéria, qualquer que ela seja.
A mudança pode ser lenta e até invisível ao nosso olhar, mas tudo se encontra em mutação constante, de onde podemos inferir que é o movimento que gera a vida.
Podemos permanecer imóveis, mas a máquina biológica e psíquica que está dentro de cada um, continua a sua tarefa de transformação, de acordo com aquilo que lhe chega do exterior
Se por um lado transformamos os alimentos em elementos químicos para nosso sustento, por outro transformamos o que nos é projetado em sentidos, e em ambos podemos perceber o princípio de satisfação.
O futuro por isso, parece ser apenas uma mudan;a de estado, e o presente uma transformação do passado.
Mas os princípios através dos quais se rege a matéria e o universo, tendem a permanecer imutáveis.
O presente nos pode parecer igual ao passado, quando apenas é semelhante, dado que existiram alterações, não só em nós, como nas coisas e no mundo que nos rodeia, que nem sequer damos por isso, em que só radicalismo dos acontecimentos nos chama a atenção, e por isso somos tentados a reagir de imediato.
A liberdade está exatamente nesse movimento de transformação, que tantas vezes desejamos, mas que parece que em muitas ocasiões, somos impedidos por algo estranho contido em nós, que não sabemos exatamente do que se trata.
Apenas sentimos que algo interior não nos deixa seguir em frente.
O quê ? – Na maior parte das vezes, não sabemos definir com exatidão.
E neste aspecto o cognoscível não nos vale, dado que nenhum de nós consegue reconhecer, o que não conhece.
A mudança pode ser lenta e até invisível ao nosso olhar, mas tudo se encontra em mutação constante, de onde podemos inferir que é o movimento que gera a vida.
Podemos permanecer imóveis, mas a máquina biológica e psíquica que está dentro de cada um, continua a sua tarefa de transformação, de acordo com aquilo que lhe chega do exterior
Se por um lado transformamos os alimentos em elementos químicos para nosso sustento, por outro transformamos o que nos é projetado em sentidos, e em ambos podemos perceber o princípio de satisfação.
O futuro por isso, parece ser apenas uma mudan;a de estado, e o presente uma transformação do passado.
Mas os princípios através dos quais se rege a matéria e o universo, tendem a permanecer imutáveis.
O presente nos pode parecer igual ao passado, quando apenas é semelhante, dado que existiram alterações, não só em nós, como nas coisas e no mundo que nos rodeia, que nem sequer damos por isso, em que só radicalismo dos acontecimentos nos chama a atenção, e por isso somos tentados a reagir de imediato.
A liberdade está exatamente nesse movimento de transformação, que tantas vezes desejamos, mas que parece que em muitas ocasiões, somos impedidos por algo estranho contido em nós, que não sabemos exatamente do que se trata.
Apenas sentimos que algo interior não nos deixa seguir em frente.
O quê ? – Na maior parte das vezes, não sabemos definir com exatidão.
E neste aspecto o cognoscível não nos vale, dado que nenhum de nós consegue reconhecer, o que não conhece.
domingo, 15 de novembro de 2009
Tudo isto é vida
Nenhum ser humano por não saber ler e escrever tem problemas com qualquer outro, e a prova mais evidente são os emigrantes, que na procura de melhores condições de vida, deslocam-se para outros países sem saber e perceber uma palavra da fala daquela gente, no entanto tanto uns quanto os outros fazem um esforço para se entenderem através dos gestos.
O emigrante regressa ao primitivo da fala, mas encontra a evolução da relação humana e o mundo da tecnologia.
Quando ouço afirmar a alguns intelectuais e homens da ciência que o desconhecido mete medo ao ser humano, lembro-me logo dos emigrantes que enfrentam o desconhecido com a fé e a esperança, de encontrarem algo de bom, ou pelo menos agradável que os faça sentir vivos e um pouco mais felizes.
Tento conhecer as histórias dos meus antepassados, contada pelos meus avós e pais, ouvindo avós e pais de outra gente também, que atravessaram a fronteira para chegar a Espanha, com um cajado e um pedaço de pano amarrado nele, contendo algumas azeitonas e pão de milho, como único conforto para viagem, que era sempre feita a pé, porque meios de transporte era coisa que ainda não existia, sem saber ler e escrever o seu idioma de origem, quanto mais entender o Espanhol.
Adeus terra. Adeus pais. Adeus, mulher e filhos, que daqui tenho que partir, em busca de mais sustento, porque da miséria todos nós estamos fartos.
Porém estes eram uma minoria, comparado com os milhares que se deixaram ficar, comendo o pão que o diabo amassou, que o outro que partira nem pão teria quando se lhe acabasse.
Brava gente, que fazia da vida sua estrada, em que a morte era apenas um acidente de percurso, que não tinham medo de nada, porque nada tinham para que pudessem temer.
Nem revistas, televisão ou rádio, e internet muito menos, para lhes contar o feito heróico e postar a sua foto nas primeiras páginas dos jornais, tudo feito em silêncio, encurtando a distância com as pernas para chegar ao destino, entre vales e montanhas, enfrentando um sol escaldante e as noites frias, tantas vezes geladas, se enrolavam numa palha qualquer para passar a noite, atravessavam rios, sem no entanto terem sido ensinados a nadar.
Homens de fibra dizem uns, de rígida tempera, que mais vale partir que torcer.
Dirão outros que as necessidades os faz despertar para a vida, que logo caminham para encontrar a luz que os possam iluminar e lhes servir de conforto.
Mas aqueles que ficaram e da sua terra não quiseram partir, porventura não continuam a lutar pela sua sobrevivência, e não são homens da mesma tempera ?
Tudo isto nos provoca, que de uns merece a critica e o julgamento, de outros a admiração, porque mar nunca antes navegado, dele não se conhece as tormentas, e o medo que aquieta uns, parece agitar outros, que os faz ficar ou partir.
Os que os fez ficar ou partir parece ser coisa do destino, mas quando ficamos atentos e os ouvimos, entendemos que embora semelhantes as condições na sua terra de origem, os motivos soaram como gritos naqueles que se foram, que os outros o escutaram como o velho fado a que estavam habituados, que falava de saudade e nostalgia, do amor perdido, e por isso se deixaram ficar.
Tudo isto é vida, tudo isto é fado, diz a letra da canção.
O emigrante regressa ao primitivo da fala, mas encontra a evolução da relação humana e o mundo da tecnologia.
Quando ouço afirmar a alguns intelectuais e homens da ciência que o desconhecido mete medo ao ser humano, lembro-me logo dos emigrantes que enfrentam o desconhecido com a fé e a esperança, de encontrarem algo de bom, ou pelo menos agradável que os faça sentir vivos e um pouco mais felizes.
Tento conhecer as histórias dos meus antepassados, contada pelos meus avós e pais, ouvindo avós e pais de outra gente também, que atravessaram a fronteira para chegar a Espanha, com um cajado e um pedaço de pano amarrado nele, contendo algumas azeitonas e pão de milho, como único conforto para viagem, que era sempre feita a pé, porque meios de transporte era coisa que ainda não existia, sem saber ler e escrever o seu idioma de origem, quanto mais entender o Espanhol.
Adeus terra. Adeus pais. Adeus, mulher e filhos, que daqui tenho que partir, em busca de mais sustento, porque da miséria todos nós estamos fartos.
Porém estes eram uma minoria, comparado com os milhares que se deixaram ficar, comendo o pão que o diabo amassou, que o outro que partira nem pão teria quando se lhe acabasse.
Brava gente, que fazia da vida sua estrada, em que a morte era apenas um acidente de percurso, que não tinham medo de nada, porque nada tinham para que pudessem temer.
Nem revistas, televisão ou rádio, e internet muito menos, para lhes contar o feito heróico e postar a sua foto nas primeiras páginas dos jornais, tudo feito em silêncio, encurtando a distância com as pernas para chegar ao destino, entre vales e montanhas, enfrentando um sol escaldante e as noites frias, tantas vezes geladas, se enrolavam numa palha qualquer para passar a noite, atravessavam rios, sem no entanto terem sido ensinados a nadar.
Homens de fibra dizem uns, de rígida tempera, que mais vale partir que torcer.
Dirão outros que as necessidades os faz despertar para a vida, que logo caminham para encontrar a luz que os possam iluminar e lhes servir de conforto.
Mas aqueles que ficaram e da sua terra não quiseram partir, porventura não continuam a lutar pela sua sobrevivência, e não são homens da mesma tempera ?
Tudo isto nos provoca, que de uns merece a critica e o julgamento, de outros a admiração, porque mar nunca antes navegado, dele não se conhece as tormentas, e o medo que aquieta uns, parece agitar outros, que os faz ficar ou partir.
Os que os fez ficar ou partir parece ser coisa do destino, mas quando ficamos atentos e os ouvimos, entendemos que embora semelhantes as condições na sua terra de origem, os motivos soaram como gritos naqueles que se foram, que os outros o escutaram como o velho fado a que estavam habituados, que falava de saudade e nostalgia, do amor perdido, e por isso se deixaram ficar.
Tudo isto é vida, tudo isto é fado, diz a letra da canção.
sábado, 14 de novembro de 2009
O corpo que sente
O sentido atenua, e por vezes até elimina de certa forma a consciência, ou promove a diferenciação entre o pensamento e o sentido.
As mulheres em frente ao presídio, que reclamam por condições de bem estar dos seus filhos ou companheiros, é a prova mais evidente dessa diferenciação.
O que faz uma mulher estar aprisionada a um homem que é assassino ou assaltante, a não ser o afeto.
Para ela é mais importante o sentir, do que o pensar acerca das virtudes e defeitos do seu filho ou companheiro.
Se fosse possível retirar o afeto dos seus corações, a sua postura seria diferente.
Sem afeto somos impiedosos, com afeto somos cordeiros.
Sem afeto realçamos a frieza de uma certa forma de pensar, que permite avaliar e definir as palavras e atitudes, tal como se apresentam, tendo por comparação virtudes e defeitos, instituídas pela sociedade.
Como o afeto e afetação fazem parte do universo do ser humano, que corresponde ao princípio de satisfação ou ao seu contrário, não os podemos perceber em separado, mas sim na relação que mantêm, dado que o mesmo corpo que promove o afeto, também afeta com algumas outras atitudes.
Se não existir o esforço para os perceber em separado, não conseguimos entender as atitudes do ser humano, dado que é a resultante de diversos fatores, que atuam em conjunto.
Não e por isso a incapacidade de pensar que impõe os conflitos, nem por pensar, mas a falta de afeto, que impossibilita o pensamento.
Pensar, todos pensamos, mas o sentir promove a diferenciação das palavras ditas e da ação praticada, porque invadidos pelo o afeto ou afetação, tantas vezes damos o dito pelo não dito.
A mulher que é agredida pelo o companheiro, marcada na alma e na carne, vai ao hospital para tratar sua feridas no corpo, e desloca-se à Delegacia das mulheres para limpar suas feridas psíquicas, porque aquele ¨ traste ¨, merece a punição.
A afetação do seu próprio corpo e dos sentimentos falou mais alto, e a levou a fazer queixa do companheiro, pelo que se percebe que o afeto foi ofendido.
Mais tarde, passado os momentos de tensão, resolve retirar a queixa contra o pai de seus filhos e seu companheiro, porque o afeto revela ser mais importante, passados que foram os momentos da afetação.
Aquela mulher pensa, e entende que o procedimento do companheiro a afetou profundamente, que as suas atitudes não deveriam ser aquelas, que contraria o que possamos entender por amor, mas escolheu o afeto na altura de decidir pela punição, o deixando impune perante as agressões que cometeu.
Podemos pensar, com a nossa frieza, porque não estamos envolvidos, e a distância não nos permite sentir afeto, mas não conseguimos apagar a realidade.
O fenómeno acontece, mesmo contra a nossa própria vontade.
Certo ou errado, virtudes e defeitos, verdade e razão, com um simples ato de afeto, como por encanto desaparecem, e de novo a ordem do amor está implantada.
O sentir é mais importante para o ser humano, que o pensamento.
E quem sente não é o Ego, ele apenas é a instância reguladora, onde não se encontra a verdade, nem a mentira ou a realidade, mas antes uma série de resultantes de outras instâncias psíquicas, que uma vez alteradas, provocam a própria alteração da postura humana.
Quem sente é o corpo que tomou sentido, que se manifesta de acordo com um sentido.
Cada um pode pensar o que quiser, mas é na ordem do sentir que podemos entender os fenómenos psíquicos, porque quando se revelam, o que o ser humano pretende perceber é o sentido do acontecimento, que o pode conduzir à dor e ao sofrimento.
Que sentido faz para o sujeito, uma manifestação de rua contra seja do que for, ou a favor de alguma coisa em particular ?
Porque aplaude ou sente-se agredido ?
Lá diz o ditado popular, quem não se sente, não é filho de boa gente, e que por isso não leva desaforo para casa, porque a forma de exposição é pública, e tem que levar o troco, porque publicamente sentiu-se desnudado.
João António Fernandes
( estudodapsicanalise.ning.com)
As mulheres em frente ao presídio, que reclamam por condições de bem estar dos seus filhos ou companheiros, é a prova mais evidente dessa diferenciação.
O que faz uma mulher estar aprisionada a um homem que é assassino ou assaltante, a não ser o afeto.
Para ela é mais importante o sentir, do que o pensar acerca das virtudes e defeitos do seu filho ou companheiro.
Se fosse possível retirar o afeto dos seus corações, a sua postura seria diferente.
Sem afeto somos impiedosos, com afeto somos cordeiros.
Sem afeto realçamos a frieza de uma certa forma de pensar, que permite avaliar e definir as palavras e atitudes, tal como se apresentam, tendo por comparação virtudes e defeitos, instituídas pela sociedade.
Como o afeto e afetação fazem parte do universo do ser humano, que corresponde ao princípio de satisfação ou ao seu contrário, não os podemos perceber em separado, mas sim na relação que mantêm, dado que o mesmo corpo que promove o afeto, também afeta com algumas outras atitudes.
Se não existir o esforço para os perceber em separado, não conseguimos entender as atitudes do ser humano, dado que é a resultante de diversos fatores, que atuam em conjunto.
Não e por isso a incapacidade de pensar que impõe os conflitos, nem por pensar, mas a falta de afeto, que impossibilita o pensamento.
Pensar, todos pensamos, mas o sentir promove a diferenciação das palavras ditas e da ação praticada, porque invadidos pelo o afeto ou afetação, tantas vezes damos o dito pelo não dito.
A mulher que é agredida pelo o companheiro, marcada na alma e na carne, vai ao hospital para tratar sua feridas no corpo, e desloca-se à Delegacia das mulheres para limpar suas feridas psíquicas, porque aquele ¨ traste ¨, merece a punição.
A afetação do seu próprio corpo e dos sentimentos falou mais alto, e a levou a fazer queixa do companheiro, pelo que se percebe que o afeto foi ofendido.
Mais tarde, passado os momentos de tensão, resolve retirar a queixa contra o pai de seus filhos e seu companheiro, porque o afeto revela ser mais importante, passados que foram os momentos da afetação.
Aquela mulher pensa, e entende que o procedimento do companheiro a afetou profundamente, que as suas atitudes não deveriam ser aquelas, que contraria o que possamos entender por amor, mas escolheu o afeto na altura de decidir pela punição, o deixando impune perante as agressões que cometeu.
Podemos pensar, com a nossa frieza, porque não estamos envolvidos, e a distância não nos permite sentir afeto, mas não conseguimos apagar a realidade.
O fenómeno acontece, mesmo contra a nossa própria vontade.
Certo ou errado, virtudes e defeitos, verdade e razão, com um simples ato de afeto, como por encanto desaparecem, e de novo a ordem do amor está implantada.
O sentir é mais importante para o ser humano, que o pensamento.
E quem sente não é o Ego, ele apenas é a instância reguladora, onde não se encontra a verdade, nem a mentira ou a realidade, mas antes uma série de resultantes de outras instâncias psíquicas, que uma vez alteradas, provocam a própria alteração da postura humana.
Quem sente é o corpo que tomou sentido, que se manifesta de acordo com um sentido.
Cada um pode pensar o que quiser, mas é na ordem do sentir que podemos entender os fenómenos psíquicos, porque quando se revelam, o que o ser humano pretende perceber é o sentido do acontecimento, que o pode conduzir à dor e ao sofrimento.
Que sentido faz para o sujeito, uma manifestação de rua contra seja do que for, ou a favor de alguma coisa em particular ?
Porque aplaude ou sente-se agredido ?
Lá diz o ditado popular, quem não se sente, não é filho de boa gente, e que por isso não leva desaforo para casa, porque a forma de exposição é pública, e tem que levar o troco, porque publicamente sentiu-se desnudado.
João António Fernandes
( estudodapsicanalise.ning.com)
Assinar:
Postagens (Atom)