Logo de saída, vou avisando que considero o atual momento histórico uma espécie de ensaio de pequenos passos, rumo a outro mundo, provavelmente melhor para todos.
Mas, o mundo transforma-se numa velocidade vertiginosa, a educação não pára de ser desafiada a mudar o seu projeto pedagógico e, com ele, muda (ou deveria mudar) a imagem do professor. Imagem essa que já foi muito mais nobre e respeitada.
Claro, um perfil profissional é sempre o produto de um lugar e de um tempo determinados.
Ora, nosso tempo é presidido pelo deus-mercado, e cada um de nós vale o equivalente ao saldo de sua conta bancária. Como o salário do professor foi aviltado, sua imagem afundou na areia movediça do individualismo, puxada pelo consumismo exacerbado.
Nadando contra a corrente, é necessário que o professor esteja por dentro do que se passa na sociedade e se mantenha atualizado em relação aos avanços nos campos da sociedade e da cultura, da ciência e da técnica, da saúde e do meio ambiente, da política e da filosofia da vida pós-moderna. Uma missão quase impossível.
O professor deve ainda saber definir a sua posição quanto a cada um destes avanços, consciente de que (ainda) é uma referência importante para seus alunos.
Desde sempre, em qualquer sociedade, o professor é (ou deveria ser) o principal agente de mudanças. É difícil compreender porque esta obviedade não é percebida e reconhecida pela maioria da população.
E a escola? Ah! Como é duro concluir que nossas escolas estão baseadas em conceitos, no mínimo, curiosos. "Escola boa é escola que não reprova". Será?
Mais uma vez, surge a questão proposta por Vladimir Ilyich: "Que fazer"?
Aqueles que não fecham os olhos, deliberadamente, não podem deixar de ver que a hora é agora. Em todos os lugares desse imenso país, vivemos um momento histórico de perspectivas de transformações.
Nossa tragédia é a própria imagem da contradição: o sistema educacional brasileiro – incluindo escolas públicas e privadas – está defasado em relação à vida e ao mercado.
Todavia, a maioria das famílias (sob a égide do individualismo, repito), e por haver vivenciado situações de ensino/aprendizagem muito mais atrasadas, não tem parâmetro para avaliar as limitações atuais do sistema educacional; os pais continuam alienados, sem exigir a melhoria da qualidade da escola de seus filhos, nem a eficácia do seu funcionamento.
Até os insucessos dos filhotes são considerados apenas pequenos dramas individuais e justificados como frutos da incompetência de cada criança ou jovem em particular.
O professor, por sua vez, em meio a esse turbilhão de fatos novos, deve saber lidar conscientemente com as normas e os valores que inspiram suas ações. Deve ser capaz de justificar suas escolhas, se possível empreendendo uma reflexão crítica sobre a filosofia ou visão de mundo que sustentam os dirigentes atuais das instituições educacionais, e seus sucessores. Se é que me entendem...
Que visão de mundo possuem e praticam os atuais dirigentes das nossas escolas, colégios e universidades? Se prolongarmos uma determinada tendência conservadora, ultrapassada, estaremos fazendo opção por qual tipo de construção para o futuro de nossa sociedade?
E quando consideramos diretamente a Universidade? Qual o papel da Universidade no processo de desenvolvimento do semi-árido, de nossa região, do nosso País? Algum governante sabe a resposta?
Obviamente, não se restringe (ou não deveria se restringir) apenas ao Ensino. Para consolidar-se como tal, uma Universidade deve resolver a equação entre a Pesquisa e sua Extensão, difundindo o conhecimento novo para usufruto de todos os segmentos da sociedade.
Deveria ainda formar planejadores, capacitar as equipes das Prefeituras, programar a Educação a Distância, reduzir o analfabetismo, atualizar permanentemente os ex-alunos. São algumas tarefas importantes e possíveis para a nossa Universidade; tendo no professor seu principal agente de mudanças.
Se fosse possível responder pessoalmente ao velho Lênin, diríamos que é preciso ser maiores do que nós mesmos e ousar pensar na possibilidade de transformar nossa práxis para tentar construir novas relações, mais democráticas e mais compartilhadas, derrubando paredes e muros, construindo pontes e canais para uma comunicação regular entre gestores, professores, estudantes, técnicos, dirigentes e parceiros.
É uma proposta para debate, para repensar a escola e o papel do professor.
RINALDO BARROS - Perfil do Autor:
Rinaldo Barros é professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, desde 1988. Até recentemente ocupou a Diretoria Científica da FAPERN – Fundação de Apoio à Pesquisa do Rio Grande do Norte, onde busca contribuir para que a disseminação do conhecimento científico e a prática da pesquisa se tornem mecanismos de desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Atualmente, é consultor e diretor do Instituto Teotônio Vilela, em Natal.
Fonte – www.artigonal.com
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