Desejos e impulsos parciais
Tive uma crise no meu casamento ao fim de seis anos, em que eu, e meu marido, ficamos separados por algum tempo, reencontrando nesse período o meu antigo amor, que por sinal ainda estava solteiro.
Seria agora a grande oportunidade de refazer a minha vida com aquele, que foi o meu grande amor, de quem meu pai não gostava nem um pouco, e não descansou enquanto não desfez esse namoro.
Agora sem meu pai por perto, seria suposto ter o caminho aberto para finalmente realizar meus desejos, mas não, recusei ficar com ele, regressei a casa, fiz as pazes com meu marido, argumentando desta feita, que o fiz por amor á minha filha, que não deveria ser exposta a estas situações de algum modo perturbadoras.
O amor por sua filha será sempre uma boa justificação para a impotência.
Mas a verdade é que aquele homem ainda mexe comigo.
¨ Dava-me tudo ¨, e eu o abandonei por pressão de meu pai.
De cada vez que existe uma crise, vem á lembrança a imagem do meu antigo namorado, de cenas de um passado, como se fosse uma peça de teatro, que fora interrompida bruscamente, cujo final ainda hoje não sei qual seria, mas que supostamente as sentia como semelhantes, àquelas outras que sentira um dia.
Impulsos parciais que não conseguem satisfazer os desejos de uma viagem interrompida, que foi bloqueada, não se completando, garantindo a ¨ sensação ¨, que os acontecimentos daí resultantes poderiam ser bem melhores, que a atual situação que estou a viver.
Apenas a sensação, que não a realidade.
As experiências, que não foram vividas até ao fim apresentam essas características, impondo a sensação do semelhante ao que sempre foi, como sendo a profecia do futuro anunciado, de que pouco, ou nada sabemos, ignorando que as relações podem sofrer algumas transformações importantes.
Tal sensação é revelada pela ignorância de que a vida não é um movimento estático, mas dinâmico, que a qualquer momento as forças em presença podem sofrer alguma alteração significativa, transformando desse modo o cenário, que julgamos contrariar a cena primeva.
A ausência de imagens posteriores que iriam possibilitar a realização dos desejos, cujo movimento ficou incompleto, produziu a idealização de um desejo a perseguir, em virtude de não sofrer os efeitos de uma desilusão.
Neste caso, existe a frustração produzida por um movimento parcial, que foi interrompido, e não levado até ao fim, criando a sensação de um final feliz, que poderia ser alcançado, e não o foi, porque se intrometeu um poder superior, que não o permitiu.
Por outro lado, impõem-se a frustração devido a uma impotência em levar por diante seus desejos, que ficaram por realizar.
Os impulsos parciais ao permanecerem provocam a sensação de um poder, que logo a sensação de impotência trata de anular, negando que ele possa prosseguir seu caminho até á realização dos seus desejos.
Na tentativa de reparar essa sensação de impotência, na maioria das vezes provoca no indivíduo um poder exagerado em relação a outras coisas a que possa ter acesso, e sente, que de algum modo não apresenta condição alguma de ser contestado.
Neste caso os filhos serão sempre os elos mais fracos dessa cadeia de poder.
Não existe de fato a sublimação, mas a substituição do objeto, que possa suportar e garantir
o seu poder, que fora antes amachucado, aniquilado, esmagado.
O que ficou desse poder esmagado, neste caso através do pai, foi um desejo de possuir poder para levar por diante a realização de seus desejos, que, no entanto, não parece livrar-se dessa negação incorporada, e registrada no aparelho psíquico, que lhe diz a todo o momento, que deve negar a realização dos seus desejos.
Se o instinto de negação tiver um grau de importância maior, que seus próprios desejos a realizar, eles serão poucos prováveis, que um dia possam vir a ser realizados, em que a questão do valor, entendido como potencial energético deve ser considerado.
Porém, o grau de importância tende a ser maior, a partir do momento, que possa implicar conseqüências ruins para o indivíduo, que foram adjetivadas na altura da proibição, as quais o indivíduo passa a temer, o que impede de dar o passo no sentido da sua própria libertação.
Persiste a idealização daquilo que um dia foi doce, que não sofreu alteração, ou seja, a desilusão, continuando no presente a manter suas características intocáveis, pelo que o sujeito continua a afirmar que é de fato doce, por não saber se no final, aquele doce teria alguma coisa de amargo.
A ignorância não provém só, do não saber da existência das coisas, mas também de um movimento interrompido, que foi bloqueado, proibido, que tende a ocultar o saber referente ao outro lado da história, que o indivíduo desconhece, por não o vivenciar.
Significa que o não saber da existência dos objetos, ou dele ter conhecimento, não é suficiente para a definição, quanto ao modo como possa relacionar-se, nem quanto ás alterações produzidas através de um processo evolutivo, em que alguma coisa pode ser alterada face à interligação dos corpos.
Relação é uma coisa distinta da ligação que possa haver entre eles, dado que aquilo que se mostra exterior, perante a intimidade passará a ser interiorizado como semelhante, ou facilitador de seus desejos, que trará conseqüências, quando o indivíduo não consegue lidar bem com as diferenças, e contrariedades.
Quando um objeto é entendido como doce, meigo, tolerante, afável, não significa que em algumas situações, muito embora possam ser pontuais, não possa mostrar o contrário, porém, a interrupção de um movimento não nos deixou enxergar esse lado mais desagradável da história do indivíduo, criando a ilusão, que a sua postura perante o mundo e as coisas, será sempre a mesma.
Nenhum de nós sabe exatamente como vai comportar-se perante algumas situações consideradas difíceis, cujo grau de dificuldade varia de indivíduo para indivíduo.
O que será que me impede de voltar para os braços do meu antigo namorado, pergunta ela ?
Para os braços dele ela voltou de fato, procurando no seu corpo apaziguar suas angústias , superando o desprazer com algum prazer proveniente dessa intimidade, o que ela não consegue superar é esse instinto de negação, que fez negar a sua companhia em permanência a seu lado.
Ele é o fruto proibido, que de vez em quando é recordado, que por vezes é experimentado, tragado, como se fosse uma transgressão envergonhada á própria lei abusiva do pai, mas que ela tenta obedecer.
Se de fato ele mexe tanto comigo, dá-me tesão, fico agitada com a sua presença, como também na sua ausência, porque cresce em mim uma impotência, incapacidade de levar por diante a minha vontade expressa no corpo, e por ele manifestada ?
Será que sou a mulher dos projetos interrompidos, que não podem ser realizados, que nem sequer consigo perceber porquê ?
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário