Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Guerra e sexo

Adäo e Eva nasceram nus, aliás como todos nós. Logo alguém tratou de colocar uma folha de figueira, ou seria uma parra de videira ? Ah ! tanto faz, para que não fossem observados os órgãos genitais, a não ser por eles mesmos.
Nessa época ainda não existia o muro de Berlim a separar os Alemães, mas desde os tempos antigos foi edificado o muro da vergonha, em que os habitantes de um e outro lado só eram chamados de partes. Tal era a vergonha de chamar os bois pelo o nome.
Se por um lado alguém tentou ocultar os órgãos genitais, que ao serem utilizados são aqueles que dão mais prazer ao ser humano, que está para além do céu e da terra, que por isso mesmo é divino, por outro esqueceram que o oculto pode ser entendido como tesouro, motivo de cobica, que em fases de carência pode servir de moeda de troca.
Talvez a origem da profissão mais antiga do mundo, a prostituição, tenha sua origem nesse tesouro proibido e oculto, que alguns pagam para ver e tocar.
Meu pai contava, que era abordado por mulheres espanholas na fronteira, que não hesitavam em oferecer o corpo por um pedaço de pão para matar a fome aos filhos e a si mesmas, aquando da guerra civil de Espanha.
Minha máe tinha o cuidado de preparar uma bolsa com pedaços de pão de trigo e de milho, para meu pai levar de viagem para dar aquelas mulheres famintas, não de guerra, mas do pão nosso de cada dia.
Como os homens e suas atitudes não vivem isolados, não devem ser observados através de uma perspectiva única, porque ao tapar uma coisa, destapam outra, porque o lençol é curto.
O que era natural deixou de ser, a partir do momento que se tornou coisa oculta.
Faz-me lembrar os babacas, eu incluído, quando em Setembro de 1972, desceram do boeing da forca aérea no aeroporto de Bissau ( Guiné), e lhes foi dado a observar as mulheres negras de tanga com os seios bem salientes, e por sinal alguns deles bem formosos, dando a sensação de termos descido ao paraíso, quando afinal nos tinham empurrado para uma guerra.
As vergonhas de Portugal, não eram as mesmas da colónia Africana.
África seria o paraíso que se tornou no inferno, mas não por causa do sexo e dos corpos desnudados, mas devido ás violações de que aquele povo foi vítima, por parte daqueles que evocavam a moral, para praticar seus crimes.
Se aquilo que diziam ser Portugal, com tanta publicidade na rádio e TV, que ao som do tambor, uma voz se ouvia em uníssono com outras – Angola é nossa- , não era semelhante, não só no aspecto cultural, que deve ser respeitado, mas sobretudo nos valores humanos. Que poderia entender de tudo isso ?
As mulheres de Portugal, que pouco antes dos anos 60, usavam saia até aos pés, blusa de manga comprida, e lenço na cabeça, usando de preferência cor preta, como se a vida fosse um eterno velório, nada tinham de comum com a mulher Africana.
Perante tal cenário, não podia deixar de admitir que se tratava de outra gente, de outro país, que não Portugal, que não era nada nosso, que alguém nos fez crer que nos pertencia.
Mostrar o tornozelo em Portugal, nessa época era condenável, e o estar a falar com um homem, ou ter um sorriso mais aberto era sinal de leviandade, em perfeito contraste com aquele outro Portugal, que mesmo ali ao lado, em África, nos mostrava como tudo era diferente.
Algumas coisas eram semelhantes, como a polícia política, que infiltrada na intimidade das nossas gentes, de cá e de lá, por não gostar do corte de cabelo, porque tinha de ser curto e bem aparado, era sinal de rebeldia para com um Estado míope e careca.

Passados uns meses de estadia em terras de África, tudo nos parecia natural e normal, e só éramos despertados por algum seio, que se impunha aos demais pela sua beleza, o que convenhamos é absolutamente natural que se observe os diferentes.
Como pertencia ao servico de saúde do exército Português, virou rotina ver corpos negros nus, e os diferentes vinham de corpos dilacerados pelos estilhacos das granadas.
Como não sou diferente dos demais, dei por mim a pensar, se os homens não teriam inventado a guerra, para não atormentar as pobres coitadas das mulheres com sua tesão desregrada ?
As coisas que um homem pensa ?
Mas o fato, é que quando aquela mulher africana, que de tão gorda, mais parecia um tanque de guerra, subia o rio Geba a bordo da barca da marinha, e se fazia transportar até ao meio do mato, onde a minha companhia estava instalada, rodeada de arame farpado, para saciar aqueles bravos soldados, nesse dia meus amigos, não havia guerra que fizesse colocar aqueles meninos na ordem.
Aquela mulher que estava ali de pernas para o ar o dia todo, fazia mais pela paz, que todos os governos de Estado do mundo.
Apesar da santa aliança da Igreja com o Estado, tinha abundante material anticoncepcional para distribuir aqueles insaciáveis.
Como os tempos mudam meu Deus, mediante as vontades.
Insaciáveis é o termo, porque alguns acabavam de se servirem, e voltavam para o fim da fila, á espera de mais uma vez, que nunca se sabia se era a última.
Mas o que acontece em casa de cada um quando as coisas não rolam ?
Há logo barraco na capoeira.
Parece até, que onde não existe sexo, emerge a guerra.
Aguarde os próximos capítulos de testemunhos de guerra e sexo, de fatos reais vividos pelo o autor em terras de África.

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