segunda-feira, 29 de abril de 2013
Por favor, escute.
Tantas vezes um sujeito não deseja escutar, levantando a voz, interpelando, falando apressado sem que possa haver uma pausa para o outro meter a colher. Vai te ir embora mosquito que me queres picar, afugentando dessa maneira o opositor através do ruído, por medo de encarar outra realidade, que não seja a sua.
Na realidade uma pessoa adoecida só enxerga a si mesma, em que a razão lhe assiste, e a verdade mora nele, como algo sagrado, que por isso, deve a si mesmo o sagrado dever de gritar para si, e para o mundo, de quanta verdade é possuído.
O sujeito em análise não se comporta de maneira muito diversa, apenas talvez, mais comedido em seus apetites, em virtude da esperança lhe transmitir um pouco mais de tranquilidade.
Mas quererá ele ouvir o que o psicanalista tem para dizer ?
Estará o sujeito preparado para escutar ?
Se estivesse provavelmente não estaria ali.
Coloca-se então a questão: - De onde provém o preparo para a escuta ?
Para melhor compreensão façamos a pergunta deste modo: - Porque aquele que padece não está preparado para a escuta ?
O que salta á vista de imediato é a sua pouca tolerância á frustração, pelo que devemos perceber, que ele se recusa a escutar como forma de manter o seu princípio de satisfação e prazer, mesmo que isso possa ser a causa de sua dor e sofrimento.
Aqui, damos conta de um sentimento de posse exagerado, tanto no que se refere a objetos, quanto a ideias, em que a recusa é uma forma decorrente, e suas causas moram aquém dos próprios sentimentos, derivado de uma relação primária.
Vem agora o psicanalista com toda a sua autoridade botar palavra, fazendo o mesmo que papai e mamãe faziam ?
Tal semelhança pode trazer complicações ao processo analítico, em que a contratranferência pode emergir e colocar um fim na análise, sendo motivo para aquele que padece a abandonar.
Se o psicanalista tem a teoria, a prática é do sujeito, e é com ela que deve lidar, colocando-se no lugar daquele que padece como forma de entender as associações que estão ligadas a determinados sentimentos, de que possam resultar as atitudes de recusa e repulsa.
No fundo caímos sempre num processo primário, em que a questão da negação \ afirmação é decorrente de um princípio de satisfação e insatisfação, que resultam no prazer e desprazer.
Aqui, a habilidade do psicanalista em lidar com a satisfação e prazer daquele que padece, como forma de fazer sentir ao paciente, que determinado prazer parece leva-lo a um desprazer imediato, julgo ser de maior utilidade, que apontar de imediato para a ferida aberta.
Falar da morte de um prazer, pode ser entendido pelo paciente como a sua própria morte anunciada, em que as melhoras são interrompidas com o simples anuncio, por exemplo, de um diagnóstico.
Em análise não é a vontade do psicanalista que prevalece sobre todas as coisas, porque outras vontades estão em jogo.
Pensem nisso.
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