As ciências do
Cérebro e da Mente
Devemos questionar a existência de algo que possa
ser chamado de "mente criminosa". A complexidade da relação do
cérebro com a mente evoca a necessidade de pressupostos teóricos das
neurociências e em psicologia que respeitem os aspectos históricos da sociedade.
As discussões filosóficas sobre a mente e o
cérebro, baseadas no estado atual da exuberante divulgação científica, mostram
uma zona de conflito teórico que ultrapassou o restrito mundo acadêmico.
Em 2007 a "Folha de São Paulo"anunciou
que estava em andamento um projeto de pesquisa para mapear, por meio de
ressonância magnética, o cérebro de 50 adolescentes homicidas. Isto gerou uma
discussão em torno da ética porque ver as bases neurobiológicas e genéticas do
comportamento violento viria reforçar imensamente a exclusão sob bases
biológicas deterministas.
Houve reação de educadores,
psicólogos, advogados e antropólogos que se colocaram contra o projeto porque,
segundo eles, era de motivação eugenista ("Folha de São Paulo", 21.01.2008). No
debate entrou a formação histórica da sociedade brasileira, o Estatuto da
Criança e do Adolescente, a bioética, a hereditariedade, a relação entre o
saber e o poder, a corrente anti-Biologia.
O programa "Fantástico", da Rede Globo,
ao abordar o assunto demonstrou que as discussões envolvendo a mente
ultrapassaram os limites do laboratório e atingiram o nosso cotidiano social.
Quando um grupo excluído da sociedade,
institucionalizado pela máquina do judiciário, é transformado em mero objeto de
estudo, tendo como pressuposto reconhecer os mecanismos do comportamento
violento, passa a ocorrer uma exclusão sob bases biológicas deterministas, sem
chance alguma para a liberdade.
A bióloga e divulgadora científica Suzane
Herculano-Houzel afirma que "se o cérebro é a origem ou um mero
intermediário das ações da mente, ainda há quem duvide que a neurociência
consiga determinar. Mas, seja o cérebro seu criador ou apóstolo, quando a mente
não vai bem é ele o culpado mais provável"
A relação cérebro e mente é o resultado da
interação de aspectos biológicos com a experiência social. O aspecto
orgânico, isoladamente, não pode determinar, por si só, a manifestação
criminosa.
Os exames biotecnológicos do cérebro, por imagem,
mostram "correlatos da mente", a partir de registros das atividades
nervosas e não a mente em si mesma. Estes exames são importantes para o
diagnóstico médico, mas são interpretativos e interpretações não são
consensuais.
Existe a crença de uma entidade chamada "mente
criminosa" que pode, por meio da ciência, ser controlada. Para
entender esse folclore, até a revista "Ciência Criminal" publicou uma
edição especial sobre a tal "mente criminosa". A chamada de capa da
revista evoca esta inclinação popular: "Entenda os transtornos que estão
por trás das diversas facetas do comportamento violento. Transgressão
doentia?" A pergunta não é respondida satisfatoriamente no corpo da
reportagem porque não há dados suficientes.
Os estudiosos não negam,
inteiramente, a importância de exames neurobiológicos para a compreensão de
alguns aspectos da violência. No entanto existe uma preocupação quanto à
complexidade da mente. O preconceito contra a Biologia deve ser combatido, mas
é atividade ainda impossível de ter êxito perante a complexidade do mundo real
e suas restrições históricas. Sendo que, neste mundo real, o mais complexo desta complexidade é o próprio cérebro.
Artigonal SC
#4841789)
CarloZaraujo (Carlos Araujo, Carujo) é escritor holista. Autor literário do Projeto
Cultural Origens. Para conhecer as obras do Autor:
http://projetoculturalorigens.blog.com
Publicado site – WWW. Artigonal.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário