Retalhos de uma vida - Livro do autor do blog

http://www.bookess.com/read/7054-livro-retalhos-de-uma-vida-/ ISBN - 978-85-8045-076-7 Definir um livro pela resenha é um fato que só é possível quando o livro realmente apresenta um conteúdo impar, instigante, sensível, inteligente, técnico e ao mesmo tempo de fácil entendimento....e Retalhos de uma vida, sem sombra de dúvidas é um livro assim. Parabens, o livro está sendo um sucesso. Ricardo Ribeiro - psicanalista

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Por favor, escute.

Tantas vezes um sujeito não deseja escutar, levantando a voz, interpelando, falando apressado sem que possa haver uma pausa para o outro meter a colher. Vai te ir embora mosquito que me queres picar, afugentando dessa maneira o opositor através do ruído, por medo de encarar outra realidade, que não seja a sua. Na realidade uma pessoa adoecida só enxerga a si mesma, em que a razão lhe assiste, e a verdade mora nele, como algo sagrado, que por isso, deve a si mesmo o sagrado dever de gritar para si, e para o mundo, de quanta verdade é possuído. O sujeito em análise não se comporta de maneira muito diversa, apenas talvez, mais comedido em seus apetites, em virtude da esperança lhe transmitir um pouco mais de tranquilidade. Mas quererá ele ouvir o que o psicanalista tem para dizer ? Estará o sujeito preparado para escutar ? Se estivesse provavelmente não estaria ali. Coloca-se então a questão: - De onde provém o preparo para a escuta ? Para melhor compreensão façamos a pergunta deste modo: - Porque aquele que padece não está preparado para a escuta ? O que salta á vista de imediato é a sua pouca tolerância á frustração, pelo que devemos perceber, que ele se recusa a escutar como forma de manter o seu princípio de satisfação e prazer, mesmo que isso possa ser a causa de sua dor e sofrimento. Aqui, damos conta de um sentimento de posse exagerado, tanto no que se refere a objetos, quanto a ideias, em que a recusa é uma forma decorrente, e suas causas moram aquém dos próprios sentimentos, derivado de uma relação primária. Vem agora o psicanalista com toda a sua autoridade botar palavra, fazendo o mesmo que papai e mamãe faziam ? Tal semelhança pode trazer complicações ao processo analítico, em que a contratranferência pode emergir e colocar um fim na análise, sendo motivo para aquele que padece a abandonar. Se o psicanalista tem a teoria, a prática é do sujeito, e é com ela que deve lidar, colocando-se no lugar daquele que padece como forma de entender as associações que estão ligadas a determinados sentimentos, de que possam resultar as atitudes de recusa e repulsa. No fundo caímos sempre num processo primário, em que a questão da negação \ afirmação é decorrente de um princípio de satisfação e insatisfação, que resultam no prazer e desprazer. Aqui, a habilidade do psicanalista em lidar com a satisfação e prazer daquele que padece, como forma de fazer sentir ao paciente, que determinado prazer parece leva-lo a um desprazer imediato, julgo ser de maior utilidade, que apontar de imediato para a ferida aberta. Falar da morte de um prazer, pode ser entendido pelo paciente como a sua própria morte anunciada, em que as melhoras são interrompidas com o simples anuncio, por exemplo, de um diagnóstico. Em análise não é a vontade do psicanalista que prevalece sobre todas as coisas, porque outras vontades estão em jogo. Pensem nisso.

terça-feira, 23 de abril de 2013

A psicanálise pergunta: Você é feliz ?

Momentos de felicidade A felicidade não existe, dizem uns. O que existe são momentos de felicidade, dizem outros. Podemos perguntar como designar os outros momentos que não são entendidos como felicidade ? Nenhum de nós ignora a existência de momentos de perturbação emocional, angustiantes, de uma tristeza profunda devido a perdas irreparáveis, ou simplesmente devido a essa possibilidade, sofrendo o sujeito por antecipação. Porém, um terceiro momento pode ser observado, em que o sujeito parece encontrar-se entre esses dois polos, entendido como inércia, ou estado de repouso, como se fosse o descanso do guerreiro, em que parece não estar aí para nada. Partindo desta terceira posição como ponto zero da excitabilidade, ou da inércia, como quisermos, pode o ponteiro deslocar-se para um, ou para outro lado, tornando o sujeito feliz ou infeliz, em que a divisão a podemos entender, muito embora ambivalente, não dualista, mas formando um triângulo como probabilidades. Em qualquer dos casos, feliz ou infeliz, damos conta de uma determinada quantidade de energia, que serve à excitabilidade, em que o bem estar, e disso temos poucas dúvidas, exige a quase ausência de energia. De salientar que a excitabilidade que serve aos momentos de felicidade servem á descarga, e os momentos de infelicidade apresentam um processo primário de retenção da energia, com seu consequente aumento desmedido. Ou seja, a produção energética que se faz sentir parece resumir-se á função, pelo que, parece evidenciar a necessidade de tratar os conflitos psíquicos para que o aumento de energia não seja de modo a provocar excessos no psíquico e biológico. Aqui, entre em ação o somático e psíquico, em que podemos perceber que o indivíduo pode ser levado à excitação através da relação de seu corpo com outro corpo, ou pode criar a excitabilidade mediante complexos ideativos confusos, ou mal resolvidos, que interferem com o biológico. Seja como for a aderência ao corpo das relações e conflitos psíquicos não deverá causar estranheza, porquanto será por ele, e devido a ele que tudo é representado, sendo a representação do que lhe possa acontecer na relação com o meio. Se assim considerarmos, podemos entender, que os momentos de felicidade quando não superam os infelizes, devido à existência de perdas e permanentes conflitos, causam no corpo uma carência, reclamando, por via disso, por afeto, que tende a garantir uma dependência objetal. Assim, devemos olhar para a problemática da felicidade, não com o olhar da possibilidade vinda, vá lá saber de onde, mas como uma probabilidade proveniente da solvência de conflitos psíquicos, que enquanto durarem os momentos de infelicidade tendem a superar os de felicidade. A razão da análise, e da psicanálise resume-se a uma pergunta: - Você é feliz ?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

O não dito

Consigo deliciar-me muito mais com o não dito, do que com aquilo que supostamente o autor queira dizer, dado que deixa escapar nas entrelinhas algo, ou alguma coisa, que julgou não merecer ser associado. Sempre fui mal amado por eles, embora muitos não saibam disso, detentores de um suposto saber, lhes bebo as palavras, mas sempre os questiono, não obstante sua ausência, que através da escrita se fazem presentes. Reconheço o esforço, porque comunicar, dialogar e escrever não é nada fácil, mas não tenho essa capacidade de absorver tudo quanto me querem oferecer como se fosse esponja, o que não me levaria a tanto incômodo, porém, faria de mim um seguidor e um orador repetidor do que outros já disseram. Seria então um neurótico desejante, tanto que eu gosto desta palavra, que não tendo nada para oferecer, me limitaria a desejar o desejo de outros, entendidos como sábios e poderosos, e por eles me bateria até à morte. A morte está certa os desejos não devem ser determinados por outros, mas a realidade mostra por vezes o contrário, que por isso devemos respeitar, muito embora seguindo nosso próprio caminho. É esse diálogo que mantenho com o desconhecido, que não estranho, que se revela a cada passo, que me faz enxergar o outro como sendo o outro, diferente, nem superior ou inferior, esperando que alguém possa acompanhar-me nesta viagem terrena, num mundo cheio de dúvidas que carece de reflexão. Nunca tive essa ambição militar, mesmo em período de guerra, de caminhar atrás ou á frente de quem quer que seja, dado que todos, sem exceção, merecem o mesmo respeito e consideração, mas afasto-me daqueles que julgam que o mundo estrelado é que pariu o ovo. Não sou o Sol porque preciso dele, não só do calor, afeto, mas de sua luz que possa afetar meu mundo das trevas, que quanto mais luz melhor como o caminhar para eternidade, em que nada se esgota, e sempre desejamos mais. Quem não teve luz na formação provavelmente terá dificuldades em perceber do que estou a falar, mas estão a tempo, mesmo devagar que seja, conhecer esse mundo maravilhoso que não nos deixa cair em tentação. È a vida contra a vida que muitos propõem que cristaliza o homem da caverna, tão bem reproduzida por Nietzsche, esse depravado filósofo, que teve a coragem de afirmar que castrar os instintos era castrar a vida. Um vida que castra a outra, carece de vida. Não sou, nem tenho a ambição de ser um intelectual que só fala e escreve para uma minoria, porque isso seria castrar meus instintos e minha própria vida, como se o Sol fosse roubado, ou desviado de uma parte da humanidade, mas entendo aqueles que o fazem. Eles parecem possuir a magia, ou o romantismo de uma formação, que os impele a oferecer aos outros todos esses dons, cuja finalidade é ser adorado, reservando-se no convívio, como se fosse Rei, Papa ou Deus. O porquê nunca me abandonou, e o procuro dentro de mim, não de forma apressada, mas insistente e demorada, tentando associar o que parece estar dissociado e não ter explicação, dando tempo ao meu cérebro o descanso necessário para colocar tudo na devida ordem, que só ele parece saber. De repente um insight. De repente uma imagem observada, cujos significados podem ser tão diferentes, fazem-me sentir e rever o já visto, tentando associar o não compreendido, que através de uma imagem possa conduzir-me à compreensão. Tudo isto sem o mínimo de esforço da minha parte, abandonando o que deve ser abandonado, associando aquilo que possa ser associado. Basta questionar para ser odiado por uns e amados por outros. È assim a vida.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Religião e política

O universo é complexo e ao mesmo tempo perfeito em sua química e movimentos. Tenho assistido no FB nos útlimos dias, à disputa acesa entre adeptos do Pastor \ político Feliciano, e daqueles que o desconsideram por suas contundentes declarações. Hoje em Portugal é comemorado o dia da abolição da inquisição, que teve como consequência o afastamento da Igreja e seus seguidores das cadeiras do poder político, o que me leva a crer que qualquer ideia, sem o suporte do poder instituído em lei perde sua intensidade. Mas hoje, com a diversidade tecnológica, as coisas tendem ao equilíbrio, dado que ao grande público chegam informações de toda a ordem e origem, o que não configura um sentido único, que possa servir à intoxicação. Porém, a teoria dos grupos mantém-se, que posicionados num e no outro lado da corda parecem não querer arredar pé de suas convicções, que se subir de tom, numa determinada circunstância podem partir para a agressão, transformando o seu ideal em fanatismo. O universo faz o mesmo, quando algo está a incomodar a matéria organizada é promovida a explosão, para tudo retornar ao que sempre foi. E assim podemos observar a história da humanidade, que repete sempre as mesmas coisas, sem querer saber dos danos colaterais. A ânisa de poder, de ser poderoso, de estar com o poder, de partilhar dessa potência que parece faltar a grande parte dos homens, sentido a sua impotência reagem com toda a bestialidade, na tentativa de mostrar toda a sua força, de que na realidade não são possuídos. Se a inteligência provém do homem, que não da matéria, aqui fica a pergunta : - Porque nos comportamos como a matéria ?