Se estava prevista na palma da minha mão
Esta paixão inesperada
Se estava já escrita e demarcada
Na linha da minha vida
Se fazia já parte da estrada
E tinha que ser vivida?
(Bruna Lombardi)
"De repente, não mais que de
repente", aquele alguém aparece, do nada, como se esse encontro tivesse
sido premeditado para ser assim: o momento era propício, seguido do encanto
(que foi recíproco), a expectativa (que nasceu espontaneamente), com cara de domingo
e gosto de aventura, sem pressa de acontecer... Mas num insight,
aconteceu!
Isso não tem nada a ver com destino, mas com uma espécie de química, que
conduz toda a magia de olhares que se seguem, de gestos que se completam, de
palavras que se encaixam, de vontades que convergem para um único fim:
conciliar as sensações. São os instintos emocionais de ambos, que entram no
jogo e só aquele alguém é capaz de fazê-lo jogar.
Estamos suscetíveis a algumas pessoas, isso é fato: é o jeito de chegar,
o toque das mãos que deslizam pelo braço, um modo de mexer nos cabelos, a
vontade de aproximar mais, um pouco mais, sentir o perfume, o cheiro, a busca
pelo desejo incontrolável de união, fusão, descoberta, exploração... Tem que
ser com ela, tem que ser com ele.
Essa explosão de impulsos, seguida de outros estímulos, como ambiente e
situação, além das dopaminas e serotoninas que afloram pelo corpo, oportuniza
os pré-amantes a viver essa experiência, independente de idade, conduta ou
impedimentos. É um emergir do lugar-comum para um recanto qualquer do Olimpo,
cercado de ébanos, ao som de cítaras.
E nessa viagem sem volta rumo ao desconhecido todos os sensores são
estimulados ao mesmo tempo, permitindo-se pôr em febre, um misto quente de
emoções que ativa os mecanismos cerebrais e os coloca em ação constante. O
resultado é a satisfação física e emocional mútua, algo que fica entre paixão e
prazer.
O apetite vai faltar, as mãos vão suar, o coração andará em
sobressaltos, o riso será solto, o dia, de nuvens, e a noite de sonhos. É um
estado de concepção mística dos sentidos, beirando quase um amor cortês, com
direito a um prelúdio de Romeu e Julieta ou Tristão e Isolda, que tão bem
exemplificam essa condição amorosa.
A química da paixão é uma espécie de paradoxo entre realidade e
fantasia, nada o fará perder o humor e a vontade de viver, pelo menos enquanto
durar esse estágio intenso de arrebatamento sentimental. É uma contemplação de
si e do outro, em estado de graça. Uma fome que não sacia, uma perfeição inventada
a dois.
Em suma, esse poder afrodisíaco que um apaixonado exerce sobre o outro
opera revoluções. É um vício, uma fonte inesgotável de contentamento, um
antídoto contra a tristeza... Há, por ora, um apagamento de experiências
passadas, dores mal curadas, alegrias tímidas, carências mal resolvidas. É uma
página colorida, rabiscada com as digitais.
Não há quem já não tenha passado (ou está passando) por essa
pseudoloucura de envolvimento. E ela tem sabor de pecado, deixa marcas na pele,
dilata as pupilas, exala tesão, faz se contorcer e suar, desalinha o certo e
amotina o duvidoso. Portanto, quando essa química pintar na sua vida, mergulhe
fundo e embeba-se de prazer.
http://www.afroditeparamaiores.com
– Maria Luciana Penteado
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